Forgotten escrita por Lolis


Capítulo 4
III. cartas e estilhaços


Notas iniciais do capítulo

Leiam as notas finais, sérião ~~~
Boa leitura que esse tá maior



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You're the ink on my page

When I write a love letter

You're my doctor when I'm poring

{ Love Letter – Jessie J }

Cartas e estilhaços,

– Eu vou sair de casa.

Faltavam exatos quatro dias para as férias em que o fato se consumaria. Sirius disse com tamanha simplicidade que tomara a decisão de abandonar a Casa Black como se fosse algo que eu deveria esperar há muito.

Confesso que eu não esperava.

Éramos rebeldes, é claro, libertos das correntes que nos prendiam às tradições, mas ainda éramos filhos. Ainda tínhamos nossas famílias – eu, ao menos, demoraria um bom tempo até a decisão fatídica de deixá-los. Mas Sirius era imensamente mais intenso, mais vivo, mais complexo que eu. Ele escondia-se em camadas e camadas que eu não me arriscava a despir, e podia fazer qualquer coisa que quisesse.

Tinha força para tanto.

– Tem certeza? – Perguntei gentilmente, enroscando meus dedos uns nos outros. Eu desesperadamente queria tocá-lo, mas sabia então eu perderia a razão. Estaria perdida nele, e na espiral de desejo, paixão e sentimentos confusos na qual apenas Sirius podia prender-me. O único beijo que trocamos naquele ano ainda era recente em minha memória, fresco e desejável, mas parecia bastante estranho agora.

Eu não queria perguntar a ele o que realmente éramos naquela época.

– Nunca tive tanta certeza de algo, Lars. – Ele fechou os olhos, respirando fundo. – Você deveria fazer o mesmo.

– Não é tão simples.

– Por quê? – Ele perguntou, abrindo os olhos de súbito. Olhava-me com olhos de gelo, cortantes como aço, perfurando minha pele. Sirius tinha esse estranho poder sobre mim: Transformar-me em uma garotinha frágil e inquieta, enquanto todos os outros conheceriam Lara Malfoy de outra maneira tão oposta à visão que ele tinha.

– Eu não sou você, Sirius. Eu amo minha mãe! Eu não posso deixá-la sozinha com meu pai. – Choraminguei, fechando os olhos. Eu nunca choramingava, à exceção dele. Sirius conhecia tão bem cada fraqueza, cada medo meu, cada ferida que nunca cicatrizaria. – Eu não posso. Ainda são minha família.

– Lara, eles matariam seus amigos só por serem mestiços. – Sirius jogou a realidade contra mim como um tapa. Ardia ouvi-lo dizer tão claramente aquilo que já conhecia há tanto, mas me recusava à ver. Eu sabia que meus pais eram monstros (em especial Abraxas Malfoy), mas não queria lembrá-lo. Queria trancafiar essa realidade tão fundo em mim que já não fosse possível conhecê-la. – E se não fizer nada, será igual a eles!

Foi a única noite em que fui dormir brava com Black – porque ele era feito de prática e de verdades, mas eu era apenas uma sonhadora. Eu não tinha forças, sozinha, para agarrar-me àquilo que eu acreditava – tão fraca e tão tola eu era.

Durante minha juventude, eu costumava aparentar, à maioria das pessoas, uma Lara Malfoy sarcástica e distante, tão impenetrável quanto gelo. Eu os tinha sempre em minhas mãos – mas tudo sempre se resumia em muros construídos para me proteger. Por dentro, Lara Malfoy era uma garota assustada e aos pedaços.

E quase ninguém podia costurá-los de volta.

Quase todo mundo prendia-se à minha órbita curioso para entender quem eu era, mas ninguém quase nunca o vazia. Eu estava presa a uma redoma de vidro e não queria quebrá-lo. Não podia. Eu estava em minha zona de conforto, estava segura.

Mas Sirius arrancava-me de lá mil vezes. Quebrava meus vidros, trincava meus pensamentos. Punha-me em estilhaços, só para colocá-los inteiros novamente. Ele era a loucura e a sanidade.

Recolhi-me para Annie, naquela noite, ainda irrita com Black. Foi a primeira vez em que disse à minha amiga que eu estava irremediavelmente apaixonada por Sirius Black – a primeira vez em que verbalizei o que vinha me atormentando há tanto.

– Você pensa que eu sou cega? – Ela disse com um sorrisinho maroto.

Andrew estava na Ravenclaw, mas quem tinha a resposta para tudo sempre era Annie.

De qualquer forma, naquelas férias eu não enviei carta nenhuma a Sirius. Costumávamos nos corresponder com trivialidades – da primeira vez em que meu pai me pegou enviando uma carta à Casa Black pareceu bastante satisfeito. Achei, por bem, esconder dele que se tratava de Sirius, o filho desajustado.

Quem me contatou foi ele, no dia seguinte em que chegou à casa dos Potter.

“Um dia você verá que é o certo.”

xxx

De todas as pessoas do mundo, parecia que a única capaz de entender-me por completo – mesmo sem aceitar esse completo – era minha mãe. Só após o nascimento da minha criança eu pude entender toda a dor e todos os espinhos que cravei profundamente em Mabelle Malfoy: Criada para casar-se com o primo, agraciada com uma beleza sublime que eu nunca possuiria, à exceção dos olhos verdes, a gentil senhora Malfoy nascera para corresponder às expectativas da família.

Falhou comigo, no entanto. Eu sabia que, quando nasci, era sua preciosidade. Sua pequena garotinha, e ela cuidou de mim, protegeu-me contra os perigos do mundo em que víviamos.

