Foi uma boa ideia no começo. Seria legal ouvir Ethan contando um pouco sobre ele, como eu que contei meus medos e fantasias. Mel, minha prima que chegou ao sábado do Peru, que nos contou um pouco sobre suas aventuras e por que voltou para o Brasil. Mas antes que Ethan começasse, percebi que nunca tive essa ideia antes, o que me fez parecer uma egoísta que só pensa que Ethan é um “bom ouvido” e mais nada. Talvez ele também esteja pensando que Mel seja mais legal que eu. Sinceramente não quero que ele goste mais dela do que de mim, por mais bobo que isso possa soar.

–Não há muita coisa interessante na minha vida. –Ethan parece achar graça da sua conclusão. Mel também ri, e nos duas ficamos caladas esperando que ele diga mais, por que seus olhos querem dizer mais, apenas encontrando as palavras certas. É quando Ethan se vira para mim...

Eu que já me sentia invisível em meio às palavras “dele”, e o riso “dela”.

Ethan sorri quase que dizendo: “Realmente minha vida não é interessante, tirando que trabalho pra você”. Sorrio de volta para ele, feliz agora que fiz parte de uma piada só nossa.

–Vou à escola. –Lista Ethan. –Tenho uma irmã. Minha mãe é viúva. Minha ex-namorada era muito legal é agora só é minha amiga...

Imediatamente Mel arregala os olhos para mim. Nego com a cabeça sem hesitações, antes que isso comece a virar uma conversa sobre minha relação com Ethan. Obviamente a garota que Ethan fala é Lis.

–Trabalho aqui basicamente limpando a piscina. Assim que Clara e eu nos tornamos amigos. –Continua Ethan, não percebendo a troca de olhares entre Mel e eu.

–Uau, obrigada por me considerar sua amiga. –Digo, mas meus olhos estão em Mel, deixando clara a situação.

–E é isso! –Suspira ele aliviado por ter terminado.

–Não é não. –Mel disse insatisfeita. –Eu duvido que nunca tenha passado por situações que foram verdadeiras aventuras.

–Talvez. –Ethan diz, consigo ver que esta feliz por despertar curiosidade em nos duas. –Mas vai ficar para outro diário. Esta ficando tarde. –Ele usa o termo que inventei para nossas conversas: diário. Mel nem acha estranha, enquanto eu fico um pouco assustada.

Ethan olha para o relógio no pulso e diz:

–Tenho que buscar minha irmã na escola. Foi um prazer conversar com você, Mel.

–O prazer foi todo Mel. –Acena ela, fazendo uma piada com seu nome.

–Te vejo amanhã na escola, Clara. –Ethan se despede.

–Até amanhã. –Digo, minha voz sai um pouco fraca, por que Mel me olha com cara de que “com certeza a alguma coisa entre vocês!”

–É claro que não. –Respondo a pergunta de Mel, logo que Ethan sai.

–Agora que estamos a sós... –Ela ri do meu desconforto. –Você pode me dizer: E então, você gosta dele?

–Não. –Respondo depressa, o que me faz pensar que não tenho tanta certeza assim pra responder tão depressa. –Quer dizer, claro que gosto.

Mel começa bater palmas de empolgação.

–Não do jeito que esta pensando. –Explico. Ela imediatamente para e me olha com a cara séria. –Ele é meu amigo, ele vem aqui todo dia, é natural que eu goste dele.

–Quer saber... –Mel me fita por um tempo até me dizer o resto da frase: –Eu. Duvido. Que. Você. Não. Goste.

–Pode acreditar. –Afirmo, olhando em seus olhos.

–Tudo bem acredito. –Mel segura o riso, com as mãos na boca. –Mas você nunca... Sei lá, pensou na possibilidade?

–Talvez. –Falo a verdade. –Mas não daria certo.

–Ele é muito bonito, você também... –Diz Mel, com um sorriso malicioso. –Clara, você não me convenceu. Continuo duvidando, com o tempo eu sei que você se abrirá para mim, só tome cuidado para não perdê-lo.

* * *

–Eu gostaria realmente que o casal de namorados fizesse silêncio! –Mário, meu professor, encara Ethan e eu. Não muito bravo, era como se debochasse, e a turma estava prestes a rir. Tive a leve impressão que seus olhos estavam mais em mim, do que em Ethan. Mas o que eu podia fazer?

Mário estava certo. Realmente Ethan e eu conversávamos, mas isso não o dava o direito de imaginar coisas entre eu Ethan.

–Não somos... –Começo, mas Mário já se virou para o livro.

–Respondam o pagina 118. –Ordena ele para turma.

Alguém do meu lado esquerdo cutuca meu braço.

–Não me contou que ele é seu namorado. –Pedro está sério. –Isso quer diz que não tenho chance?

Estou pronta para respondê-lo, mas é Ethan quem responde atrás de mim:

–É por que não sou. –Esclarece ele.

–Quer dizer que tenho uma chance? –Pedro sorri para mim, e posso ouvir Ethan rindo.

–Não! –Minha voz sai alta, Mário olha para mim, seus olhos quase dizem que aquele é seu último aviso.

Pedro me olha com cara de magoado. Desisto e encaro apenas o exercício da página 118. Olho de soslaio para Ethan minutos depois e nossos olhos se encontram, por que por algum motivo ele estava me olhando.

Me Lembro da conversa com Mel. E Ethan? Será que ele já considerou a possibilidade de haver um nós?

Volto para o exercício por que é realmente difícil pensar nessas coisas, até mais que matemática. E é quando uma folha com números e letras aparece em cima da minha mesa.

–Essa é uma prévia das notas. –Diz Mário enquanto ler um livro grosso e marrom.

As notas. Corro meus olhos na folha, enquanto meu coração parece uma batedeira, o sinal soa e todos se levantam. 7.0 essa é minha nota.

Deu certo! Deu certo! Deu certo!

Olho para Ethan que esta em pé rindo da minha cara de marginal. E então sem calcular a distancia ou a reação de Ethan, jogo meus braços sobre seu pescoço e o abraço.

Não posso ver o rosto dele, mas seu corpo fica tenso no começo, depois relaxa e envolve seus braços em minha cintura.

–Desculpa atrapalhar esse momento... Mas alguém pode me explicar o que aconteceu com minha nota? –Pedro praticamente grita, creio eu por ver seu 10, sua voz é uma mistura de surpresa e alegria. Mas finjo não escutar, não sei quando vou estar tão perto de Ethan assim novamente.