Another day in paradise escrita por Vanessa Hoffmann


Capítulo 3
Capítulo 2 - Stairway to Heaven




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Yes there are two paths you can go by

Sim, há dois caminhos que você pode seguir

But in the long run

Mas na longa estrada

There's still time to change the road you're on

Há sempre tempo de mudar o caminho que você segue

– Hey, você é cego? – gritou uma garota alta de cabelos vermelhos.

Ele ergueu uma sobrancelha e a encarou irritado. Viu então a expressão de fúria no rosto dela se tornar lívida quando reconheceu os rapazes a sua frente, entretanto, ficou ainda mais lívida quando o loiro ao seu lado abaixou-se e juntou todos os papeis que o amigo havia derrubado na batida.

– Aqui – disse Naruto, entregando os papeis a Fuuka.

Ela piscou visivelmente constrangida, o que fez Naruto rir por dentro e lançar um olhar de esguelha para ele, que mantinha a cara amarrada de sempre. Seu rosto tingiu-se de um forte tom de vermelho e ela murmurou:

– Desculpe, eu não sabia que era você, Sasuke-kun.

Sasuke apenas emitiu um som rouco com o fundo da garganta e voltou a andar. Naruto o acompanhou achando graça da situação.

Mesmo que não fosse o mais antigo, Uchiha Sasuke era o seu melhor amigo, embora os dois quase nunca passassem sem discutir por algo idiota.

Era de praxe pelo menos uma vez por dia brigarem por um motivo e normalmente esse motivo era a garota de cabelos cor de rosa por quem Naruto era apaixonado desde os doze anos e que parecia ter olhos apenas para o Sasuke.

Entretanto, o clima naquele dia não era favorável a brigas banais como aquela. Apesar de estar satisfeito por ter conseguido sair de casa pela manhã antes que seus tios acordassem (ambos estavam em casa, por algum milagre) ou que Menma aparecesse para uma briga que nada tinha a ver com a amizade dos dois irmãos, não conseguia evitar a sensação de estar carregando o mundo nas costas novamente.

Mais uma vez havia entrado na sala da psicóloga decidido a colocar tudo para fora e acabar com aqueles milhares de pensamentos que explodiam em sua mente como bombas, dia após dia, e eles simplesmente pareceram se recusar a sair de seus lábios e chegar aos ouvidos da Dra. Yuuhi.

Assemelhava-se a entrave impossível de superar que o fazia sentir que não era necessário contar, que era coisa de sua cabeça, que estava tudo bem, que ele era forte o suficiente para continuar fingindo que estava feliz e que aquela convivência de fachada com os tios não o magoava profundamente.

Porém, era só sair da sala para sentir o peso do arrependimento e querer gritar ao mundo que vivia um inferno constante. Era nesses momentos que ele engolia todo o orgulho e ia para a casa do amigo, sentava-se na cadeira giratória de seu quarto e começava a chorar.

Sasuke não falava nada e nada fazia além de escutar o choro do loiro por horas a fio, até que se acalmava, secava as lágrimas e lhe lançava um sorriso animado, como se nada houvesse acontecido perguntando em seguida “Qual o ponto de hoje?”.

O amigo fazia um “Tsc” estalado com os lábios e sussurrava o lugar de sempre: “Qualquer um”.

Então ele levantava, lavava o rosto e ia para casa antes de começar o ritual de sempre. Primeiro pegava a calça social escura, a blusa branca de mangas longas, os tênis velhos e sujos dos quais já devia ter se desfeito, mas o apego não deixava. Tomava um banho demorado o suficiente para colocar suas idéias no lugar e se convencer de que, por pelo menos até o final do dia, todos os seus problemas escorriam junto com a água pelo ralo.

