Como dizer adeus em robô escrita por nmsm


Capítulo 18
Hermione 000001 | 100000 Hermione


Notas iniciais do capítulo

OLA, AMORES
Me senti mais caridosa nesse fim de ano e estou aqui página 362 de 365 com esse tapa na cara. Ainda NÃO é nosso adeus e eu estou com saudades.
Tudo de bom, amo todos. Um beijo no coração de quem ainda acompanha a fic e tá aqui para ver esse puta retorno (UM ANO SEM POSTAR!!!).
A gente fica meio sentimental no fim do ano, é verdade. Decidi tomar vergonha na cara e tudo isso por causa da linda da Marina (Risoto mozão S2)
Boa leitura s2 s2
Tô aceitando comentários e criticas construtivas.



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— Sutcliffe, qual a necessidade?

 

Sutcliffe abrira um olho e então suspirara.

 

— Não sinto mais uma boa energia nesse grupo – ele disse voltando a fechar o olho e acenou com a cabeça para Pansy e Zabini, sentados no chão com cara de tédio – Talvez venha desse meio.

 

Zabini bufou. Pansy revirou os olhos.

 

— A apresentação é daqui poucos dias e vocês precisam voltar a se reconectar. Ultimamente os ensaios têm sido uma lavação de roupa suja – ele voltou a dizer – e eu não gosto disso.

 

— Estou melhor assim – Pansy dera de ombros, mas estava de olhos fechados.

 

— Você se esquece que não foi fácil chegar onde chegou e está jogando isso pela janela como se fosse nada – Sutcliffe rebatera. Pansy então abrira os olhos e o encarou, mas Sutcliffe estava com os olhos fechados e não sentiu todo o ódio de Pansy.

 

Sentada ao lado dela, eu senti e tive pena de Sutcliffe. Ela abriu a boca para falar, mas eu mandei uma mensagem mental para ficar quieta. Ela me olhou, revoltada, e eu balancei a cabeça.

 

Cale a boca, Pamela.

 

E aí ela voltou a fechar os olhos.

 

— Esse é o objetivo? – eu perguntei.

 

— Exatamente – Sutcliffe respondeu.

 

— Como funciona?

 

— O que tem sentido nos últimos dias, Srta Granger?

 

Remorso, rancor, raiva, solidão, tristeza, apatia, uma série de crises existenciais, etc.

 

— Bem, eu acho.

 

— Bem não é um sentimento.

 

— É uma terapia?

 

— Estamos fazendo um ritual.

 

— Que tipo de ritual? – Alec perguntara. Estava sentado entre Zabini e Mark.

 

— Tem uma magia muito forte aqui – ele simplesmente dissera – Vocês precisam se concentrar.

 

— Em quê? – Mark perguntou.

 

— Não em que, mas em quem.

 

Silêncio. Nós da roda nos olhamos impacientes. Alguns corvinos estavam tão irritados quanto Pamela, mas não disseram nada. Eu sabia o que eles estavam pensando; poderíamos estar ao menos estudando para as provas finais.

 

Sutcliffe dissera no começo que não queria tomar nosso tempo, e então usara o ensaio para isso; fodam-se as provas, tínhamos coisas mais importantes para resolver. Nossa bendita conexão.

 

Então lá estávamos todos sentados no chão formando uma roda de mãos dadas, com raiva de Sutcliffe.

 

Parte de mim confessava que precisávamos mesmo daquilo; a outra parte queria estar na Grifinória, fazendo nada, remoendo uma irritadiça birra dos meus amigos. Com isso, entendi a real necessidade daquela roda.

 

— Em quem? – Zabini então perguntou.

 

— Em quem, Sr Zabini? – Sutcliffe rebateu.

 

Zabini suspirara. Não valia a pena discutir.

 

— Sutcliffe, quero te estrangular – Draco dissera de repente. Nós todos o fitamos, mas ele estava de olhos fechados assim como Sutcliffe, que dera risada.

 

— Fico feliz por fazer você sentir alguma coisa – ele respondeu. – É que nesses últimos dois anos, eu só vi uma pessoa que conseguiu causar o mesmo impacto em você – Sutcliffe continuou.

 

— Vá para o inferno, Ringo.

 

Aquilo me fizera lembrar do meu primeiro dia no teatro, quando Sutcliffe disse seu nome inteiro e como poderíamos chamar ele pelo nome que quiséssemos. Sutcliffe ainda parece ser o melhor de todos.

 

— Sim, ela mesma, Hermione Granger – Sutcliffe dissera, ignorando um Draco Malfoy que parecia impaciente. Os olhares da roda se voltaram a mim, inclusive o de Sutcliffe. – Tem noção?

 

— Não é verdade – eu respondi. Senti meu rosto corado e preferi ignorar. Lavação de roupa suja, aqui estamos nós. – Não tenho nada ver com isso – falei de novo. Alguma coisa me deixou inquieta. E quando às vezes eu me dava a sutileza de explicar que não éramos mais DracoeHermione, as pessoas ficavam sentidas, como se precisassem se desculpar pela separação, mas sempre vinha aquele clássico "vocês faziam um casal e tanto". Pois é, e acabou. Contra minha vontade.

 

— E eu sinto muito pela separação – Sutcliffe disse – Espero que quando vocês sintam falta um do outro, seja de um jeito bom.

 

Aquele era novo.

 

— Puta merda, Ringo – Draco exclamou.

 

Obrigada, Draco, pela empatia.

 

— Eu sei o que eu falo, Malfoy. Onde estavam com a cabeça quando declaram guerra contra o outro?

 

— Não declaramos guerra! – nós dois protestamos automaticamente. Draco me olhara, curioso, e eu o fitara, irritada. Estava irritada desde que ele terminara comigo. Senti que se não desfizesse os laços afetivos, faria nós o resto da vida. Talvez se eu não o fizesse, Draco os desfaria e, afinal de contas, não me restara muito.

 

Que ódio!

