Hinan escrita por Hakiny


Capítulo 46
Matem o Demônio! Erradique o Mal!




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“A maldição dos dois filhos do rei...

haviam duas crianças, o demônio e a salvação

Quem poderá salvar os sorrisos daqueles rostos inocentes?

Matem o demônio! Erradique o mal”

Vozes de crianças cantarolavam ao longe.

Confusa, Raque não sabia aonde estava. O chão era coberto por uma névoa negra, tão negra como tudo ali.

— Irmão?

Uma voz infantil ecoava de alguma parte daquele local estranho.

— Por favor não me machuque!

Diante de Raque, a imagem de dois garotos de idades diferentes ia se materializando.

— O que eu fiz de errado?

O garoto mais novo continuava a suplicar. O mais velho tinha um olhar confuso, carrega a Masayoshi em suas mãos. A espada reluzia majestosa, como se implorasse o sacrifício. Raque não conhecia aqueles garotos, mas conhecia bem a história.

— matem o demônio! Erradique o mal!

As vozes ficaram mais altas. O garoto mais velho  erguia a espada, Raque virou o rosto evitando assistir aquela cena. Um som de lâmina fez as vozes cessarem. Quando a garota voltou seus olhos novamente para os garotos, não havia mais nada.

Raque respirou fundo, e prosseguiu sua caminhada sem destino. Tropeçou em algo e caiu, sentiu um líquido quente em suas mãos, sangue.

Alguns gemidos ecoavam pelo local e então Raque notou a presença de alguém. O filho mais velho agora era uma garota, de joelhos ela apoiava seu corpo na Masayoshi suja de sangue. Raque agora se atentava ao que havia causado a sua queda, o corpo de um garotinho.

Seus olhos agora se encontravam com os da garota. Carrega uma tristeza profunda em sua expressão, ela então se lembrou de Ally e principalmente se lembrou de seu pai. Os filhos mais velhos não são vilões, são crianças que foram obrigadas a serem heróis. Pressionados pela família e pela sociedade, eram forçados a cumprir “seu dever de salvador”.

Raque sentiu seu sangue ferver.

— quantas almas inocentes você já ceifou espada maldita?!

Raque focava sua atenção na Masayoshi.

— matem o demônio! Erradique o mal!

O rosto da garota havia assumido uma forma demoníaca e ela cantarolava com um sorriso macabro.

Raque se afastou.

— matem o demônio! Erradique o mal!

Uma voz masculina havia surgido de trás da garota.

— Ally?

Raque gaguejava incrédula. Assim como a garota, Ally possuía uma feição completamente aterrorizante.

— matem o demônio! Erradique o mal!

O garoto que ela havia visto matar o irmão surgiu das sombras, igualmente desfigurado.

Vários adolescentes começaram a surgir da escuridão e de mãos dadas cantarolavam a canção da lenda.

— matem o demônio! Erradique o mal!

Eles cantavam mais alto enquanto giravam em torno da garota de joelhos.

Assustada, Raque sentiu-se novamente com 10 anos. A musica ficava mais alta e instintivamente a maga tentava abafar o som tapando os ouvidos, o que era inútil pois a musica ecoava em sua cabeça.

— MATEM O DEMÔNIO! ERRADIQUE O MAL!

Raque sentiu sua cabeça latejar.

— MATEM O DEMÔNIO! ERRADIQUE O MAL!

Mais uma vez se sentiu injustiçada pelo destino. Ela nunca havia machucado ninguém, nunca havia feito coisas ruins, mas ainda era um demônio.

Por que os heróis eram os assassinos? Por que pessoas que se disponibilizaram a assassinar seus próprios irmãos eram a salvação?

— porque no fim sacrifícios sempre serão necessários.

Uma voz desconhecida ecoou de alguma parte daquele local sombrio.

— Eu não sou um sacrifício….

Raque sussurrava.

— MATEM O DEMÔNIO! ERRADIQUE O MAL!

As vozes ficavam cada vez mais altas.

— eu não entendo…

De joelhos, Raque choramingava — … não entendo porque todo esse ódio. Não entendo porque nascer alguns anos depois nos condena a uma vida de sofrimento e ódio.

