Guiados pela lua escrita por Alia Novaz


Capítulo 5
De volta ao pesadelo


Notas iniciais do capítulo

Por ser final de ano estou ficando mais lenta, novo capítulo só em janeiro, desculpe 😓



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Estava novamente no penhasco porém, tudo parecia mais distorcido; cada vez que olhava para cima o céu parecia se afastar mais, as ondas batiam nas rochas e formavam mãos d'água que tentavam agarrar meus pés. A mulher loira apareceu do meu lado. Eu tentava gritar e me mexer, mas não conseguia, estava preso e imóvel. Ela me encarava com os olhos azuis safira e seu rosto desfigurado
– você voltou- ela sussurrava repetidamente- não sabe quanto tempo eu te esperei
As palavras não saiam, eu não entendia nada do que ela falava.
Estava me segurando com toda a força nas rochas, eu sentia minhas mãos ardendo e as vi sangrando
– por que fez aquilo? - ela ia começar a chorar- por que? Eu te amava
– moça eu não te conheço!- consegui falar com muito esforço
Ela ficou furiosa, me pegou pelos pulsos e me jogou do penhasco
– concerte o que fez- ela gritava enquanto lágrimas escorriam por seu rosto- concerte!
Fechei os olhos, a queda parecia não ter fim, era quase infinita. Quase.
Escutei meu corpo se chocando com a água, mas quando abri os olhos estava novamente no topo do penhasco, mais precisamente, no começo da ponte de pedra
– Ingrato! - escutei á distancia a voz da mulher loira
– calma amor, não é isso!- uma voz masculina gritava
Dificilmente consegui ver uma mulher de cabelos castanhos e um homem loiro juntos a mulher loira
– três anos, foram três anos juntos e você me troca por essa biscate!
Decidi me aproximar para ver o que estava acontecendo. Dei uns cinco passos e andei 3 metros. Me aproximei de mais, mas ninguém parecia me notar
– amor não é isso, confia em mim- olhei para o homem loiro que falava. Ele era... A minha cara, só que mais velho
– Lorena, é verdade, não está acontecendo nada- a mulher de cabelo castanho falou
– você cala a boca sua puta- a mulher loira, Lorena, estava super brava- você, sua falsa, era minha melhor amiga. Como pode fazer isso?!
– não foi ela- o homem falou- quem começou fui eu- ele parecia envergonhado
– eu sabia! todo mundo sabia, mas pra varia, a corna é a última a saber- Lorena começou a chorar
O homem se aproximou para abraçá-la e ela recuou para perto da borda do penhasco
– sai! - ela gritou
– Lorena eu .. Eu não sei o que falar- o homem tentava se explicar
– então cala logo essa boca!- ela avançou nele. Parecia que ela não ia fazer nada, apenas abriu os braços num gesto repentino para ele se afastar, porém ele se assustou e a empurrou. Ela perdeu o equilíbrio e começou a cair para o penhasco, ele a segurou pelo colar de diamantes no pescoço
– Lorena! - ele gritou, mas era tarde, o colar não aguentou, o fecho estourou e ela caiu.
Ele gritou. A mulher de cabelos castanhos estava paralisada
– Lorena!- ele gritou novamente, mas o único som era das ondas se quebrando contra as pedras
– meu Deus! - a mulher falou
– não ouse contar o que aconteceu aqui pra ninguém! - o homem estava tenebroso. Enquanto tremia uma lágrima escorria de seu rosto
– mas e se ela ainda estiver viva? Precisamos chamar ajuda e...
– não! - ele gritou- nem uma palavra a mais! Isso morre aqui- ele jogou o colar no penhasco.
A imagem começou a se desfazer, estava sumindo aos poucos até não haver mais nada. Somente a visão do branco.
Comecei a escutar vozes, no começo pareciam estar distantes, como se eu estivesse de baixo d'água. Elas começaram a ficar mais nítidas até eu conseguir ouvir com perfeição.
– acho que devemos avisar os tios dele- Guilherme falou
– ta louco?! - Bianca parecia inconformada- é capaz deles o machucarem mais ainda
–o que vamos fazer então? Magia?- Guilherme parecia desesperado
– claro que não! Não podemos simplesmente chamar um médico?!- a voz de Raquel parecia distante e incomodada
– nesse fim de mundo?- Augusto ria nervoso
– nós podemos chamar os tios- Bianca sugeriu
– eles viajaram para o Egito - Marcos falou
– foram mês passado e acho que não pretendem voltar tão cedo- Murilo completou
– mas Bianca está certa- Augusto opinou- a mãe pode ajudar
– o que vamos falar pra eles?- o tom de Guilherme era inquieto- mãe, pai, tem um menino quase morrendo aqui, voltem e nos ajudem
– não é uma má ideia- Murilo zombou
– eu posso falar se quiserem- Marcos propôs
Eu ouvia todos falarem, mas não via ninguém. Comecei a abrir os olhos devagar, piscando o tempo todo
– gente cala a boca, ele tá acordando! - Bianca parecia feliz e preocupada
– gentil e doce - Marcos falou com sarcasmo
– como sempre- Murilo, pra variar, o completou
Finalmente abri meus olhos definitivamente. Estava assustado, o sonho pareceu muito real. Observava tudo e todos ao meu redor, demorei um pouco para perceber que todos estavam me encarando
– gente o que foi? - eu estava com um sorriso frouxo achando que fosse algum tipo de brincadeira, mas então vi que era sério
– bom, agora definitivamente temos que chamar o pai e a mãe- Guilherme se aproximou de mim. Perto de mais. Ele ficou me encarando, olho no olho. Quando ele se afastou eu estava preocupado, tinha alguma coisa de errado comigo e ninguém em contava
– o que tá acontecendo porra!?- eu fiquei bravo e desesperado
– calma Dani - Bianca pedia, mas eu estava apavorado, tive o pior pesadelo da minha vida e agora tinha alguma coisa que ninguém me falava- eu vou te mostrar, mas você tem que ficar calmo
– Ok- eu suspirei, fingi estar calmo
Ela pegou o espelho do banheiro e o passou para mim. Meu rosto estava normal, pálido como sempre, exceto pelos meus olhos. Um estava cinza calmo e chato enquanto o outro tinha adquirido um tom de vermelho vivo e feroz
– uou! - eu estava fascinado e assustado ao mesmo tempo, o que demônios estava acontecendo comigo?


