Hinan escrita por Hakiny


Capítulo 40
Últimos Segundos




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Uma explosão fez toda a estrutura do castelo tremer.

― uou!

Jon caminhava rumo ao centro da sala aonde se encontrava o inimigo ― parece que está rolando uma bela festa ali embaixo.

De costas para o recém-chegado e com a atenção voltada para a paisagem escura revelada pela imensa janela de vidro, Taiko se mantinha em silêncio.

Vagarosamente o shikõ se encostou em uma mesa e suspirou.

― acredito que não veio até aqui em busca da Masayoshi, estou certo?

Taiko agora encarava o rapaz.

Jon acenou negativamente com a cabeça.

― consigo ver muita energia emanando de você, a mesma que vi no Dragon.

Pausou e encarou o inimigo ― tire esse maldito feitiço do meu irmão… agora.

― que admirável essa preocupação fraternal. Mas não se preocupe, o guardião não está mais sob o meu controle e nem sofre com as alucinações da Mizuno, deveria agradecer a pequena humana manipuladora de magia.

Taiko informava.

― não devo nada aos humanos.

Jon se manteve sério.

― que aversão interessante, pensei que fossem aliados.

― isso não é da sua conta.

Jon se ajeitava em pé ― não tenho mais o que tratar com você.

― eles tiraram duas coisas preciosas de você. Sua irmã e sua esposa.

A voz grave de Taiko fez Jon parar seu percusso até a porta de saída da sala.

― foram necessários alguns séculos para que a dor da perda da menina fosse cicatrizada, mas a ferida da mulher que você amava ainda está sagrando.

― você não tem nada haver com isso.

A voz de Jon saía quase como um sussurro.

― sei que não, mas os humanos são interessantes, gosto de entender seus sentimentos.

― eu não sou hu…

― é sim.

Taiko interrompeu a fala do shikõ ― alguns poderes a mais e a eternidade não mudam sua essência humana fraca e complexa.

O miraniano se aproximava de Jon.

― você derrotou o guardião de fogo. É incrível toda essa força que vem de dentro de você, essa escuridão, esse ódio… poderia afirmar sem sombra de dúvidas que você é uma pequena representação do mal, um genuíno filho mais novo, uma versão humana do Céverus.

― Céverus…

Jon resmungava ― estou cansado de ouvir esse nome! Quem afinal é esse maldito?

Jon se virava para Taiko.

O alien sorriu e caminhou mais uma vez em direção a janela de vidro. Jon o observava em silêncio.

Taiko fez um sinal para que Jon o seguisse e sem resistência Jon obedeceu.

Os primeiro raios de sol atravessavam a vidraça, raios teimosos que com dificuldades perfuravam as nuvens negras que cobriam o céu já amanhecido.

― o que é isso?

Jon sussurrava enquanto tocava o vidro.

― não achou estranho não encontrar na base inimiga nem um vestígio do exército gigantesco que quase destruiu sua sociedade?

Taiko sorria.

― o que eles estão fazendo?

― doando humildemente suas energias para que o mestre se liberte e venha direto pra cá.

Taiko olhava orgulhoso para seu exército devoto unido em um círculo de magia.

― eles estão morrendo.

Jon observava alguns shikõs caídos.

― alguns sacrifícios são necessários no fim.

Taiko se afastava da janela ― infelizmente Ally morreu antes de ceder. Depois de tantos anos de tortura não se podia esperar menos. A parte interessante disso, é que o feitiço de selamento não estava tão poderoso quando aconteceu.

― quem é Ally?

Jon o encarava assustado, temendo pela resposta.

― o filho mais velho do rei de Miran, irmão da garota que vocês protegem.

― Raque…

― sim.

― então estão mandando essa imensa quantidade de energia até Miran para que…

― para destruirmos o campo de energia que cobre o planeta e libertarmos o nosso senhor.

Taiko interrompia Jon de forma eufórica.

Jon não podia acreditar no que ouvia, tudo era uma grande distração. Do outro lado do castelo, debaixo do nariz de todos, um mal muito maior estava acontecendo.

― eu não permitirei que isso continue.

Jon retirava sua espada da bainha.

― você nunca se importou com esse mundinho de merda mesmo, por quê isso agora?

Taiko o encarava.

― não me importo com os humanos, mas esse planeta ainda é o meu lar.

― se está preocupado com seus queridos shikõs, nós dois podemos apenas fazer um acordo e…

As palavras de Taiko foram interrompidas por uma rajada de energia que cessou ao chocar com seu campo de força.

