Crônicas de um Starky esquecido escrita por Davink


Capítulo 2
Capítulo 1 - Execução


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ^_^



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A ordem para matar partiu diretamente do Tenente Terrence Ansen.

Um pequeno murmúrio perpassou pelo exercito que se prostrava a sua frente, não era como se aqueles homens embora fossem muitos pudessem ganhar dos Starky, sem mencionar que era contra as leis um clã atacar o outro sem motivos.

Entretanto Terrence não se deixou abater por tais circunstancias. Em sua cabeça todo o plano já estava montado não havia porque temer afinal se aqueles soldados conseguiam abater demônios de até cinco metros apenas com o fio de uma espada era de se esperar que pudessem aniquilar a família rival.

O comandante pigarreou, forçando seus subordinados a se calarem.

– Homens! Apenas tenham em mente que o que faremos será para o bem de nosso próprio povo. – Sorriu mostrando toda sua confiança, apesar de não usar para os motivos corretos, Terrence sabia que tinha um poder absurdamente grande quando o assunto era manipular as outras pessoas. – Não precisamos de dois clãs para proteger as muralhas! E não é segredo para nenhum de nós que sempre ficamos abaixo dos Starky, vocês não querem ser reconhecidos?

Exato. Terrence sabia sobre o que falar para incentiva-los, sabia o que era preciso para convencê-los de que os Starky só estavam atrapalhando. E caso fosse necessário aniquilar um ou dois que não caíssem em sua manipulação, então tal seria feito.

Sem perdão, sem misericórdia. Esse era o lema dos Ansen.

Depois de mais alguns minutos explicando como o plano seria posto em prática, o batalhão já marchava em direção ao quinto domínio. Não sem antes conseguir ajuda das outras três famílias, um fato que talvez seja importante para você: A ganancia é pior que peste negra, se esgueira de forma vil entre homens de bom coração e só é possível perceber sua presença quando o estrago já é grande demais.

– Espero que não esteja tentando nos enganar, Ansen! – Esbravejou Erik Jensey em seu habitual tom de mau humor – Se formos aniquilados depois disso saiba que a culpa será toda sua.

Terrence reprimiu um sorriso.

– Ora, se não quisesse ter parte nisso deveria ter ficado em casa, Erik. – Encarou-o de lado – Afinal todos nós aqui somos culpados, não é mesmo?

A pergunta pairou no ar, e até mesmo as anciãs Vermont se calaram diante das palavras de Terrence.

O comandante Ansen suspirou com seu ar previamente convencido, e se debruçou sobre as janelas do castelo Ansen e assistiu aquela centena de combatentes descerem a sinuosa estrada de pedra até os portões Starky, não pensou que pudesse ser tão fácil.

Ou talvez não fosse ele só não sabia disso.

***

Em um mundo onde homens são caçados dia e noite por demônios não há muita coisa que possa alegrar uma criança, mas se havia algo que podia fazer um tímido sorriso brincar nos lábios do herdeiro Starky essa coisa era o seu aniversário.

Na verdade tal comemoração não enchia de felicidade apenas o pequeno, mas assim como o restante dos Starky que pelo menos dessa vez podiam descansar e deixar que dessa vez os Ansen patrulhassem as muralhas.

Mesmo com toda a euforia da festa não era difícil de ouvir o marchar incessante do exército do lado de fora, porém Jhonny Starky não se importou com isso, ele sabia, eram apenas os Ansen chegando.

Mal sabia ele que aqueles passos pertenciam não só aos Ansen, mas também as outras três famílias: Vermont, Jensey e até mesmo os Maximilian que se intitulavam neutros.

As quatro famílias se juntaram para por em prática um plano macabro, mesmo sabendo que era os Starky quem mais os protegia, eles planejavam aniquila-los e apagar todos eles da história. Tomados pela sede de poder, mal percebiam que estavam pondo em risco a vida de todos os milhares de pessoas me moravam dentro daqueles muros.

Era um sacrifício que Terrence Ansen estava disposto a fazer, os Starky estavam ficando mais fortes a cada milênio, eles tinham os melhores espadachins de todas as terras de Sem, o que aconteceria se um dia eles decidissem se rebelar? Não, o tenente da segunda família mais rica não podia deixar que isso acontecesse. O melhor a fazer, era cortar o mal pela raiz.

E assim tinha se concretizado o maior motim que aquelas terras já viram.

Alguém batera nos portões de madeira, o código de batidas deixara claro que vieram apenas visitar. Quem sabe até talvez parabenizar o aniversariante.