Depois disso ele saia enrolado na toalha, vestia as roupas, ia para frente do espelho e encarava seu próprio rosto por alguns minutos. Era incrivelmente parecido com seu pai, embora Nagato fizesse questão de repetir que por dentro ele era uma cópia fiel da mãe. Apertava os lábios em uma linha fina e passava as mãos pelos cabelos, não colocava perfume e esperava até o interfone tocar.

Minutos depois ele descia correndo a escadaria do prédio – odiava elevadores – e pulava no tão conhecido conversível azul metálico de Gaara. No banco de trás sempre estavam Shikamaru, Lee e Sasuke, quando chegavam a metade do caminho apanhavam Neji e partiam rumo ao saco gigante em que era obrigado a passar seis horas por dia.

Detestava estudar a tarde quase tanto quanto detestava acordar cedo, porém, nenhuma das escolas padrão “Uzumaki Nagato” tinha o turno da noite e escolas públicas estavam fora de cogitação. Além do mais, seus amigos estudavam todos naquele horário, fosse por trabalhar no período da manhã ou por serem tão preguiçosos quanto ele quando se tratava de acordar cedo.

– Ei, Naruto – Lee se pronunciou no banco de trás quando Gaara pisou no acelerador – Menma não vem com a gente?

– Não – limitou-se a responder. Aparentemente, só Sasuke é Gaara haviam percebido que há dias a situação entre os dois irmãos não ia nada bem.

Dos outros dois, um era lento demais para perceber detalhes e o outro simplesmente não gostava de prestar atenção em coisa alguma.

Mas que sorte, pensou com seus botões à medida que se aproximavam da casa de Neji. Hyuuga Neji era o que fazia parte do seu limitado circulo de amigos há mais tempo. Seus pais eram amigos de faculdade e inúmeras foram às vezes em que estivera na casa dele, embora somente alguns meses antes do acidente tenham se tornado algo semelhante ao que eram hoje.

Distraído, enrolou as mangas da blusa até um pouco acima do cotovelo e se encostou na porta, observando sem nenhum interesse a fila de casas estilo vitoriano que indicavam estarem chegando. As casas eram cópias umas das outras com apenas cinco ou seis que fugiam do padrão de tons pastel e exibiam cores mais alegres em suas fachadas. A de Neji era uma dessas.

Grande como todas as outras, um imenso jardim com arvores, flores e grama bem aparada, era pintada de um azul céu que achava agradável aos olhos, de fato, na casa dos Hyuuga tudo parecia emanar aquela aura de calmaria e ordem.

Gaara apertou a buzina apressado e o som encheu a rua por alguns segundos, não demorando a fazer com que a porta de madeira branca fosse aberta por uma garotinha miúda, de cabelos castanhos e olhos naquele mesmo estranho perolado do amigo que ele nunca havia visto ali.

Ela se aproximou caminhando descalça pelo gramado e disse:

– Neji-niichan foi mais cedo.

– Hã? Por quê? – Perguntou Lee.

A menina deu os ombros miúdos.

– Okay. Valeu – Lee disse por fim, fazendo Gaara pisar novamente no acelerador.

Não tardaram a chegar à escola, embora tudo o que ele quisesse era não chegar tão cedo. Saltou do carro com a mochila nas costas e caminhou em direção ao prédio de quatro andares. Novamente, a sensação de estar carregando o mundo nas costas se instalou e no mesmo instante começou a recitar o mantra de sempre: “Tudo vai ficar bem. Está tudo bem. Ninguém vai te chamar na sala da diretora para dizer que seus pais morreram, afinal, eles já estão mortos”.

Passou pelo gramado, pelo primeiro lance de corredores e viu seus amigos se espalharem para suas respectivas aulas, sendo Sasuke o único que permaneceu ao seu lado. Saíram do corredor principal e foram para um menor, entrando no banheiro masculino em seguida. Ali, encostou-se na parede para tentar recuperar o fôlego e acabar com o pânico que se instalava dentro dele sempre que a data de aniversário da morte dos pais se aproximava.

