Wyrda escrita por Brisingrrr


Capítulo 15
Verdades reveladas


Notas iniciais do capítulo

Kvetha, fricai!
Antecipei, hein? hahah Hoje saí mais cedo da escola e aproveitei, e com as férias se aproximando fica tudo mais tranquilo.
Sem mais, esse capítulo é diferente de todos que já postei. Leiam e descubram o porquê :P
Boa leitura!



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Finalmente pôde deitar-se. Esgotado. Essa era a definição adequada para ele. Seu corpo estava em perfeitas condições, mas sua cabeça parecia ao ponto de explodir. Poucas vezes Murtagh se sentira dessa forma.

Coçou a cabeça com ambas as mãos e esfregou os olhos. A cabeça apoiava-se em um travesseiro macio em um dos aposentos da Sede já destinado ao Cavaleiro. Ainda calçava as botas e a calça de couro marrom e sem se importar ainda levava Zar'roc presa ao corpo. Desde que Eragon partira, não parara um segundo. O que achou que seriam dias tranquilos prometiam o contrário.

Seu irmão mal saíra de seu campo de visão e um anão veio correndo em sua direção, com sua malha tilintando pelo corredor e as botas causando ecos. Tinha o rosto vermelho e suado, agarrava sua espada com força, deixando os nós dos dedos brancos. Os negros fios de cabelo estavam presos com uma tira de tecido, mas alguns deles grudavam-lhe no pescoço, intensificando sua aparência afobada.

Cavaleiro Murtagh, perdoe-me a correria, mas é um assunto de extrema importância. Na Sala, na Sala dos Espelhos, eles estão furiosos!”

O que Murtagh reparou primeiro foi que o anão não parecia ter nenhum preconceito com ele, era um bom começo. Depois, dando importância à fala do Cavaleiro, tocou a mente de Thorn, que limitou-se a dizer “Vá”. Ele foi, em passos apressados, mas o anão passou na sua frente e desatou a correr. Incomodado com a situação, acelerou para acompanhá-lo e já suando, chegou à porta do Salão.

Diga-me, quem está furioso?”, ele questionou quando estava prestes a entrar. O anão parecia mais relaxado, e com um gesto para apressá-lo, disse:

Entre e veja, Cavaleiro. Vá logo, vá!”

Murtagh entrou, e correu os olhos por ali. Logo avistou de onda vinha a mensagem. O espelho emoldurado em pedra revelava três anões. Em uma das pontas, um anão tinha a feição mais carrancuda que Murtagh já vira, e segurava um machado como se estivesse pronto para estraçalhar qualquer um que se opusesse à ele. Na outra, uma anã com a feição quase tão assustadora, ou talvez fosse a cicatriz que cortasse sua bochecha que lhe desse esse aspecto, Murtagh supôs, embora fosse certo que feliz ela não estava. No meio, sentado em um trono de pedra, estava Orik, com a feição mais branda, porém preocupada.

Peço desculpas por uma intervenção tão conturbada assim, Cavaleiro Murtagh”, Orik disse cumprimentando-o com uma breve reverência. Murtagh mal teve tempo de se inclinar para retribuir, quando a anã resmungou qualquer coisa inaudível.

Suponho que seja algo importante, não?” Murtagh inevitavelmente se sentia desconfortável. Sentia os olhares rudes dos dois anões sobre si, e mesmo que Orik mantivesse uma postura adequada, ele sabia que o anão não ficava feliz em sua presença. E a situação, além desses desconfortos, parecia ser grave.

E é. Um Cavaleiro anão informou para sua esposa que está aqui em Tronjheim que nesse momento, Eragon e outros Cavaleiros estão vindo para a Alagaësia, porque algo de muito grave aconteceu. Ele não quis entrar em detalhes, e só contou isso porque sua mulher ameaçou-o, pois sentia que ele escondia algo. O contato deles foi breve, mas ela contou-nos que ele estava agitado” o anão carrancudo despejou as palavras atropeladamente, sem pausas para respirar e continuou “Ela sentiu que devia nos contar, e imagine nossa surpresa ao saber de tal fato. E há mais, parece que tudo isso é em favor dos elfos”.