— MATEM O DEMÔNIO! ERRADIQUE O MAL!

— Não somos monstros, não pedimos por isso! Vocês… vocês são os monstros da história.

A garota encarava aquela ciranda demoníaca.

— MATEM O DEMÔNIO! ERRADIQUE O MAL!

— Assassinos…

Raque sussurrava.

— MATEM O DEMÔNIO! ERRADIQUE O MAL!

— MORRAM TODOS VOCÊS!

A garota explodia em um grito de ódio, pondo todo local a abaixo.

**

— O que está acontecendo?

Erii dizia enquanto observava assustado a enorme quantidade de energia transbordar do corpo da garota, formando um vortex gigante de cor escura, que alcançava os céus.

— acho que ela despertou…

Lily levava a mão aos lábios, enquanto se aproximava da garota.

— Lily o que está fazendo?! Se afaste disso!

Lily cessou os passos.

— Não é “isso” Erii…

O tom irritado da garota fez o shikõ se calar.

As últimas fendas de luz que que permitiam a entrada do sol, se fechavam, mergulhando o cenário em trevas profundas.

— Raque…

Lily posicionava os dois braços em frente ao rosto na tentativa de se proteger da ventania.

— LILY SAI DAÍ!

A voz de Erii foi abafada pelo vento.

Cercada pela escuridão, a pequena maga seguia uma fraca luz cor de rosa no meio do turbilhão negro.

— RAQUE!

Lily se agachou perto da garota.

— Ei…

A maga levantava o rosto de Raque de forma que o pudesse ver mais claramente. A garota não possuía expressão, seus olhos estavam perdidos.

— Que droga é essa?

Butcher observava o redemoinho gigante engolir parte do exército de Céverus.

— Todos para trás!

Dragon gritava enquanto se posicionava de frente para o fenômeno. Com as mãos levantadas o shikõ fez surgir uma parede de fogo ao seu redor que logo tomou a forma de um furacão e avançou em direção ao suposto inimigo.

Dentro do turbilhão, Lily sentia o calor aumentar e a luz das labaredas aos poucos penetravam aquela muralha de energia.

— Malditos…

Raque sussurrava — Querem me matar… VOCÊS SERÃO ERRADICADOS!

A garota berrava de forma demoníaca enquanto deixava fluir uma energia sinistra de seu corpo.

— Raque! Não, calma… não é isso. É só o Dragon, ele é seu amigo!

Lily tentava acalmar a garota enquanto usava seu campo de força para manter as duas em segurança.

— VÃO TODOS PARA O INFERNO!

Um estrondo fez toda a terra tremer e bolas de energia começaram a surgir do furacão de Raque, atacando todos os shikõs no campo de batalha.

Gritos de desespero ecoavam do lado de fora.

— RAQUE!

Lily se desesperava, ciente do desastre que poderia estar acontecendo.

— Que poder é esse?

Erii encarava perplexo o inferno a sua frente.

— Uau!

Céverus se mostrava satisfeito enquanto se sentava em uma pedra e admirava o espetáculo.

— Mas o que…

— Raque.

Céverus respondia a pergunta incompleta de Jon.

— Não pode ser…

Jon levava a mão aos lábios, incrédulo.

— Ela é incrível, melhor do que eu imaginei!

O miraniano sorria orgulhoso.

— Ela não é igual a você, seu demônio!

Jon encarava o inimigo com ódio.

— Você tem razão meu caro, tem toda razão!

Céverus sorria — A Raque é uma bomba relógio. Uma força da natureza! Ela não vê amigos ou inimigos, apenas alvos de seu ódio infindável!

— Raque…

Jon mais uma vez encarava o tufão que engolia ambos os exércitos.

— Por que está tão satisfeito Céverus? Seu exército também está sendo massacrado.

— O que? Aqueles zumbis?

O miraniano parecia debochar — não fazem diferença alguma para mim, posso apenas estalar os dedos e reconstruí-los ou simplesmente fazer surgir novos. São só lixo reciclado, assim como seus preciosos amigos.

— Não diga idiotices, eles são…

— Eles são corpos vazios de pessoas mortas.