 

Que ódio de você, seu filho da puta. Eu te amei e você correu assustado de mim. 

 Mas não, não quero lembrar do que fomos e do que poderíamos ser se Draco não tivesse inventado que éramos melhores assim sem me consultar. Que ele era melhor sem mim... Ele sabia que não era. 

— Não tem mais nada aqui – exceto raiva, remorso e uma vontade muito louca de jogar Draco nos trilhos do Expresso de Hogwarts.

 

— Vocês se gostavam, pelo amor de Merlin… Posso até dizer que ainda se gostam… mas são estúpidos e vai demorar para perceber. Eu vi seus respectivos futuros… e ele é lindo.

 

— Ele? No singular?

 

— Sim, devia visita-lo um dia desses, Draco.

 

— Ringo, onde quer chegar?

 

— Onde você quer chegar, Sr Malfoy?

 

— Sei que aqui eu não vou a lugar algum.

 

— Vocês precisam ser mais sinceros com vocês mesmos – Sutcliffe falou, ignorando Draco mais uma vez. – Para que guardar tanto remorso?

 

— Por que não guardar? – eu resmunguei retoricamente.

 

— Para que fazer isso? – Zabini voltou a perguntar.

 

Sutcliffe abriu um olho: – Tem uma magia muito forte aqui. Agora, concentrem-se. Todos de olhos fechados… Voltem a dar as mãos… Quero conexão…

 

— Sutcliffe…

 

— Quero silêncio… Quero que vocês se livrem desse peso, porque pesa aqui também… Vamos parar com essa indiferença toda, está cansando… – ele dizia – Espero que vocês sempre digam o que estão sentindo.

 

Fiquei de olhos abertos, por algum motivo que ainda não sei explicar, agarrada a mão de Pamela e de Robert. E por isso vi a luz do teatro se apagar e então a do corredor. Filch apareceu com um castiçal e Madame Norra. Relampeou duas vezes seguidas.

 

— Eu não esperava por isso – Sutcliffe dissera no escuro.

 

— Droga, Sutcliffe – alguém resmungou. Muitas pessoas estavam reclamando, e acho que todos compartilhávamos do mesmo pensamento; o castelo está sendo atacado. E isso dava medo.

 

— Ringo, tem dedo seu nisso – Filch dissera do corredor, mal humorado.

 

— Ééé… talvez. Mas está um tempo terrível lá fora!

 

— Isso é coisa de trouxa – Pansy dissera ao meu lado.

 

— Ei! – protestei.

 

— Sim! Tudo é "oh vai chover", "oh está sol", "oh neve", pelo amor de Merlin!

 

Eu me levantei sem pensar duas vezes. Sutcliffe então abriu os olhos e me olhou assustado.

 

— Não podia ter feito isso, Hermione – ele dissera, e então se levantou também – Tudo bem, se alguém ver ou sentir algo estranho, me procure.

 

E deixou o anfiteatro.

 

(…)

 

Eu segurava o cabelo de Pansy Parkinson enquanto ela vomitava uma espécie de café da manhã na pia da cozinha dos monitores. E então ela dizia que tinha terminado e chorava no meu ombro. Cerca de vinte minutos depois, estava vomitando de novo.

 

Apesar de Pansy jurar que estava assim porque tinha comido algo estragado na noite anterior, nós duas sabíamos que a ânsia, os enjoos e as noites mal dormidas não tinham nada ver tortas de abóbora. Mas ainda parecia ridículo falar em voz alta qual real significado de tudo aquilo. Até porque custava acreditar; Pansy e Zabini não deixariam aquilo acontecer.

 

— Pan… – ela estava deitada no meu colo, sem falar nada por malditos vinte minutos. Eu deslizava os dedos pelo seu cumprido cabelo preto, sem querer saber se ela parara de chorar. – Pansy…

 

— Está atrasado – ela dissera sem me olhar. Sabia que estávamos pensando na mesma coisa, mas não queria falar em voz alta. Senti um alívio por isso, mas não era uma coisa boa.

 

— Quantos dias? – perguntei.

 

— Alguns – ela resmungou.

 

— Pamela.

 

— Não sei, tá? Não é isso. Eu não estou grávida.

 

— Quantos dias?

 

Ela suspirou e afogou o rosto na almofada da Sonserina: – Quinze dias. Mais ou menos.

 

— Menos para mais? – tinha esperança.

 

— Mais para mais.

 

Respirei fundo.

 

— Não sei o que faço – ela respondeu com a voz fraca. Sabia que não estava chorando; Pansy já tinha chorado demais naquela manhã. E várias coisas se passaram pela minha cabeça, mas nenhuma delas parecia plausível.

 

— Vamos para Hogsmeade. Eu faço uma poção.

 

— Não vou para Hogsmeade.

 

— Ótimo, eu vou sozinha. E você faz a poção.

 

— Parece justo.

 

(…)

 

Hogsmeade estava toda decorada para o Natal. Eu tinha obrigado Ron vir comigo porque me recusava ir sozinha. Não gostava mais do Natal tanto quanto achava e daquela vez não iria para casa dos meus pais. Nem para a casa dos Weasleys. Aliás, nenhum de nós voltaria para casa. Corríamos o risco de ficar por lá.

 

Ficamos por causa de Harry. Mas nos últimos dias, Harry nem aparecera para o jantar. Parecia entretido demais seguindo Malfoy por todo canto em Hogwarts.

 

— Ainda era melhor quando vocês estavam juntos – ele dissera uma noite.

 

Alguma coisa naquilo me deixava irritada com Harry. Irritada porque ele achava que estava ajudando alguém enquanto perseguia Draco, onde quer que ele fosse.

 

— Isso não parece certo – eu dizia.

 

— Mione, eu sei que vocês dois…

 

— Tanto faz – eu lhe cortara abanando a mão. Sabia o que ele ia dizer, porque já tinha ouvido demais aquela desculpa.

 

Mione, sei que vocês dois tiveram um lance, mas isso não torna ele inocente… Mione, ele ainda é um comensal… etc.

