Ainda encolhido e coberto em cima da cama, Matthew parecia que não acordaria tão cedo, e isso deixou Francis mais aliviado. Seria melhor mesmo que o menor descansasse muito. Não aguentava vê-lo naquele estado.

“Melhore logo... por favor...”

Francis ficava entrando e saindo do quarto. Ele sabia que isso não adiantaria em nada, mas era o que conseguia fazer naquele momento. A sensação de angústia somada ao conhecimento de que não poderia fazer muita coisa era horrível!

Ele só queria ser capaz de ajudar Matthew de alguma forma.

Mas devido a passividade da situação, Francis só conseguiu sentar em uma cadeira e procurar alguma coisa para se entreter. Ele ficou admirando o quarto do menor. Aquilo realmente tinha a cara de Matthew! Não era bagunçado e nem muito exagerado na decoração. Era algo simples e acolhedor. Francis realmente se sentia confortável estando ali.

Vez ou outra, Francis ainda se levantava e ia para a cozinha molhar o pano que tinha colocado na testa de Matthew. E depois de encarar por alguns segundos o pano, ele percebeu as iniciais “G.B.” nele.

“Então ele costurou até aqui as iniciais daquele idiota?”

Francis acabou lembrando da razão de Gilbert começar a morar junto com ele e Antonio. Realmente não fora uma boa época para o albino. Ele até pensou em tentar ser mais compreensivo com Gilbert. Talvez assim, ele parasse de ser tão imprudente e mimado.

Depois de relembrar um pouco do passado do amigo, Francis notou que Matthew começava a se remexer dentro das cobertas.

“Será que ele não está conseguindo dormir novamente?”

Matthew começava a se revirar demais, e mesmo que Francis tenha chamado o seu nome algumas vezes, ele parecia não perceber isso. Será que ele está sentindo alguma dor? Então Francis resolveu se levantar e tentar prestar mais atenção no que estava acontecendo.

Mas inesperadamente, Matthew se levantou.

–-- X ---

Gilbert caminhava tranquilo até sua casa.

Ele queria chegar logo e contar para Antonio sobre como Francis fica muito engraçado com ciúmes. Aquilo com certeza faria o moreno morrer de rir!

Ele olhava de 15 em 15 segundos para os lados como se procurasse algo para se distrair durante todo o caminho. De fato, ele era uma pessoa que se distraía fácil. Tão fácil que chegava a perder todo o tempo do mundo admirando um simples galho cair de uma árvore, e acabava transformando aquilo em notícia nacional.

“Por alguma razão, eu sinto que hoje, realmente é um dia bom.”

Normalmente, Gilbert vivia enfurnado dentro de casa treinando com sua flauta ou jogava vários vídeo games com Francis e Antonio. Ele preferia isso do que sair e ter a infeliz sorte de encontrar AQUELA pessoa por aí.

Ele preferia tudo à ver aquela pessoa mais uma vez!

Ele sabia que se a visse, ele deixaria de ser incrível e começaria a ser um bobo chorão. E o que ele menos queria naquele momento era ser isso!

“Me trocar por um violinista... Quem ele pensa que é?”

Gilbert começou a resmungar enquanto caminhava. Ele não gostava de lembrar do passado, mas era impossível de se esquecer quando esse passado se tratava da pessoa que ele mais amou na vida.

Ele não gostava nem de lembrar das coisas que eles já tinham feitos juntos, pois só traria mais sensações ruins. E uma pessoa incrível como ele, não deveria se deixar levar por coisas assim.

Gilbert começou a correr. Ele não entendeu muito do por que começou a fazer aquilo. Ele só queria correr, correr o mais rápido que podia!

Talvez ele quisesse deixar para trás os problemas...

“Não vou pensar mais nisso... nem nele... não pensarei mais no...”

Gilbert acabou trombando com alguém e quase deixou cair sua preciosa flauta, mas o ser estranho em quem ele esbarrou, a segurou.

–- Olhe por ande anda, idiota! E você quase deixou cair isso.

–- Me desculpe, eu só estava...

Gilbert levantou o rosto e encarou a última pessoa que queria ver naquele momento. Ele já começava sentir as lágrimas e a se lembrar de tudo que ocorrera no passado. Ele não aguentaria ficar mais um segundo ali. Ele só queria voltar para casa.

Então Gilbert pegou sua flauta e saiu correndo sem nem olhar para a cara da pessoa que estava na sua frente.

“Eu te odeio, Roderich! Eu te odeio!”

Ele não teve tempo de enxugar suas lágrimas depois que conseguiu ter uma boa distância daquela pessoa.

–-- X ---

Francis só conseguia colocar as mãos na testa após a inesperada pancada que acabara de receber. E logo que olhou para Matthew, ele também fazia o mesmo. Ele não entendera ao certo o por quer do menor ter levantado tão bruscamente.

Matthew só esfregava a testa que ainda estava um pouco avermelhada, e logo em seguida, percebeu que Francis também estava fazendo isso. Ele ficou muito envergonhado pelo o que acabara de fazer com o loiro e tentou se desculpar.

–- F-Francis! Eu... me desculpe... eu não queria... – ele estava muito vermelho.

–- Não se preocupe. Acidentes acontecem.

–- Me desculpe...

–- Eu já disse que estou bem.

Matthew ainda não conseguia encarar o maior por causa daquilo, então continuou com a cabeça baixa. Francis já fazia o contrário. Ele encarava Matthew, esperando que alguma hora ele pudesse encará-lo também.

Então ocorreu um breve tempo de silêncio naquele quarto.

E não se aguentando muito, Francis se levantou e perguntou se Matthew desejava algo. E ainda sem levantar a cabeça, o menor apenas disse que não.

“Está estranho.”