― não gosto de acordos.

O estilhaçar do vidro denunciou a saída agressiva de Jon rumo ao círculo de magia.

Aproveitando o impulso, Jon empunhou sua espada e avançou em direção ao alvo. Sua lâmina chocou-se contra uma barreira, e quase que imediatamente ele foi arremessado contra a parede do castelo, com o dobro da força que ele havia aplicado em seu ataque.

― isso é uma armadilha de reflexo. Magia pronta da Mizusha.

Taiko gritava do alto do castelo, através da janela quebrada.

― arrrrg!

Jon rosnava enquanto revirava os olhos ― não faço ideia do que você está falando...

O shikõ cravou sua espada no chão e a usou como apoio para se levantar ― … mas parece que isso vai ser mais difícil do que eu imaginei.

**

― ta tudo bem pessoal?

O estranho homem perguntava aos shikõs.

― quem é esse cara?

Nael mantinha sua posição de batalha.

― fiquem calmos!

Marius sorria ― esse é o Dylan.

O rapaz de cabelos dourados também sorriu.

Nael se calou, inconformado com a informação.

― mas então,

Dylan encarou Marius ― como isso aconteceu?

― o muro foi derrubado por um Minotauro.

Bisco respondia um pouco distante.

― Minotauro? Mas esses monstros nunca se aproximavam das Hinans, o que houve?

Dylan se mostrava surpreso.

― de que importa?

Nael prosseguia com a birra ― tem gente morrendo demais pra esclarecer fatos agora.

Dylan acenou positivamente com a cabeça.

― soldados, os rapazes aqui estão do nosso lado, façam seu trabalho e não interfiram no deles.

― sim senhor!

Os soldados do Sul faziam posição de sentido.

**

Não chovia mais, mas as roupas de Vallery ainda estavam encharcadas. Um pouco cansada e com a espada coberta de sangue a guerreira usava uma pilastre como encosto. Seu corpo estava pesado, então vagarosamente permitiu-se deslizar até o chão. Havia perdido as contas de quantas bestas havia matado para conseguir se por dentro do castelo, respirou fundo e sentiu vontade de se entregar ao sono que aos poucos a tomava.

― SAY!

Os gritos desesperados de uma voz conhecida fez com que Vallery arregalasse seus olhos já fechados.

― Lily…

A guerreira rapidamente se pôs de pé e correu rumo ao pedido de socorro.

Não andou muito e já se deparou com o cenário de guerra. Humanos, shikõs, minotauros e kotanarus em batalha.

No canto oposto da sala Lily estava de joelhos diante do combate entre Sayo e Mary. Enquanto a shikõ permanecia firme em seus ataques poderosos, Sayo se desviava, seu semblante estava visivelmente abatido.

― LÁ VEM MAIS UM!

Butcher gritava ao avistar mais um minotauro.

Em silêncio Vallery observava o inferno que a cercava. Vagarosamente voltou seus olhos para o buraco gigantesco que tomava o teto acima de sua cabeça. Uma luz familiar piscava alguns andares acima. Vallery sorriu ao se lembrar da ultima vez que havia visto a Masayoshi com aquele brilho belo.

― Lily!

Raque puxou o braço da companheira com força, impedindo assim que ela fosse atingida pelos destroços da batalha.

― Raque, precisamos parar com essa batalha ou a Mary vai acabar matando a Sayo.

Lily parecia desesperada.

― precisamos sair daqui!

Raque parecia bolar uma estratégia de fuga.

― você ao menos está me ouvindo?

Lily chacoalhava Raque.

― o que é aquilo?

Raque fixava os olhos em uma direção. Antes que Lily pudesse checar de onde surgia a surpresa da maga, cegou-se com um brilho indescritível que tomou toda a sala.

Sua visão agora completamente escura a impedia de entender o que havia acontecido, tudo o que permanecia era o silêncio. Toda a agitação da sala, todos os berros das bestas, o trincar das espadas, as explosões dos ataques… tudo havia cessado.

Aos poucos a luz fraca da manhã que penetrava pelas paredes despedaçadas daquela sala se revelava a pequena maga.

Lily esfregava os olhos com brutalidade, até poder ver com clareza tudo o que a cercava.

Em um canto da sala, Butcher e Allk estavam de boca aberta, aparentemente incrédulos. Um pouco distante deles, Lucy auxiliava Sayo a se levantar. Ao seu lado, Lily notou um sorriso de admiração no rosto de Raque, confusa Lily apenas voltou sua atenção para a direção que a companheira olhava.

