Alguma coisa cutucava levemente meu ombro, ignorei e me virei para outro lado da cama escutando o ranger irritante das molas do colchão. A julgar pelo silêncio devia ser de madrugada. Então quem poderia me incomodar a essa hora? O barulho cessou somente durante alguns segundos até começar a me incomodar, novamente algo pressionou minhas costas um pouco mais forte. Franzi o cenho me encolhendo próximo a beirada da cama. Mal pude me ajeitar, pois a única coisa que senti foi minhas costas batendo dolorosamente sob o chão.

— Mas o quê?

Levantei irritado apoiando as minhas mãos no piso, contudo antes que pudesse me pôr de pé um travesseiro atingiu meu rosto — agora realmente eu havia perdido a paciência — ergui meu corpo rapidamente pronto para realmente espancar algum possível intruso instalado interrompendo o meu sono. Todavia, estanquei ao ver o rosto sombrio da minha mulher em nossa cama. Como podia ter esquecido, droga!

— E-Erza?

Um sorriso de escárnio fez-se presente nos lábios dela a observei enquanto procurava uma posição confortável encostando-se lentamente na cama tomando cuidado com a nossa criança em sua enorme barriga aparentando estar de sete meses.

— Finalmente, acordou amor — disse ela ainda sorrindo e olhando seriamente em meus olhos fazendo-me sentir um leve arrepio passar através do meu corpo — ela esbanjava as palavras com ironia — Agora escute bem o irei dizer — sussurrou colocando apoiando a mão em seu rosto — Estou com desejo, você irá comprar um bolo para mim, um bolo de morango — cruzou os braços me encarando com o queixo erguido. Sendo sempre orgulhosa, mais esse foi um dos principais motivos pelo qual eu me apaixonei.

Desejos. Essa palavra me causava arrepios, pelo fato de há meses eu não ter uma noite de sono tranquila.

— Um bolo? A essa hora? — perguntei incrédulo e olhei no relógio embutido na parede o qual marcava exatamente 2:30 da madrugada, voltei meus olhos para ela procurando falar mais calmamente possível — Amor, está muito tarde, vamos dormir amanhã eu compro quantos bolos você quiser.

Assustei assim que a vi abaixar a cabeça entre os joelhos, droga ela estava chorando. O que você faz quando uma mulher chora? Provavelmente iria abraça-la ou consola-la com beijos e carinhos. Entretanto, eu não estou falando de outras mulheres e sim e Erza Scarlet a mulher mais orgulhosa que conheço. Apesar de sermos casados há três anos qualquer aproximação tem de ser estritamente calculada, um erro poderia causar a minha morte. Talvez, eu esteja exagerando.

Me aproximei sentando na beirada da cama. Ah se você soubesse como mexe comigo, Erza.

— Tudo bem, eu vou — murmurei abaixando minha cabeça em sinal de derrota, como já dizia o velho já dizia o velho ditado: Se não pode vencer seu inimigo junte-se a ele.

Então veio a falta de ar.

— E-Erza v-você está me s-sufocando.

Minhas costelas estavam sendo literalmente esmagadas.

— Já falei o quanto você é maravilhoso? — os olhos dela brilharam e ela me soltou do seu abraço de urso, agradeci mentalmente a Deus, pois não teria aguentado muito tempo.

Observando-a percebi: Não haviam quaisquer resquícios de lágrimas, ou seja, ela nem estava chorando.

Encarei-a sentada próxima a mim. As mãos entrelaçavam próximas as pernas, os cabelos caiam suavemente por sua cintura e a cabeça estava abaixada — provavelmente pensando em seu amado bolo — ergui seu queixo fazendo nossos olhos se encontrarem. Ficamos assim nos olhando por poucos segundos, coloquei a mão em sua cabeça trazendo-a próxima de mim fazendo nossos narizes se tocarem, olhei para aqueles lábios eram simplesmente irresistíveis. Estava quase perfeito. Quase. Até ela dizer aquelas malditas palavras.

— E o bolo?

Virei o rosto abruptamente cerrando os punhos. Agora um bolo era mais importante do que eu?

Coloquei minha boca próxima ao seu ouvido e com a voz propositalmente rouca, sussurrei:

—É realmente uma pena que esteja grávida, Erza.

Sorri vendo sua pele ficar arrepiada e seu rosto ficando da tonalidade de seus cabelos. Sem esperar por sua resposta, levantei pegando o casaco em cima da cômoda, calcei os tênis rapidamente, iria com a minha calça moletom mesmo. Encaminhei até a porta, Entretanto, antes de sair o sorriso em meu rosto aumentou ainda mais quando ouvi um sonoro “Idiota”.

O relógio na sala marcava 2:50, ou seja, muito tarde para alguém sair às pressas procurando por um bolo. Suspirei descendo as escadas e pegando as chaves e por fim saindo pela porta.

