Be Mine escrita por Pipe


Capítulo 1
Capítulo 1




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BE MINE

Rua Baker, 221b. Um celular toca insistentemente até ser atendido.

-O que você quer a essa hora?

-Que mau humor. Sei que é muito cedo para você estar dormindo. Atrapalhei alguma coisa entre você e o Watson?

-Watson não está em casa. - o interlocutor rolou os olhos.

-Ah, saiu para namorar? Por isso você está nessa crise nervosa?

-Mycroft, não seja ridículo! Eu sou incapaz de ter esses sentimentos...

-Quem falou em sentimentos abstratos, essa coisa de amor romântico? Estou falando em possessão e ciúmes. Você sempre foi muito possessivo em relação aos seus brinquedos, muito ciumento com as SUAS coisas. É disso que se trata. Deixe claro agora como você sempre deixou explícito no passado. “O que é meu é meu e eu não sei dividir com ninguém.” - e com uma risadinha, o irmão mais velho desligou o telefone.

Sherlock bufou irritado. Era odioso ter que dar razão ao Mycroft. Mas sim, ele era possessivo. E ciumento. Só que John não era seu brinquedo. Não era seu. Mas poderia, não?

-UUUUHHH, problema, problema, problema!! - Sherlock colocou os dedos nas têmporas e esfregou-as. - Não, não, não. Não é por aí que eu vou encontrar uma solução.

Tudo começou quando Watson disse que ia sair à noite com uma nova paquera. Elas nunca duravam, mas ENQUANTO duravam, era um tormento para Sherlock afivelar um sorriso educado no rosto e desejar um bom passeio.

Em pouco mais de uma hora ele já tinha tentado ver TV mas não encontrado nada interessante na programação (“Tediosa”) sentado ao note - mas ficou irritado ao perceber que suas buscas giravam em torno de “sinceridade num relacionamento” - se jogado no sofá e andado pela sala inúmeras vezes. Pra piorar um pouco mais, Mycroft farejou que havia algo errado e telefonou para deixá-lo mais zangado. Afinal, por que diabos ele atendeu ao celular?

E se ele suspirasse mais uma vez, acabaria danificando alguma parte do seu diafragma. Ninguém conseguia inspirar e expirar tantas vezes seguidas.

-ÓDIO!! ÓDIO!! Vou fumar! Não, John não gosta que eu fume, mas... eu também não gosto de que ele faça um monte de coisas. Como sair e me deixar aqui imaginando o que ele pode estar fazendo... Vou por um patch! Melhor! Vou por meia dúzia!

Três adesivos de nicotina depois, Sherlock estava deitado no sofá, olhando o teto.

-Piadas toscas. Ele já deve estar contando aquelas piadas ridículas. Isso se a garota for legal e eles realmente foram jantar. John não me disse muita coisa sobre essa. Talvez seja uma pessoa mais nova. Talvez ela queira pular a parte do jantar. Talvez ela queira ser a sobremesa... talvez... talvez eu enlouqueça hoje. Por que raios eu não consigo mudar essa merda de linha de raciocínio? AAAAAAAAAHHHH!!

-Sherlock? Tudo bem com você?

-Por que eu não estaria? E o que VOCÊ está fazendo tão cedo em casa? E o seu encontro?

-Ah, não... - John deu um sorriso tímido, que derreteu o coração de Sherlock só um pouco – Não houve encontro. Ela me deu um “bolo”. Daí eu fiquei andando um pouco por aí, para espairecer. Está uma noite linda... Você devia sair mais de casa, nem que fosse pra tirar o cheiro de mofo.

O que eu dizia sobre piadas toscas? Mas hoje vamos tentar não responder com sarcasmo. Seja amigável, pateta. Tente ser um pouco como a Wilhelmina: empatia, Sherlock, empatia...”

-Você jantou? Ah, que pergunta idiota a minha. Claro que não. Você ainda acredita em duendes fazedores de comida...

-Pleno século 21 e a comida não se faz sozinha. Ou a gente tem que perder tempo fazendo, enfeitando o prato e comendo. Podíamos viver de pílulas.

