Chegou mais feliz na tarde seguinte. Era óbvio. Só existiam dois motivos para Uchiha está com um sorriso estampado no rosto: iria transar com sua amada ou transara com sua amada. Mas o sorriso só indicava satisfação, porque o real indicativo de felicidade era o riso: era um rapaz de poucas palavras e de se divertir com muito pouco. Rir era o modo de mostrar ao mundo que ela lhe fazia bem e muito bem. Na noite anterior os dois fizeram amor. Fora intenso, longo, cheio de várias rodadas.

Sasuke gosta de sexo. Principalmente com ela. Ela gosta de novas experiências. Principalmente com Sasuke. Transar, entre eles, cumpre o desejo de ambos. Mas não eram amigos de sexo, como muitos imaginavam. Nunca foi assumido. Havia muito mais entre eles, tanto que ninguém realmente sabia o que se passava entre aqueles.

Em uma palavra: especial.

Preparou-se para o programa. Seria logo em trinta minutos. O tempo voa quando ele pensa nela. Apesar de não gostar de dedicar tanto tempo a ela, Sasuke o fazia inconscientemente. Tudo era válido. Ninguém sabia o que se passava, o que se passou, as pessoas desconheciam os sofrimentos que ela passara para finalmente estar com ele. Sasuke, sempre orgulhoso, demorou a entender o amor dele e demorou mais tempo ainda para aceitá-lo.

Rápida chegou a hora e lá estava ele em sua poltrona, girando de um lado para outro, pensando quem seria o seu outro entrevistador. O barulho das palmas gravadas soou. Sasuke fitou a entrada e uma cara de estranhamento não pode ser evitada. Ele? Por que Neji vai me perguntar alguma coisa? Ele não me suporta nem pintado de ouro! Os dois se encararam e trocando um falso sorriso. Neji se sentou.

O rapaz de longas madeixas presas apenas por uma faixa na testa fitou as câmeras fixamente, com seus olhos acinzentados. Sasuke notara que o rapaz estava nervoso. Observou o ponto que o outro olhara: plateia. Segurou firmemente nos braços da poltrona e engoliu em seco. E se ela estivesse ali? Buscou-a rapidamente. Haviam garotas, fãs suas ou de Neji, mas nenhuma era a sua garota. Relaxou na poltrona, afundando devagar.

–Boa noite! – Sasuke pronunciou. Neji o fitou atordoado. Encontrou em seu pálido rosto um semblante de tranquilidade. Tudo bem, ele está calmo, eu preciso estar também.

–Boa noite a todos os presentes e ao pessoal que nos assiste – as garotas aplaudiram a grave voz de Neji. Ele realmente deveria ser locutor de rádio – Estamos de volta com o Falando Abertamente e no programa de hoje trazemos novamente Uchiha Sasuke para nos premiar um pouco mais sobre si ou sobre a sua vida – Neji se voltou para o moreno – Saiba que se houver alguma pergunta que lhe deixe desconfortável, não há a necessidade de respondê-la... – a polidez do rapaz causou admiração em Sasuke.

–Que bom. – unicamente respondeu.

–O tema de hoje será “Risos no Passado” – Neji conferiu os cartões que havia preparado com as perguntas para ter certeza da resposta e sorriu ao fitar a câmera - Então vamos à imagem de hoje – no telão surgiu a foto. Sasuke não pode conter uma risada.

–Meu Deus! Onde conseguiram essa velharia? Cara... Isso é bem coisa da Sakura! Olha a cara dela! – uma foto de época.

–De que se trata essa foto? – Neji falou agora mais descontraído com a presença sorridente do parceiro do clube de kendô. Eram bons lutadores, tinha que admitir. Estavam empatados em vitórias – Alguma razão específica para o riso tão bom?

–Todas! Essa foto foi tirada ainda no colégio, ainda tínhamos entre 15 e 16, e a professora de história quis fazer uma peça envolvendo a Inglaterra antiga para melhor mostrar aos alunos das series inferiores o assunto. Ela precisou de voluntários e eis as “coisas” que foram!

–Poderia falar um pouco sobre cada pessoa presente na foto, no tocante à peça teatral?

Sasuke assentiu. Por onde começaria? Já sabia.

–O cenário foi a coisa mais estranha que a gente já tinha inventado! Como era pouco espaço, tivemos que amontoar tudo em uma sala pequena e ainda deixar espaço para os alunos sentarem para assistir! - Sasuke ria como criança - Meu Deus, o espaço era tão pouco que Naruto teve a ideia de fazer um sofá de livros para que o meu personagem ficasse mais “lord” e saiu empilhando livros e mais livros – um risinho foi ouvido. Neji procurou quem o fizera e encontrou Sakura tapando a própria boca para não rir alto – Quando demos por vista, a gente estava pisando nos livros! E ainda tinha a bicicleta e os objetos de cristais! Mas a coisa ficou realmente boa quando tivemos que nos posicionar em cena e não pisar nos livros da biblioteca. - Sasuke não se aguentou e desatinou a rir.

