Silêncio e rostos desesperados encarando o Uchiha.

–O que houve? – Sakura sussurrou bem baixinho.

Sasuke curvou o tronco, só para que sua voz ficasse audível. As câmeras fizeram um close de seu rosto ironicamente sorridente. Eles praticamente faziam leitura labial.

–Daqui a pouco vocês vão entender... – virou-se para frente de novo e sorrindo falou mais alto – Naruto?! – alguns alunos caíram para trás, quase desmaiados.

O silêncio foi rompido e o pânico foi aumentado quando uma estrondosa música de AC/DC ecoou pelas portas e janelas, e de uma porta escondida por pilhas e pilhas de coisas e papéis surgiu Naruto chutando tudo o que estava ao alcance de seus pés. O desespero foi geral: a correria desengonçada e sem rumo retornou, a produção segurou firmemente os equipamentos, pois começavam a ser trombados por algumas pessoas desorientadas.

–Mas que diabo está acont... – Sakura ia gritar, se Kiba apressadamente não tivesse abafado sua boca. Sasuke correu de braços abertos para Naruto, mas essa nem o viu, passando direto por ele e lançando objetos não identificados em seus “colegas de trabalho”.

Por ser ao vivo, nada pode ser editado.

–Seus filhos de uma puta arregaçada!!! – ela gritava – Onde estão os meus scripts?! Cadê os rascunhos da Revista Trollmente?! E os meus esboços para o site da Diretoria?! Que corja de incompetentes de merda!!! Para que é que eu pago vocês, seus putos, para dormir em serviço?! Hein?! – essa era a absurdamente irreverente Uzumaki Naruto.

Ela parou no meio da sala, fuzilando a todos que seus imensos olhos azuis podiam visualizar, subiu lentamente numa mesa, a que ficava justamente no centro e na frente tinha uma pequena cama elástica, e pôs as mãos na cintura.

Eu necessito ter sexo com ela hoje, era só o que Sasuke conseguia pensar vislumbrando a garota. Boquiaberta a equipe de produção estava. Era e não era o que eles esperavam. Naruto parecia ser o sol que fazia tudo orbitar e também queimava tudo em seu caminho.

Usava um mini short jeans preto com as bordas rasgadas, uma camiseta branca com as mangas dobradas até os ombros com “Sofra com o meu salto 15 na sua cara” em dizeres garrafais, uma camisa de botões xadrez laranja e preto amarrada na cintura e all stars de cano longo também laranja e preto. Usava os cabelos presos em marias-chiquinhas e várias pulseiras nos pulsos. Sasuke riu. Ela estava em um dia de revolta.

–Cabeças literalmente rolaram se vocês não deixarem tudo o que eu quero na minha sala antes do almoço!!! – ela apontou para o relógio. Os alunos só teriam mínimas duas horas para tentar sobreviver ao furacão Naruto. Todos assentiram e se espalharam pela sala, indo e vindo, num frenesi de trabalho louco. A loira desceu da mesa e foi até um balcão, onde se servia café, chá, suco, refrigerante e, durante o turno da noite, bebidas quentes.

Sasuke a seguiu, segurando-se para não rir da loira que resmungava diante de si sem notar a presença de câmeras, microfones, pessoas de fora da sua lista de pagamento e seu namorado. Chegou e serviu-se de um fumegante copinho de chá. Ela suspirou pesadamente.

–Como é difícil arrumar gente que preste hoje em dia... – uma de suas têmporas era massageada. A voz dela era grave, mas não deixava de ser feminina e sensual.

–Fala como se nunca tivesse sido incompetente um dia. – debochou Sasuke.

Naruto girou a cabeça e arregalou os olhos ao ver todos aqueles seres que lhe filmavam em companhia do Uchiha. Num lapso de memória, recordou-se do tal programa. Soprou o copinho e tomou um rápido gole.

–É do Falando Abertamente? – perguntou tranquilamente.

Sasuke assentiu.

–Sabia que viríamos? – ele cruzou os braços. Sakura notou o quanto a garota era pequena para a idade e para as responsabilidades que tinha. E como dela praticamente se irradiava energia. Ainda sim Naruto parecia rude e com cara de quem procura por brigas. Por que o Sasuke está com ela? Sakura não pode deixar de pensar.

Suspirou. Poderosa, pensou Sakura.

–Não, nem desconfiava. Pegaram-me de surpresa. – seu semblante sério contradizia suas palavras. – Então, qual é a boa?

–O programa é ao vivo e nós decidimos gravar aqui, só para falar um pouco mais de nós. – sugeriu Sasuke, tentado a beijar Naruto.