–Os Ansen chegaram! – Bradou Jhonny Starky e depois ergueu se cálice, seus companheiros bradaram junto e fizeram o mesmo com suas bebidas – Tom abra os portões e deixe nossos visitantes entrarem!

Tom, o lacaio correu para acatar a ordem de seu comandante, ele girou o cordame e em seguida as alavancas, o portão estremeceu e logo começou a abaixar.

Ninguém percebera o que estava prestes acontecer, a não ser é claro o pequeno Adrian, que mesmo com apenas oito anos de idade era um exímio observador e antes que o portão estivesse totalmente abaixado viu de longe o brilho das espadas em punho.

–Papai! – Foi a única coisa que o pequeno conseguiu dizer antes que uma flecha se prostrasse no pescoço do líder, Jhonny estava morto.

Tom que acabara de abrir o portão se assustou, tentou reverter às alavancas, o que não deu muito certo, pois assim que tentou realizar tal ato suas mãos foram separadas de seu corpo, o velho caiu no chão desesperado gritando, mas seu desespero não durou muito pois Jared, o capitão da família Jensey acabou com seu sofrimento.

–Matem todos! – gritou, e o exército obedeceu.

O caos se formou mais rápido que fogo se espalhando e palha seca, pessoas corriam de lá para cá, tentando inutilmente salvar suas vidas, todas sem exceção de nenhuma era abatida sem dó nem piedade.

Isabel, a jovem esposa de Jhonny estava em desespero, não acreditava no que via, fora treinada muitas e muitas vezes para agir em momentos semelhantes a esse, quando seu marido estivesse incapacitado de agir ela deveria ajudar todos a encontrar um lugar para se esconder, mas não havia escapatória, não tinha lugar para esconder.

Era um massacre.

Muitos dos bravos cavalheiros Starky tentavam inutilmente proteger seu povo, mas no fim vencidos pelo cansaço e pela desvantagem acabavam caindo por terra.

–Mamãe? – A pequena Juno de apenas doze anos chamava inutilmente a mãe, a garota segurava o irmão Adrian nos braços – Precisamos sair daqui!

Juno conseguiu fugir de uma saraivada de flecha que fora jogada em sua direção, infelizmente por causa do choque a mãe não conseguira fazer o mesmo, ela estava caída no chão, não morta com uma flecha cravada em seu tórax.

–Mamãe! – a garotinha tornou a repetir, a mulher de cabelos negros encarou-a e antes que pudesse dizer qualquer coisa, seus olhos se fecharam.

Juno não sabia o que fazer, também tinha estado em várias aulas de luta, porém não conseguia enxergar como uma menina de menos de um metro e meio conseguiria vencer todos os melhores combatentes de toda a academia dos cinco povos, então ela fez o mais óbvio.

Correu.

O garoto se agarrou as roupas da irmã, ao mesmo tempo em que reprimia o choro recentemente formado em sua garganta, Adrian era esperto e sabia que algo estava errado, já dentro da mansão principal, Juno corria pelos corredores, tentando inutilmente ocultar sua presença ali, mas era perda de tempo, os homens maus viriam procurar ali também. Ela pensou em se esconder em seu quarto, mas logo descartou a ideia – era óbvio demais- então a verdade lhe atingiu rápida e sorrateira como qualquer uma daquelas flechas e espadas, somente um dos dois conseguiria se salvar, e teria de ser Adrian.

Segurando os soluços de desespero, Juno abriu o compartimento que abrigava um dos muitos altares aos deuses que havia naquela casa. Jogou toda a parafernália religiosa para o chão, velas, oferendas e estatuetas caíram no chão com um estrondo. Do lado de fora alguém gritou:

–Aqui dentro! Tem alguém aqui dentro!

Juno praguejou baixinho.

–Deuses idiotas! – murmurou para si mesma – Lhes fazemos altares e é assim que nos retribuem?

Os passos estavam se tornando mais próximos, a irmã mais velha enfiou a garotinho dentro do compartimento, não era muito grande, mas ficava atrás de uma estante, o que iria oculta-lo.

Mesmo sabendo que o garoto ficaria bem, Juno não conseguiu ignorar o aperto em seu peito, tentou não chorar apenas para reconforta-lo.

–Fique aqui pequenino.

Foram as ultimas palavras amigas que Adrian ouviu antes de ser fechado naquele lugar. Estava escuro e frio, no canto do espaço havia uma pequena estatueta que reluzia em ouro.