Matthew então acabou que por deitar mais uma vez, escondendo o rosto em baixo das cobertas.

Francis achou aquilo extremante fofo. Mas queria poder olhar no rosto do pequeno mais uma vez.

–- Matthew, por que está se escondendo? – Francis encostava a mão nas cobertas e mexia nelas para que Matthew entendesse que ele não precisava se esconder.

–- E-Eu... eu só estou com...

–- Com o que?

–- ... vergonha... – Matthew realmente tinha falado muito baixo.

–- O que?

Matthew acabou que por tirar um pouco das cobertas do rosto, revelando apenas sua testa e seus olhos violetas. Mas mesmo assim, ele insistia em virar o rosto.

–- Vergonha...

–- Não precisa ter vergonha. Haha! Foi apenas um acidente.

–- Mas eu te machuquei...

–- Não está doendo mais. Olha! – Francis apontava para sua testa que já tinha voltado ao tom normal de sua pele.

Então Matthew, abaixou o resto do cobertro de seu rosto e começou a encarar o teto. Aquilo se tornou algo interessante naquele momento. Logo em seguida, ele pode sentir uma enorme mão em sua testa, e aquilo o deixou vermelho.

–- Que bom! A febre passou! Você já está se sentindo melhor?

–- S-Sim. Só estou um pouco cansado ainda... e ainda me sinto um pouco gripado, mas acho que já estou melhor que antes.

–- Que bom que você já está se sentindo melhor. Eu realmente não aguentava te ver tão doente.

–- Mas sempre foi assim comigo... Já estou acostumado.

–- Mas você deveria se tratar mais.

–- Eu me cuido, mas as vezes isso acontece.

–- E se acontecer de novo, eu venho cuidar de você.

–- Não quero lhe dar trabalho... – Matthew olhava para suas mãos e apertava as cobertas com elas.

–- Você não me dar trabalho... Eu já disse, gosto de cuidar de você.

Matthew acabou ficando mais envergonhado, aquela era uma situação tão constrangedora. Mas ao mesmo tempo que aquilo o constrangia, era algo que o deixava confortável e feliz. Ninguém tivera feito isso para ele. Aquilo era único, especial... era mágico.

“Droga... Eu não posso chorar!”

Matthew levou o antebraço até os olhos. Não queria que Francis o visse novamente naquele estado. Ele só queria chorar sem ninguém por perto.

–- O que eu já tinha dito? – Francis puxou o braço de Matthew para baixo – Hein?

–- O q-que...? – Matthew estava desentendido com a situação.

–- Eu disse que iria ser a pessoa para quem você choraria sempre. – Francis encarava Matthew – Estou cumprindo a minha promessa agora.

–- Francis... e-eu...

–- Não guarde tudo para você... Isso é muito doloroso... Aguentar tudo isso sozinho...

Matthew queria chorar mais, mas ele não queria deixar Francis sem uma resposta. Então ele reuniu toda a coragem que tinha para dizer o que estava sentindo naquele momento.

–- ... eu... estou feliz...

–- Feliz? Com o que?

–-Por você estar tomando conta de mim...

–- Mas isso é algo normal a se fazer.

–- Mas ninguém nunca fez isso para mim antes... – Algumas lágrimas começaram a escorregar pelo rosto de Matthew.

Francis o encarou por mais algum tempo. Ele percebera quanto o pequeno Matthew era sentimental... Coisas simples como essa... ele nunca tinha experimentado. Como ele pode viver por tanto tempo assim?

Ele só o encarava. Matthew acabara que por começar a chorar incansavelmente, e não sabendo mais onde esconder o rosto, permitiu que Francis o visse desse jeito sem ele querer.

“Não quero mais vê-lo chorando... Isso é doloroso demais...”

Francis se sentou ao lado de Matthew e o abraçou.

Era o abraço mais reconfortante que Matthew havia sentido durante toda a sua vida! Era um abraço caloroso, cheio de carinho e amor para dar. Aquilo o aquecia, tanto por dentro quanto por fora. E ele fez o esperado. Ele retribuiu o abraçando segurando com força a camisa de Francis.

“Não quero sair daqui nunca mais.”

–- Matthew...

–- Sim...?

–- Você precisa melhorar logo...

–- Eu vou... não se preocupe...

–- Eu quero apressar logo isso.

–- Como assim?

Francis se afastou do menor, interrompendo aquele abraço que ele tanto estava adorando. Ele então segurou o queixo de Matthew e o levantou delicadamente.

Francis não aguentava mais, ele queria sentir aqueles tão preciosos lábios se unirem aos seus. Ele não pensava em outra coisa!

–- Francis... o que está acontecendo...? – Matthew estava vermelho,

–- Quero que você passe logo essa doença para mim para que você se cure de uma vez.

Ele visualizava aquele pequeno brilho emanando da pele clara de Matthew. Ele não acreditou que finalmente iria beijá-lo. Ele só queria ter o beijado logo.

Francis escutou um barulho, inconvenientemente, estranho vindo de seu celular. E não podendo ignorar mais o barulho, ele retirou a mão do queixo de Matthew para pegar o aparelho.

“Por que esse troço toca numa hora dessas?”

E visualizando de quem era a mensagem, Francis percebe que Gilbert poderia estar passando por problemas... Mas e Matthew? Ele não poderia deixa-lo! Não depois de tudo aquilo!

“Droga, Gilbert! Por que o seu passado é tão complicado?”

–-- X ---

Mensagem!

Remetente: Antonio Fernandez Carriedo

Assunto: URGENTE! É o Gilbert!

“Pelo visto ele encontrou com Roderich ou Vash no caminho quando voltava para casa!

Ele não sai do quarto! Eu não sei o que eu faço!

Me ajude!”