Another day in paradise escrita por Vanessa Hoffmann


Capítulo 6
Capítulo 5 - Dust in the wind




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/565067/chapter/6

A mesma velha música
Apenas uma gota de água em um mar infinito
Tudo o que fazemos
Desaba sobre a terra, embora nos recusemos a ver

A distância que os separava naquela fatídica tarde era de apenas alguns metros, mas ele não ousou quebrá-la.

Da maneira mais discreta que podia e com o pacotinho de presente pesando no bolso do uniforme, ele se mantinha focando a garota de cabelos azulados, totalmente alheia ao falatório de Kiba – que parecia fazer questão de ser um irritante guarda-costas da garota – e a presença quase invisível de outro estranho, um garoto que ele jamais soube o nome e não se importava com isso.

No meio daqueles dois, parecia viver em um mundo completamente diferente e apático ao que acontecia ao seu redor. Apática a Kiba que não calava a boca, ao garoto sem nome que se contentava em comer em silencio, aos alunos que transitavam de um lado para outro no refeitório, carregados de comidas em bandejas e veneno na língua para falar da vida alheia.

Falando nisso, será que já havia escutado os boatos de que ele estava usando drogas nos banheiros da escola e por isso desmaiou na sala? Ou já haviam comentado de sua triste vida e que ele era um garoto mentalmente instável e os desmaios eram seqüelas psicológicas do acidente que matara seus pais? Será que apenas comentavam o quão patético ele estava com aquela faixa branca na cabeça?

Com um resmungo baixo de frustração, tirou os olhos da garota e fitou sua bandeja com uma caixinha de suco de laranja, uma maçã partida ao meio e um pedaço de bolo de chocolate. Estava enjoado e não tinha vontade de comer. Empurrou a bandeja para longe e, cruzando os braços sobre a mesa, enfiou o rosto ali sem se importar com o olhar de reprovação de Sakura que queimou-lhe a nuca.

– Naruto, você tem que comer – disse ela enfiando um dedo em suas costelas.

O loiro ergueu um pouco a cabeça e soltou um gemido de dor.

– Droga, Sakura, eu já estou com dor e você ainda tenta me furar?

A amiga ergueu o garfo e apontou em sua direção enquanto falava:

– Olha, você já está terrivelmente patético apenas com esse curativo na cabeça, se acabar ficando doente e anoréxico nunca mais vai poder voltar pra casa com uma daquelas vadias que você e os outros babacões encontram nas farras.

– Se isso acontecer eu penduro meu cartão de crédito sem limites no pescoço e o problema é resolvido - Naruto riu da cara emburrada de Sakura, mas precisou ser rápido para puxar as mãos da mesa antes que ela o atingisse com o garfo. – Ei! – exclamou espantado – Você está ficando doida?

Sakura não respondeu. Manteve os olhos fixos em um ponto distante, atrás da cabeça dele, mas que ele não precisava se esforçar muito para descobrir quem estava lá.

– Aquela garota é irritante – disse sem que Naruto precisasse perguntar alguma coisa.

Os olhos verdes como esmeraldas dela estampavam uma raiva e frustração que ele julgava sem motivos. Tomando cuidado para manter o garfo da rosada longe de seu corpo, encostou-se novamente na mesa e lançou um olhar enviesado a mesa da garota, agora adicionada de uma morena pequena e magrela, de cabelos curtos que ele nunca vira.

– Qual o problema dela? – perguntou da maneira mais inocente que pôde. No fundo, tinha esperanças de que Sakura soubesse tanto quanto Sasuke e que lhe explicasse os motivos pelos quais o amigo não queria que ele se aproximasse dela.

Sakura pegou um pedaço de bolo na boca antes de falar:

– Todos. Ela é... Ridícula. Uma sem graça. Ninguém notava a existência dela até... – aí parou de falar, seu olhar tornando-se acusador. – Ah, não! Se você quer saber alguma coisa, pergunte você mesmo – enfiando o último pedaço de bolo na boca, ela pôs-se de pé, pegou a bandeja e saiu, deixando Naruto sozinho e confuso na mesa.

– Claro, vou chegar nela e perguntar: “E aí, Hinata, porque a Sakura te odeia e porque meu melhor amigo se recusa a permitir que eu me aproxime de você?”. Até parece... – resmungou brincando com o seu lanche no prato.

Nos quinze minutos seguintes, Naruto permitiu-se permanecer sentado sozinho enquanto continuava olhando regularmente para a garota e tentava decifrar algo por leitura dos lábios daquele estranho grupo.

Eles eram como uma pintura abstrata e estranhamente desproporcional, como cores aleatórias jogadas sobre a tela e que não davam um efeito visualmente agradável quando misturadas. Kiba era o idiota tagarela, o outro garoto era silencioso, porém talvez porque apenas não tivesse nada de útil para adicionar a conversa ou apenas se mantivesse aparte aos comentários fúteis do outro, a garota de cabelos curtos, porém, era diferente não por lhe causar ódio ou indiferença, mas porque era adoravelmente sorridente, de bochechas coradas e uma inocência no olhar que poucas vezes ele vira. Já Hinata, não possuía inocência no olhar. Não que houvesse malícia ali. Apenas supunha que todo o medo que vira quando encontrara seus olhos não deixava espaço para um semblante como o da magrela.

Então, como se alguém estivesse escutando seus desejos e resolvendo colaborar, viu quando o Inuzuka e o sem-nome levantaram-se com suas bandejas e saíram, deixando Hinata e a outra sozinhas.