O Uchiha apertou as alças da bolsa nos ombros e encostou-se também. Não olhava para ele quando fez a primeira coisa estranha do dia:

– Você está bem?

Surpreso, Naruto voltou o rosto para ele, assentiu vagamente e tentou sorrir. Então o Uchiha inclinou a cabeça, lançando-lhe um olhar severo antes de dizer:

– Sabe qual é o seu problema? – segunda coisa estranha do dia.

– Como assim?

Ele sacudiu a cabeça lentamente e o pegou pelos ombros:

– Seu problema é que fica agüentando tudo calado e não pensa que essa droga só faz mal a você. Não sou a melhor pessoa do mundo quando se trata de falar sobre o que se passa na minha cabeça, mas justamente por isso que sei a merda que é – falou enquanto olhava ao seu redor, metia as mãos nos bolsos e puxava um maço de cigarros. Estendeu-lhe um, que aceitou de bom grato e acendeu.

Sasuke soltou uma nuvem de fumaça em espirais.

– Você realmente devia contar o que está sentindo para os seus tios ou, no mínimo, para a psicóloga – terceira.

Ainda pasmo com a atitude de Sasuke, afastou-se dele e apagou a ponta do cigarro na pia, antes de jogar o resto dentro do lixeiro. Sem olhar para trás ou esperar o amigo, caminhou em direção a sua sala tendo em mente que ele possuía toda a razão.

oOo

– Sexta-feira, semana em que os cartões de crédito dos caras mais cobiçados de toda Konoha é liberado para gastar o quanto quiserem até o próximo pagamento e a temporada de chuvas deu lugar a de caça as gostosas - Naruto ergueu os olhos pesados de sono para a figura exótica de Lee. - Então, o que vai ser hoje?

Estavam na penúltima sala de tortura, vulgo quarta aula, vulgo aula de física I e, por algum motivo que só Deus sabia, Rock Lee estava levemente amarrotado, com uma das longas mangas da blusa desenrolada e o nó da gravata desfeito, fazendo essa ficar pendurada em seu pescoço como uma cobra verde musgo.

– O que aconteceu com você?

Lee abria a boca para responder quando Gaara aproximou-se e falou em seu lugar:

– Estava se agarrando em frente ao meu armário com a Tayuya – seu rosto demonstrava irritação e o “meu” saiu como se fosse cuspido.

Ainda irritado, o ruivo jogou sua mochila ao lado da cadeira de Naruto para logo após espichar-se como um gato sobre a mesma.

– O que? Você pegou a Tayuya? – Perguntou arqueando uma sobrancelha. Lee conseguir pegar alguém era uma história rara de se ouvir, mas ainda mais raro era alguém como Gaara falar que vira Lee pegar alguém como Tayuya. Certo que a garota era um viés de puta – aquele tipo de garota que fica com todos, mas não libera o rabo fácil-, mas ser flagrada se agarrando com Lee nos corredores era um tanto surpreendente. Além do mais, ela era gostosa, tinha que admitir.

A expressão de Lee era uma mistura de indignação com satisfação, tanto que não se incomodou com os comentários irônicos que foram lançados por um certo Inuzuka que acabara de entrar na sala.

Não sabia o motivo, mas desde que o vira pela primeira vez, em seu primeiro dia de aula naquela escola, passara a nutrir um ódio mortal por ele. Mesmo que não passasse de um idiota expulso de sua última escola por algum problema que muitos palpitavam, mas ninguém sabia ao certo, conseguia irritá-lo. Além disso, usava uma colônia barata que lhe deixava com dor de cabeça.

Ignorou-o também.

– Sim, peguei.

– E pra que diabos você ainda quer sair hoje? – agora quem se intrometia na conversa era Shikamaru que jogou suas coisas ao lado de Gaara e sentou no tampo da mesa também.

Lee deu com os ombros.

– Eu peguei hoje, mas quem vai me garantir a comida de amanhã?

