36 Degrees escrita por asrail


Capítulo 5
Distância


Notas iniciais do capítulo

N/A: é, sim. É uma das milhares de fanfics participando do I challenge de Incest do fórum Aliança 3 Vassouras. E é Sirius e Regulus (o ponto positivo de tudo isso, afora, é claro, ter várias fics maravilhosas para que eu possa ler, é que a gente descobre que não é a única mente insana do mundo que fica imaginando essas coisas criminosas... reconfortante, eu diria. Claro). Bom, falando sobre esse capítulo... Não, eu não gostava do Sirius. Mas agora eu gosto. Agora, eu pensei nele, e normalmente eu só o usava nas fics de Puppy Love, onde eu focava no Remus (lógico, né? Todo mundo ama o Remus! *abraça o lupino*). Mas dessa vez foi só o Sirius e eu o entendi. (E perdoei por todas as sacanagens dele com o Sev. Hunf.) Enfim, espero que vocês não me odeiem muito depois dessa fanfic.



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IV

Distância
“Porque metade de mim é sua e a outra é você.”

1978, Londres.

“Querido Al...”

Sirius largou a xícara de café sobre a mesa da cozinha de qualquer jeito. Ele segurava uma carta nas mãos, a primeira que vinha de Regulus há muito tempo, mas não a abriria.

O caçula costumava lhe escrever, ou melhor, duas ou três vezes lhe enviara alguma coisa pelo correio-coruja, quando ainda estava em Hogwarts. Entretanto, depois da primeira, Sirius deixou de abri-las. E nunca as respondeu.

Deixou o envelope lacrado pelo apartamento, distraído, e caminhou até o quarto, tratando de se vestir. Atrasado, o que não era tão incomum assim, ele escolheu as primeiras roupas que viu, calçou os sapatos e saiu.

Sirius tinha tarefas a cumprir.

Desde que saíra de Hogwarts, sua vida esteve muito ligada a de seus amigos, principalmente a de James Potter. E, de repente, eles se viam no meio da guerra.

A batalha ainda se dava na surdina e apenas os observadores mais atentos a palpavam. Era uma guerra silenciosa que já se arrastava havia anos, mas que agora começava a engoli-los num mar de trevas.

Para detê-la, a Ordem da Fênix foi fundada.

Sirius chegou à estação de metrô e esperou que o trem aparecesse. Era sempre mais seguro viajar de maneira trouxa, porque, geralmente, o inimigo não costumava se infiltrar na “imundície”.

Ele entrou no vagão lotado e segurou numa das barras horizontais sobre a própria cabeça, espremido entre a multidão defronte à porta. O trem começou a andar.

Sirius não costumava pensar muito sobre sua família. Ele não conseguia se decidir se era doloroso ou vergonhoso; provavelmente, ambos. Mas, quando estava sozinho, no meio de uma multidão de desconhecidos, parecia se sentir em casa. E não gostava da sensação.

Por mais que detestasse admitir, e, oh, sim, ele detestava com todas as suas forças, a essência dos Black se fazia presente nele. Cada molécula do seu corpo, cada centímetro de pele, cada fio dos seus cabelos escuros – ele berrava tradição, sangue e soberba.

Aquela era, sem dúvida, a maior dificuldade que encontrava na guerra: lutava contra si mesmo.

Mas, no fundo, ele sabia que, apenas por tentar, já fazia de si uma pessoa diferente. Ele passou uma das mãos pelos cabelos, num gesto mecânico, enquanto observava ao seu redor. Sirius escolhera estar ali, naquela hora, pronto para fazer o que fosse. Ele acreditava na Ordem da Fênix, acreditava nos seus amigos e acreditava em Dumbledore.

Mas ele acreditava em si mesmo?

O grifinório trocou o apoio de perna, pensativo. Sirius não gostava de parar para pensar nas conseqüências; não gostava de pensar no que aconteceria ou se estaria vivo até a meia-noite. Ele vivia um segundo de cada vez.

Entretanto, quando o silêncio vinha e ele estava só, acabava preso no que chamava de “retrocesso”. E a nostalgia era inevitável.

O que aconteceria se ele houvesse caído na Sonserina? Onde estaria se não tivesse deixado Grimmauld Place? Odiaria tudo o que ama? Amaria tudo o que odeia? Sirius teria se tornado um dos cruéis assassinos, seguidores de Voldemort, os quais tanto despreza?

Ele se sentia contaminado. Sabia que não compactuaria com as trevas, não mais, mas... Uma pequena parte dele, minúscula, insignificante e quase descartável, estava presa num passado não tão distante, no qual ele convivia com o verme da guerra todos os dias, sem se dar conta, ou pior, sem se importar. A discriminação. O ódio. A repulsa. E, por mais corajoso, forte e bravo que fosse, intimamente ele temia que o verme se proliferasse e, como a praga, tomasse conta do seu corpo e do seu coração.

