Tudo está acabado.

Mercúrio já foi.

Vênus já foi.

Terra já foi.

Chegou a minha hora.

Eu nunca quis isso.

Eu nunca quis machucá-los.

Eu evitei isso por bilhões de anos. Mas agora já é tarde.

É a minha vez.

Eu não queria.

Eu não quero.

Quando eu ainda era jovem, eu já sabia do meu destino. Eu já sabia de tudo, mas me recusava a acreditar. Preferia fingir que ainda estava longe, que iria demorar. Mas, olhe como o tempo passa rápido, não é? Principalmente para mim, uma estrela, viva há nove bilhões de anos.

Eu os matei.

Por quê?

Por que comigo?

Eles todos eram meus irmãos. Mercúrio, sempre emburrado, com pressa, mas ainda sim era cuidadoso. Vênus fingia não se importar com os outros, mas era uma ótima pessoa. Terra, curioso, divertido, extrovertido. Eu me sinto tão culpado.

Mas agora tudo vai sumir.

Tudo vai ficar bem.

Eu vou ter que abandonar os outros. Deixá-los vagando por aí, como planetas-órfãos. Eu queria tanto poder ficar, mas a minha hora já passou.

Eu preciso ir embora.

Mas eu quero tanto ficar.

Ao contrário do que eu imaginava, não dói. Nem um pouco. Eu até diria que é libertador.

Todo o sentimento de culpa se esvai lentamente. Eu me sinto mais leve.

E vou encolhendo.

Sinto-me minúsculo.

Era isso.

Espero que todos estejam bem. Espero que Mercúrio, Vênus e Terra estejam bem, onde quer que eles estejam. Espero que Marte esteja bem. Júpiter, Saturno, Urano, Netuno. Todos eles. Plutão, Ceres, Éris, Makemake, Haumea.

Espero que vocês se deem bem. Que vocês se ajudem, já que eu não posso mais.

Eu vou sentir falta de vocês.