Capítulo 1

9 anos atrás

Nas sombras de um complexo de ruínas, um grupo de figuras encapuzadas se reunia. Sussurros que só poderiam pertencer as mais atrozes criaturas existentes, seres antagônicos a qualquer forma de luz, eram ouvidos por toda a parte, e no centro das ruinas penumbrosas, partes isoladas de entidades problemáticas– que requeriam a si nefastos sacrifícios em sua homenagem– pareciam emergir, vindos de planos comparáveis a delírios febris.

Uma figura, que aparentava ser seu líder, após momentos em silêncio, pronunciou-se, não sem antes lançar um olhar, composto por algo limítrofe a insanidade, aos seus seguidores:

— Todos os que ousaram erguer-se contra nós, finalmente, cairão, meus irmãos! A Deusa está voltando, mais poderosa e não haverá misericórdia contra as almas infelizes que se opuseram a Sua Divindade. - Ele falava como se houvesse entrado em um transe sobrenatural. Sua voz era de uma profundidade e de uma ressonância singulares, mal dissimulando uma ponta de intensidade represa, que bordejava mesmo com o fervor. Os grandes olhos negros brilhavam em combustão em meio a uma face pálida e mal barbeada. – O sinal que a tanto esperávamos surgiu, meus irmãos! Arkani está voltando, e uma nova era de ouro se aproxima.

Os outros passaram a entoar velhos cânticos, em uma língua a muito esquecida, com expressões vazias e hipnotizadas. Era possível sentir o grotesco poder que aquelas figuras sombrias manipulavam. Antigos deuses sobreviventes que cobravam inomináveis sacrifícios, pareciam estar se jubilando do horrível espetáculo apresentado a elas.

O líder, aparentando finalmente estar satisfeito com seus seguidores, que pareciam incapazes de refletir sobre o rito que se iniciaria, retirou seu capuz, revelando um rosto esguio e pálido, coberta por símbolos escarlates que nada se assemelhavam a qualquer língua conhecida, e tocou uma da ruinas que parecia milênios mais antigas que qualquer coisa feita pelo homem, e sorrindo, de modo quase insano, fez um gesto e recitou os versos que despertaram grande jubilo aos seguidores, anteriormente presos em um torpor ,cujas expressões revelavam uma fúria quase bestial e inumana. E o Lorde das Chamas, como que estivesse encerrando a cerimônia, se retirou lentamente do complexo, acompanhado por uma marcha triunfante.

Uma fogueira queimava em tons púrpuras, em meio ás ruinas, e de sua fumaça, repulsivas paródias de rostos e vultos, pareciam surgir. Finalmente após algumas horas a fogueira se apagou, estando entre suas cinzas, restos de uma foto.

Não havia ninguém para nota-la, pois todos os habitantes do local jaziam mortos, o primeiro sacrifício a Grande Deusa, cada qual tendo tido um fim mais horrível e grotesco que o outro.

O massacre de Herondale havia começado e suas consequências seriam sentidas por muito tempo.