Mal terminara de falar, a anã deu um passo a frente, gesticulando calorosamente e com sua voz grave desatou a dizer “O mais impactante é que nós não tivemos sequer um aviso, não fomos informados de nada, e é claro, julgamos prudente que após dois séculos confinado nessa Ilha, quando o Mestre da Ordem saísse seríamos levados em consideração. Mas não, o pior não é isso! Parece uma decisão grave, realmente intensa, e nossa opinião não foi levada em consideração, porque aliás não tínhamos opinião”.

Murtagh ficou tonto, tamanha a rapidez com que as palavras foram ditas. Tomando fôlego para responder, Orik interrompeu-o.

Desculpe meus conselheiros. Eles estão apreensivos. Até agora só nós tomamos conhecimento, mas não tardará para que outros clãs fiquem cientes e queiram satisfações. É realmente algo grave, pois me parece uma decisão grandiosa, e deve haver um motivo grandioso para tal. Mas, você deve saber, em nossa política um simples floco de neve se transforma em uma nevasca, e é isso que tememos. Não queremos nos prejudicar, nem ver a Ordem prejudicada”.

Orik mantinha o olhar firme, e os anões ao seu lado fitavam-no.

Rei Orik, Eragon acaba de partir, e ele me pediu que convocasse uma reunião, e eu logo o faria, não objetivamos omitir nada de sua raça. Temo ainda que as informações tenham se distorcido até chegar aos seus ouvidos”.

Ao relembrar da conversa agitada que se seguiu, a cabeça de Murtagh latejou. Ser um Cavaleiro não o privava do cansaço psicológico, e naquele momento ele lamentou por isso. Os flashes do diálogo acalorado vinham, fragmentos da conversa se sobrepunham às imagens e sensações.

Ele contara tudo, já não havia razão para omitir um fato sequer. Falou sobre o estado de Arya e as tentativas falhas. Foi interrompido diversas vezes e tentava manter a calma em cada uma delas. A anã era especialmente irritante e não se importava em esconder a hostilidade que sentia por ele.

Depois do que pareceram horas, ele conseguiu explicar tudo, responder todas as perguntas, argumentar, defender-se, defender Eragon, expor seus motivos e finalmente Orik pôs fim à conversa com um repentino “Já chega” e informando que, de qualquer maneira, os clãs saberiam e a reação deles podiam ser variadas. Prometera que, tão logo houvesse notícias, faria outro contato, mas esperava que Murtagh o fizesse antes. Com um breve aceno, cortou a ligação, deixando Murtagh aliviado.

Mal sabia ele que aquilo era só o início.

Saiu da Sala se deparando com os olhos ansiosos do anão que o havia chamado, mas sem lhe dirigir a palavra. Ele não tinha cabeça para isso. Montou um cronograma em sua cabeça: reuniria alguns poucos Cavaleiros, depois levaria-os junto de si para a Sala dos Espelhos, e convocaria uma reunião com todas as raças. Botaria tua às claras, ouviria discussões, se defenderia novamente e veria as reações de cada um deles. Era inevitável, ele sabia. Por mais que ficasse esgotado só de pensar que a reunião se prologaria indefinidamente, era a única solução. Não haviam eufemismos para a situação e nem outras formas brandas de deixá-los a par dos acontecimentos.

Ele teria que bater de frente, sem desviar.

Conseguiu reunir mais ou menos uma dúzia de Cavaleiros e levou-os para a Sede. Eles questionavam o que fariam, o que falariam, porquê foram escolhidos, e uma infinidade de dúvidas. Murtagh não respondeu nenhuma, apenas caminhava liderando o grupo.

Quando, depois do que pra ele fora uma eternidade ouvindo todas aquelas perguntas, chegaram à Sala dos Espelhos, já era outro Cavaleiro que vigiava a porta.

Dessa vez um Urgal com uma cabeleira atípica cruzava uma espécie de lança à frente da porta. A arma era visivelmente uma arma artesanal e mais visivelmente ainda mortífera. Ao avistar o grupo, afastou a lança, e com a voz gutural e rude cumprimentou Murtagh, para depois perguntar “Será necessário que os espelhos sejam postos em uma sala particular?”, seu sotaque era arrastado e ao terminar a garganta arranhou em um tom audível. Murtagh limitou-se a menear a cabeça. Não seria mesmo necessário, sendo uma reunião com vários dos espelhos.

O Urgal saiu da frente da porta, e a empurrou com a lança medonha, e um dos Cavaleiros, um humano, que parecera desde o início o mais cheio de perguntas, mostrou um olhar um tanto aterrorizado, mas passou por baixo da arma sem mais demonstrações.