No meio da sala Vallery erguia a Masayoshi, talvez fosse coisa da sua cabeça, mas poderia jurar que via um brilho dourado emanar do corpo da guerreira. Mais uma vez a Masayoshi havia feito a sua justiça.

**

― QUANTO TEMPO VÃO PERMANECER AÍ MALDITOS!

Jon socava com força o campo de energia que cercava o círculo de shikõs inimigos, a cada

golpe ele recebia uma pancada.

― isso não ta dando certo…

Jon sussurrava enquanto sentia uma gota quente de sangue escorrer pela sua testa.

― talvez você só não esteja fazendo do jeito certo.

Uma voz grave familiar fez Jon se assustar. Imediatamente o shikõ sacou sua espada.

― está tudo bem.

Dragon segurou a espada de Jon e a abaixou lentamente. Talvez pelo seu orgulho o líder dos shikõs não deixou transparecer a emoção de ver seu irmão em seu estado normal.

― o que sugere?

Jon se recompôs. Dragon sorriu confiante enquanto observava uma enorme nuvem de chamas cobrir o campo de energia.

― provavelmente você queimará em poucos segundos.

Jon alertou.

― eu sou imune a fogo.

Dragon parecia tranquilo ― e vamos ver quem aguenta mais tempo.

Não foi necessário esperar muito para que os primeiros sinais do calor intenso fossem visíveis na expressão dos jovens soldados participantes do círculo de magia.

Alguns suavam, outros respiravam ofegantes e uns já haviam até desmaiado.

― SOCORRO! ME TIREM DAQUI!

Um shikõ socava com força o campo de energia na tentativa de se libertar da fornalha.

Dragon mantinha um semblante tranquilo, Jon batia incessantemente a sola do pé contra o chão, estava realmente incomodado com aquela situação.

― PELO AMOR DE DEUS!

O rapaz se contorcia ao mesmo tempo que sua pele se desmanchava.

― Dragon…

Jon parecia quase suplicar.

― uma hora ou outra eles desistem.

Dragon ainda permanecia inabalável.

― isso é…

― desumano?

Dragon encarou o irmão com um semblante sério. Jon desviou o olhar e permaneceu em silêncio, Dragon também não disse mas nenhuma palavra, o silêncio foi interrompido pelo corpo sem vida do jovem se chocando contra o chão.

― parece que o calor derreteu coração dele… isso é possível?

Dragon coçava a cabeça como uma criança confusa. Jon ainda estava perplexo.

Uma segunda olhada para o interior do campo de energia e tudo o que foi possível ver foi um amontoado de cadáveres.

Ainda calado Jon se virou para sair.

― você é muito mole…

Dragon sussurrou.

― é talvez eu seja.

Jon franziu as sobrancelhas ― mas também não me lembrava de você ser tão frio.

― não sou um herói Jon, faço o necessário, não o correto.

― você não era assim.

― talvez você não me conheça tão bem quanto imagina.

― te digo o mesmo.

A essa altura os dois irmãos se encaravam seriamente.

― você nem saiu das fraudas ainda garoto.

Dragon debochava ― acha que viver 300 anos cercado por muros enormes, debaixo da proteção de um velho poderoso te torna experiente? Você não sabe o que é o mundo! Você não sabe o que é a morte!

Jon recuou por alguns instantes. Preparava-se para responder quando sentiu uma forte onda de energia ao seu redor, algumas pequenas pedras flutuavam e se desfaziam no ar.

― parece que não fomos tão rápidos…

Jon dizia em voz baixa enquanto observava o céu negro se abrindo em um redemoinho de relâmpagos dançantes.

― o que diabos está aconte…

A voz aflita de Dragon foi interrompida por um clarão e logo em seguida um barulho estrondoso o fez cair de joelhos.

― JON!

A voz fina de Raque fez Jon se assustar, o castelo havia desaparecido, seus companheiros agora só estavam ocultos pela imensa nuvem de poeira e não mais pelos grossos muros que formavam a estrutura.

― como?

Dragon arregalava os olhos ― como… ele fez isso tão depressa? Onde ele está?

O shikõ se virava de um lado para o outro na tentativa de encontrar o inimigo.

― ele ainda não chegou…

Jon encarava o céu, que a cada segundo ficava mais assustador ― acho que essas foram só as boas vindas.


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