Entrei no carro dirigindo calmamente pelas ruas olhando para todos os lados, fechado, fechado e fechado. Já estava pensando em desistir. De repente uma luz ofuscante iluminou meu rosto e pude ver o grande letreiro escrito “Confeitaria bolos e tortas 24H”, estacionei próximo a calçada abri a porta e desci. Estranhei ter visto um carro familiar logo atrás balancei a cabeça irritado a falta de sono estava mexendo comigo, devia ser apenas a minha imaginação. Passei pelas portas logo em seguida entrando, não havia uma alma viva sequer dentro da pequena loja a não ser as atendentes com grossas olheiras. Dei um pulo ao sentir uma mão repousar no meu ombro.

— Ora, ora, olá irmãozinho.

Virei rapidamente ao ouvir aquela voz, tantas pessoas que eu poderia ter encontrado e tinha de ser meu querido irmão que eu amo tanto. Por favor, sintam a ironia.

Então aquele carro não era apenas uma coincidência.

— Mystogan... — murmurei cerrando os dentes.

O mesmo sorriso debochado não saia de seu rosto enquanto me fitava. Sinceramente eu comecei a odiá-lo na época da faculdade, ele dava descaradamente em cima da minha Erza. E finalmente parou na época em que conheceu a Knightwaker com quem é casado hoje.

— O que faz aqui? — perguntei rispidamente.

Entretanto antes que ele pudesse responder uma voz suave nos interrompeu.

— Em que posso ajuda-los? — perguntou uma senhora docemente ela era aproximando-se de nós extremamente baixinha, me lembrava meu professor Makarov. Bons tempos.

— Um bolo de morango, por favor — pedi sem desviar os olhos dele.

— O mesmo para mim — ele disse e eu estreitei os olhos desconfiado em sua direção.

Assim continuamos nos encarando por longos minutos. Desviei o olhar notando a velhinha andando apressadamente em nossa direção.

— Por favor, me acompanhem — curvou-se formalmente andando lentamente entre os corredores me fazendo bufar, queria apenas voltar para casa e dormir.

— Está parecendo um zumbi — a irritante gargalhada dele ecoou no corredor, fazendo a velhinha mandar um olhar irritado para Mystogan, é talvez ela não seja tão gentil quanto parece. Reprimi uma risada vendo a cara de tacho dele.

Paramos em frente a um balcão — na minha opinião exageradamente colorido —enquanto ela contornava colocando as mãos em cima do mesmo.

— Vão pagar juntos?

— Não — repetimos ao mesmo tempo.

Ela murmurou algo cruzando os pequenos braços em frente ao seu corpo e então olhou para mim e falou:

— São treze ienes — jurei ter visto durante alguns segundos um sorriso sarcástico em seus lábios.

Franzi o cenho mexendo nos bolsos. Gelei na mesma hora em que minhas mãos foram em direção ao vazio. Não acredito que esqueci minha carteira devido a tanta pressa para chegar aqui, acabei estragando tudo. Sai dos meus devaneios desesperados ao ouvir a voz dele do meu lado.

— Algum problema? — Mystogan perguntou mantendo o tom debochado em sua voz, enquanto a idosa apenas observava curiosa.

Abaixei a cabeça derrotado já não bastava me render pela Erza agora também ao Mystogan.

— Pode pagar para mim? —perguntei desviando o olhar tentando inutilmente esconder meu nervosismo — D-Depois eu te pago — ele sorriu notando o meu desespero, maldito!

— O dobro? — indagou sorrindo e para sua alegria, apenas confirmei vendo-o depositar o dinheiro nas mãos da velhinha cujo a qual os olhos brilhavam em pura ganância. As aparências realmente enganam.

— Aqui está — se afastou depois de entregar os bolos embrulhados na sacola para ele.

Fixei meus olhos na sacola em sua mão esquerda, percebendo isso me entregou o bolo, porem antes que eu pudesse alcançar ele afastou.

— Não se esqueça — disse friamente e dessa vez me passou a sacola.

Enquanto ele se afastava eu pensei no meu dinheiro, estava curioso sobre o fato dele estar aqui então perguntei:

— Ei, por que você comprou um bolo também? — perguntei e ele parou em frente a porta.

— Você não é o único com uma mulher grávida para aguentar — piscou o olho direito saindo do estabelecimento, isso quer dizer, oh meu deus a Knightwalker também está gravida estranhei ele manter isso em segredo, não sei se aguentaria se fosse eu em seu lugar.

Fui rapidamente em direção a porta antes de sair notei o olhar da velha como se estivesse dizendo “Perdeu alguma coisa?” Mesmo estando com o meu casaco o vento frio me fez encolher a procura das chaves nos bolsos.

{...}

Assim que entrei no quarto carregando um prato e os talheres com um enorme bolo — não duvido que ela irá comer tudo — os olhos dela reluziram fazendo eu sentir um calor percorrendo minhas bochechas entreguei para ela logo em seguida, me joguei exausto na cama.

As bochechas dela estavam todas melecadas de creme se eu não estivesse tão cansado iria limpa-las com beijos. Minhas pálpebras pesaram sob meus olhos, antes de adormecer eu soube que tudo valeu a pena, quando eu vi:

O sorriso no rosto dela.