-Ou de shakes energéticos. Oh, não, não, eu não disse nada, por favor, não tente. Eu já desconfio dos seus níveis de anemia e glicemia para ter mais esse tormento na cabeça. Vou fazer algo não muito calórico mas substancioso pra você jantar. Enquanto eu estava fora você não jogou a comida da geladeira para “sobrar espaço” para algum experimento maluco, jogou?

Rindo, John Watson foi pra cozinha. Geralmente estava tão bagunçada e com elementos estranhos ao ambiente, que ele preferia nem cozinhar nem comer lá. Mas hoje ainda estava habitável, do jeito que a Sra. Hudson tinha deixado durante a tarde.

Depois de por alguns bifes na chapa, ele estava abrindo uma lata de legumes em conserva quando sentiu os braços de Sherlock envolverem seus ombros.

-O que foi?

-Eu... ahm... pensei... talvez você estivesse precisando de um abraço, sabe? É chato marcar um compromisso, se preparar para algo e não acontecer. - Sherlock foi tirando os braços aos poucos – Só achei que seria... simpático...

Sherlock sendo simpático, não, melhor, tentando criar empatia com minha chateação? Aconteceu alguma coisa enquanto eu estava fora. Preciso descobrir o que foi.”

E num movimento rápido, John se virou dentro do abraço e ele mesmo abraçou a cintura do companheiro de apartamento, pousando a cabeça no peito dele.

-Sim, você acertou. É chato, estou desapontado, este abraço veio na hora certa.

-Veio? Oh, claro que veio. Eu sou o cara do timing perfeito.

Não hoje, Mister Perfeição. Vamos jogar à minha maneira.”

-Melhor que isso, só se eu ganhasse um beijo. - E olhou para cima, prevendo as bochechas de Sherlock vermelhas e seu ar desconcertado.

Ele estava corado, sim, mas seu olhar estava diferente, como se ponderasse o pedido. Watson farejou o ar e deu um leve empurrão em Sherlock.

-Arre, o que você tem hoje, que está tão estranho? Vamos, os bifes estão queimando. E ao ponto não é torrado.

Com a mesa posta, John comeu observando Sherlock empurrar os legumes no prato de um lado para outro...

Ele não fez piadinhas sobre meus dotes culinários nem como meu jantar parece com o “rancho” do exército. Deve ser um caso muito difícil mesmo.”

-Vou falar igual à sua mãe. Pare de me enrolar e brincar com a comida. Coma seus legumes. HA! Não retruque sobre suas preferências, apenas mastigue.

-Watson...

-Sim?

-Obrigado...

-Você está me assustando... o que aconteceu nessas duas horas em que estive fora? O caso está muito difícil? Te dando dor de cabeça? Ou alguém ligou com uma notícia ruim? Mycroft ligou te enchendo o saco? Quer que eu vá lá e encha ele de porrada?

Enquanto falava tudo isso, John cobriu a mão de Sherlock com a sua. Ambos notaram a diferença de temperatura. A mão pequena do ex-capitão estava quente, em contraste com a mão gelada do outro. Normalmente, Holmes tiraria a mão devagar, disfarçando, incomodado com o contato físico não solicitado. Mas hoje ele deixou, fazendo uma análise completa.

Mão pequena, mas não delicada. Calosa, quente, vigorosa. Ele está mesmo tentando me animar, passando o polegar nas costas da minha mão. E eu gosto desse toque? Hummm... sim, eu gosto. Segundo as normas vigentes dos relacionamentos bilaterais, eu tenho que retribuir. Eu tenho que demonstrar que gosto desse toque. Mexa-se, seu sociopata imprestável! Não perca a oportunidade!”

Sherlock virou só um pouco a mão, para passar o seu polegar na lateral da mão de Watson, retribuindo devagar o carinho. John sorriu e deu palmadinhas antes de voltar a comer.

-Isso mesmo. Agora coma seus legumes.

Sherlock suspirou. Mas comeu tudo que tinha no prato. Depois se levantou e foi se enfurnar na cadeira. Watson juntou a louça na pia e se sentou à frente dele.

-Não vai me contar o que está te aborrecendo? Não pode ser somente tédio.

-E por que não pode ser um caso difícil?

