Deslembrança escrita por Deusa Nariko


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Como eu ainda estou festejando esse Canon, aí vai a sequência de Reminiscência.
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Não gostou do meu OTP ser Canon e o seu não? Me processa, fofa! MUAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
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Desta vez, a música que ouvi para me inspirar é 'Your Love' da Amy Lee que, infelizmente, ainda não tem uma versão HQ disponível *chora*
https://www.youtube.com/watch?v=uWLNHUHM5-k
...
Boa leitura!



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Deslembrança: Ato ou efeito de esquecer; esquecimento; abandono; desamparo.

Enquanto vivermos sob o mesmo céu, silenciosamente e fortemente, eu esperarei por aquele dia”.

(Databook 3).

Espero para sempre pelo seu amor

Finjo que nós somos os únicos

Agarro-me aos sussurros do seu amor

Tudo o que nós somos é um sonho além do amanhecer.

Amy Lee — Trecho de Your Love.

Posso ver a apreensão nos seus olhos conforme a tensão paulatinamente escorre por entre nós três, estabelecendo-se como uma quarta presença incômoda mesmo contra a nossa vontade; é líquido e certo que nenhum de nós esperava por isso.

Ou talvez tenhamos apenas nos ludibriado no fim, alimentado e priorizado falsas expectativas.

O copo d’água tombado no balcão ainda estremece do golpe inesperado que sofrera há pouco. A água goteja da borda e empoça diminutamente no chão. A mão esquerda de Naruto permanece encerrada sobre o tampão, seu queixo está travado.

Posso ver claramente a decepção no seu rosto, Sasuke-kun e posso ver o desconforto de Teuchi e Ayame por presenciar o estouro de Naruto. Eu faço menção de me levantar, mas me contenho quando nosso melhor amigo em comum enfim libera a sua raiva.

— Mas que merda é essa, Sasuke?! — ele vocifera entre rosnados; é típico do Naruto. — Por acaso resolveu tirar uma com a nossa cara?! Isso não é engraçado, bastardo!

Você, no entanto, permanece cuidadosamente composto, calmo. Talvez eu tenha me enganado, afinal; você previu a reação de Naruto e você já sabe como defenderá a sua posição.

— Acalme-se, Naruto. Você não ouviu nada do que eu disse? Eu falei que será uma condição temporária e não permanente, seu estúpido.

Resmungando incoerências, Naruto volta a se sentar no meio de nós dois. A mão esquerda ainda está cerrada. A tigela de ramen diante dela esfria lentamente.

— Você é um bastardo mesmo, e um imbecil também! — Naruto rosna com inconformidade. — Depois de todo o trabalho que eu tive para te trazer de volta... Eu devia chutar a sua bunda de novo até revirá-la do avesso, idiota!

Posso ver que você ainda está calmo, Sasuke-kun. Eu me pergunto o que você está realmente sentindo agora... Agora que anunciou a sua decisão para mim e para o Naruto.

— Eu preciso fazer isso, Naruto. — O seu tom é resoluto, não abre margens para discussões e é exatamente por saber isso que eu me entristeço.

— Você não precisa fazer merda nenhuma — Naruto teima, faz birra. Eu só consigo respirar fundo e me resignar. — Você não tem que sair da vila para ver merda nenhuma! Seja lá qual for a resposta que esteja procurando, ela pode ser encontrada aqui mesmo.

— Você não entende, Naruto — Sasuke-kun meneia a cabeça devagar de um lado a outro.

— É, tem razão, eu não entendo e nem quero entender porcaria nenhuma.

E sem mais, ele se levanta e se retira da nossa companhia; deixou até mesmo a tigela fumegante de ramen intocada. No fundo, eu entendo o sentimento do Naruto; eu o entendo até bem demais. Lutamos tanto para te trazer para casa, Sasuke-kun, e quando finalmente conseguimos, você planeja nos deixar mais uma vez.

Quando sinto os seus olhos sobre mim, sondando meu rosto, perscrutando meus pensamentos, eu me fecho porque não quero que você veja a tristeza que me consome.

— Você não vai dizer nada? — A sua voz, rouca e aveludada, faz o meu coração disparar no peito.