Sem perder muito tempo, pegou sua bandeja, respirou fundo controlando sua ansiedade e caminhou até a mesa do outro lado do salão. Quando se aproximou, colocou a bandeja sobre a mesa, fazendo as garotas erguerem os rostos surpresas. Ele sorriu. Ou pelo menos tentou.

– Oi, posso sentar aqui com vocês? – perguntou indicando o lugar vago.

A menina o olhou assustada, as bochechas ganhando imediatamente um tom vermelho vivo, mas Hinata apenas o observou por um tempo antes de assentir com um gesto de cabeça mínimo e depois voltar a ficar sua bandeja.

Naruto escorregou no banco, escolhendo ficar ao lado da desconhecida, mas bem de frente a garota que ele queria conhecer. Pigarreou de maneira ruidosa, na intenção de fazer com que elas, na verdade ela, lhe desse atenção.

Quando ergueu o rosto outra vez, tentou dar um sorriso simpático e disse:

– Obrigada por ter me ajudado ontem.

Hinata piscou longamente, mastigando com calma.

– Não foi nada – e voltou a fitar seu potinho de salada.

Frustrado, mas ainda persistente, tentou começar uma conversa.

– Sou Naruto – e estendeu-lhe a mão em um aperto.

A garota lançou olhares de sua mão estendida ao rosto que ostentava um sorriso um tanto forçado.

– Hinata – disse em um sussurro enquanto pegava uma colherada de salada, deixando sua mão pairar no ar – e esta é Matsuri – completou apontando para a magrela.

Matsuri sorriu-lhe abertamente e disse um “Oi” cheio de admiração, fazendo com que Naruto se perguntasse se ela era aluna dos primeiros anos. Todas as garotas dos primeiros anos pareciam ter a obrigação de serem fanáticas pelos caras dos últimos e a expressão eufórica dela mostrava que fazia isso com prazer.

Retribuindo o sorriso, mas logo voltando sua atenção para a outra morena, tirou o pacote do bolso e colocou sobre a mesa.

– Sinto muito por ter feito você perder seu lenço ontem. Mas eu comprei outro para você e espero que goste.

Ouviu quando Matsuri exclamou um “sugooi” baixinho, mas ficou atento a expressão de Hinata, que nada demonstrava. Ela focou os olhos perolados no pacotinho e apertou os lábios em uma linha fina, quase invisível. Por fim, ela suspirou, empurrou o pacote em sua direção e disse:

– Não posso aceitar.

Surpreso, Naruto ergueu as sobrancelhas e protestou:

– Por que não? Sei que não é tão bonita quando o seu eram, mas...

– Não é isso – sua voz continuava tão baixa quanto um sussurro. – Esse lenço foi bem mais caro que o meu. Não posso aceitar.

– Considere isso como um agradecimento por ter me ajudado ontem – empurrou o pacotinho de volta a ela.

Hinata o olhou longamente, como se tentasse ler seus pensamentos. Como se tentasse descobrir as reais intenções dele por trás daquele gesto, porém acabou pegando o pacotinho e guardando na bolsa, sem fazer cerimônia alguma.

– Obrigada – disse ao fitar novamente sua salada de frutas.

Por um momento, sentiu-se novamente com os gestos automáticos dela. Mas logo aquietou-se lembrando que, desde que começara a observá-la, o único sentimento que ela expressava era medo. Até quando estava com os amigos seu rosto mantinha-se neutro e distante, porém, o que percebera é que eles não se incomodavam com o fato dela nunca parecer estar prestando atenção. Aceitou que aquele poderia ser o jeito dela, no fim: manter todos os tipos de contatos superficiais.

– Por nada – respondeu cortando um pedaço de seu bolo com o garfo e levando até a boca.

Durante o restante do intervalo, manteve-se concentrado em se forçar a comer e a lançar olhares enviesados para a garota, enquanto Matsuri tagarelava e fazia perguntas cujas quais ele só respondia de maneira curta.

Em outros tempos, teria se levantado de lá e ido para o mais longe possível, afinal, uma parecia fingir que ele não existia e a outra não parava de fazer perguntas um tanto idiotas, mas sentiu-se tentado a experimentar conviver na orbita daquela garota que nada expressava além de apatia ou pânico em momentos diversos. Queria descobrir como era conviver naquela bolha junto com ela. Queria descobrir o que se passava em sua mente. Porém, acima de tudo, queria descobrir que história se escondia por trás de alguém que parecia sentir as mesmas coisas que ele.

Quando o sinal tocou, Naruto ficou de pé, pegou sua bandeja e disse um “tchau” animado que ambas responderam de maneiras diferentes: Matsuri ainda eufórica e Hinata com um aceno de cabeça.

Então, sem pressa alguma, caminhava até a bancada onde colocavam as bandejas sujas quando sentiu uma mão pousar sobre seu ombro. Virou-se para trás esperando, embora soubesse que era uma esperança vã, que fosse Hinata, talvez para agradecer o presente ou para tentar consertar toda a sua frieza durante aquele poucos minutos que passaram juntos. Mas não. Quem estava ali era Menma e Menma era um pé no saco.

Irritado, ele bufou e encarou o irmão que, se não fosse pelos cabelos tingidos de preto, seria uma cópia perfeita dele.

– O que foi?

O gêmeo tirou a mão de seu ombro e enfiou nos bolsos enquanto dizia com a voz desgostosa:

– Naruto, estou com um problema e preciso de sua ajuda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada pelos comentários e elogios no capítulo anterior. Vocês são minha motivação para não parar de escrever