Estava sentado com Bianca no mesmo sofá da sala.
Meus olhos tinham voltado ao normal depois de mais ou menos meia hora. Guilherme havia ligado para os pais, eles chegariam em cerca de 2 dias.
Todos estavam até que calmos, considerando o que tinha acontecido hoje cedo, estavam calmos até de mais
Bianca estava de pernas cruzadas, parecia inconfortável com a minha presença. Estávamos quietos, um silêncio tenso. As vezes a olhava de canto de olho e ela estava me encarando, tenho um pouco de medo quando ela me encara daquele jeito, parece que ela está prestes a cometer um assassinato
– o que foi Bia?- eu tentei parecer calmo
– nada- ela respondeu curta e grossa
– eu te conheço desde o jardim da infância, não minta para mim- eu continuava calmo porém, meu tom de voz estava firme e incisivo
– Dani...- sua expressão foi de "vou te matar" pra "mãe preocupada"
Ela se aproximou de mim e começou a me encarar com aqueles olhos negros enormes cheios de preocupação. Eu afastei uma mecha de cabelo de seu rosto
– o que foi?- sorri levemente, mas ela ainda parecia triste e intrigada com algo
– o que realmente aconteceu lá nas rochas?- eu gelei e um flashback muito rápido passou pela minha cabeça, mulher, sangue, garras, escuridão
– eu estava descendo para pegar uma coisa- um trequinho brilhante para ser mais específico - ai eu escorreguei e bati a cabeça, mas consegui me segurar nas rochas, então comecei a escalar- contei meio desconfiado
– eu quero toda a verdade Daniel- ela estava séria e ainda me encarava preocupada
– como...- eu mal conseguia formular uma frase, estava nervoso, como ela sabia? O QUE ela sabia?
– Guilherme me falou que você falava sobre uma mulher loira antes de desmaiar - ela interrompeu meus pensamentos
– sim, mas ele disse que eram só algumas alucinações por causa das batidas que levei na cabeça junto a muita adrenalina- eu não sei muito bem se aquilo era real mesmo, quer dizer, garras? Eu sou o Wolverine agora?
– tem certeza que foi só isso? - ela ainda estava desconfiada
– tenho, por que? - estava confuso
– ah ,nada - ela disse com uma mistura de alívio e compressão- fiquei preocupada- ela riu nervosa
– Bia, você se preocupa de mais comigo- sorri de volta
Ficamos em silêncio por alguns minutos, o que ela quis dizer com só isso? Bater minha cabeça e quase sangrar até morrer, sinceramente, não é pouca coisa; mas tinha algo a mais que ela não estava me contando, será? Ou isso era só coisa da minha cabeça?
Bianca bateu a palma das mãos no colo e levantou alegre
– já que você melhorou eu vou fazer um bolo - ela saiu sorrindo em direção à cozinha
O tempo passou. Eu fiquei na sala com meus pensamentos até cansar e pegar o celular em cima da mesinha. Realmente não tinha acontecido nada de mais.
Ainda estava na sala jogando cow evolution no meu celular imaginando se vacas realmente poderiam ter tantos olhos, quando Juju se aproximou de mim um pouco diferente. Parecia focada em algo, mas ao mesmo tempo alheia de tudo. Eu nunca a tinha visto daquele jeito
– Juju, tá tudo bem? - seus olhos verdes se arregalaram e viram-se em minha direção, eu fiquei um pouco desconfortável e assustado
– a mulher loira- ela falou baixinho, eu não pude deixar de sentir um arrepio na minha espinha
– quem?- finji não saber de nada
– você sabe. Eu escutei você falado com a Bianca - fudeu
– ah - eu suspirei meio derrotado- foram só umas coisas da minha cabeça
– como assim? - ela me olhava confusa. Seus grandes olhos verdes me fitavam de maneira estranha
– eu bati a cabeça muito forte e tive algumas alucinações, só isso- só quase morri, mas tudo bem
– não foi. - ela fala firme, na hora eu arregalei meus olhos
– o que? - realmente estava confuso e assustado
– a mulher loira, você sabe que foi real- ela deu uma pausa e suspirou- eu sei que foi real
– você o que?
– você a viu também, uma mulher loira de olhos azuis
Eu respirei fundo e fechei os olhos, não era real, não era real, não era! Eu a vi TAMBÉM?
– Juliana eu não sei quem contou isso pra você, mas foi tudo uma ilusão de quando eu bati com a cabeça
– eu a vi também Daniel, ela é real- Juliana, de alguma maneira, me fazia forçar as lembranças da mulher loira. Aquele rosto em carne viva sangrando, aquilo não podia ser real
– Juliana para com essa brincadeira- eu gritava- chega de ficar zombando da minha cara, eu não...
– Daniel! - ela gritou firmemente, eu fiquei surpreso- vem comigo- ela parecia um adulta de tão séria
– Juju- eu suspirei com os olhos sérios trasbordando medo e até um pouco de raiva
– só me segue, por favor - eu não deveria, mas ela estava começando a ficar triste
– tá bom- eu estava com o coração na mão, estava com medo e suando frio. O que Juliana sabia sobre a mulher loira? Onde foi que eu me meti só pra pegar um trequinho brilhante?