A verdade é que eu tenho fresca na memória a sensação da sua voz dizendo o meu nome, Sasuke-kun. O arrepio na pele que ela me provoca, o fogo que ela me desperta na alma. Eu não te olho porque não consigo e eu fraquejarei se fazê-lo. Minhas unhas estão cravadas nas palmas de minhas mãos, luas crescentes que vincam minha pele e disfarçam os meus tremores.

— Eu não tenho nada a dizer. — É o que eu digo e eu tenho certeza de que você vê através da minha mentira; eu me levanto e refaço o mesmo trajeto de Naruto minutos atrás, saindo do Ichiraku.

A noite está fresca, mas escura. A luz embaciada da lua colore os telhados das casas e embranquece as lajotas do asfalto. O vento frio afla as copas das árvores enquanto as sombras avultam.

— Sakura — você me chama com insistência, aproximando-se de mim. O seu calor me sufoca, Sasuke-kun.

Quando eu me viro para lhe falar, você o faz primeiro:

— Eu sei que você compreende a minha decisão, Sakura. Eu sei que o Naruto, no fundo, também me compreende, ele só é cabeça dura demais para dar o braço a torcer.

— Isso é algo que vocês dois têm em comum, não é mesmo?

O seu sorriso torto ainda é capaz de roubar o meu fôlego, mesmo depois de tantos anos.

— Você também não fica muito atrás.

Eu me abraço quando sinto uma queda brusca de temperatura. Definitivamente está ficando tarde e eu sei que devo ir, mas os meus pés não se movem, desobedecem-me.

— Somos um time de cabeças duras, não? — eu adentro o seu jogo, mas de repente o meu sorriso desaparece. — Sasuke-kun, o que houve entre nós essa manhã... — Eu mordo o lábio, sentindo-me patética e insegura como a perfeita tola que eu fui aos doze anos. — Significou alguma coisa para você?

Os seus olhos agora ensombrecem, completamente cobertos pelo manto da noite. Eles carregam uma seriedade da qual não posso — não quero — duvidar.

— Você conhece o bastante de mim para saber a resposta, Sakura.

O meu corpo está avançando e eu, honestamente, não desejo me conter.

— Então por que se afastou de mim, Sasuke-kun? Por que se reprimiu?

Quando você suspira, eu me recordo da sensação dos seus lábios junto aos meus. Eu sonhei durante anos com isso. Eu ainda sonho para ser franca. Eu me recordo da sua mão puxando o meu cabelo e trazendo-me para mais perto. Da sua respiração mesclada à minha, da sua boca na minha pele afogueada.

Você me olha com condescendência então e eu me detesto por isso.

— Sakura, agora não seria... — você suspira novamente. — O momento ideal para isso.

— E quando seria? — Eu me sinto afrontada, ofendida. Você sempre esteve ditando o que é melhor para mim, afastando-me para me proteger. — Você vai partir dentro de alguns dias para viajar pelo mundo e não sabe em quanto tempo retornará para casa...

— Eu disse que essa condição é temporária. Eu não pretendo e nem vou me ausentar permanentemente de Konoha.

— Isso é o que você diz — eu teimo no ápice da minha frustração, gesticulando de forma nervosa e meus olhos já ardem e eu francamente gostaria muito de poder bater em algo agora.

Como nossa conversa evoluiu rapidamente para uma discussão desagradável, você me puxa pelo pulso consigo para um ponto mais reservado. Não sei como exatamente acabo com as costas pressionadas contra uma árvore porque de repente não importa; o seu corpo está sobre o meu, o seu rosto está encaixado no meu pescoço e a sua respiração me provoca calafrios.

— Sakura... Entenda o meu lado. Não é fácil para mim também.

— Você não tem que complicar tudo — eu sussurro enquanto me deixo consumir no ardor da sua pele, no seu cheiro limpo. Os meus braços são atraídos para o seu pescoço, não consigo evitar fechá-los ao redor de ti e te trazer para ainda mais perto.

Ouço o som claro de um sorriso na sua voz, os seus lábios se repuxam suaves contra a minha pele.

— Tão irritante — você diz e eu me descubro sorrindo também.

— Não há nada que possa te fazer mudar de ideia mesmo? — eu indago, muito embora eu já saiba a sua resposta. Depois de tudo, você ainda não está ao meu alcance, Sasuke-kun?

