Magnet escrita por Rize


Capítulo 2
Halo Sky


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada às pessoas que favoritaram! Não tive comentários ainda mais não desisti! Boa leitura!



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O primeiro sinal de que estava acordando foi o cheiro. Ah, um delicioso cheiro de café puro e quente preencheu seus pulmões como uma droga, convidando-a a abrir os olhos.

Foi difícil convencer-se de que era hora de despertar, mas os sentidos recobrando-se basicamente obrigavam-na a isso.

Um ardor na perna direita fez que seu rosto adormecido adotasse uma careta, e ela abriu os olhos devagar. A visão enturvecida foi um mal sinal. Não se lembrava de muito, e as imagens que sua mente guardava não passavam de flashes corridos como em um sonho.

Sentou-se sobre o sofá onde estava deitava, olhando ao redor. Não conhecia aquela sala, disso tinha certeza.

Um relógio digital marcava três da tarde, e ela levantou a mão para tirar a franja dos olhos. O contato dos dedos numa superfície áspera a fez tomar um susto de primeira, e então ela percebeu que tinha um curativo pequeno na testa e outro na perna.

Um gato preto de olhos dourados estava sentado numa mesa de centro logo a sua frente, enquanto a olhava com dúvida.

– Café? – uma voz completamente desconhecida soou em seus ouvidos, e ela demorou um pouco para olhar na direção. Um homem estava recostado num portal que dava para o outro cômodo. Parecia relaxado e com olheiras rasas. Segurava uma xícara marfim enquanto a vetava com os olhos anis.

Miku o olhou por alguns instantes antes de afirmar com a cabeça. O homem andou até ela e entregou-lhe a xícara com cuidado, tendo certeza de que ela havia pegado antes de soltar. Sentou-se à sua frente, na pequena mesa, escorando o corpo para frente e a olhando com ainda mais intensidade.

– Sou Kaito. – ele anunciou, esperando que ela bebesse um pouco antes de continuar. – Até onde se lembra?

– Que lugar é esse? – ela perguntou antes que pudesse sequer ouvir o que ele estava dizendo. Sua cabeça começava a girar ao grau que as lembranças voltavam em ondas largas.

– Você bateu seu carro ontem. Não me deixou ligar para uma ambulância, disse que tinha que chegar a Hiroshima.

– Hiroshima... – ela repetiu, tentando se localizar no meio do turbilhão de memórias. – Sim, eu tinha um compromisso lá. Espera, que dia é hoje?

– Vinte e oito. – Kaito sentou-se um pouco mais ereto. – vinte e oito de setembro.

– Droga. – praguejou, tentando se erguer do sofá, mas sendo imediatamente contrariada por sua ferida.

– Tem certeza que não quer que eu te leve à um hospital? Eu limpei suas feridas há algumas horas, posso não ser especialista, mas pode ser que você precise de tratamento hospitalar.

Miku parou para pensar um pouco. Não tinha mais o que fazer em Hiroshima, e agora estava em uma cidade nada conhecida na casa de alguém menos conhecido ainda.

E ainda assim, não podia se sentir melhor. Sua franqueza consigo mesma a permitia analisar atentamente tudo, e negar que seu relaxamento era extremamente inconveniente seria um equívoco.

– Onde está meu carro?

– Num ferro-velho. Paguei para um guincho tirá-lo da rua, mas não tinham outro lugar para por. – ele arqueou as sobrancelhas – Ficou com um amassado e tanto.

– Hospital. – ela anunciou. – Me leve à um hospital.

Ele se levantou de imediato, a ajudando a se por de pé também. A perna protestou, mas dessa vez, o suporte a deixou caminhar um pouco.

***

O cheiro de desinfetante e remédio a deixava enjoada. Estava deitada em uma maca rodeada por cortinas, enquanto Kaito se sentava ao seu lado, em uma cadeira.

– Era por isso que eu não queria ter vindo. – ela justificou. Já estavam ali há algumas horas, e a cada minuto que passava Miku ficava mais agoniada.

– Não é tão ruim. – Kaito recostou-se na cadeira, sorrindo sarcasticamente. – Se você se comportar, eles te dão um pirulito sem açúcar antes de sair.

Miku soltou uma risada. Provavelmente a companhia de um palhaço como Kaito fosse o único motivo que justificasse sua calma aparente.

Um doutor abriu a cortina de material duvidoso e passou por ela, colocando alguns exames sobre a apostila.

– Srta. Hatsune – ele começou, mas pela sua expressão Miku percebeu que seu quadro não era tão ruim. – é realmente uma moça de sorte. Só teve um arranhão na perna, que recebeu os cuidados pós-acidente adequados. Nenhuma fratura ou trauma, parece que está tudo bem. Só vou esperar os últimos resultados do raio X craniano para poder te dar alta, tudo bem?

Ela assentiu, decerto aliviada.

Mas seu alívio não durou muito. Assim que o médico saiu do pequeno cubico com paredes de cortina, outra pessoa entrou. Os cabelos castanhos e olhos de mesma cor escondidos atrás de óculos de grau entraram exasperados em sua direção, claramente preocupados.

Uma face que se aparecesse um dia atrás a faria feliz e iludida, agora a deixava desconfortável e recuada. E sem nenhuma razão aparente justificando.

– Miku – Kiyoteru perguntou, sua voz beirando o timbre do desespero – recebi a ligação do hospital e viajei para cá assim que o possível. Você está bem?

Ela queria corresponder e se jogar em seus braços como fazia normalmente, sempre que o via. Mas algo a segurava, e seu namorado agora parecia um grande repelente.

– Sim – ela tentou sorrir calorosamente, mas não sabia bem como soava – não foi nada. Só preciso de repouso e mais cuidado quando estiver viajando sozinha.

Ele suspirou aliviado, sorrindo logo depois. Seus olhos seguiram para Kaito, e uma interrogação tomou conta de seu rosto.

– Eu a trouxe. – Kaito explicou antes mesmo que ele perguntasse.

Kiyoteru concordou, mas sua expressão não era a mais satisfeita.

– Lhe devo uma bem grande, então! – sorriu, escorando-se na beira da maca. – Não precisa se preocupar, tomo conta das coisas a partir daqui.

Traduzindo, “pode ir embora, não gosto de você e não quero te ver perto dela, mas não sei porque”.

Kaito se levantou e deu um último sorriso para Miku.

– A gente se vê. – acenou, saindo da área. A vontade que Miku teve foi de levantar daquela maca e puxá-lo de volta para aquela maldita cadeira, para que ele pudesse fazê-la rir mais falando coisas idiotas.

Mas é claro que não faria aquilo.

– Fico feliz que esteja bem – Kiyoteru sentou-se na cadeira há pouco ocupada por Kaito, tomando sua mão e beijando suas costas.

– É uma cidade bonita. – ela falou, mesmo que completamente fora de contexto. Seus olhos estavam fixos na saída do pequeno cubico, enquanto ela forçava um sorriso. – Poderíamos ficar aqui por um tempo. Com certeza posso achar algumas apresentações aqui.

– Como quiser. – ele sorriu, não se tocando do porque do interesse da moça sobre a cidade.

Afinal, nem ela sabia o porque do interesse crescente na cidade. Só sabia que algo a mandava ficar ali, e que iria gostar do que veria nos dias de estadia ali.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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