Ao entrar na sala porém, Murtagh notou a ausência de cadeiras. Ainda de mau humor, apontou para os Cavaleiros e ordenou com a voz mais controlada o possível para trazerem uma mesa grande o suficiente. Esperou. Apenas dois deles ficaram ali, e estavam claramente desconfortáveis. Um deles, um elfo que Murtagh nunca vira por ali, arranhava a lâmina de uma pequena faca em uma pedrinha que pelo jeito carregava. Quando notou o olhar de Murtagh, parou imediatamente e guardou ambas na parte interna das vestes, parecendo envergonhado.

Murtagh estava muito azedo, ele tinha consciência. Tinha consciência também que isso não mudaria nada, as coisas poderiam até piorar com o humor que estava, mas ele não podia evitar. Tentou ao menos amenizar a expressão dura que ele sabia que carregava. Não havia nem percebido, mas mantinha até a postura um pouco retesada, e relaxou. Thorn, percebendo sua inquietação passou-lhes bons sentimentos.

Sentindo-se um pouco envergonhado agora, olhou para os Cavaleiros e deu um sorriso enviesado notando que eles também relaxaram.

Depois que a mesa e as cadeiras foram postas na Sala, pediu que todos se sentassem, e os Espelhos foram colocados em uma disposição que ficassem visíveis para todos. Ele iria convocar a reunião, mas antes disso, o Espelho que conectava-os aos anões mostrou o reflexo deles turvo e não tardou a revelar novamente os três anões. Como se possível, com exceção de Orik que parecia exausto, os outros dois pareciam ainda mais irritados. Porém, nada disseram e aguardaram até que todos os espelhos estivessem refletindo os devidos rostos.

Posso imaginar que para alguns de vocês, isso seja uma surpresa”, Murtagh adiantou-se logo após todas as saudações, “Me refiro principalmente a você, Eileen, a Dunlin, a Kuld e a seus acompanhantes”.

Eileen, a atual Rainha da Alagaësia, bisneta de Níada, fez um gesto concordando, e sua expressão de curiosidade revelava isso. Era ainda uma moça, com pele muito clara e bochechas coradas, com fios acobreados e enrolados na altura dos ombros. Os olhos intensamente verdes revelavam pureza e ingenuidade, mas Murtagh bem sabia que apesar da mocidade, ela mostrava-se muito sábia nas questões da Alagaësia. Na mão esquerda um anel prateado brilhava, indicando que estava noiva.

Já Dunlin era um homem robusto, de barba e cabelo grisalhos, pele bronzeada e olhos divertidos. Carregava sempre consigo uma bengala incrustada de pedras preciosas, e trajava mantos que o faziam parecer pronto para uma festa a qualquer momento. Era o Rei de Surda, e ao contrário do seus antecessores, era dotado de um bom humor até mesmo irritante. Agora, não diferente de todas as outras vezes que Murtagh o vira, ostentava um sorriso no canto dos lábios e não parecia sequer curioso com a convocação inesperada.

Já Kurd, o Urgal que se responsabilizava pelas questões “políticas”, estava impassível, recostado no que parecia o tronco de uma enorme árvore. Mastigava alguma coisa, e não se manifestou com as palavras do Cavaleiro Vermelho.

Cavaleiro Murtagh, é de fato uma surpresa que tenha nos convocado, todos, para uma reunião. E mais surpreendente ainda é que não vejo Eragon-Elda...” a vozinha quase cantada de Eileen se fez ouvir, atraindo todos os olhares para figura que irradiava quase brilho próprio.

O motivo de ser eu, e não meu irmão a convocá-los está ligado diretamente à razão do que tenho a dizer-lhes”.

Os elfos que estavam no Espelho eram Sëvan e Luien, com olhos preocupados e uma elfa que Murtagh desconhecia, mas havia se apresentado como Drilda, e era como a representante oficial da Rainha. Mantinha uma postura séria, mas notava-se a exaustão que sentia.

Quando Murtagh iniciou seu relato, os anões mantiveram-se silenciosos, pois já sabiam da história, e por vezes os elfos acrescentavam detalhes. Conforme o relato gradativamente revelava os acontecimentos, as expressões se transformavam. O olhar dócil de Eileen passara a ser ansioso e assustado, enquanto que Dunlin não esboçava mais nenhum sorriso. O Urgal era o único que nada demonstrava.