Sirius tinha medo do que era capaz de fazer. Ele acreditava poder estar alimentando o inimigo em suas veias, fazendo com que sobrevivesse através dos seus pulmões... Ele tinha medo de se tornar exatamente aquilo para o qual havia nascido e, por milagre, negara: um monstro.

O trem foi perdendo velocidade gradativamente, mas Sirius pareceu não notar. Seus pensamentos estavam longe, em Grimmauld Place, número 12. Ele levantou os olhos quando as portas se abriram para a estação, ainda pensando no escuro berço das quimeras, quando o tempo pareceu deixar de existir.

Fazia anos que eles não se encontravam, mas o beijo dos olhos nunca falhava quando seus olhares se cruzavam.

Sirius pareceu não ter certeza de mais nada, se era dia ou noite, se fazia sol ou se chovia, se sentia calor ou frio, se foi num centésimo de segundo que ele fixou o caçula dos Black parado na estação, alto como Sirius não se lembrava, mórbido como o primogênito não esperava, ou uma eternidade.

Os lábios de Sirius se partiram, mas foram incapazes de pronunciar uma palavra sequer. Regulus sorriu com os olhos, intenso como um último pôr-do-sol, que pincela o céu com cores quentes, embora a frieza da noite já se faça presente, arrastando-se para junto deles, mesmo que não houvesse mais como esconder o que se tornara tão óbvio.

Sirius não conseguia ler nas íris miosótis o fascínio que sempre encontrara no caçula. O feitiço estava desfeito e talvez ele devesse se sentir livre, mas não o pôde. Não quando os olhos tão claros de Regulus pareciam poços de trevas e o seu sorriso precioso sumia no horizonte melancólico do desconhecido.

Nesse momento, tão breve e tão longo, Sirius fraquejou. Quando a multidão abandonou o trem, ele cogitou fazê-lo também, mas não precisou passar pela provação.

Regulus já havia desaparecido.

Ele se sentou num dos bancos frios enquanto o trem ganhava velocidade novamente. Sirius observou as pessoas ao seu redor e não conseguiu entender como elas não haviam percebido que, de repente, tudo estava errado. Fora do lugar.

Estava numa guerra silenciosa contra tudo o que fora, mas ele não era um quebra-cabeça. Não poderia simplesmente jogar fora todas as peças que não se encaixavam no novo jogo. Talvez... Talvez algumas delas só não devessem se encaixar perfeitamente. Talvez algumas delas fizessem realmente parte de quem ele era, uma parte grande, uma parte importante que ainda não fizesse sentido, mas que não estivesse de todo errada.

Sirius estava confuso. Ou pior: talvez estivesse delirando, enlouquecido. A presença de Regulus numa estação trouxa não fazia o menor sentido, mas, embora fosse um ponto a ser discutido, ele sabia que não era de suma importância.

Ilusão ou realidade, apenas a visão daquela imagem quase o fez saltar do trem.

Sirius segurou a cabeça entre as mãos, aflito. Era um teste, apenas. Difícil, mas suportável. Regulus era uma parte importante dele, do seu passado, do seu presente e, por que não, do seu futuro.

Ele sorriu, sem notar.

“Mas que tolice”, murmurou, levantando-se. Afinal, não havia porque hesitar: sua fraqueza seria sua maior força. O primogênito não queria se livrar do caçula, talvez nem pudesse, e, de fato, não precisava: Regulus não o tornava fraco, nem fazia com que Sirius quisesse trair a causa e abandonar a Ordem. Muito pelo contrário.

Se Sirius quisesse um futuro, para ele, para o irmão ou para ambos, juntos ou separados, ele precisaria acreditar em si mesmo e na sua capacidade de transformar cada obstáculo num degrau e cada fraqueza numa força.

Ele não deveria ter medo, mas vontade.

Quando o trem parou, Sirius saltou para fora, decidido. Não se lembrava de manhã nenhuma ter sido tão clara ou de dia nenhum em que tivesse se sentido tão poderoso.

Ele caminhou para fora da estação e seguiu por uma ruela de feirantes, desinteressado nas ofertas que os vendedores gritavam estridentemente. Dumbledore quis escolher um lugar bastante incomum, para que a Ordem parecesse tão deslocada que sua localização não seria apenas improvável, mas absurda.

Descendo alguns degraus de pedra entre dois prédios residenciais de classe média-baixa, ele chegou à uma rua lateral sem saída. Havia uma porção de gatos fuçando nas latas de lixo a um canto, mas apenas um deles o fixou, quase carrancudo.