– foi aqui não foi?- Juju perguntava um pouco entusiasmada
Quando saímos da casa o humor de Juju parecia mudar cada vez que nos aproximávamos da ponte. Estava ficando cada vez mais empolgada, e lentamente, um sorriso ia se formando em seu rosto.
– uhum- eu resmunguei tentando não deixar escapar o medo que estava claro no meu rosto
– Lorena?- Juju chamou.
Esse nome, eu já tinha escutado esse nome, era muito familiar
– Lorena?!- ela chamou mais alto
– Juliana?- a voz feminina respondeu. A mesma voz daquele dia
Eu não via nada, meu coração batia muito forte, parecia querer saltar pela minha boca. Cerrei os punhos e estava tremendo levemente
– Lorena - Juju disse feliz abrindo um sorriso largo no rosto- eu trouxe um amigo, você já deve conhecê-lo
Eu olhei para Juju com muito medo e ela me retribuiu com um sorriso. Isso era frustrante
– Juju, sério, vamos parar por aqui- eu estava me sentindo um bobo, um bobo borrando as calças de medo
– diga oi pra ela- Juju disse rápida e entusiasmadamente
Eu estava tremendo pra valer agora, eu iria ver aquela cara de novo?
– oi - eu disse num tom fraco e baixo, quase morrendo
– diga mais alto, e a chame pelo nome - Juju estava pedindo de mais
– oi Lorena- surpreendentemente minha voz saiu alta e clara
– você - a voz de Lorena sussurrou em meus ouvidos, mais ainda não via nada. Eu me arrepiei
– Lorena, esse é meu amigo Daniel- Juju apontou para mim- apareça para ele poder te ver
Aparecer? Com aquele rosto? De novo não
– Juju você tem certeza que ...- meu Deus, meu Deus. Eu paralisei quando vi Lorena, a carne pulsante, metade do rosto rasgado, sangrando, com o olhos azul solitário no meio do vermelho aterrorizante
– você veio- Lorena se aproximou de mim, eu recuei e soltei um gritinho, o gritinho mais viado que já dei na minha vida
– Dani, você está com medo? - Juju perguntou com uma sobrancelha erguida. Eu? Medo? Nããão, imagina. Não sei porque, mas sentia que ela estava se divertindo com a situação
–tem medo de mim? - Lorena parecia triste
– Daniel você tem que se focar. Feche os olhos e olhe além das aparências- eu não entendi nada do que ela tinha falado- não olhe, sinta
Fechei meus olhos me foquei, respirei fundo. Olhar além das aparências. Respirei. Me acalmar. Suspirei. Sentir. Abri os olhos
– nossa! - eu fiquei surpreso e feliz
Lorena era linda, os cabelos louros quase dourados eram cortados em chanel, sua pele era branca perfeita, sua boça era vermelha e delicada, seus olhos eram azuis safira e o delineador em volta deles os deixava em destaque. Ela usava um vestido de alça branco e solto, terminado na metade da coxa com uma linha dourada nas pontas
– você é linda- eu não pude segurar o elogio. A mudança dela foi radical, bem melhor que mude meu look
Juju riu baixinho. Lorena começou a me encarar. Franziu as sobrancelhas, parecia não compreender algo
– Lucas? - ela falou baixinho com os lábios entreabertos
Eu ergui uma sobrancelha
– quem? - tinha mais alguém aqui que eu não podia ver?
– Lucas!- ela tocou meu rosto, suas mãos eram frias como gelo então eu me afastei
– Lorena ele é meio novo com essas coisas de espíritos- Juju explicou
– espíritos?!- eu gritei
– isso! Lorena morreu aqui faz um bom tempo. Por algum motivo o seu espírito não conseguiu passar completamente para o outro plano, então ela oscila entre nosso mundo e o 2º plano
– ela é um fantasma?- eu nunca gostei muito de filmes de terror. Sim, eu sou um tremendo medroso