Céverus o encarava friamente — Conheço o processo melhor do que ninguém Jon. Afinal a energia que os trouxe a vida é a mesma que pulsa dentro de mim.

— Não os compare com os cadáveres que você fez surgir para a batalha.

Jon se mostrava revoltado.

— Eles são apenas uma versão melhorada Jon, caprichos da esfera de energia maligna. Tal relíquia quase alcança a perfeição, mas ela precisa de um portador. Alguém que desde antes do nascimento teve seu destino ligado a ela, um bebê amaldiçoado, fadado a morte desde seu primeiro batimento.

Com os olhos arregalados, Jon sentiu sua garganta secar.

— Olhe só!

Céverus erguia a esfera brilhante que havia retirado do corpo de Raque — O bem é algo tão… como posso explicar?

O miraniano levava a mão ao queixo demonstrando certa dúvida — Frágil.

Em silêncio Jon observava a esfera cor de rosa ser tomada por uma coloração negra, como se estivesse apodrecendo.

Céverus continuou — Se o mal estiver em boas mãos, ele não deixará de ser mal, assim como a Raque nunca deixou de ser amaldiçoada mesmo sendo acolhida por pessoas que a amavam. Mas o bem? O bem é facilmente corrompido, como essa esfera está sendo nesse momento, apenas por estar em minhas mãos. Quando eu acabar, terei em minhas mãos as duas esferas de Miran e por fim estarei acima do bem e do mal, e da justiça não restará nem lembrança.

— Você já não tem poder o suficiente? Qual é o seu objetivo, demônio?

Jon carregava pesar em sua voz.

— O que é suficiente Jon?

Céverus o encarava com um sorriso.

— Não quero somente que o mal triunfe Jon, quero que não haja o bem! Quero que as esperanças deixem de existir, quero que a dor e o ódio cubram esse universo tranquilo com desespero.

O shikõ tremeu diante de tanto horror.

— O que fará com esse planeta?

— Eu? Nada! A  Raque é capaz de cuidar de tudo sozinha.

Céverus mantinha seu sorriso de triunfo. Os gritos e explosões compunham a trilha sonora daquela conversa definitiva;

— E depois?

Jon cerrava os punhos.

— Não me preocupo tanto com detalhes.

Céverus dava de ombros — Estamos apenas erradicando os heróis.

— RAQUE!

Lily gritava cada vez mais alto.

— MORRAM! MORRAM TODOS VOCÊS!

A garota gritava de forma psicótica.

— Raque isso não é você… são seus amigos lá fora!

— Eu não tenho amigos Lily, eu não tenho nada, eu sou só um demônio.

A miraniana carregava uma expressão fria.

— Não… não diga essas coisas…

Lily se permitia ser tomada pelo medo.

— Eu não diferente do Céverus, somos filhos da maldição, o sacrifício não executado, somos…

Um estalo foi o último som antes do campo de batalha ser tomado pelo silêncio. Com a mão estendida e uma expressão de ódio em seu rosto, Lily encarava a maga de joelhos com parte do rosto coberto pelos seus longos cabelos castanhos. O furacão havia parado, e as duas magas estavam cercadas por corpos de shikõs amigos e inimigos gravemente feridos.

Lentamente Raque voltava seu rosto para Lily deixando a mostra o vermelho em uma de suas bochechas. As duas garotas se encaravam em silêncio, assim como todos ali presente.

— Nunca mais...

A voz de Lily estava falha — Nunca mais se compare a ele.

Raque permaneceu em silêncio.

— Depois de tudo o que passamos, não venha me dizer que você não é diferente do Céverus! Não venha com essa de que você não é diferente do homem que matou sua família, que destruiu minha cidade, que quase pôs fim a sua sociedade. Se você é igual a ele, assuma também a culpa pela morte de todas as pessoas na Hinan do sul há 4 anos ou de todos os habitantes do norte há poucas horas. Ele sempre esteve por trás de tudo… Então Raque, se você realmente é igual a ele, ria no túmulo do seu irmão que deu a vida para te salvar em Miran naquele dia, e assuma também a culpa pela morte do seu avô e de todos os shikõs que lutaram bravamente para defender a sociedade quando o exército do Céverus atacou, porque se você é igual a ele posso dizer que foi seu exército que fez isso.