A garota esquivou-se quase como uma cobra.

–Nós? – ela sorriu de canto de boca – Como “nós”? Você disse? – ele assentiu. Ela colocou bruscamente o copinho sobre o balcão e saiu correndo, subindo na mesma mesa de novo – Escutem! – ela gritou, todos se voltaram para ela – Uchiha Sasuke oficializou: eu, Uzumaki Naruto, sou oficialmente namorada dele!!! – todos ficaram atônitos – CHUPA KONOHA!!!

Ela saltou na cama elástica, deu um mortal no ar e pousou perto de Sakura, assustando a rosada. Naruto riu e foi até Sasuke, empurrando-o com a bunda, frustrando o garoto que acreditava que iria receber um caloroso beijo. Que coisa.

–Er... Bem... – pronunciou Sakura – Eu me chamo Haruno Sakura e sou a apresentadora dessa edição. Você se importaria de responder algumas perguntas?

Naruto virou um pouco a cabeça, pensando e sorriu, assentindo.

–Só tem um problema. – eles se entreolharam e fitaram a menor – Eu estou ocupada, então... Vocês perguntam enquanto eu trabalho e respondo.

–Se liga! – Sasuke puxou os cabelos de Naruto, recebendo um soco forte no ombro. Ele riu esfregando a área atingida – Eu sou o entrevistado, você é só uma convidada!

–Sei... – ela girou nos calcanhares, fazendo os cabelos acertarem o moreno e saiu pisando firme. Sasuke mandou todos irem filmando, perguntando e fazendo o programa rodar enquanto ela falava – Primeiro vocês vêm até o Manicômio, coisa rara de se fazer, depois entram aqui sem nem pedir permissão e você vem me dizer que eu sou só uma convidada? – ela estalou os dedos na frente da cara dele – Se liga, Uchiha, meu território, minhas regras!

–Sim senhora, mamãe. – ele falou malicioso. Naruto logo entendeu e sorriu com o mesmo sentimento, permitindo que seu namorado estapeasse de leve suas nádegas.

–Sasuke... Você a chamou de “mamãe”? – Sakura sentiu-se animada, vira um verdadeiro furo de reportagem naquele casal. Renderia tanto quanto cana sendo moída – Motivo especial?

O moreno mordeu o lábio inferior, a outra nem notara, pois estava lendo alguns rascunhos.

–Coisa nossa. – falou simplesmente piscando um olho – De quatro paredes.

Um aluno desmaiou por causa de uma hemorragia nasal bem atrás do casal. Nenhum dos dois deu importância ou percebeu coisa alguma. Sakura respirou fundo, recobrando as forças.

–Esse lugar é sempre “animado” assim? – Sakura apontava para alguns pontos e Kiba filmava todos, permitindo que alguns alunos aparecessem.

Naruto olhou em volta e fitou Sakura.

–Hoje está até calmo... Quero dizer, eu nem estou tão irritada e a maioria aqui não vai levar trabalho para casa, estamos com poucos prazos, então está tudo muito bem, apesar do “aparente” caos. – ela riu – Nunca venham em dia de segunda. – ultimou – O inferno abre as portas, os demônios invadem esse lugar e o fim dos tempos começa. – ela falou risonha.

Engoliram em seco e assentiram de forma sincronizada.

–Para começar, uma fã do programa – iniciou Sakura, lendo em seus cartões – Chamada Linda quer saber “Por que, Naruto, você aceitou namorar o Uchiha depois de muito tempo, se vocês se conheciam há muito tempo?”. – ela esperou.

Naruto caminhava olhando para todo tipo de documento, mas parou ao ouvir a pergunta. Virou-se mostrando que pensava a respeito, ainda que houvessem vários alunos lhe questionando sobre todo tipo de coisa.

–Acho que o quer saber é o motivo por eu ter demorado a aceitar ele como meu namorado, é isso? – Sakura assentiu sorrindo – A culpa é dele – ela apontou com os olhos para Sasuke. O moreno a encarou incrédulo e a loira caiu na risada.

–Como assim minha culpa? – falou Sasuke apertando o punho e mostrando-o a ela – Eu estava sempre no seu pé, mas você que não cedia!

Naruto transformou sua cara numa máscara de fúria e quase enfiou o indicador na testa de Sasuke. Os dois pareciam muito irritados. Sakura pensou ter tocado num assunto delicado.

–Você sabe que a culpa é sua, teme! Nunca deixava aquelas garotas de lado, sempre me colando como uma chupa-vela e nunca me deixava falar os meus sentimentos! – ela gritava – E quanto eu ia falar, você nem ouvia, cacete!!!