O seu silêncio me sufoca, me estrangula lentamente. Há tantas palavras guardadas no meu peito. Eu abri o meu coração duas vezes para você e nas duas vezes terminei ferida. Não sei se conseguiria me abrir mais uma vez.

E, no entanto, eu ainda tenho um último pedido a lhe fazer:

— Então, me deixe ficar ao seu lado essa noite, Sasuke-kun... Como uma despedida. Apenas desta vez — Eu não te olho e nem mesmo procuro pelo seu rosto.

Meu coração bate tão forte agora que tenho a impressão de que você pode ouvi-lo. E mesmo constrangida, não encontro em mim razões para retirar as palavras que disse.

— Sakura... — Quando o seu olhar recai sobre o meu, eu estremeço. Os seus olhos eclipsam-me. E ao invés da recusa e rejeição que eu certamente antecipara, a sua mão envolve o meu rosto e me puxa ao encontro da sua boca.

Eu me liberto dentro do seu abraço, Sasuke-kun e, mais uma vez, sucumbo ao meu desejo, à minha fraqueza. Posso te sentir sob as pontas dos meus dedos, nos meus lábios, no fôlego que você me rouba e ainda assim eu preciso de mais.

As minhas mãos bagunçam o seu cabelo, a sua está apertada contra a minha cintura. É só a segunda vez que nos beijamos, mas eu sinto na minha alma, na parcela mais pura de minha quintessência, que os nossos espíritos antigos e flagelados já se cruzaram em vidas passadas.

Quando já nos encontramos arquejantes e em desalinho, você me pega pela mão e nós partimos; eu não te questiono em nenhum instante. Sou incapaz de vocalizar ambos os meus pensamentos e os meus sentimentos.

Eu estou ansiosa e insegura, mas me contenho porque não vou voltar atrás, mesmo quando nós alcançamos a sua moradia provisória. Está escuro lá dentro e você não intenciona mudar isso, eu imagino. Em meio aos contornos espectrais da mobília e das sombras que empoçam nos recantos, as minhas bochechas queimam de vergonha. E ainda assim, a sua mão está firmemente atada à minha.

— Sakura, você tem certeza? — Eu mal consigo vê-lo em meio ao negrume, mas respondo da melhor forma que encontro: junto meus lábios aos seus de novo enquanto tropeçamos na direção de um único cômodo.

Pensar que você também me quer, me deseja, me dá a coragem que faltava para ir até o fim dessa doce loucura.

Eu não terei quaisquer arrependimentos advindos dessa noite, Sasuke-kun. E eu não recuo mesmo quando os seus dedos já espalham fogo sobre a minha pele.

De alguma forma, nós nos despimos e a sensação do seu corpo contra o meu é mais do que eu posso aguentar. Eu toco nas faixas que cobrem o ferimento no seu braço esquerdo e as afago. Se isso é um sonho, que eu pereça dormindo.

Nessa noite, eu não consigo me recordar do garoto que abertamente declarava buscar vingança; eu não me lembro do rosto dele. Também não me lembro do rosto do homem que vi sucumbir à tentação do poder e da escuridão. De alguma forma, eu só consigo pensar no menino quebrado e introspectivo da academia cujo luto quase o destruiu.

Eu te abraço porque me recordo da sua dor, da sua solidão. Ainda quero carregá-la toda em mim, Sasuke-kun. O meu peito ainda transborda amor e compaixão por você.

Sinto a agonia no seu toque, o gosto do medo na sua boca, mas as minhas mãos estão lá para te firmar e te guiar. Os meus dedos estão lá, preenchendo os vãos dos seus. E eu ainda te amo tanto que não posso segurar isso dentro de mim, de alguma forma, eu sinto que você sabe disso.

Somos egoístas, eu sei, mas não consigo me sentir mal por isso, não agora, não quando te tenho ao meu alcance, não quando a sua boca se perde no meu corpo, não quando o ar frio da noite me deixa embaraçadamente consciente da minha nudez, ao passo que o fogo na sua pele me queima onde quer que nos encostemos.

Sempre fui insegura quando se trata do meu corpo, mas você dedica atenção especial a cada parte dele e eu me esqueço de todos os meus medos pueris. A sua respiração ofegante sopra entrecortada sobre o meu ventre, arrepia-me. O seu dedo toca a minha mais antiga cicatriz de batalha, então seus lábios, e eu me perco em suspiros.

