21 de Janeiro de 2009

                O sol já havia nascido naquela manhã de sexta-feira, a água do mar ganhava os pés de Victory, minha melhor amiga, era sua primeira vez no mar.
                - Isso é divertido! Essa areia fofinha, essa água gelada, que sensação boa! Isso deve ser tão lindo...
                Vic era cega desde os oito anos de idade, quando sofreu um acidente de carro e perdeu a visão e a mãe, nos conhecemos quando ela se mudou para a cidade, tínhamos dez anos, hoje, aos dezesseis, somos melhores amigos e nos mudamos para uma cidade de praia, porque a empresa em que nossos pais trabalham havia se mudado para lá.
                - Conor, me descreva a praia? – pediu ela enquanto sentávamos em um banco de pedra.
                Eu sentia tanta pena dela quando me mandava descrever algo, me dava um aperto no coração, ela devia sofrer tanto, por dentro, por não poder ver e ter que saber das coisas porque as pessoas descreviam para ela, devia ser torturante viver de escuridão, eu agradecia todos os dias por ter o dom da visão, e pedia para que ela conseguisse um dia voltar a ter também.
                - Ãn, ele começa com areia, bastante areia, areia fofa, e tem alguns coqueiros, ãn, com pequenos coquinhos, e tem o mar... que... é uma imensidão azul de água que parece não ter fim...
                - Que lindo... quanta beleza eu estou perdendo... sabe Conor, o meu sonho é um dia poder ver o mar, nem que seja uma só vez na vida, eu gostaria de vê-lo...
                O aperto no peito me voltou naquele instante, Victory não merecia passar por aquilo, não merecia, ela tinha a vida toda pela frente, não poderia continuar assim...
                - Um dia você verá, Vic, você verá...

                                                              Três meses depois

21 de Abril de 2009

                Eu estava sentado em um banco de pedra, aquele mesmo que a três meses atrás estávamos Victory e eu, meus pés tocavam  a areia da praia, era a melhor sensação do mundo, eu estava relaxado, quando ouvi uma voz familiar gritar ao longe:
                - Conor!
                Em poucos segundos alguém se sentou ao meu lado e tocou meu rosto com mãos macias.
                - Conor, eu posso ver, eu posso ver! Conor, eu não estou acreditando, depois de tanto tempo naquele hospital eu finalmente voltei a enxergar!
                - Ah, Vic – abracei a garota ao meu lado – isso é maravilhoso, eu disse que você conseguiria!
                - Sim, sim, eu nem acredito que estou te vendo, você é tão lindo Conor, tão lindo, deixe-me ver seus olhos cor do mar que todos dizem serem os mais lindos do mundo – a garota pediu querendo tirar meu óculos escuro.
                - Não – barrei as mãos dela – você não pode ver meus olhos...
                - Porque não?
                - Por que... é... eles não são mais meus...
                - Co-como assim Co-conor? – ela perguntou nervosa, eu pude perceber pela sua voz que ela estava chorosa.
                - Eles agora são seus, todos seus, eu queria poder te dar o mar, as estrelas, a areia da praia, os coqueiros, as nuvens, a lua, o sol, as flores, as cores, queria te tirar da escuridão, então eu te dei o que eu pude ser capaz de dar: minha visão.
                - Conor...e-eu...não sei o que dizer...
                - Descreva a praia, Vic, descreva a praia para mim.
                Lágrimas escorriam pela sua face, eu as sentia quando morriam em meus dedos que tocavam suas bochechas, eram lágrimas quentes, saindo de seus olhos, que um dia já foram meus.
                - Ela é... grande...tem...areia quente e fofa para todo lado, a-alguns coqueiros...e tem o mar...uma imensidão de água... azul... da cor de... seu... nossos olhos...
                - Seus olhos...
                - Meus olhos...
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                Victory tinha uma doença em estado terminal, seu pai nunca havia revelado isso a ela, a garota fazia os tratamentos para a doença achando que eram para o tratamento de supostas contusões restadas do acidente, em 29 de abril de 2009 Victory faleceu devido a complicações em seu quaro doentio, seu corpo foi cremado e as cinzas jogadas ao mar.
                Conor passou o resto de sua vida sem enxergar, apareceram muitos doadores para transplante, mas ele recusou todos eles.
                -“Eu escolhi viver na escuridão para o poder fazer feliz a quem eu amava, e não me arrependo disso, então, se essa foi minha escolha eu não voltarei atrás e aceitarei um transplante, viverei feliz até que a morte venha me buscar, igual Victory viveu” – Conor Müller

               “ I close my eyes and all I see is you...”*


The End

                Essa foi uma história dedicada a Lucas Karner, o Xuxu da minha vida, aquele amigo que sempre está do meu lado para tudo, aquele que eu sei que posso contar, aquela pessoa maravilhosa que eu não vivo sem, a pessoa a quem eu doaria os meus olhos


Música  título e (*) : I’d Do Anything For You – Simple Plan