–Mas eu sempre ouvi você, porra!!! – ele também estava gritando. Aliás, os dois discutiam a plenos pulmões, mais alto que qualquer um naquele lugar – Sempre vinha com aquela ladainha de que “ah, eu não posso ser sua namorada, seus pais vão brigar!”! Se alguém é culpado por a gente não estar praticamente casado é você, dobe!!!

–É ISSO QUE EU ODEIO EM VOCÊ, TEME TEIMOSO DO CARALHO!!! – gritou Naruto.

–E É ISSO QUE EU ODEIO EM VOCÊ, CACETA DE USURATONKASHI!!! – gritou Sasuke.

Os dois se fuzilavam com o olhar. Aos poucos, aproveitando o silêncio que se instaurara, eles se acalmaram. Ninguém ousava respirar muito alto, pois a qualquer momento tudo poderia explodir com um ataque de fúria daqueles dois. O casal serenou os semblantes e sorriram como somente velhos amigos conseguem fazer depois de uma briga.

Naruto afagou toscamente com as duas mãos os cabelos espessos de Sasuke, bagunçando-os e deixando fluir uma risada sincera. Tudo o que outro pode fazer foi sustentar uma cômica face de raiva com as bochechas levemente coradas.

–Eu nunca o vi de outra forma que não fosse meu melhor amigo, meu segundo irmão... – confessou a loira ajeitando cada madeixa que ela tirara do lugar. – Demorou a amizade se transformar em amor e eu nem sei se é amor o que sinto atualmente.

Sasuke segurou as mãos dela em seu rosto e sorriu de meia boca.

–Para mim é amor... – sussurrou, fazendo a garota sorrir largamente.

Novamente o silêncio. Sakura estava encantada com aquela fofa cena de romance, mas o programa tinha que continuar. Pigarreou e ambos a encararam.

–Então, Naruto, como é namorar Uchiha Sasuke? – ela falou sorrindo.

–Um porre. – falou indiferente, para frustação do moreno. Ela arregalou os olhos para os papéis que acabara de receber – Horrível, parece o resultado de um dia inteiro de diarreia!!! – ela gritou batendo os mesmos na cabeça de quem lhe entregara – Faça de novo!!!

O aluno saiu choroso e outro veio, completamente temeroso, entregando seu trabalho para a severa e cuidadosa vistoria da chefa.

–Como assim um “porre”? – continuou Sakura – Quer dizer que só é bom quando bebe?

Naruto negou, sem perceber a piada por trás do comentário.

–Depois que você se acostuma, passa a gostar e gostar muito. – ela fazia breves anotações rapidamente no trabalho de um rapaz ansioso pelo resultado – Meio que você precisa sentir as mesmas sensações, as boas e ruins, tudo de novo de alguma forma e aí vem o porre de bebida que você se propõe a tomar... – ela sorriu, corando de leve – Sasuke sempre foi o meu porre.

Ela continuou sua correção sem ver as caras incrédulas e apaixonadas que dividiam os presentes em grupos de expectadores-corredores.

–Quando foi que você percebeu que ele não era só um amigo?

Naruto suspirou, terminara a correção.

–Sempre. – sorriu e entregou os papéis para o jovem ao seu lado – Está incrível, realmente um trabalho sublime que merece minhas palmas. – ela bateu algumas vezes palmas, para júbilo do bolsista - Para alguém que tentou a primeira vez, você me surpreendeu. Relaxe agora e vá fazer as correções necessárias, em seguida traga-me de volta! – o rapaz saiu sorrindo para sua mesa. Naruto fitou Sakura – Sasuke sempre foi algo mais além de meu amigo. Sempre, desde o dia em que eu o conheci através do meu irmão Menma.

–Então sempre soube que o amava? – Sakura queria gravar uma declaração de amor ao vivo.

–Não! Nada disso. – Naruto riu muito – Eu o via como meu rival, meu vizinho, meu amigo, meu parceiro de brigas, um professor, meu aluno, enfim – ela ergueu as mãos – Muitas coisas, mas grande amor, nunca...

–Sério? – questionou Sasuke – Nunca?

Naruto coçou os cabelos e bufou, permitindo-se corar.

–Tudo bem! Eu admito! – ela esbravejava – Uchiha Sasuke ocupa eternamente o posto de “Meu primeiro amor”! Satisfeitos?!

A sala inteira bateu palmas, fazendo a loira esquecer completamente a vergonha e saudar a todos com uma reverência honrosa. Voltou a caminhar pelo escritório, sendo seguida de perto por um Sasuke curioso e uma Sakura muito interessada. Mesmo com todos os gritos, os xingamentos e as reclamações, Naruto fazia tudo fluir como água pelo rio.