 

O que claramente queria dizer "Hermione, você não conseguiu fazer com que Draco passasse para seu lado, agora tenho que dar um jeito". Era ridículo.

 

— Onde você vai? – Ron perguntou, entregando um copo de cerveja amanteigada.

 

— Gengibre? – perguntei. Ele assentiu e eu peguei o copo.

 

— Do jeito que você gosta.

 

Não era hora para cerveja amanteigada. Nem dia, porque estava muito frio, mas até o final daquele passeio, eu estava no terceiro copo e Ronald também.

 

— Preciso comprar algumas poções – respondi, bebericando minha cerveja. – Não demoro.

 

— Eu fico por aqui.

 

Eu fitei ele: – Ronald…

 

— O que foi?!

 

— Não vai comprar nada nem para Ginny?

 

— Não sei se estou afim de fingir que está tudo bem.

 

— Você só tem feito isso, Rony.

 

— Hermione… – ele bebeu mais um pouco de sua cerveja, divertido – não é hora para isso.

 

— Sim! Estou falando da Lilá.

 

— Eu fui um idiota, eu entendi.

 

— Não, Rony, você foi medroso.

 

— De que adianta? Ela nem fala com você, por que falaria comigo?

 

Eu lhe lançara um olhar feio. Rony então revirou os olhos e pediu desculpas.

 

Mas era verdade, Ronald estava certo; Lilá sequer deu sinal de vida. Eu ainda não tinha perdido o coragem e continuava escrevendo para ela. Cartas e cartas que nunca tinham resposta ou retorno.

 

— Eu pelo menos ainda tento – dei de ombros.

 

— Vou escrever – ele dissera bebendo sua cerveja.

 

Eu parei, sobrancelhas arqueadas, o copo de cerveja na mão, Rony bufando.

 

Estava quase saltitando de alegria quando vira Draco e Zabini saindo do Três Vassouras, rindo como crianças. Alec e Mark logo atrás, equilibrando canecas de cerveja na mão. Parecia que estávamos no terceiro ano de novo.

 

Blaise acenou, Alec e Mark também. Draco de repente parara de rir, e só me fitara por um instante. Na minha cabeça, aquela cena congelada durou muito mais do que isso. Estávamos pensando a mesma coisa, eu sabia.

 

Eles então passaram por mim e Ron sem grandes cerimônias e foram embora.

 

— Então vocês terminaram – Rony dissera quebrando o silêncio.

 

— É.

 

— Você sabe que a única coisa que o mantinha imune para a Ordem, era você, não sabe?

 

— Você sabe que tem mais coisa por trás disso, não sabe?

 

— Ele não está do nosso lado.

 

— A Ordem sabe o que faz.

 

— Você sabe o que você está fazendo?

 

— E você sabe?

 

— Para de fingir que não é nada.

 

— Rony – eu parei, cenho franzido, o copo de cerveja amanteigada na mão, Ron com cara de tédio –, eu não quero ouvir falar do Draco nos próximos meses. Nada de "ele é um comensal", "ele está aprontando alguma", nada disso! Acabou, já foi. A Ordem e Dumbledore já decidiram como as coisas vão ser.

 

— Para de ser idiota – ele me dera um tapa na cabeça. Minha touca caiu e eu o olhei emburrada. Rony não ligou e bebeu sua cerveja como se não fosse nada: – Se isso é para mostrar o quanto eu fui estupido quando Lilá foi embora, okay, Hermione, eu já entendi. E eu me arrependo, okay? Porque Merlin sabe quando eu vou ver ou falar com aquela garota.

 

— Eu não ligo. Não é mais importante – eu dissera em minha defesa.

 

— Eu sei que fingir que não é nada é o jeito mais fácil de seguir em frente, mas não faz isso – Rony disse – Eu sei lá o que teria acontecido se eu fosse atrás dela; talvez isso não a impedisse de ir, mas poderia ter sido diferente, eu sei que sim.

 

— Olha, Rony – comecei, a cerveja indo goela abaixo. – Você foi mesmo estupido – Ele revirou os olhos e eu o peguei pela mão, procurando de esgueira a loja de poções para Pamela. – Mas eu e Draco terminamos, terminamos mesmo… Se é que o que tivemos foi realmente válido… E é Natal e eu não quero pensar a respeito.

 

Rony bufou, de novo, mas não dissera nada. Nossas cervejas já tinham chego ao fim e só me restara o gosto de gengibre. Lá estávamos nós; dois amigos abandonados por duas pessoas que não hesitaram em deixá-los, lamentando pelo coração partido e pelo resto da cerveja.

 

— Escreva para Lilá – eu dissera por fim. A loja estava bem ali e o Três Vassouras não muito longe. Rony então se inclinou, me deu um beijo na bochecha e pegou meu copo vazio.

 

— Eu vou. Já está na hora, não é mesmo?

 

— Já.

 

E entrei na loja.

 

(…)

 

Aconteceu mais de uma coisa estranha naquele dia.

 

Não só o resultado da poção que dera positivo de imediato e eu vi Pansy prender a respiração, mas disse que precisava de um instante sozinha e assim que sai do quarto, começou jogar coisas na parede.

 

— Pamela – eu bati na porta.

 

— ME DEIXE SOZINHA – ela gritou e estava chorando.

 

Só fui vê-la no dia seguinte.

 

Mas lá estava eu na loja de poções naquela manhã, pedindo para Merlin e rezando para todo deus de toda religião que aquilo não acontecesse com Pansy e Zabini quando uma mulher um pouco mais alta que eu e um pouco mais ajeitada na vida do que eu me fitou por uma das prateleiras, me fazendo derrubar umas par de coisa no chão.

 

Eu soltara um palavrão e a dona da loja me olhara feio.

 

— Desculpe… boas festas – eu dissera me abaixando.

 

Procurei a mulher pela loja e levei outro susto ao vê-la bem ali do meu lado, me ajudando.