– algum problema amor?- Lorena se preocupou
– amor? - eu falei num falsete, maldito falsete
– ele não lembra Juliana - Lorena se virou para Juju e começou a chorar
– calma Lorena, ele não é o Lucas- Juju explicou
– quem?- eu estava mais perdido que agulha no palheiro, a frase é velha, mas era verdade
–ela as vezes vive na memória em que morreu. Ela nunca me contou muita coisa sobre esse dia, só sobre um tal de Lucas. Parece que eles eram namorados ou qualquer coisa do tipo- Juju tentou me explicar. Estava tudo rodando na minha cabeça
Lorena estava paralisada, entretida com os próprios pensamentos. Não parecia escutar o que eu e Juju falávamos sobre ela
– ele não é o Lucas? - o olhar de Lorena indicava que ela estava pensando muito além daquela realidade
Juju balançou a cabeça em sinal de não
– esse é meu amigo, Daniel- Juju fez um gesto para mim com a cabeça apontando Lorena
– prazer, eu sou Daniel- ofereci minha mão esperando que ela me cumprimentasse... Ela me deixou no vácuo, eu abaixei a mão meio envergonhado. Parabéns Daniel, você é tão insignificante que nem um espírito te cumprimenta
– Daniel...- ela se aproximou, dessa vez permaneci calmo e parado enquanto ela analisava meu rosto com suas mãos frias
Ela parou e me encarou, nesse momento eu me lembrei do sonho. O homem, a mulher de cabelo castanho e Lorena
– Lorena - eu arregalei os olhos e abri um sorriso, eu me lembrei do sonho. Eu me lembrei do homem parecido comigo
Ela sorriu feliz colocando as duas mãos em meu rosto e me trazendo para perto. Fechei os olhos. Senti meus lábios congelarem por um instante e depois se esquentarem novamente
– Lorena!- Juju advertiu
– ele lembrou Juliana, ele lembrou! - Lorena sorriu, um sorriso largo de pura felicidade
–Lorena - eu falei tentando acalmá-la
– sim meu coração - ela não parava de sorrir e dançar de alegria
– Lorena eu não sou quem você pensa que eu sou - eu falei rápido e com um aperto no coração
Lorena parou de dançar e eu percebi que aquilo a atingiu como uma bomba
– você não lembrou? - ela disse decepcionada
– eu lembrei do sonho, você estava nele- uma chama de esperança nasceu nos olhos de Lorena - você, uma mulher de cabelo castanho e um homem parecido comigo- a chama mudou de tom
– mulher de cabelo castanho- ela pensou em voz alta - Flávia!- disse com ódio
– eu não sei, eu só sei que aquele homem parecido comigo não sou eu! - novamente ela ficou triste
– Lucas- ela choramingou
– Lorena já conversamos sobre isso, Lucas não está mais aqui, esse é o Daniel - Juju interrompeu o drama, graças a Deus. Eu não sou bom com mulheres, principalmente as mortas
Lorena respirou fundo,estufou o peito e fechou os olhos. Parecia tentar se lembrar de algo. Respirou fundo novamente e se recompôs. Eu não sabia que espíritos precisavam respirar, isso pra mim é novidade
– Daniel...- ela pensou levando um dedo para os lábios- o que caiu das pedras?- Lorena se dirigiu a mim, ótimo agora tenho um novo título "Daniel, o menino que caiu das pedras"
– isso- eu afirmei desviando o olhar para o chão
– me desculpe acho que te assustei, lá- ela fez uma pausa- e aqui também. Eu não sou muito boa com gente viva- ela sorriu levemente
– imagina- eu estava sem jeito- eu também não falo com gente morta todos os dias
Nós rimos juntos, ela não parecia tão estranha ou horripilante agora, parecia só mais uma menina de 17 ou 18 anos, corrigindo minha amiga fantasma de 17 ou 18 anos