–Sasuke. – Sakura chamou, ele fitou a câmera que Kiba carregava e depois a garota – Como você resumiria Naruto em uma palavra?

–Uma? Só uma? – a rosada assentiu – Maluca. – falou seriamente.

Naruto virou o rosto e encarou o mais alto.

–A sua mãe, com todo respeito. – ela falou lhe mostrando o dedo médio.

Sasuke lhe devolveu o gesto sorrindo feito uma criança.

–Eu sou um porre e você não pode ser a maluca? – ele indagou cruzando os braços.

–Se for por essa lógica – Naruto carimbou alguns documentos e pôs uma mão na cintura – Eu deveria ser cachaceira, ou pinguça e não maluca. – falou como se declarasse algo sério.

–Verdade! – Sasuke bateu um punho fechado na mão aberta – Você me bebe todos os dias!

–Dãh. – ela rebateu franzindo o cenho e voltando a andar.

Somente a produção juntamente com Sakura e o resto do escritório percebera a malícia naquela conversa despretensiosa. Era sempre assim que conversavam? Tantas perguntas, poucas respostas e um casal que se afastava.

–Há quanto tempo vocês se conhecem? – Sakura driblara um grupo de bolsistas e duas cadeiras que se moviam sozinhas carregando pastas.

–Desde 1900 e guaraná com rolha. – responderam em coro. Eles se fitaram e riram do fato de terem falado ao mesmo tempo.

–Sério? – Sakura fora cínica.

Sasuke a fitou, ele parecia mais relaxado do que em qualquer outro momento.

–Acho que desde os cincos... É cinco, né Naruto?

–Nem me pergunte. – ela passou por eles folheando algumas revistas, sentada numa cadeira com rodinhas que se movia em linha reta, sem que ninguém empurrasse – Sou péssima com datas e prazos.

–É verdade. – Sasuke seguia a cadeira ambulante com as mãos nos bolsos e um andar tranquilo – Aniversário de namoro, do namorado, o próprio aniversário... Dia de prova, entrega de trabalho, apresentação de projeto, ida ao banco, ao dentista, à diretoria... Enfim, coisas esquecidas corriqueiramente, certo mamãe?

–Oh yeah! – ela cantou levantando e deixando “a carona” seguir seu caminho. Ela olhou para o relógio – Acho que já deu! – ela juntou as mãos – Outro dia a gente marca alguma coisa e conversa mais... Daqui a cinco minutos eu vou transformar esse lugar num puteiro de tão loucas que as coisas vão ficar e eu não quero que a minha mágica seja revelada, em outras palavras... – Naruto abriu a boca para falar, mas fora preenchida por um beijo.

Sasuke beijou carinhosamente sua namorada, sentindo aquele gosto tão adorado.

–Rala peito das minhas terras? – ele falou sorrindo astuciosamente. Ela assentiu mordendo o lábio inferior. Mais um selinho e eles se soltaram – É a nossa deixa! – Sasuke piscou um olho para as câmeras e correu para a porta, sendo seguido de perto pelos os outros, que nem queriam saber o motivo de correr, apenas pegando o embalo da carreira do primeiro.

Saíram correndo da mansão, passaram pelo pátio e tomaram o rumo de volta ao Studio ainda correndo. Sakura sorriu e acenou.

–Correndo começamos esse programa e correndo encerraremos! – ela ria – Ei Sasuke! Vamos encerrar!

–Tchau! Até a próxima! – ele corria ao lado da câmera de Shino, mas não voltava o olhar para ela, apenas sorrindo – Tem prova segunda-feira do Kakashi, vulgo Espantalho. Tenten quer namorar você, Shino – a câmera tremeu, mas se estabilizou – Akamaru é oficialmente a mascote do Falando Abertamente! – Kiba gritou em comemoração – Konan quer denunciar o roubo de seus origamis, Pain disse que a dor é coisa de desempregado, Itachi, corno manso, devolva o meu Diablo III ou eu vou destruir o seu PS4 caríssimo! – ele deu ênfase à última palavra – Konohamaru, Naruto disse que vai tomar sorvete com você no sábado de manhã e disse que se eu contrariasse, eu seria um homem ferrado, então aproveite! - Sasuke parou e abriu a porta do carro, dando tchau para todos – Esses foram os avisos de hoje. Fui!

As câmeras deram um close em Sakura corada pelo esforço de correr usando blazer no sol do meio-dia. Ela respirou fundo e tentou sorrir simpaticamente.

–Obrigada por acompanhar e até a próxima edição.