 

Lá estava a primeira coisa estranha – ou a coisa mais estranha – do dia: Hermione Granger, cerca de 26 anos, BEM ALI DO MEU LADO.

 

— Você… QUEM É VOCÊ? – tipo, talvez a cerveja tenha começado fazer efeito, mas não me lembro de ter virado mais de um copo. De qualquer forma, achei que estava ficando louca. Era como olhar para um espelho, mas lá estava ela; muito mais bonita, muito mais mulher do que eu, ainda com aquele olhar "você está fazendo tudo errado e eu vou ter que consertar".

 

Ela me dera um peteleco no nariz.

 

— Shhhh… Não é nada normal duas pessoas muito parecidas andando juntas… Não chame atenção assim! – ela dissera baixinho, colocando as coisas de volta à prateleira.

 

— Da onde você surgiu? – eu perguntei. E me aproximei dela, quase que sussurrando: – Eu estou ficando louca?

 

Ela me dera outro peteleco.

 

— Para de fazer isso – eu resmunguei, e lhe dei um tapa na testa. Hermione me olhou feio e me apontou o dedo.

 

— Respeite os mais velhos.

 

— HEIN? – voltei a perguntar. Ela então me dera a poção de Pansy e me puxara para o caixa. A dona da loja já não me olhara mais feio e me desejara boas festas… e um sorriso empático ao ver do que se tratava a poção. Um nó se formou na minha garganta só de pensar…

 

Hermione me puxou para fora da loja e continuou me puxando até chegarmos ao Cabeça de Javali, onde ela parou na porta, tirou minha touca, a guardou no casaco e, com as mãos nos meus ombros, me olhou séria e disse:

 

— Você poderia ter me feito uma pergunta mais inteligente.

 

Eu a olhei, pasma.

 

— QUEM É VOCÊ?

 

— Eu sou você, criança. Daqui uns 10 anos.

 

— Você sabia que eu ia perguntar isso.

 

— Sabia.

 

— Porque… imagina se você é um comensal…

 

— Os comensais não ligam para você.

 

— Para nós?

 

— Para você – ela apertou minha mão. – Alguns querem seu pescoço, mas nada que vale a pena. Eles gostam de mim.

 

Eu massageei a têmpora: – Merlin, eu passei para o outro lado.

 

— Claro que não! – e então ela me puxara para dentro do Cabeça de Javali, atraindo um pouco de atenção tanto de quem estava fora quanto de quem estava dentro. Hermione não era muito discreta, ou não se importava. Escolheu uma mesa no canto do salão e ignorou as olhadas e investidas até chegar lá, com cara de nojo. O Cabeça de Javali ainda me causava arrepios, mesmo com as vindas no ano passado para as reuniões da Armada Dumbledore.

 

Hermione podia não ser Hermione, e eu estava com um pouco de medo. E ela sabia disso.

 

— O feitiço de Sutcliffe te trouxe aqui? – eu perguntei rapidamente.

 

— Não exatamente… É complicado… É uma magia complicada – ela respondeu. – Sutcliffe fez a magia lá e fez a magia aqui… e deu errado lá e aqui… e olha só a gente – Hermione suspirou – Viagens no tempo são um saco. Você descobre coisas que não queria.

 

— Ainda temos o Vira-Tempo?

 

— Temos, mas eu vi o futuro e não está mais com a gente.

 

— Você viu o futuro? Você é meu futuro!

 

— Está em boas mãos – ela levantou a mão e pediu uma cerveja.

 

— Como funciona essas viagens no tempo?

 

Hermione me encarou. Eu não gostei dela por um instante. Era daquele jeito que eu olhava para as pessoas? Por isso Rony tinha tanto medo de mim. Descansei os ombros, meio envergonhada.

 

— Eu sei o que está pensando e a resposta é não.

 

— Ah!, você não sabe – eu protestei. Idiota, é claro que ela sabe.

 

— Eu não sei por que eu e você temos essa coisa de querer salvar todo mundo.

 

— Eu não quero.

 

— Não discuta comigo.

 

— É só que… salvaria muita gente, sabe?

 

— Não salvaria. Você não sabe da história? "Se não fosse assim, seria de outro jeito".

 

— Eu não sei dessa história.

 

— Eu nem sei por que estou aqui – a cerveja tinha chego. Hermione tomou um gole e cuspiu logo em seguida, me passando a caneca – Droga, não posso beber.

 

— O quê? Como não sabe?

 

— Olha, eu não estou aqui por que eu quero. Simplesmente falaram "você vai voltar para Hogwarts" e eu não achei que seria assim… 1996. E não, não é possível salvar ninguém.

 

— Então você não tem nenhuma missão em especial? – eu perguntei – Por que veio atrás de mim? – e então eu parei – Você não estava atrás de mim, não é?

 

— Eu estava… desde Hogwarts – ela disse. – Mas não era para você me ver. Quer dizer, de início… Hermione, eu poderia ter ido para qualquer lugar, mas… Sei que está se sentindo meio perdida esse ano, e vai demorar um pouco para as coisas se ajeitarem, mas acho que… acho que você está precisando dos seus amigos mais do que nunca agora, e eles de você.

 

— Amigos…

 

— Sim, e Draco.

 

— Draco? Você veio aqui para falar do Draco?

 

Ela suspirou: – Eu tenho que tomar cuidado com o que falo, eu sei.

 

— O que acontece com ele?

 

Ela me olha de novo. Mas não parece brava e eu não fico assustada. Ela me olha com calma nos olhos, como se dissesse que tudo ia ficar bem, apesar de não estar agora.

 

Parecia outra pergunta idiota, mas ela encosta na cadeira e sorri, amigável.

 

— Vocês vão ficar bem.

 

Eu me inclinei na mesa: – Vocês estão bem?

 

— Estamos – ela disse.

 

Eu bufei e ela deu risada.

 

— Não precisa perdoar ele agora. Ainda tem muito pela frente e esse, meu amor, é o menor dos seus problemas.

