Aquela bela melodia encheu todo aquele quarto vazio, tornando até mesmo os cantos mais assombreados moradas da mais forte luz; até mesmo o silencio encantado, havia parado para contemplar aquele homem dar vida ao terrível mundo cinza a sua volta.

Seus dedos se moldavam as teclas daquele piano enquanto ele se doava a aquela canção, e fazia daqueles curtos minutos uma eternidade toda na ponta dos dedos.

Fraguimentos de sua alma eram levadas com cada uma daquelas notas, e seus olhos brilhavam, mostrando o quanto ele se sentia vivo.

Paços empolgados subiam os degraus até aquele cômodo distante; foram se silenciando à medida que se aproximavam até se tornarem apenas ruídos de quem andava na ponta dos pés. Uma pequena mãozinha apareceu, quase que despercebida, na soleira da porta. Logo depois, olhinhos curiosos vinham acompanhados de um lindo e sincero sorriso, o qual só uma criança seria capaz de dar.

Aproximou-se, sem conseguir mais esconder a grande paixão e admiração que ardiam forte em seus olhos castanhos, sendo guiada pela bela melodia até bem perto daquelas teclas, já amareladas pelo tempo.

Seus olhos acompanhavam os dedos do padrinho, que sumiam em um lugar e, rapidamente, apareciam em outro, várias e várias vezes, repetidamente. E o sorriso da criança ia crescendo cada vez mais; então, uma gargalhada. A criança pois-se a dançar alegremente, acompanhando o som que enchia seus ouvidos, e seu coração; proporcionando ao padrinho uma alegria a muito esquecida: a alegria de viver.

Infelizmente, nenhuma felicidade é capaz de durar para sempre, e aquela bela garotinha dos olhos castanhos aprendeu isso da pior maneira: uma parte dela foi arrancada, levando contigo suas cores, sua luz, sua alegria e sua música.

Ela não voltou mais a aquela pequena sala, pois sabia que isso traria as lembranças de volta, e com elas as tão temidas lágrimas e a dor.

Até as estrelas queriam alcança-la e consola-la; as nuvens gostariam de dar-lhe um forte abraço e o universo gostaria de contar a ela o porquê de ele ter sido tirado dela, mas, infelizmente, ele não pode parar para esperar que ela sofresse.

E as estrelas sumiram, vestindo o céu com um manto negro, para mostrarem sua tristeza; as nuvens beijaram o solo desta terra amaldiçoada, para que a garota não se sentisse só, fazendo com que as pétalas das flores caíssem, e os pássaros se calassem.

E para ela, aquela música nunca teve um fim, já que a morte, mesmo triste por ter que fazê-lo, parou-a no meio quando levou seu pianista.