Mais uma vez, horas se passaram e Murtagh respondeu a centenas de questões. Os Cavaleiros que o acompanhavam confirmaram suas palavras e também questionaram. Até certo momento, nenhuma opinião fora declarada. O interesse de todos era obter informações detalhadas, mas foi o anão que acompanhava Orik que insinuou primeiro quais seriam as consequências daquela informação ter sido mantida em sigilo. Não tardou para que aquilo se tornasse uma discussão.

Foi com toda a certeza um descaso conosco, um descaso!” Dunlin agitava as mãos e piscava constantemente. Não parecia zangado, apenas levemente irritado.

Eu tento compreender os motivos do Mestre da Ordem, mas não consigo! Algo dessa proporção não deveria ter sido escondido de nós por tempo tão longo” Eileen também não demonstrava estar zangada, apenas chateada.

Eragon-Elda nos ignorou” foi o que Kurd se limitou a dizer.

Traição! Essa é a palavra! Sim, traição! Exclusão, também. Não é a primeira vez que a raça dos elfos é beneficiada, não! Vor Hrothgar Korda, é inaceitável!” já os dois anões que acompanhavam Orik pareciam muito zangados.

Os elfos ajudavam Murtagh a rebater e argumentar, e mesmo estressado, Murtagh respondia-os com calma. A situação seguiu-se por minutos, que prolongaram-se em horas.

Os clãs agora estão cientes, e embora alguns tenham recebido a notícia com naturalidade e em suma compreendido, outros já não foram tão tolerantes. Dizem pelos túneis coisas absurdas, desde pequenas intervenções ao rompimento do acordo de paz com as demais raças. Nós anões somos uma raça de opinião forte, e eu como rei temo o que a influência desses clãs podem trazer” Orik disse calmamente, mas com seriedade.

Ao todo, pelo menos, as reações foram mais positivas do que Murtagh esperava. Eileen dissera que a notícia não tardaria a ser de conhecimento público, mas não esperava estardalhaço pelo fato do segredo, o máximo seria uma comoção pelo estado da Rainha. Dunlin era da mesma opinião. O Urgal dissera que, para a raça dele, nenhuma reação seria tomada, mas tinha certeza que o fato da Rainha estar enferma deixaria muitos deles preocupados, pois ela era querida.

Somente os anões eram imprevisíveis. Por Orik, nada deveria acontecer, senão um desagrado e preocupação, mas como ele dissera, os clãs poderiam não ser tão tolerantes.

Eles se despediram, o clima era pesado e todos eles se dirigiam aos elfos com olhares um tanto penosos e desejavam a cura da Rainha. Apesar de todas complicações políticas, todos estavam de acordo que aquilo tinha uma gravidade que ia além de acordos. Arya era a Rainha, uma elfa, e os elfos tinham de ser saudáveis! Era a ordem aparentemente natural das coisas. Aquilo era um mistério, e o futuro era temido. Aquilo nunca acontecera, quanto mais a uma Rainha! Tal coisa poderia por toda a raça élfica em perigo e o que isso poderia causar era imprevisível.

Todos temiam, era fato. A situação era delicada, mais delicada do que fora em muitas décadas e o que a situação aparentava era que, apesar de todos serem bons governantes, foram pegos de surpresa, acomodados com o aparente bem-estar de seus domínios.

Depois de finalmente terminada a reunião, Murtagh dispensou os Cavaleiros já impacientes e também retirou-se. Para sua decepção, os afazeres ainda não estavam completos. Não poderia simplesmente sumir, então foi até o Pátio e aproveitou para esclarecer mais dúvidas, dessa vez dos demais Cavaleiros. Ele caminhava, e apareciam sempre um ou outro Cavaleiro que o enchia de questões, e ele pacientemente as respondia.

Estava aliviado. Após deixar todas as raças à par dos acontecimentos, sentia uma responsabilidade a menos em suas costas. Agora, era aguardar que eles o contatassem, e mais ansiosamente um contato de Blodhgärm e Eragon.

Thorn não interferira em nada, e já era de se esperar. Ele nada podia fazer. Mas quando a noite já se revelava, ele tocou a mente de Murtagh e mostrou-lhe o céu. O Cavaleiro entendeu e esperou que ele viesse. Voaram em silêncio, apenas absorvendo a bela paisagem e refletindo sobre o dia.