 

Eu bebi um pouco da cerveja que Hermione deixara.

 

— E Pansy?

 

— É uma menina.

 

— O quê? A gente nem viu o teste ainda.

 

Hermione abanou a mão na minha frente: – Não importa!, você vai descobrir que não sabe tanto quanto gostaria. Pansy é uma caixinha de surpresas, amor. E ela está… sei lá, muito grávida de novo.

 

— Como vai ser?

 

— Eles vão dar um jeito.

 

— Você podia ter falado antes… – eu balancei os vidros da poção na sua frente.

 

— Pansy precisa disso. Pansy precisa de você – ela dissera, calma, mas como quem dá um sermão. – Esteja por perto.

 

— Eu não sei… ela quer ir embora! – eu a lembrei. E estava indo, por mais que disséssemos para ela ficar, mas no fundo querendo ir também.

 

— Ela não pode, ouviu bem? Pansy tem que ficar.

 

— Falar disso não muda o rumo das coisas?

 

— Não. Lembra que eu sei o que acontece? – ela arqueou a sobrancelha.

 

Eu bufei de novo, bebendo mais cerveja. Pensei em Rony muito bêbado comprando presentes para o Natal sozinho.

 

— Você está sozinha? – perguntei.

 

— O quê? Acho que fosse uma viagem de férias com os amigos?

 

— É só que… – eu tentei me explicar, mas ela me olhou com uma sobrancelha arqueada. Eu bebi mais cerveja – Você é rabugenta.

 

Hermione massageou as têmporas: – Eu sei, eu vi meu futuro e não sei o que achar dele.

 

Eu dei tapinha nas suas costas, talvez assim ela não se sinta mal. Quer dizer, era meu futuro também.

 

— Draco está aí também – ela disse de repente.

 

— Meu Merlin!

 

— Mas não sei onde ele está – Hermione respondeu – Eu perdi a Gina quando te encontrei com Rony – ela continuou – Acho que ela foi dar uns petelecos nele… Eles estão meio brigados.

 

— O que aconteceu?

 

— O Natal deixa eles assim.

 

— Por quê?

 

— Teve aquela vez n'Toca que… – ela parou e me olhou, triste – Lilá não fala com você, não é?

 

— Não.

 

— Ainda?

 

— Ela vai me responder?

 

— Ela vai – Hermione disse. Parecia de repente uma tia. Ela sorriu: – E não vai parar mais.

 

Eu estava mais feliz por causa disso. Graças a Merlin aquela garota vai dar sinal de vida!

 

— E Harry? Você não falou de Harry.

 

— Merlin, muita coisa vai acontecer – ela suspirou – Quer dizer, muita coisa ainda está acontecendo… Não estava querendo estar aqui, mas por que acha que estou? – ela me deu outro tapa e eu a olhei feio, mas Hermione ignorou – Vocês precisam se ajudar. Kim foi embora e foi uma idiota.

 

— Harry… – voltei falar.

 

— Espera para ver.

 

— Ah, qual é?!

 

— Minha filha, não tem como eu falar do Harry… Ele é o estopim disso tudo! – Hermione se inclinara na mesa, divertida – Quer os números da Mega Sena Bruxa também?

 

Eu semicerrei os olhos: – Não seja ranzinza!

 

Ela deu de ombros: – Eu não ligo.

 

Fiz ela pedir mais uma cerveja para mim. Fazia quanto tempo que estávamos lá?

 

— Zabini está aí também – ela disse e me olhou entediada – A história é longa.

 

— Quero ver eles – eu me levantei.

 

— Eu sabia… Você é tão previsível

 

— Por favor.

 

— Não. Eu nem sei se pode.

 

— Claro que pode.

 

— Não seja teimosa – ela me puxou.

 

— Você também ia querer.

 

— Tem coisa que a gente não deve saber.

 

— Qual é…

 

— É sério, Hermione. Olhe aqui – ela parou e me fitou. Ela era linda, não consegui imaginar como ficaria daquele jeito. Poderia convencer facilmente qualquer um do que queria, não por sua beleza, nós duas sabíamos, mas por ser quem era, aquele tipo de pessoa que faz você querer ser quando crescer. – Não fica achando que você pode mudar alguma coisa nessa história toda. Draco precisa de você, mas não é como se você pudesse salva-lo... E isso é muito suicida até para você.

 

— Eu sei.

 

— O que está feito está feito.

 

— Eu sei.

 

— Eu estou falando de Draco.

 

— Ah!

 

— Sei que a gente odeia essa coisa que a gente sente – ela disse – Mas não é o fim do mundo.

 

— Você disse que viu o futuro…

 

— Eu vi…

 

— Do que você não gostou?

 

Hermione me olhou, séria de novo. Respirou fundo e revirou os olhos. Achei que outro sermão estava por vir, mas não veio.

 

— Não quero falar a respeito – ela então olhou para os vidros da poção de Pansy na mesa – Você está esquecendo da sua amiga.

 

Eu me levantei rapidamente. Deixei alguns galeões na mesa e puxei Hermione para fora do bar e só paramos quando vimos Rony e... Ginevra Weasley, cerca de 25 anos, ALI MESMO NO VILAREJO.

 

— Gina! – Hermione a chamou.

 

— Hermione! – e me olhou: – Hermione...

 

— Ronald.

 

— Hermione…?

 

— Olá, Rony – Hermione lhe estendeu a mão.

 

— Estou confuso.

 

Eu empurrei os três para dentro do primeiro coche, apressando-os enquanto Rony fazia perguntas para as duas. Ele parecia bêbado – como todas as vezes desde que Lilá foi embora e ele resolveu agir de um jeito idiota –, mas pelo menos trazia algumas sacolas. Eu estava fechando a porta quando uma série de sonserinos entrara no coche. Hermione ficou espremida ao lado de Gina e eu ao lado de Ronald. Ronald contra a janela, xingando quem quer que fosse. Uma versão mais velha do Draco se sentou ao meu lado e, assim que percebeu o erro, olhou para Hermione – muito divertida com a situação – e me estendeu a mão.