Naruto riu sem humor deixando os ombros penderem moles e voltou-se para a entrada da sala para logo sentir-se sair do chão.

Se Naruto não se lembrava de onde a conhecia, o estalo em seu cérebro naquele momento fez questão de recordá-lo. Talvez a culpa fosse das roupas largas, embora o uniforme da escola não diferenciasse muito, ou fosse a postura mais ereta quando não estava carregando uma biblioteca inteira dentro da bolsa, mas poderia ser simplesmente seus cabelos presos em um rabo de cavalo baixo, todavia o que lhe chamava atenção não era a falta de capacidade de reconhecer seu rosto fora daquele cárcere escolar, mas a expressão de desespero que possuía quando adentrou a sala juntamente com todos os outros alunos do terceiro ano. Isso o fizera reconhecê-la.

Então foi como se tudo naquele lugar tivesse adquirido um ar pesado e ele remexeu-se na cadeira que ficara estranhamente desconfortável. A sensação de cabeça leve e dor no peito lhe avisaram que prendera a respiração sem perceber.

– Essa não é aquela garota que o Kiba escolta pela escola quando não está metido em alguma confusão? – ouviu a voz de Sakura enquanto ela colocava a mão em seu ombro.

Não a tinha notado chegar, mas não se voltou para vê-la.

– É... O que eles estão fazendo aqui? – questionou Ino que também surgira magicamente de algum lugar.

– Ouvi alguma coisa sobre o professor de Física avançada ter tirado licença. Acho que eles vão ficar conosco hoje – respondeu Sakura. Depois quase pode sentir o tom de satisfação em sua voz quando disse: - Sabe o que isso significa, Porca?

– Hai – riu a outra. – Sa-su-ke-kun. – respondeu soletrando cada sílaba com um prazer embutido.

Se fosse em outro momento, em outro dia ou outra hora, Naruto teria ficado irritado com os comentários que se seguiram, mas seus olhos ainda se mantinham fixos na figura miúda e borrada que caminhava para o fundo da sala. Cada passo denunciava sua insegurança e o breve cruzar de alívio em seu rosto quando finalmente chegou à carteira vaga ao lado de Kiba foi o suficiente que o asco se fizesse presente ao mesmo tempo em que uma idéia lhe ocorria.

Ajeitou-se em sua cadeira, puxou o caderno quando viu Sasuke entrar junto com o professor. Rasgou um pedaço de papel e escreveu alguns rabiscos, dobrou em quatro partes e mirou na mesa do Uchiha.

O amigo não precisava olhar em sua direção para saber que aquele papel viera dele. Abriu, leu rapidamente e vasculhou a sala sem discrição alguma, a procura da carteira que Naruto indicara. Quando identificou o lugar, voltou-se para o pape que em poucos segundos estava de volta as suas mãos.

Com um lampejo de curiosidade tomando conta dele, leu apenas para se sentir frustrado quando viu que sua pergunta sobre quem era a aquela garota estranha foi apenas um “Não é da sua conta. Não se meta com ela”.

Quarta.


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Notas finais do capítulo

Não, as musicas não têm muito a ver com o capítulo, mas são as que eu escuto para poder escrever, então creio que sejam minha inspiração para colocar no papel minhas ideias, então, em minha opinião, se encaixa com a história.
Bem, espero que gostem, que comentem o que foi bom e o que foi ruim. Não sei se ele ficou muito longo, mas não deu pra resumir tudo, até por que eu queria mostrar um pouco mais o modo como Naruto lidava com a dor dele sem contar para a psicóloga e me desculpem por não fazer ele interagir de algum modo com a Hinata nesse capítulo, mas não conseguiria fazer isso antes de escrever esse capítulo que me atormentou toda a madrugada. Prometo que próximo capítulo vai ter algo entre eles (ou não :3).
Comentários? Críticas? Sugestões?
Obrigada a todos que estão acompanhando, favoritando e comentando. Vocês são demais :3