Adrian encarou a estatueta, enquanto do lado de fora escutava os gritos de horror de sua irmãzinha, tudo se calou de repente.

–Deuses idiotas! – Adrian murmurou para si mesmo.

***

Grande parte do primeiro domínio já havia sido destruída quando pequeno Adrian resolveu sair de seu esconderijo.

Procurou pelo corpo de sua irmã, e mesmo que tivesse medo de encarar a realidade não podia deixar de verificar, no entanto nada encontrou, não havia nada além de um rastro de sangue no chão, porém não sabia se devia segui-lo.

Optou por não fazê-lo.

O pé esquerdo estava descalço, pois perdera o sapato no meio da correria, o cheiro de queimado fazia suas narinas arderem, cambaleou por entre as colunas de mármore a fim de se esconder, mas logo notou que não havia ninguém ali.

– Mamãe?! - o pequeno chamou num sopro de voz, com a esperança de que talvez tudo aquilo não tenha passado de um sonho, mas ninguém o respondera, havia apenas o silêncio, um silêncio cortante e torturante que no futuro faria Adrian ter os piores pesadelos.

Ele caminhou por entre os corredores recusando-se a olhar para as janelas, não queria ver a desgraça em que sua família se encontrava, não queria ver seus amigos mortos, todos se foram, não restara um. Ao chegar ao pavilhão central lágrimas vieram sem permissão e tomaram conta de seu rosto, dançando em grossas gotas pelas bochechas do garotinho Starky. Em cima da primeira muralha, fincada em uma haste de ferro feito uma bandeira sangrenta, estava a cabeça de seu pai, Jhonny Starky.

Seu peito se contraiu, e logo ficou difícil respirar.

“Por quê?” era o que ele se perguntava interiormente “Por que dói tanto?”.

Adrian não sabia responder, ele queria respostas.

Quem eram aquelas pessoas? Por que eram tão cruéis? E o mais importante, Por que mataram sua família? Sempre aprendera que o lema dos Starky era conversar e não lutar, sempre soubera que as palavras eram mais fortes que as ações então porque fizeram isso?

Eles não conheciam o código dos clãs? Eram perguntas de mais para um coração e uma mente tão pequenos, e todas sem nenhuma resposta.

Injusto!

Era o que sua mente gritava incessantemente, tudo aquilo era injusto, uma bela e doce injustiça. Mesmo sem forças, mesmo com seu coração doendo e o peito sem ar algum Adrian obrigou-se a caminhar, seguiu em direção as terras áridas. Não olhou para trás, não olhou para a pilha de corpos que jazia no centro do pavilhão, um pilha de corpos carbonizados e irreconhecíveis, não queria guardar tal imagem em sua memória, embora seu coração já estivesse cheio de ódio e amargura.

***

O deserto não era o melhor lugar para uma criança, o pé descalço já estava vermelho devido à temperatura da areia, o sol fritava seus miolos a ponto de fazer o menino murmurar palavras sem nexo, o lábio inferior estava desfigurado por causa da falta de água, a pele pálida de seu rosto estava bronzeada e ressecada causando dor e ardência, mas ele não parou de andar, tinha um destino e chegaria até lá, nem que isso custasse suas ultimas forças.

Adrian lembrou-se do treinamento que recebera do pai semanas antes, que se algo acontecesse com sua família, deveria pedir ajuda aos outros clãs, mas apesar de ser criança Adrian não era bobo, sabia que se recorresse á tal medida, teria o mesmo fim que seus pais, então sem muitas opções, decidiu fugir para a floresta Narkesin.

Na verdade fugir não seria o termo correto, e sim se esconder, não só dos homens, mas também dos monstros que lá havia, dos demônios que viviam á espreita em busca de carne fresca para devorar.

A recomendação era que Adrian nunca se aproximasse daquela mata, que mesmo sem opções ele buscasse qualquer outro lugar para se esconder que não fosse à floresta, mas Adrian estava cansado de regras, de recomendações, da lealdade dos Starky, da indecência dos outros clãs, ou da maldade das bestas demoníacas.

Ele prometeu a si mesmo que se encontrasse algo que ameaçasse sua sobrevivência arrancaria suas entranhas antes que pudesse dizer Bu!

Entretanto não foi bem assim que aconteceu, em meio as árvores tudo parecia mais sinistro e invasivo, tudo ali era motivo para fazer barulho, cada centímetro ali parecia se mover pronto para devorar Adrian.