“Bom dia, professora”, ele soltou, forjando uma reverência. A gata soltou um miado agudo, irritado, e pulou para a escada de incêndio. “Muito bem, então.”

Sirius seguiu o seu exemplo, alcançando a escada e subindo-a, desajeitado. Depois de dois lances de escadas, encontrou a gata parada na frente de uma porta ordinária. Bateu duas vezes seguidas e uma terceira mais demorada. “Torta de merengue.”

As trancas se destravaram por dentro e, quando a porta se abriu, Sirius deu de cara com um Alastor Moody nada amigável.

“Atrasado de novo, Black?” Sirius deu de ombros.

“Nunca se sabe o que pode acontecer...”

A porta se fechou às suas costas e a professora Minerva lhe lançou o olhar severo, aborrecida.

“Tente prever os seus deslizes pelo menos uma vez na vida, Sirius. Você sabe o quanto isso é perigoso para todos nós.”

“Sei, professora.”

“E isso é o que mais me preocupa...” Ela seguiu pelo corredor com Alastor em seu encalço. Sirius meneou a cabeça, resignado, antes de fazer o mesmo.

Havia uma porção de portas ao longo de todo o caminho e Sirius se perguntava o que Dumbledore teria escondido atrás de cada uma delas, mas a sua curiosidade teria de esperar. McGonagall contara algum número específico de portas – ele não havia prestado atenção – e então abriu uma delas, precipitando-se para dentro. Ele cumprimentou os presentes de maneira enérgica.

“Bom dia, Prongs!” O amigo o observou, intrigado. “Que foi?”

“Viu um passarinho verde essa manhã, Padfoot?”, James perguntou, interessado, “Pra quem não gosta de acordar cedo, você está muito bem humorado.”

“Chama isso de cedo?”, Lily perguntou, incrédula.

“Er... Eu também amo você, sardenta”, respondeu Sirius e aproximou-se dos outros presentes.

“Você tem certeza?”, a professora McGonagall parecia muito aflita enquanto conversava com Shacklebolt.

“Eu não duvidaria disso”, declarou Moody, “Afinal, ele tem o perfil, não se pode negar.”

A professora lhe lançou um olhar de censura, mas ele fingiu não entender. Kingsley esfregou as mãos, nervoso. “Tenho certeza, Minerva. Absoluta.”

McGonagall continuou contrariada, mas ela sabia que podia confiar nas palavras de Shacklebolt, o que piorava a sua aflição. Se ele estivesse certo...

“O que foi?”, Sirius se aproximou, curioso, “Temos mais problemas pela frente?”

“Acho melhor você se sentar, Sirius.”

Ele observou a professora por alguns instantes, confuso. Então, fixou os olhos em Alastor, depois em Kingsley. Aquele silêncio constrangedor, tão desesperador e irritante para Sirius, apoderou-se dele.

“Não, eu não vou me sentar! O que foi que houve?” Ele se aproximou ainda mais da mulher e, como ela não lhe respondeu, sentiu uma súbita vontade de sacudi-la até que dissesse logo o que tinha para falar – o que seria uma grande tolice, porque seria transformado num assento sanitário particularmente bonito antes de dizer ‘responda’. “Eles estão atrás da Andie?”

“Não.” Sirius deveria se sentir aliviado pela segurança da prima, mas ele tinha um mau pressentimento: as coisas seriam piores. “É sobre o seu irmão...” Muito piores. “Ele é um Comensal.”

Passaram-se longos minutos até que ele processasse a informação. Na verdade, qualquer um consideraria bastante óbvia a posição de Regulus. Ele era um herdeiro da nobre e mui antiga família dos Black, uma família centenária de bruxos seguidores do sangue puro que baniam do seio familiar qualquer um que negasse a sua tradição, como Sirius e Andrômeda. Mas para o primogênito, mesmo que tudo aquilo fosse óbvio, era difícil de se acreditar: ele não queria acreditar.

“Não! Não, ele não... Ele...”

De certa forma, entretanto, fazia sentido que Sirius tivesse que lutar contra Regulus, uma vez que teria de lutar contra si e contra tudo aquilo com o qual crescera. Ele só preferiria que as coisas fossem diferentes... Que fossem melhores. Mas não havia esperança. Seus destinos estavam escritos nas estrelas desde antes de nascerem.

E, apesar das palavras de James, do apoio de Peter, do consolo de Remus ou da sua própria determinação, ele tinha uma certeza acima de todas as outras: eles eram todo e parte.

E mesmo as estrelas cadentes, que realizavam desejos e riscavam os céus, despregando-se do manto escuro do infinito, acabavam como pó.

Assim como todas as demais.

“Querido Al... eu te odeio.”


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