Isso ajudou Murtagh a relaxar, mas ele continuava cansado. Na sua cabeça, vozes se misturavam, contestando, lembranças do dia cheio.

Agora, deitado ali, não conseguia dormir. A situação o incomodava. Era uma grande responsabilidade posta sobre seus ombros, e ele deveria tomar decisões adequadas, assim como Eragon tomaria. Preocupava-se. E se, por sua culpa, as coisas viessem a piorar? Receava qual seria o desfecho desa história. Temia por ele, por Thorn, por Eragon, por Arya... temia por todos. Temia o destino que aquilo teria.

Depois de muito tempo nessas reflexões, o cansaço o venceu, e ele adormeceu. Caiu em um sono pesado, turbulento e agitado. Não acordou até o a manhã do dia seguinte e só acordou porque ouviu batidas ansiosas na sua porta.

— Murtagh-Elda! Murtagh-Elda! Acorde, Cavaleiro! É urgente, é urgente!

Mal teve tempo de abrir os olhos, notando o desespero de quem batia pulou da cama e mesmo sem calçar as botas correu até lá. Quem batia era um humano, um Cavaleiro baixinho e sardento e coim olhos esbugalhados e respiração ofegante.

— Diga, rapaz, o que houve?

— Contato, eles fizeram contato... os elfos, de Ellesméra, eles querem vê-lo, e disseram que imediatamente, é urgente Cavaleiro, os elfos disseram.

— Se acalme. Vá e diga que chego logo. Só calcarei as botas. Vá, se apresse!

O Cavaleiro respirou fundo e caminhou a passos largos e rápidos. Ele andava engraçado, notou Murtagh. Ele foi até abeira da cama, calçou as botas e jogou água no rosto. E respirando fundo, assim como o outro, tratou de ir logo para a Sala dos Espelhos. O que terá acontecido?, perguntava a si mesmo. Sabia que poderia ser um exagero toda aquela correria, mas mesmo assim estava aflito.

No caminho encontrou outros Cavaleiros, todos muito agitados. Devem ter visto aquele Cavaleiro correndo desesperado. Eles têm de ser mais discretos, pensou enquanto cumprimentava-os.

Chegando à porta da Sala, não viu ninguém, então entrou. O Cavaleiro humano estava lá, olhando receoso para o Espelho. Murtagh ficou paralisado ao ver a imagem refletida.

O que ele julgava ser Arya, estava recostada em uma poltrona escura. Não parecia a elfa que ele conhecera. Não parecia sequer algo dotado de vida. O que ele via era um corpo magro, débil, pálido e irreconhecível. Seus ossos eram visíveis embaixo da pele. Suas mãos tremiam, sem forças. Os fios de cabelo estavam à altura do ombro, e notava-se que muitos deles haviam caído. O rosto revelava o formato de uma caveira, com pele cinzenta e sem vida. Os lábios estavam murchos e pálidos. Os olhos eram apenas órbitas sem vida, com bolsas escuras abaixo deles. Ela vestia uma túnica bege, que parecia ressaltar seu aspecto doentio. Sua magreza era assustadora. Quando ela o viu, tentando sorrir, mas apenas uma careta foi vista. Mudou a cabeça de posição com dificuldade, e seus lábios tremeram, como se quisessem emitir algum som.

— Arya... — Foi a única coisa que Murtagh pôde pronunciar diante daquela visão.

— Murtagh... Se está aí — disse essas palavras com dificuldade e pausou para tossir e pigarrear fracamente — quer dizer que Eragon já partiu mesmo — outra pausa, dessa vez mais longa — eu queria confirmar...

— Ele partiu ontem — Murtagh temia estar sendo rude, mas não conseguia dizer muita coisa.

— Está surpreso com a minha aparência, não é? — outra vez ela tentou sorrir, em vão — eu venho piorando. É por isso — tossiu uma, duas, três vezes — me desculpe. É por isso que eu peço — pareceu fazer um grande esforço para completar — que ele não venha.

— Não compreendo...

— Eu aceitei o meu destino. Não vou suportar mais tempo... Estou morrendo, Cavaleiro. São meus últimos dias, e nada poderá reverter...

— Eragon poderá, Rainha. Acredite! Ele está chegando, e ele poderá, ele poderá! — Murtagh quase gritava, queria convencê-la.