Respire fundo. - dizia para si mesmo, a voz saia arrastada e um tanto infantil, algo atrás de Adrian se mexeu, seu instinto o fez virar-se rapidamente, mas não havia nada ali lágrimas voltaram deixando sua visão embaçada.

– Você não é a presa, é o predador! - Tentava se convencer.

O barulho voltou, um graveto foi esmagado ao seu lado, usando a visão periférica viu uma sombra a menos de dez metros de si.

Correr foi seu primeiro reflexo, porém por algum motivo suas pernas não se moviam. Uma clava passou voando a centímetros de seu rosto, Adrian caiu no chão.

A adrenalina de repente se fez presente, as pernas começaram a funcionar desajeitadas e ele pôs-se a correr, uma segunda clava passou por cima de sua cabeça se fincou junto a árvores podre a sua frente, que caiu com a força do impacto.

A coisa seguia-o de perto, era grande pelo que podia saber, pois o chão tremia com suas passadas.

Flechas passavam zunindo por seu ouvido, uma infelizmente passou raspando por seu rosto e fez um arranhão em sua bochecha.

Em seguida uma trompa soou, e mais daquelas coisas pesadas apareceram atrás de Adrian, ele arriscou olhar para trás, somente para se arrepender depois, aquelas coisas com certeza não eram demônios, mas era tão feroz quanto.

Lembrava-se dos antigos livros da biblioteca Vermont que visitara certa vez, um dos livros grossos e empoeirados falava sobre uma raça de elfos, não elfos não, ogros. Sim, ogros tachados como extremamente perigosos e comedores de carne humana, sua mãe dissera que era apenas contos de fadas, mas agora o menino tinha certeza de que aquelas coisas eram reais, a menos que contos de fadas queiram te fazer de jantar.

Perdido em pensamentos Adrian não percebeu a armadilha prostrada a sua frente, e antes que pudesse sequer pensar em parar, sua pernas se enroscaram em cordas cuidadosamente trançadas como uma cama de gato, e em questão de segundos estava suspenso no ar de cabeça para baixo. Os ogros pararam.

Agora que podia ver tudo com mais calma, Adrian desejava ter caído em um buraco e morrido na queda, os ogros entraram em seu campo de visão e junto com eles um cheiro horrível de carne podre, eram humanoides gorduchos, com pele verde musgo e presas protuberantes, os olhos pareciam feitos de lodo, e para o horror do garoto, eles não usavam roupas.

O feio maior grunhiu algo pros menores que assentiram e desapareceram em meio às árvores. Adrian não era perito em língua de ogro, mas podia ter certeza de aquele grunhido queria dizer uma única coisa do tipo: Conseguimos comida!

Que bela vida Adrian tinha, era uma criança órfã que seria devorada até os ossinhos por ogros que não usavam calças. Sua cabeça começou a latejar aparentemente sem motivo, e sangue escorreu de seu nariz, bem pelo menos ele morreria antes de ser cozido. Os ogros restantes voltaram com um caldeirão e lenha. Iriam devorá-lo ali mesmo, que sorte a de Adrian, não?

Enquanto alguns tentavam acender a fogueira, outros tentavam arrancar um pedacinho do garoto antes mesmo que estivesse pronto Adrian já tinha se entregado se fosse para morrer, morreria com honra, a dor em sua cabeça já tinha se tornado lancinante a ponto de ser insuportável, foi quando o primeiro ogro caiu.

Uma adaga de prata estava cravada em seu peito, e logo este se desfez em musgo, os outros ogros não pareceram perceber a morte do companheiro, um vulto dourado passou em uma velocidade sobre humana, e retomou a posse da arma, Adrian não pode decidir se o que vira era real, pois estava quase inconsciente.

Em seguida mais ogros caíram da mesma forma que o primeiro, o mesmo vulto dourado fazia movimentos precisos e os derrubava sem nenhuma clemência, mas quem quer que fosse não teve tanta sorte com o ogro maior. Assim que este percebeu a ação, derrubou a figura com um único golpe, e antes de desmaiar Adrian viu uma garotinha de mais ou menos dez anos com vestes levemente douradas, ela segurava uma adaga coberta de uma gosma verde em uma das mãos e se encontrava igualmente semiconsciente.


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Notas finais do capítulo

Aceito críticas, elogios e etc, não deixem de comentar afinal não custa nada, acredito que não tenha nenhum erro MAS se por acaso vocês acharem algum podem falar.

Beijinhos de cacau '3'