 

Draco Malfoy, cerca de 26 anos, BEM ALI DO MEU LADO ME DANDO A MÃO.

 

— Oi.

 

Gina começou rir e riu mais ainda quando Draco entrou também no cochê, junto de Zabini, mas não o meu Zabini, Zabini de agora. Blaise Zabini, cerca de 26 anos, BEM ALI ESPREMIDO ENTRE HERMIONE E DRACO.

 

— Draco, melhor não – Hermione disse.

 

Draco então colocou a mão no bolso, pedindo desculpas.

 

— Tudo bem – respondi.

 

— Eu esqueci, desculpe – ele até se encolheu um pouco, evitando contato.

 

— Ah, foram tempos difíceis esses – Gina disse e os três riram. Gina olhou para eles sem entender, mas começou rir também.

 

Draco, Rony e eu nos olhamos e os outros quatro riram ainda mais. Era estranho pensar que os dramas de agora não iam servir de muita coisa depois.

 

— Éramos péssimos – Hermione estava rindo.

 

— Ridículos – Draco ria também. Os dois riam e eram lindos. Conseguia imaginar a vida deles como naqueles comercias de margarina trouxa.

 

Draco – o meu Draco – me olhou curioso. Talvez o outro Draco tinha contado coisa que Hermione não me contou. Eu dei de ombros.

 

— Desculpe, é muito engraçado – Zabini dissera. Estava tão lindo quanto Draco. – É que agora a gente percebe que é tudo idiota.

 

— Graças a Merlin! – Rony exclamou assim que chegamos. Ele pegou suas sacolas, passou por todos nós e foi o primeiro a sair do coche. Gina revirou os olhos, mas parecia estar adorando tudo aquilo. – Vocês não vêm?

 

Eles se olharam, sem saber o que fazer.

 

Hermione desceu do coche e nós descemos também, porque Hermione parecia saber o que estava fazendo.

 

— Vamos falar com Dumbledore.

 

— Dumbledore não dá sinal de vida faz um tempo – Rony disse.

 

— Ele deve saber – Draco disse.

 

Rony encarou ele. Draco, mais alto e mais velho, o olhara divertido.

 

— No futuro eu ainda não gosto de você? – ele perguntou. Draco (o nosso Draco) começou rir.

 

— Você acha que não? – ele respondeu. Draco parou de rir.

 

— Espera, é sério? – Draco perguntou. Blaise lhe dera tapinhas nas costas.

 

— Vocês não têm ideia.

 

Rony revirou os olhos.

 

— Certo, vocês vão entrar como? – os quatro o olharam completamente perdidos. Draco bufou. – Olha para vocês! É no mínimo estranho.

 

— Quem diria que seríamos impedidos de entrar em Hogwarts – Gina resmungou.

 

— Fale por você – Draco abrira um sorriso. Hermione também sorriu, maliciosa. Tudo bem, lá estava uma história que não sabíamos.

 

— Dane-se, vamos – Hermione começou andar e Draco pegara na mão dela, fazendo-a voltar. Eu arqueei a sobrancelha. Opa. Eles nem perceberam, mas Malfoy percebeu.

 

— Você está assim agora? Quer que a gente vá preso? – ele disse.

 

— É Hogwarts, pelo amor de Merlin.

 

— Ainda é como eu me lembro – Zabini dissera.

 

— Com Filch e a gata – Draco revirou os olhos.

 

Malfoy resmungou: – Vamos logo. Tenho mais o que fazer.

 

Draco dera uma gargalhada. Uma alta gargalhada. Malfoy revirou os olhos.

 

— O que foi? — Malfoy perguntou.

 

— Foda-se, Malfoy – ele disse. – Você é um idiota.

 

Malfoy arqueou as sobrancelhas: – Agora eu sou o idiota.

 

O outro Draco, mais velho, mais alto, mais bonito, mais carrancudo, lhe dera um tapa. Malfoy podia ter deixado por isso mesmo, mas ao invés disso, lhe dera um soco.

 

— Não quero nem imaginar o que você faz para chegar vivo até aqui – Malfoy, o meu Draco, respondeu.

 

— Você vai saber – Draco dissera movimentando o maxilar.

 

— Parecem duas crianças – Hermione revirou os olhos. Os dois, na verdade, pareciam aliviados. Malfoy por socar alguém e o outro Draco por soca-lo.

 

Eu olhei para Hermione: – Só isso? Vai falar só isso?

 

Ela deu de ombros: – Acha que sou o quem? Narcisa? Draco que se vira.

 

— Você é péssima.

 

— Você é pior – ela respondeu.

 

— Hermione... – Zabini se intrometeu e ela revirou os olhos.

 

Lembrei de Pansy na hora. Não tinha ideia de quanto tempo tinha durado aquilo e tínhamos lá duas versões de Draco com o rosto marcado.

 

— Vamos logo – eu chamei, mostrando os vidros da poção na mão. Hermione se ligou na hora e puxou todos para dentro do castelo, e ninguém protestou porque os outros três sabiam do que se tratava.

 

— Que diabos é isso? – Draco perguntou.

 

— Não é da sua conta – eu respondi indo para a sala dele, a sala da monitoria-chefe, mas ignorando esse mero detalhe. Pamela ia surtar.

 

— Não sei se é uma boa deixar vocês aqui, mas… preciso ir – Rony dissera desviando para a Torre da Grifinória, com as suas sacolas. – Tenho que... Vocês sabem…

 

— Isso mesmo! – Gina foi atrás.

 

— O que ele vai fazer? – perguntei.

 

— Ele vai fazer isso mesmo – Zabini respondeu puxando Gina – Ruiva, fica aqui.

 

— Eu quero muito me achar! Onde será que estou?

 

— Aos amassos com o Potter.

 

— Não… – ela parou e pensou – Será?

 

— Por que na sala da monitoria-chefe? – Draco perguntou assim que chegamos.

