– POV da Ellie

Engoli o nó em minha garganta enquanto segurava a mão da minha irmã, tentando reconfortá-la. Quando entramos no quarto, eu fechei a porta e me encostei na parede, respirando fundo.

– Ela mal olhou para nós – disse Liv, sentando na cama – Não sei se fico aliviada ou triste.

– Pelo menos não estragamos tudo logo de cara – eu disse – imagina a cara de tia Emma se nós tivéssemos chamado ela de “tia” sem querer? – nós duas rimos.

– Fico me perguntando onde está papai. Será que eles já...? – Liv levantou a sobrancelha. Eu levantei a minha em resposta, dando um sorrisinho.

– Estamos perto de sermos feitas, maninha – eu disse – e temos que voltar pra casa urgente. Aquela bruxa deve ter deixado alguma brecha no feitiço.

– Nós estamos em casa, Ellie, esse é o problema. Nós só precisamos estar em casa na época certa. Mamãe já disse algo sobre feitiços para controlar o tempo?

Tentei me lembrar da pilha de livros que mamãe me fez estudar durante quase seis meses. Pior época da minha vida. Odeio estudar.

– Tinha um, sim. Mas é muito complicado. Precisamos de um cérebro, a coragem de alguém e o coração da pessoa que mais odiamos – eu disse – O cérebro e a coragem não são tão ruins de conseguir. O coração da Rainha da Neve... bom, aí a coisa complica.

– Ela nos mandou para cá por um motivo, nós precisamos descobrir o que é – disse Liv – Estamos na época do auge dos ataques dela. Porquê diabos ela nos mandaria justo pra cá?

De repente, senti um arrepio na espinha. Não um arrepio qualquer, um arrepio congelante, como se o meu sangue tivesse virado o oceano Ártico ou algo do tipo. Pude ver cristais de gelo se formando debaixo das minhas botas, subindo pelas paredes do quarto, cobrindo completamente o guarda-roupa e a porta, cuja maçaneta se congelou até quebrar. Segurei a mão de Liv enquanto flocos de neve começavam a se formar no ar e a porta se abria com um rangido pertubador.

– Frio, queridas? – disse a Rainha da Neve com sua voz suave. Seria um prazer enorme arrancar aquelas cordas vocais quando eu tivesse a chance.

– Liv? – eu disse, sem tirar os olhos de Ingrid – acho que vai ficar meio quente aqui.

Minha irmã sorriu enquanto nós juntamos nossas mãos numa bola de fogo duas vezes mais letal e espalhamos as faíscas pelo ar, derretendo o gelo. Ingrid sorriu, e antes que pudéssemos atacá-la, congelou nossas mãos, que ficaram presas uma na outra. Ideia meio estúpida considerando que nós fazemos fogo com as mãos, mas a especialidade de Ingrid é o gelo, não a inteligência.

– Sério? – disse Liv, enquanto o gelo derretia nas nossas mãos.

– Eu não vim aqui para criar conflito. Quero fazer uma oferta de paz – disse a Rainha da Neve.

– Claro, claro, uma oferta de paz. Foi por isso que você jogou um feitiço na gente e nos fez sofrer vendo que a nossa própria mãe não nos reconhece? Sua oferta de paz é tão distorcida quanto os seus planos, sua bruxa – disse Liv, rangendo os dentes.

– Você sabe que vai ser derrotada, não sabe? – eu perguntei – qual o objetivo de voltar no tempo? Você não vai conseguir nada de nós. O seu futuro é ficar presa naquela porcaria de jarra dourada – eu falei.

– Você está certa. Eu sei que posso ser derrotada. Se vou ser? Bem, essa já é outra história. E vocês, meus amores, serão parte crucial dela.