E eu a deixei. Deixei-a porque era preciso fazê-lo, mas também me arrependo. Mabelle Malfoy era apenas uma vítima das consequências que nunca havia tido coragem para mudar sua vida – não fora criada para tanto.

Durante minha juventude, recebi inúmeras cartas da minha mãe. Não do meu pai – Abraxas Malfoy era um homem famoso e respeitado, mas era também frio o bastante para dar pouca atenção a mim, principalmente quando eu tornei-me tão errada que me punha como uma vergonha a ele.

Mamãe, no entanto, nunca me abandonou. De tantas cartas que recebi dela – nunca ameaçadoras, como as do meu pai – poucas guardei. Uma, no entanto, e quero deixá-la aqui, foi exatamente a respeito do meu relacionamento com Sirius – e eu tenho certeza que naquela época, quando eu tinha apenas dezesseis anos, ela já sabia que eu não pertencia mais a ela. Que eu tomara a decisão, e, que assim que terminasse Hogwarts, eu voaria para onde ela não poderia proteger-me.

Espero, sinceramente, que um dia minha Anele possa ler este diário. Assim, minha querida, eu quero que conheça sua avó – que voltou à França com a morte do esposo, e ficou lá até seu falecimento, quase três meses antes de eu dar à luz.

“Meu amor,

Estou mais preocupada que o normal, minha querida. Não porque eu não saiba que está segura – muito embora eu desejasse que você houvesse sido enviada à Beauxbatons, eu consigo entender agora que você precisava de Hogwarts, e que Hogwarts haverá de mantê-la sã e salva. Dumbledore, muito embora não compactue com as escolhas que nós, Malfoy, fazemos, é um bom homem.

Quando chegar o tempo, eu quero que o escute, está bem?

Pergunto-me se está bem, minha pequena. A guerra está se acirrando aqui fora, mas eu não quero que se envolva – muito embora eu saiba que é inevitável que o faça. Como Lara ou como Malfoy, você se lançará à batalha, porque é isso que fez sua vida toda.

Fui à casa Black há alguns dias, para visitar Walburga. Merlin sabe como a mulher está meio destroçada de vergonha – mas nunca foi uma perda grandiosa, muito embora nenhuma outra dama bruxa deva escutar-me falando assim. Seu menino mais velho saiu de casa – e soube que você está com ele agora. Entenda, Lara, quando nossas crianças chegam à idade, é sempre duro vê-las voar. É sempre doloroso, especialmente quando sabemos que elas nunca pertenceram a nós.

Não importa, Lara, a pureza do nosso sangue quando nossos ventres dão à luz. O amor será sempre o mesmo querida. E a dor – porque o amor sempre virá com a dor – também será o mesmo. Essa é a sina que as mulheres carregam, especialmente quando temos filhos excepcionais demais para aquilo que escolhemos.

Eu não quero que se machuque, minha menina. Lucius estará seguro – ele sempre escolherá a segurança, bom menino que é. Mas você sempre quis o mundo todo, com essa alma grandiosa, e isso me amedronta. Ensinaram-me a cuidar da casa, dos filhos, e do marido, mas ninguém ensina a ser mãe. Não de verdade. Ninguém me ensinou a vê-la partir.

Eu sei, minha pequena, eu sei. Não precisa dizer. Eu sempre soube, e acho que seu pai sempre soube também, mas apenas nunca quis admitir. Embora todos os louros pertencessem a Lucius, o filho perfeito, nosso amor sempre foi seu, porque seu tempo conosco seria curto. Foi uma percepção que tive quando nasceu, sabia? Lara não é um nome bruxo, tampouco um nome comum à nossa família.

Loureiro, vitoriosa. Muda e falante. Parece com você. A pronúncia fácil e clara, a dicotomia, a oposição. Você sempre esteve em guerra consigo mesma.

Eu falei com Sirius uma vez. Ele é um bom garoto – pode ser tão educado quanto cabe a um Black, mas também pode ser um diabrete. Tenho certeza que você poderá equilibrá-lo muito bem. Você costuma fazer isso com as pessoas – trazer a tona o melhor e o pior.

Ademais, seu tempo está correndo, Lara. Mais rápido do que eu gostaria – e eu queria poder atrasá-lo, mas seu pai está irredutível. Com a saída de Sirius de casa, e sua aprovação aberta a ele, Abraxas está impaciente para dar-lhe um futuro. Quando as férias chegarem, haverá um anel esperando por você, como há tantos anos houve para mim.

Desculpe-me, minha Lara, mas não poderei impedi-lo. Não agora. Venho fazendo-o desde que tem treze anos – e a maioria das famílias começa a nos pressionar. Acredito, no entanto, que você sabe o que deve fazer.

Você sempre soube.

Com amor,

M. M ”


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Notas finais do capítulo

DESCULPA A DEMORA! Gente, eu tenho uma relação complicadissima com meus personagens. Daí como a Amery/Mia surgiu, a Lara ficou com ciúmes e não queria aparecer. Aí agora ela veio. O período pulado nesse capítulo vem no próximo, porque eu queria colocar essas duas partes juntas.

Ah, por falar em Amery, eu comecei uma fic nova. A Amery é mais desbocada e menos simpática que a Lara, mas ceis vão gostar dela. E as duas fics se cruzam... A Anele aparece lá e tal. Leiam se puderem? http://fanfiction.com.br/historia/567683/Monsters/

Obrigada pelas reviews lindas, sério. E temos o nome do ship: Larius!! Obrigada Maya Tenebrose, sério! E obrigada à todas as outras que comentaram também. Vocês me deixaram tão feliz!!
Até o próximo.

XOXO