 

— Porque Pansy está aqui – eu respondi abrindo a porta. Malfoy nem se dera o trabalho de trocar a senha quando terminamos. Mas também não parecia incomodado por eu estar lá com Pamela. Hermione, Draco, Zabini e Gina vinham logo atrás, mas eu os parei na porta: – Não sei se é uma boa vocês entrarem.

 

— O quê? Por quê? É a Pansy – Zabini protestou.

 

— Se fosse para você estar aqui – eu respondi –, você estaria.

 

Zabini bufou. Lembrei que Hermione não tinha me falado a respeito deles e eu não sabia como as coisas estavam. Na verdade, Hermione não tinha dito nada muito importante.

 

— Deixe ela – Gina disse. – Vai ser estranho se aparecermos assim do nada.

 

— E nós vamos ficar aqui esperando vocês? – Draco perguntou.

 

— Não – Malfoy respondeu – Eu vou ficar, garotão.

 

Draco arqueou as sobrancelhas, mas não disse nada. Hermione me empurrou para dentro da sala da monitoria e fechou a porta logo em seguida.

 

A poção de Pansy já estava pronta. Ela só precisava esperar para ver resultado e, quando ele veio, nós duas ficamos cerca de cinco minutos olhando-o, petrificadas. Positivo. Tinha dado positivo. Duas vezes.

 

Por mais que eu soubesse, não consegui acreditar no primeiro momento. Hermione tinha dito que eles ficariam bem, mas não foi como se aquela gravidez fosse desejada e esperada.

 

— Eu… eu preciso ficar sozinha. Eu… – ela ia começar chorar, mas ignorou isso. Começou arrumar a bagunça e jogou o resultado da poção na pia do banheiro.

 

— Pansy…

 

— Agora não – ela segurava o choro. Para valer.

 

Eu sai e comecei ouvir as coisas de Draco sendo jogadas na parede. Chamei Pansy uma, duas vezes, e na terceira Hermione me puxou para fora da sala.

 

(…)

 

— RINGO! RINGO!

 

— Tenha santa paciência… eu estou de folga! – Sutcliffe abrira a porta e Draco e Hermione entraram rapidamente no seu quarto. Sutcliffe não parecia surpreso, mas os fitou, coçando a barba: – Nós nos conhecemos de algum lugar?

 

— É por sua causa que estamos aqui – Zabini foi o primeiro. Sutcliffe dera um passo para trás. Zabini, mais alto e mais velho, se recompôs e sentou-se no sofá.

 

— Vocês vieram de quando? Dois mil e seis? – ele perguntou e todos assentiram. – Fico feliz por estar vivo em 2006. Achei que com toda essa putaria nem chegaria nos anos 2000.

 

— Por que acha que estamos aqui? – Hermione perguntou, irônica.

 

Os olhos de Sutcliffe brilharam: – Para me salvar?

 

— Precisa nos mandar de volta – Gina dissera.

 

Sutcliffe coçou a barba de novo e desapareceu na cozinha. Estava bebendo alguma coisa em alguma caneca da Lufa-Lufa.

 

— Não vai rolar.

 

— O QUÊ?

 

— Amanhã! Amanhã eu tenho aula e vou fechar o círculo… mas hoje… hoje não dá.

 

— Não podemos passar à noite aqui – Hermione protestou – Disse que ficaríamos aqui só por algumas horas.

 

— Ei, não venha me culpar! Se quer culpar alguém, culpe a grifinória ali…

 

Todos os pares de olhos estavam em mim. Eu, ali no canto da sala, com Draco rindo bem do meu lado.

 

— Eu? – eu?

 

— Você – Sutcliffe respondeu – Se não tivesse deixado a roda, nada disso teria acontecido.

 

— Você prestou atenção no que Pamela disse? E eu ainda cuidei dela mais tarde – protestei – Muito obrigada por me defender.

 

Hermione cruzou os braços, e estava com aquela cara… aquela cara que faz a gente se encolher e se odiar por dentro:

 

— SIM! Você é mestiço também, por que não disse nada?

 

— Você é mestiço? – Draco perguntara ao meu lado.

 

— Nunca me dei muito bem no mundo dos trouxas – ele bebeu mais do seu troço e fitou nós duas, parecia realmente triste: – Eu sinto muito, apesar disso não fazer diferença nenhuma agora ou… – e olhou para Hermione – futuramente. Eu não esperava menos de Pansy, e vou falar com ela – e para Draco: – Eu sou.

 

— Por que nunca nos disse?

 

Sutcliffe riu: – O que será que os jovens sonserinos iam pensar do professor de teatro mestiço?

 

— Sempre gostamos de você.

 

— Ainda sou um mestiço – ele dissera – A raça que vocês acham inferior.

 

— Você ainda é um racista, Malfoy, não se esqueça disso — Gina dissera para meu Malfoy. 

 

— Eu sei o que está pensando – Draco, mais velho e mais alto, dissera para ele. – E é por isso.

 

— O quê? – eu perguntei.

 

— Por isso que ele me acha um idiota – Malfoy respondeu na mesma hora.

 

— Vocês estão trocando farpas o dia inteiro por causa disso? – eu perguntei.

 

— Vocês não trocaram farpas o ano inteiro por causa disso? – Hermione rebateu.

 

— Isso está ficando bom – Sutcliffe riu.

 

— Você está do lado de quem? – eu estava me irritando com ela. Por não me apoiar ou sei lá. Estava claro que nós não gostamos uns dos outros. Draco odiava Malfoy, sua versão de 1996, e Hermione me detestava, por algum motivo.

 

Ela dera de ombros e eu soube a resposta; de Draco, ela estava do lado dele porque sabia coisas que eu não sabia.

 

— As coisas estão ficando tensas por aqui – Zabini pigarreou. Nós duas o olhamos, irritadas, mas para ela, ele dissera, tranquilo: – Mione, supera. Quem era você com 16 anos? E ainda temos que passar a noite aqui.

