Em uma manhã cinzenta de inverno, em pleno cais, um homem de certa idade observa os pequenos pontos brancos da neve se dissolverem no oceano, seu rosto mostra as marcas do tempo, mas ele não deixa de ter as feições belas. Seus olhos demostram aquilo que sua feição tenta esconder, os sentimentos mais profundos de seu sofrimento, uma leve brisa bagunça seus cabelos, seus olhos se fecham com a sensação, ele inspira profundamente o ar gélido causando um desconforto em sua garganta.

O mar lhe traz o cheiro que ele tanto gostaria de esquecer, se sente egoísta mas essa parece a única solução para que seu coração não sangre mais, como se ela ainda estivesse ali, através do vento ele escuta sua voz cantada, que lhe embriaga os sentido. Aquele lugar o leva para um tempo em que sua doce Luna pertencia a seus braços, o lugar em que ela jugou como mais seguro, mas não foi seguro o bastante para salvá-la.

Sua respiração se altera, as lagrimas correm livremente por sua face se misturando com o gosto amargo em sua boca, a anos essa sensação de impotência não o atinge de modo tão devastador. Sua visão embaçada pelas lagrimas são fechados de forma brusca, dolorosamente se abrem a visão a sua frente, mostra uma linda garota andando pelas aguas, brincando com os pequenos flocos de neve de forma tão natural e alegre é sua doce menina.

A dor em seu coração se torna solida, seus soluços rompem o silencio do pequeno cais, sem mais forças o garoto que graças as ações do tempo se tornou um homem importante, cai de joelhos em meio ao chão sujo e coberto pela densa neve, marcando seu jeans, e ali se permite gritar com todo seu folego por aquela que ele sempre amou e sempre irá amar.

Sem se importar por quanto tempo ficou ali, se permitindo sofrer, ele consegue finalmente se erguer, enxuga suas lagrimas com as costas de suas mãos, em uma última fungada ele observa a rosa – a flor favorita de sua amada – esmagada com a força de seu aperto, os espinhos gravados em sua pele não lhe causam dor, o líquido vermelho escorrendo de sua palma, marca a beleza da rosa branca.

A delicada rosa banhada pelo sangue, a marca da vida e fragilidade humana, escorrega de seus dedos, chocando se no chão frio, sem olhar pra trás ele parte deixando naquela manhã de natal as lembranças de sua juventude, na busca desesperada pela libertação de suas dores. Em passos rápidos ele chega a seu carro e em seu último sinal de fraqueza ele olha para trás e tudo que se consegue ver é sua nítida tristeza.

No caminho de volta a sua casa fleches de suas lembranças o atinge, como socos em seu estomago, com as mãos tremulas ele aperta o volante de forma violenta, a velocidade do carro aumenta de forma estrema, tentando em vão impedir que as grossas lagrimas banhem seu rosto. Em uma curva estreita ele perde o controle do carro e capota seguidas vezes, mas diferente do que se imaginava, o medo não o abala e a única coisa que ele consegue pensar é nos olhos azuis como o oceano, tão puros e inocentes, da sua linda amada.

Após o carro se chocar com várias formações rochosas ele despenca da montanha, quando finalmente encontra o solo ele explode, as chamas entram em contraste com a paisagem, manchando o crepúsculo, com pequenos pontos cintilantes o tornando mais belo, na mesma forma que trágico. Entre os destroços do que sobrara do carro, observasse um homem protegido por um escudo de luz azulada, que em radia uma energia poderosa de paz, a estranha aparição se levanta de modo tão oponente, revelando uma forma solida através do escudo, assas brancas, que cortam através do fogo, as chamas se mantem encima da figura, mas como se elas fossem uma só e não de forma a consumi-la em suas labaredas cintilante.

O anjo, uma figura feminina tão frágil carrega de forma quase banal um homem do dobro do seu tamanho o levando até uma área protegida, a figura alada observa a aquele que um dia já amou. Passada algumas horas ele abre seus olhos de forma lenta, com medo do que verá, pois não se acha merecedor do céu, mas assim que sua visão se foca a primeira coisa que ele vê, são os olhos intensões e azuis de seu anjo da guarda.

Alguns pensam que anjos são figuras espirituais puras por tanto não se pode ser comparados com os humanos, mas quando um sacrifício de amor é feito a prova da pureza dessa alma humana a concede o direito de se tornar um ser celestial. Ela deu sua vida pela dele, a quem sempre amou, admirou e acima de tudo que a ensinou os valores de família e vida, mesmo diante das circunstâncias mais dolorosas ele sempre esteve lá por ela e agora mesmo depois de quebrar a promessa feita perante o céus anos atrás, de nunca se esquecer do amor que os mantinha, ela o salva.

Após o choque momentâneo ele percebe que seu anjo chora, lagrimas tão puras e verdadeiras que o faz sofrer, pelo homem que se tornou e principalmente por não ter sido forte o bastante para continuar a selar por seu amor. Sua mão se aproxima da face de seu anjo, acariciando sua pele de seda tão bela e suave, ele beija cada lagrima derramada por sua causa, pelo egoísmo de pensar apenas em si mesmo.

Sua atenção é dispersada pelo barulho da ambulância que se aproximam do acidente, mas o que o deixa mais perturbado é o fato de suas mãos estarem tão jovens, ele as leva ao seu rosto e percebe que sua face madura, com marcas do tempo se tornaram jovens. Quando ele se dá conta do ocorrido, seus olhos observam o local e a poucos metros é possível enxergar seu corpo estendido no chão pelos paramédicos que tentam o salvar, mas ele mesmo já sabe que não haverá volta.

Ao lado de seu corpo ele pode ver de maneira mais clara o homem de boa aparência que era, mas as feições cansadas e tristes o denunciavam, seu dinheiro foi capaz de comprar tudo, lhe proporcionar estabilidade e renome, mas não foi o bastante para lhe trazer de volta a vontade de viver. Sem conseguir lutar com os seus impulsos ele se agacha e olha de perto para si mesmo, não conseguindo se reconhecer na carcaça daquele homem, Luna se aproxima de seu amado lhe transmitindo paz, depois de tantos anos ele se sente vivo outra vez, o mesmo garoto Lucky que se apaixonou à primeira vista por Luna.

Em meio aquele cenário de destruição, as almas gêmeas finalmente se encontram, seus olhos se conectam de uma forma tão apaixonada e intensa, provando a todos que eles foram feitos para ficarem juntos, nem mesmo o tempo ou o egoísmo dele fora capaz de separar aquilo que os uni, o amor de alma.Com suas assas eles partem para a eternidade juntos, o amor verdadeiro é o único capaz de transformar lugares e pessoas, sendo a força mais poderosa e pura diante da terra, céu e inferno.