Com o rosto voltado para o chão, Raque permaneceu em silêncio.

— Se você é igual a ele…

Lily mantinha seu semblante sério — não hesitarei em te matar agora mesmo.

— Eu não fiz nada disso…

Raque sussurrava.

— É, mas ele fez. Se você não o tem mais como inimigo e ainda é capaz de dizer que não é diferente dele, assuma também a culpa pelos seus atos, porque você não passa de uma cúmplice.

O tom de voz da pequena maga estava firme.

— Eu não matei o meu avô…

Pequenos círculos molhados se formavam no chão abaixo da garota, denunciando suas lágrimas.

— Então você já sabe o que fazer.

Com essas palavras Lily apenas se virou e deixou a garota de joelhos no chão. Todos permaneceram calados, até que um estrondo gigantesco pôs fim ao silêncio. A escuridão tinha seu manto rasgado por um flash de luz que se estendia até os céus. A energia que emanava do corpo da miraniana despertada brilhava como um pequeno sol diante de todos os guerreiros.

Conforme os segundos se passavam, o fluxo de energia se tornava mais intenso. Uma forte ventania fez com que todos caíssem de joelhos, menos Céverus que permanecia intacto, pronto para o que estava por vir. Um sorriso curioso brotava no rosto do inimigo.

Com muita dificuldade Erii se arrastava para perto de Lily.

— Isso é algo bom, ou ela está começando algum tipo de apocalipse?

— Vê aquilo?

Lily apontava para uma rachadura gigante no ar — Ela está quebrando a barreira, está forçando a rachadura com energia. Se ela conseguir romper aquilo…

— O exército shikõ poderá ser invocado.

Erii completava a fala da maga com uma expressão de espanto.

**

— Larga ele!

A voz feminina de Lóris fez Taiko cessar seus movimentos.

— Lóris! Saia daqui!

Andy gritava enquanto tentava se livrar do poder de Taiko.

— hum…

O miraniano cravava a adaga no braço de Andy.

— DESGRAÇADO!

Andy agonizava.

— … isso é uma arma?

Taiko se levantava e vagarosamente caminhava em direção a garota.

— É… e eu vou explodir os seus miolos!

Lóris tremia.

— Lóris corra!

Andy tentava se livrar da adaga que lhe prendia no solo.

— Afaste-se!

Lóris dava alguns passos para trás com a arma em punho. Com um sorriso no rosto, a criatura continuava a se aproximar.

— FIQUE LONGE DELA!

Andy gritava mais alto.

Vendo o inimigo a tão poucos metros, instintivamente a garota fechou os olhos e disparou contra Taiko diversas vezes até que o inimigo a desarmasse.

— Que gracinha!

Taiko acariciava os cabelos da shikõ com a arma roubada — Deveria ter um plano melhor do que apenas uma arma. Nem todos são tão frágeis como shikõs de classe baixa.

Um disparo seguido do barulho de um corpo sem vida caindo no chão fez Andy se calar.

— É engraçado o quanto esses shikõs mais fracos se assemelham a humanos.

Taiko observava a fumaça que saía do cano da arma.

— Ló-Lóris…

Andy estava apático, diante do cadáver de sua velha amiga estirado no chão.

— Bom.

Taiko lançou a arma em uma direção qualquer — Onde estávamos?

— Demônio!

Andy rasgava o braço preso pela adaga, conseguindo assim sua liberdade. Em silêncio Taiko apenas aguardava calmamente a aproximação do shikõ enfurecido.

Um estrondo fez Andy cessar seus passos. O campo de energia de Taiko o protegeu do ataque surpresa.

—  Você deveria ficar envergonhado por atacar criancinhas.

Uma voz feminina se aproximava do local.

— Quem é você?

Taiko encarava a recém chegada.

— Me poupe de apresentações desnecessárias.

A mulher tirava uma mecha de seus longos cabelos negros do rosto.

— Jordy?

Os olhos de Andy estavam arregalados.


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