— Você não muda, Cavaleiro. Mas meu destino está traçado, Murtagh. Eu queria lhe dizer apenas uma coisa...

Murtagh aguardou, mas ela não disse nada. Parecia esforçar-se para dizer, mas somente balbuciava, sem palavras decifráveis. Ele não quis interrompê-la. Após alguns segundos, seus lábios pararam de se mexer e Murtagh viu que uma lágrima escorria no rosto da elfa, outrora vigorosa e sadia.

— Arya, aguente firme, Eragon vai salvá-la, eu tenho certeza disso, por favor, não desista...

— Eu não posso, minhas forças acabaram. Não posso mais lutar. Me perdoe, Murtagh.

Agora as lágrimas corriam livremente pelo rosto da Rainha, marcando sua face. Ela fechou os olhos e recostou a cabeça.

— Arya, eu acredito que você possa....

Ela nada disse. Continuou assim, até que abriu os olhos, sem que as lágrimas cessassem. Só então Murtagh pôde ver o quanto ela queria viver. Algo em seus olhos revelaram isso, e ele viu também que ela não desistiria tão fácil. Ela aguentara até ali, e enquanto fosse possível, ela lutaria.

Depois de algum tempo, quando ele pensou que ela estivesse se recompondo do choro, novas lágrimas romperam, agora mais frequentes e ela soluçou. Parecia envergonhada de mostrar-se frágil assim pra ele.

— Peço que, por favor — ela disse entre os soluços — diga para o Eragon — as lágrimas não paravam, e sua túnica bege estava úmida onde as lágrimas caiam — diga que eu o agradeço, diga que eu o admiro, que eu desejo que tudo prospere ainda mais... diga que lamento, lamento que por minha causa ele tenha se metido em uma situação tão delicada... — Murtagh via tudo assustado, sem saber como agir ou responder, mas ela não parecia se importar — você promete, Murtagh? Dirá a ele?

— Eu prometo — ele não queria dizer aquelas palavras. Pronunciá-las parecia afirmar que Arya morreria antes de Eragon chegar até ela. Mas ele não saberia contrariá-la, não quando ela se encontrava naquele estado.

— Oh, me perdoe — outra torrente de lágrimas irrompeu dos seus olhos, dessa vez sacudindo-a, fazendo seus soluços audíveis — me perdoe, Eragon, me perdoe, eu não tenho forças, me perdoe! Eu não consigo, por tudo o que acredito, não consigo! Eu coloquei-o nessa situação, e não poderei esperá-lo, me perdoe! Eu não consigo, não consigo! Me perdoe, me perdoe...

Murtagh estava paralisado, vendo a elfa chorando compulsivamente e o corpo frágil balançando, as lágrimas encharcando seu rosto. Ele não conseguia dizer nada, e ela tampouco. Ficaram assim, em silêncio, por minutos. Murtagh pôde vir, vindo do Espelho, um rugido triste, um lamento, que ele sabia vir de Fírnen.

— Ele sabe, só não quer admitir — ela disse, respirando fundo — não posso me prolongar. Adeus, Murtagh... Atra du evarínya ono varda, atra esterní ono thelduin, atra guliä un ilian tauthr ono un atra ono waíse sköliro fra rauthr, Murtagh Shur'tugal.

Ela cortou o contato antes que ele pudesse responder, como que evitando uma despedida. Murtagh continuou paralisado por um tempo, ainda assustado demais para sair dali.


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Notas finais do capítulo

Antes de tudo, desculpem pelo título shit do capítulo hahaha não podia pensar em outro.
E então, o que acharam de um capítulo do ponto de vista do Murtagh? Foi mais complicado escrever, porém gostei :P Particularmente, eu gostei de escrever esse capítulo, então espero que tenham gostado de lê-lo. E além disso, é o maior até agora.
Me cortou o coração descrever minha personagem preferida assim, mas é a vida, né? :( hahah
Então, já sabem, critiquem, elogiem, palpitem... comentem, favoritem, acompanhem hahaha
Não tenho muito o que dizer hoje. Eu agradeço por todos os leitores, agradeço quem comenta e me deixa saltitante por aí, até os fantasmas eu agradeço hahaha
Espero que esteja agradando. Enfim, até a próxima, que eu espero, não demorará.
Atra du evarínya ono varda, fricai!



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