Eu também acarinho as suas cicatrizes, algumas mais novas, outras tão velhas quanto o mundo — aquelas que afligem a sua alma. Eu as toco com meus beijos e te empurro para baixo do meu corpo; você sorri com malícia quando se vê sob o meu domínio.

Juntos, nós borramos a linha que divisa passado e presente. Ainda que esta noite seja a única que tivermos, eu a tornarei inesquecível para nós dois, Sasuke-kun. Eu a escreverei nas páginas do tempo e do destino.

Já não há mais receios ou dúvidas em mim, eu me torno uma contigo e a expressão que contemplo em seu rosto ficará gravada para sempre na minha memória. Horas, minutos, segundos, quem dita o tempo? Quem restringiu o nosso tempo juntos, afinal?, eu me pergunto.

Eu o mataria para eternizar esta única noite, Sasuke-kun. Eu mataria o tempo para que o amanhã jamais viesse e para que você jamais tivesse de sair dos meus braços.

Mas infelizmente, eu não posso fazê-lo, não posso impedi-lo de seguir; nosso tempo juntos é como cada grão de areia contado da ampulheta, esteve determinado desde o primórdio.

É por isso que eu me resigno a amá-lo esta noite com tudo o que sou, com tudo o que tenho. Não sei se haverá uma segunda oportunidade para nós dois no futuro.

Quando acaba, eu não te solto, não te deixo se afastar de mim, mesmo que você não tencione tentar fazê-lo em momento algum. Estamos exaustos, caídos em meio aos lençóis amarfanhados da sua cama, a minha cabeça repousa no seu peito. Eu luto contra a sonolência, mas você a instiga em mim quando distraidamente passa a acariciar o meu cabelo.

Estou quase caindo no sono quando te ouço sussurrar, na luz violácea da madrugada que a janela do quarto filtra:

— Eu vou voltar, Sakura. Eu prometo.

Não tenho certeza se é fruto de um sonho ou não, mas a sua promessa me acalenta enquanto adormeço.

Agora, o meu corpo é seu para reclamá-lo quando estiver pronto; a minha alma é sua para roubá-la quando lhe apetecer. Mas os meus sonhos são meras deslembranças que fadados à morte estão na realidade opressora da sua ausência.

Até que você retorne para mim, até que seja meu por inteiro, até que o seu amor se liberte das amarras do passado.

Eu esperarei por esse dia, Sasuke-kun, e me prenderei às suas palavras. Ainda que leve toda uma eternidade, eu estarei aqui, por você.

E eu pacientemente esperarei.


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Notas finais do capítulo

Porque todo SasuSaku Shipper sabe que aquele segundo 'obrigado' do Sasuke = Eu também te amo, mas me deixa sonhar que foi: Obrigado pela noite maravilhosa de amor HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
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Sim, Sakura pegou o Sasuke mesmo ele estando com um braço só U_U
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Para os bichinhos burros (vulgo: Haters recalcados) que estão dizendo que o Sasuke abandonou a Sakura grávida, sugiro reler o mangá porque vocês definitivamente não conhecem o personagem e não sabem o quanto ele sempre priorizou a família dele ;D
...
E PELA ÚLTIMA VEZ: SARADA NÃO É FILHA DA KARIN, CARAMBA! NINGUÉM NOTOU A TESTA DA SARADA, NÃO?! E O SHANNARO?! VOCÊS SÃO LESADOS?! Qual é a dificuldade de entender que durante os eventos do The Last, o Sasuke volta definitivamente para Konoha, inicia um relacionamento com a Sakura, se casa com ela e tem uma filha com ela?! Deuses! Ninguém notou o 'papai' da Sarada também, né? Por acaso uma filha abandonada e negligenciada chamaria o pai supostamente ausente de 'papai'? E não nos esqueçamos do símbolo Uchiha escondidinho na estante que a Sakura está limpando. Quer criticar o final do mangá, CRITIQUE, MAS COM ARGUMENTOS COERENTES E NÃO TIRADOS DA BUNDA, VALEU? HAHAHAHAHAHAHAHA
...
Enfim, perdão pelo desabafo, precisava pôr isso pra fora, é chorume demais dos haters ;-;
Whatever, a comemoração pelo Canon não pode parar, não é?
...
Não se esqueçam de comentar, ok?
Nos vemos nos reviews ;D



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