-Porque se fosse, você teria me mandado calar a boca desde a hora em que eu entrei. Elementar, meu caro Holmes. - e riu.

Sherlock sorriu. Watson estava chateado, mas contando piadas, tentando anima-lo. Ele não era tão insensível ao ponto de não perceber.

-Brilhante dedução, consultor aprendiz. Continue assim, que chegará ao meu nível um dia...

-Se for antes do fim do mundo... Mas vamos lá, vou continuar demonstrando meus dons. Você está pensativo, tentando não me chutar. Normalmente, sua língua ácida já teria me chicoteado um monte de vezes. Você só se contém mesmo quando está tentando entender sentimentos, não ações. O que pra você é um abismo negro.

-Obrigado pela imagem minha, desamparado, à beira do abismo. Só falta você dizer que é a minha ponte.

-E eu não sou? Pra quem mais você perguntaria? Ao Mycroft?

Sherlock suspirou ao invés de responder.

-Viu? Esse monte de suspiro, mesmo quando é tédio, significa que sua mente está girando em círculos e você está de saco cheio de não encontrar uma saída.

-Céus, Watson, como assim você virou essa pessoa observadora AGORA? Quando eu preciso pra resolver um caso, você é mais lerdo que uma lesma com reumatismo. Mas quando é pra me... analisar...

-É. Você, seu comportamento, as mudanças de padrão, seus suspiros, eu conheço como a palma da minha mão, Sherlock. Acho que mais até. - Watson pôs-se de pé num salto, bateu as mãos nas coxas da calça e se despediu – Mas, se eu não vou ser útil mesmo, vou me recolher. Boa noite.

Mas não chegou a dar dois passos depois de virar no caminho para o quarto. Num instante, John se viu envolvido de novo no abraço de ombros de Sherlock.

-Não é um caso. Eu só... estou tentando entender como se constrói um relacionamento.

-Como se constrói um relacionamento? Você quer dizer um relacionamento amoroso?

-É. Desse tipo.

-Você está apaixonado, Sherlock? - e tentou se virar de novo no abraço, mas foi impedido.

Nem precisava ser um gênio da dedução pra saber que o outro estava vermelho e sem graça. Ele tinha travado John na posição e ele próprio estava teso.

-Sher...

-NÃO! Não! Não estou! Eu só... não entendo como funciona. Como as pessoas se conhecem, ficam juntas, se relacionam, casam...

-Me deixe virar. Vamos, me solte. Vamos nos sentar de novo. Eu não sou nenhum Casanova, o grande entendido da paquera, mas precisa ter química. Precisa acontecer aquela sensação de que vocês se completam. E depois, pra manter, é preciso entrar em acordos. Não um lado só dizer amém pra tudo enquanto o outro manda. Todos tem que ceder, fazer pequenas concessões.

-Pequenas concessões.

-Isso. Quem é a sortuda? Molly? Encontrou alguma mulher que realmente balançou aí dentro, bagunçou seus neurônios?

-Alguém tem que ceder... acho que finalmente eu tenho um caminho mais nítido a percorrer. Obrigado, John.

-Sempre ao seu dispor. Quando você quiser me contar...

-Não é a Molly. E não, não encontrei mulher alguma na rua. Nem na internet, antes da próxima pergunta.

-Então é um homem... - John brincou, jogando mais uma piada tosca no ar.

Mas Sherlock resolveu pegar o gancho e blefar. Podia ser uma aposta alta, mas numa mão boa e ganhar.

-Sim, é um homem. Boa noite, John.

Sorrindo ainda, mas claramente surpreso, Watson se virou para o quarto. Sherlock pode ouvi-lo gargalhando lá dentro e sorriu.

-Alea jacta est. Vamos ver se a Dama Fortuna me sorri. Mas como eu não deixo nada nas mãos do acaso... preciso aprender a fazer concessões. Será que se eu deixar um pouco de leite para ele por no chá, isso conta ponto a meu favor?


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Notas finais do capítulo

N/A: Fandom novo, personagem que eu nunca mexi, é sempre temeroso. Sherlock querido, concessões significa muito mais do que não usar TODO o leite para cultura de bactérias. Mas a gente aprende. No próximo capítulo, a versão do Watson. 12/11/2014.



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