–O que houve?

–Eu tive que carregar Sakura nos braços enquanto a professora e Naruto empilhavam os livros em volta de mim! Depois Naruto deu uma de macaco e subiu na bicicleta encostada na parede para chegar ao sofá! – Sasuke se recompôs e fitou Neji como se este lhe fosse velho amigo – Quando finalmente estávamos nos lugares foi que notamos que os alunos estavam lá, assistindo a zorra toda! Foi louco esse dia... Mas a peça foi ótima, nem eu sabia que era tão bom ator e que os outros também eram.

–Soubemos que foi um “sucesso de bilheteria” ao ponto que a dita professora quis que toda a peça, inclusive a montagem do cenário, fosse apresentada para o colégio inteiro, não foi? – Sasuke assentiu positivamente – Ainda ficamos sabendo que quase foram apresentar em uma Mostra Cultural a nível regional! Não foram porque um dos atores havia se saído do colégio.

–Exato! Foi a Sakura... Foi uma pena, tentamos procurar outras garotas para colocar no papel, mas, nem acredito que vou admitir isso, ela é insubstituível. Ninguém conseguia reproduzir com o mesmo gracejo a delicadeza de uma dama inglesa de época.

Sakura, perto de Ino, sorriu e corou. Sasuke já havia lhe dito isso antes, mas na frente das câmeras da televisão era outro nível. Sentiu-se honrada.

–Então, Sasuke, fale-nos dos personagens! O que vocês faziam na peça? Que papeis representavam? Explique a coisa toda!

–Eu era um conde adolescente. Eu tinha que ser cortês, toda aquela coisa de “like a sir”, mas tinha que ter o jeito de um adolescente, que fala o que pensa e diz as coisas sem papas na língua. Colocaram-me grampos no cabelo, porque diziam não conseguir ver o meu rosto. Sakura fazia a dama na flor da juventude. Tinha aquilo de namorar por carta, usar saia bem rodada, mas tinha expressar determinação e ousadia, achei que ficou até coerente por causa da idade dela, se não me engano era 15 anos.

–E quem é o terceiro personagem? O rapaz?

–Não é um “rapaz”... É uma moça vestida de homem. Esse foi um dos grandes atrativos da peça. Naruto, com seus cabelos compridos enfiados dentro do chapéu, fez o típico burguês, porém com um tom de malandragem, entende? O cara que trabalha no comércio, mas sabe ganhar dinheiro por fora também!

–Em que exato momento a foto foi tirada?

–Bem no começo, quando a gente mal tinha se posicionado. A professora disse “Gente! Olha para cá!” e quando eu levantei a vista foi só flash na minha cara.

Os dois riram com os gestos que Sasuke fizera.

–Por hoje estamos encerrando o nosso programa! Agradecemos a presença de Uchiha Sasuke e seu bom humor em responder as nossas questões! Obrigado a todos que estão nos acompanhando e, por favor, não percam o próximo programa! Boa noite!

–Boa noite. – desta vez ele o desejou com um sorriso largo nos lábios.

Alguns segundos e “Corta!” proferido por Shino. Dois segundos depois, os rapazes se cumprimentavam e as garotas corriam para pedir autógrafos aos dois. Ele se tornara mais famoso do que já era. Bufou, revirando os olhos. Nunca gostou da maldita fama, por isso iria se formar como redator. Ficar nos bastidores, longe das câmeras e dos holofotes, mas tudo era para a nota do semestre. Rapidamente conseguiu se desvencilhar das fãs e numa carreira apressada saiu do Studio sem olhar para trás.

Do lado de fora, ele a viu sentada embaixo da mangueira. Suspirou de alegria. Era tudo o que queria naquele momento. Vê-la, beijá-la, abraçá-la, ficar com ela. Os dois, ao se verem, trocaram um beijo ardente e partiram dali de mãos dadas. Iriam jantar na casa dele. A mãe de Sasuke queria saber quem era moça que fazia o humor do filho oscilar tanto, coisa incomum até os vinte anos do filho. Existem mais coisas entre o céu e a terra que vá julgar nossa vã filosofia, já dizia alguém e Sasuke acreditava nisso, porque realmente havia.

Dentro do carro de Sasuke, voltaram a se beijar. Não puderam evitar as mãos necessitadas pelo corpo de um e de outro. Tocaram-se como se fossem se perder para sempre. Sexo não, mas um pouco de preliminares fizeram até gozarem. Sasuke admitiu para si enquanto dirigia: ninguém sabe fazer um boquete melhor do que ela. A prova? Bom, digamos somente que ele já procurara saber antes de assumir qualquer coisa.

Dane-se, tinha um jantar para ir.