Lorena me contou que meu rosto a fez voltar no dia de sua morte. Ela se lembrou de muita coisa. Infelizmente não de tudo.
Eu e Juju escutamos atentamente a história.
– igual meu sonho!- eu falei abertamente quando Lorena terminou de falar
As duas me olharam sem entender. Eu fiquei um pouco envergonhado
– você sonhou com o dia da minha morte? - Lorena ergueu uma sobrancelha. Sou estranho até para um fantasma
Juliana colocou a mão na boca e franziu as sobrancelhas. Eu e Lorena a observamos curiosos
– vocês devem ter uma linha psíquica- Juju estalou os dedos e disse com alegria
– como? - meu dia se resumia a essa única palavra
– quando vocês se encontraram no penhasco- Juju ergueu um dedo e começou a recitar- um espírito pode se ligar a uma criatura viva, tornando-se assim um guardião. Quando essa ligação ocorre chama-se linha psíquica. Geralmente isso ocorre quando o espírito e o ser vivo tem a alma compatível. Quanto mais partes da alma forem compatíveis mais forte vai ser a linha psíquica, chegando até compartilhar pensamentos ou emoções
Eu fiquei boquiaberto
– como demônios você sabe de tudo isso?- eu não tinha nem decorado a primeira parte do discurso
– eu li um livro, para ver se achava algum jeito de ajudar Lorena, e achei esse capítulo que falava sobre ligações
– e você o decorou? - Lorena parecia tão chocada quanto eu
– não é difícil aprender quando se QUER aprender- Juju sorriu inocentemente
Ela tinha apenas 10 anos e já pensava e agia como uma adulta
– e onde você achou um livro que falava sobre isso? - fiquei curioso
– lá em casa - Juju disse dando ombros
– por que Guilherme compra livros desse tema pra crianças- eu brinquei, mas ela pareceu não gostar.
Lorena me encarou com ar de dúvida e depois se voltou para Juju que arregalou os olhos rapidamente. Lorena pareceu ter entendido o sinal, mas eu estava por fora. Pra variar
– sei lá- Juju respondeu como uma criança descontraída
– mas e agora? Eu estou tipo presa a ele? - o desagrado em sua voz era óbvio
– do jeito que você fala agora nem parece que estava querendo me beijar a uma hora atrás
Lorena corou. Não sabia que fantasmas faziam isso também
– eu já expliquei. Foi um lapso de memória. Pra mim você não era você, você era o Lucas
Eu ri. Ela parecia muito na defensiva, foi um pouco engraçado
– tudo bem, eu só estava brincando- eu ainda ria um pouco. Parece que ela não gostou muito da brincadeira
– então essa linha, como funciona? - ela se voltou para Juju
– não me lembro perfeitamente, mas vocês terão que desenvolvê-la. Isso é, se quiserem
Eu e Lorena nos encaramos. Parece que nossa linha já estava um pouco estável porque eu pude sentir a curiosidade e a empolgação invadirem meu corpo, do mesmo jeito ela devia sentir minha incerteza e nervosismo. Não sei como nossas almas se conectaram, quer dizer, somos emocional e fisicamente incompatíveis
– e aí? - ela disse sorrindo. Um sorriso de desafio
– por que não? - eu disse sorrindo de volta. Aceitando o desafio


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Notas finais do capítulo

ate janeiro ☺️



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