 

Ela massageou as têmporas, ignorando-me:

 

— Tem razão. Para onde vamos?

 

Draco riu.

 

— Onde mais seria?

 

(...)

 

— Preferia que fosse a Floresta Proibida – Gina resmungou na escadaria.

 

— Não acredito que vou entrar nesse ninho de cobras – Hermione vinha logo atrás com Draco.

 

— Está praticamente vazia – Malfoy respondeu.

 

— Todo mundo foi embora. Você lembra, Malfoy? Não sobrou um para contar história – Zabini dissera. As Masmorras conseguiam ser o lugar mais sombrio do castelo, mas ainda esbanjava um tremendo luxo e aqueles velhos sonserinos junto de Draco pareciam amar tudo aquilo. Eu sabia que Draco era tão fiel a Hogwarts quanto qualquer um de nós. Voltar para casa era uma péssima escolha enquanto tínhamos o castelo para nos abrigar, e sua casa não estava nas melhores condições.

 

Paramos quando chegamos à escadaria da Sala Comunal. Aquela porta era imensa e já me dava enjoos imaginar como era o salão.

 

— Acho melhor eu voltar para a torre de... – eu me virei para ir embora, mas Gina, atrás de mim, me impediu.

 

— O que foi? É por causa do Malfoy?

 

— É por causa de Slytherin – eu respondi, entediada – Não posso entrar em outro Salão além do meu.

 

— Vem logo, somos da Grifinória. Temos mesmo que fazer revolução. – ela me puxou para dentro.

 

Meu estômago estava revirado.

 

A Sala Comunal da Sonserina era uma longa sala com paredes de pedras cobertas por quadros e tapeçarias de sonserinos famosos que eu desconhecia. E lustres. E castiçais. E tudo possivelmente elegante e ostensivo, com grandes janelas grandes cobertas por caras cortinas caras. Tinha ali uma enorme lareira, mesas e poltronas medievais. Tudo verde, prata e caro.

 

Draco e Blaise pareciam estar em casa. Os olhos deles brilhavam ao entrar na sala e passar de um dormitório para o outro, como se tivessem 16 anos de novo. Eu me senti num ninho de cobras

 

Hermione não parecia tão deslumbrada quanto eu; aquela sem duvidas não era sua primeira vez ali, e eu fiquei curiosa para saber se estivemos naquele salão mais vezes e para quê. Ela não me contaria, de qualquer forma.

 

— Se eu tivesse visto eu, estaríamos na Grifinória – Gina se sentara num sofá, de braços cruzados.

 

— Harry ia te ver e ia fazer perguntas – Hermione respondeu. Sentou-se numa mesa com xadrez bruxo, desinteressada.

 

— Minha família nunca vai me perdoar – e ela se virou para mim: – Não conte ao Ron.

 

— Não é tão ruim assim – Hermione olhara a sua volta. Nós três paramos o olhar na tapeçaria, curiosas. Draco conversava com algum sonserino e parecia por demais entusiasmado em revê-lo. Hermione sorriu. Eu quis lhe dar um tapa.

 

Gina balançou a cabeça e se levantou do sofá.

 

— Vou ver os dormitórios.

 

— Resista – eu disse e ela sorriu – Somos grifinórias. Temos mesmo que invadir seus dormitórios. 

 

Hermione estava rindo também: – Não a provoque assim. Ou ela põe fogo aqui e não vamos ter para onde ir.

 

— Então me diz… O que houve com Draco?

 

— Sabe que não vou responder, por que perguntou?

 

— É tão chocante assim?

 

— Somos só amigos. Nós tentamos e... não deu certo.

 

Que tapa na cara.

 

— Você… ama ele?

 

— Você ama? – ela arqueou uma sobrancelha.

 

— Você sabe o que eu sinto – rebati.

 

Ela suspirou. Nosso placar era de Hermione 01 | 00 Hermione.

 

— Amor de nada adianta se você não sabe o que fazer com ele. E, vai por mim, vocês ainda não sabem.

 

— Não sei mais o que pensar dele.

 

— Pode ficar aí fantasiando vocês dois… uma hora isso vai passar e você vai até sentir falta.

 

— Eu não faço isso.

 

Ela riu: – Hermione, por favor. A paixão te deixou com neurônios a menos?

 

Eu revirei os olhos: – Eu já aprendi a lição.

 

Ela chegou perto de mim, o suficiente para falar baixo e eu a ouvir. Ela era linda, muito linda. Fazia você querer ter a atenção dela e não falar coisas idiotas ou burras, caso contrário ela perderia o interesse e você a perderia para outra coisa.

 

— Aproveite-o enquanto pode, menina. Porque daqui para frente só piora.

 

Eu balancei a cabeça: – Ele não quer. Ele não me quer.

 

Ela suspirou. Eu tinha dito uma coisa idiota, dava para perceber.

 

— Tudo ainda beneficia o homem se você só pensar nele, no que ele quer, no que ele vai sentir, para onde ele vai. Foda-se. Pense independente. Faça o que você quer, o que você gosta, o que você sempre quis fazer e não fez por causa de alguma coação moral. Para de ter pena de si. Você é muito melhor que isso. Oh, o Draco me deixou e eu amava ele. Não! Faça ele te escutar. Você tem voz, mulher, você se esqueceu disso? Você se esqueceu que pode usá-la e não faz isso já tem muito tempo.

 

Tinha sido uma série embrulhos no estômago. Cada coisa que ela tinha dito e estava certa… causava uma tensão tão louca que se agravou pelo salão inteiro. Pena de mim mesma… era só o que eu tinha feito. Eu achei que tinha sido o que só me restara, mas não!, Draco não tinha levado nada embora de mim. Eu estava inteira de novo e sequer percebi.

 

Hermione me olhou sorrindo, satisfeita. Aqueles olhos castanhos, eu sabia, queriam dizer que ela tinha ganho a briga e não me restava muito senão admitir a derrota.

 

Hermione 000001 | 100000 Hermione

 


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