Sento-me ao lado de Ethan, e fecho os olhos, passam um, dois minutos, e não digo nem uma sílaba. Até Ethan atrapalhar o meu momento.

–Então? Qual vai ser? –Ethan diz então me levanto irritada, agora estou sentada reta.

–Não está vendo que é difícil. –Digo, Ethan parece nem se importar, o que me irrita ainda mais.

–Comece contando como teve essa ideia... –Ethan disse. Oh não aquele olhar de Você é doida?

–Começou... Bem... Não sei. –Disse, talvez tivesse sido na aula quando fui ignorada pelo próprio professor, por causa de Rafa, mas acho que foi bem antes disso.

Enquanto eu pensava percebi que Ethan estava rindo, de alguma piada própria.

–Do que esta rindo? –Quis saber.

–Você aí sentada, isso parece um... –Ethan disse apontando a cadeira de praia, a qual ele também estava sentado. Esperei que ele terminasse. –Divã, e eu o seu psicanalista. E isso é engraçado pagar alguém para escutar seus desabafos.

–Na verdade não é não! –Quando dei por mim, eu estava de pé. Ethan me olhava aquele olhar de novo, extremamente relaxado na cadeira, na verdade ele estava praticamente deitado. Sentei-me e decidi pelo meu bem, me acalmar.

–Não é engraçado. –Afirmei. –Por que ninguém me da bola, tenho que pagar alguém para me ouvir, e esse alguém pensa que vou falar de sapatos. –Olhei para Ethan, e depois disso ele parecia bem mais sério. –Não estou dizendo para ficar calado, por que se ficar calado, eu vou querer imaginar o que esta pensando. Entendeu?

–Prossiga senhorita. –Ethan disse.

–A minha vida toda, não tive amigos. –Fiz uma pausa, esperando que ele gritasse “E Rebeca e Beatriz”, mas ele não fez isso. –Rebeca talvez seja ainda mais solitária que eu, ela só disfarça com namorados, Beatriz e eu. Ou comprando e gastando, só sabe falar e não escuta a mim, nem a Beatriz.

–E sinceramente, não tenho nem um pingo de interesse em roupas, ou qualquer coisa que seja de grife. –Continuei depois de uma pausa. –Já Beatriz é razoável, de um jeito meio estranho, parece que ela tem inveja de Rebeca, e tenta ser como ela, mas no fundo é outra pessoa assim como eu, que finjo ser o que não sou.

Volte-me para Ethan, ele estava rindo outra vez.

–O que foi agora? –Suspirei.

–Você está falando que alguém que é igual a você, me desculpa, mas Rebeca, Beatriz e você... São superficiais. –Ele parou de falar com medo? De me magoar?...

–Não você esta errado. –Afirmei. –Superficial?...

Lembrei-me da frase do filme:

–Sou muito mais que isso.

Ethan ergueu a sobrancelhas, como se pedisse para convencê-lo.

–Esse é o problema, as pessoas me ignoram, pois pensam que quando vou abrir a boca vai ser coisas de... Patricinha. E não sou. “Patricinhas palavra que caracteriza garotas ricas, metidas, que amam rosa. Minha cor preferida é azul”. –Encostei-me na cadeira de novo.

–Está querendo-me dizer que odeia Rebeca e Beatriz? E que só é amiga delas por que não quer ficar sozinha? –Ethan disse, não enxergava seu rosto, bem melhor do que ver sua expressão naquele momento.

–Exatamente, mas não é ódio...

–Mas ódio e o contrario do amor. –Ele me interrompeu finalmente entretido. –Se não ama, então odeia.

–Está errado, Diário. Existi um gostar no meio. –Disse, ou pelo menos eu acho que tem. –Mas não é como se ou gostasse também.

Fiquei em silencio, pensando se realmente odiava, amava, ou gostava daquelas duas. Decidi trocar de assunto.

–Percebi que era realmente ignorada, quando meu próprio pai, que ama, ou amava me ouvir... – Dei continuidade. –Me ignorou, e então percebi o quanto minha vida é chata.

–Sério? Esta falando como se nada te fizesse feliz. –Foi surpreendida pelo que Ethan disse.

Não estava sendo tão ruim, na verdade me sentia mais aliviada.

–Não, as pequenas coisas me fazem feliz. –Discordei da sua dedução. –Como: Quando doou roupas quase novas para uma instituição de caridade no Shopping, música me deixa feliz. E como um episódio... Interessante que aconteceu.

Pensei um pouco, decidindo se contava, ou não. Mas eu tinha que contar alguém, o episódio com o vizinho, me faz rir sozinha quando me lembro.

–Passei as férias, espionando meu vizinho gato. –Sorri lembrando. Olhei para Ethan, e me deparei com uma cara de “qualquer menina pode fazer isso”, mas mesmo assim continuei. –Mas ele me pegou no fraga, para minha incredulidade ele sorriu... E eu também. E foi só isso já que não o espionei mais.

Tentei avaliar a expressão de Ethan. Não dizia nada, depois de um minuto ele sorriu.

–Já namorou alguma vez? –Ele me perguntou.

–Não. –Não hesitei ao responder. –Mas o dia que esse dia chegar, desejo ter a sorte de ser como você e Lisa.

–Lisa e Eu? –Ethan duvidou.

–Sim. –Confirmei. –Shippei vocês desde o começo.

Ele riu, e depois me olhou com aquele olhar.

–Ou a sorte de uma amizade, como a sua e a de Rafa. –Disse, depois de um tempo percebi que do jeito que eu falava parecia realmente que eu era infeliz. –O modelo de amigo perfeito para mim, é aquele que te faz chorar com as verdades do que você realmente é, e não ri do que você pretende se tornar.

Ethan me olhou.

–Rafa odeia vocês três.

–Eu sei. –Aquilo não me deixava nem um pouco surpresa. –Ninguém daquela escola vai com a nossa cara.

–Talvez o erro não esteja em Rebeca e Beatriz. –Ethan afirmou. –E sim em você, que se acha tão...

–Você esta certo. –Disse, sabendo bem do que ele estava falando. –Eu sou a pessoa que acha que é tão ruim, que ninguém é capaz de me amar, ou me ouvir pelo que realmente sou.

–Você é quem esta dizendo. –Ele deu de ombros.

–Isso é o que o dinheiro faz. –Me levantei, achando o bastante por hoje. –Ele leva o que você realmente é.

Ethan levanta, e me encara depois de um minuto ele diz:

–Não é uma questão de dinheiro, foi o que você escolheu. –Ele aponta para mim. –Mas isso não que dizer que seja um caminho sem volta.

Bem, essa eu não entendi. Ele leu minha expressão percebendo e suspirou.

–Patricinha? Será? –Ele sorriu realizado, como se ele tivesse transformado uma pessoa má em uma boa.

Agora sim entendi. Ethan acreditava em mim, acreditava que eu na verdade era muito diferente do que, mostrava ser. Não pude deixar de sorrir com isso.

–E então? Até amanhã? –Ethan disse, eu continuava sorrindo.

–Quer dizer que você aceitou? –Zombei dele.

–Acho que sim, só não me faça mudar de ideia amanhã.