Shadow Screamings - Grito da Morte escrita por Cherry Bomb


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Desculpem pela demora, mesmo! Desculpem! Eu sou uma anta! e.e
Espero que gostem do capítulo, depois eu falo com vocês, tô com muita pressa e.e
Enjoy!



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Capítulo 5

Nichole

Abro a porta de madeira lentamente para não produzir ruído. Caminho na ponta dos pés até os degraus da escada de madeira empoeirada, pois Júlio está vendo TV, felizmente de costas para mim. O esforço pode parecer desnecessário sendo que não vou conseguir me esconder deles, mas vale mesmo assim, já que agora quero ficar sozinha por um momento. Subo as escadas de maneira cuidadosa até o meu quarto, onde fecho a porta rapidamente ao entrar. Deixo-me deslizar até o chão, soltando um suspiro pesado. Repasso todas as minhas ações na cabeça e penso em voltar para a sala e cumprimentar Júlio e Anabele, que provavelmente estão se remoendo com meu desaparecimento de dois dias e, além do mais, sinto minha barriga roncar. Ao mesmo tempo não quero sair do quarto, quero ficar aqui por um bom tempo, enrolada nas cobertas e mexendo no notebook. Espere... notebook!

Sento na escrivaninha de madeira e ligo o aparelho, torcendo para não demorar muito. Assim que tenho sinal de wi-fi, clico no Chrome e logo as pesquisas começam.

Ao entrar no Google, digito “sombras mitologia celta” e aguardo os resultados. Carregada a página, ignoro o artigo sobre a Chevrolet e clico no primeiro resultado de busca. O blog se chama Templo de Avalon e seu link está em roxo, indicando que eu já havia clicado lá. Corri os olhos pelo artigo, mas nada havia realmente me interessado. É dividido em duas categorias: Irlandesa e Galesa, isso sem contar os poucos deuses mencionados na gaulesa. O artigo informava sobre os deuses celtas, o que me deu esperanças. Após várias pesquisas no blog, desisti e voltei ao artigo dos deuses. Desta vez li cada detalhe, mas algo me chamou a atenção na mitologia Irlandesa. A última divindade mencionada, Scathach.

Scathach / Scatha / Scath: Seu nome significa a "Sombra", aquela que combate o medo. Deusa guerreira e profetisa que viveu na Ilha de Skye, na Escócia. Ensinava artes marciais para guerreiros que tinham coragem suficiente para treinar com ela, pois era dura e impiedosa. Considerada a maior guerreira de todos os tempos foi a responsável por treinar CuChulainn.

É isso. Só podia ser, fazia todo o sentido. Tentei lembrar-me das palavras escritas no bilhete. Era algo sobre as sombras moverem-se sem parar, algo escrito na outra linha relacionado à água e à montanha... mas o que era, exatamente?

A porta se abre bruscamente e deparo-me com Anabele, os olhos vermelhos e o rosto inchado. Ela se ajoelha em frente à minha cama e começa uma oração baixa e soluçante, absorvendo seu imenso sofrimento e dor ao me ver partir.

– Hã... Anabele? – resolvo me pronunciar.

Ela dá um pulo e procura-me pelo quarto, os olhos arregalados. Quando enfim me vê, abre um brilhante sorriso e me dá um abraço de urso apertado. Tento corresponder ao abraço dando tapinhas em suas costas, mas não me sinto muito confortável.

– Júlio, Júlio! – ela grita – Venha cá!

– Aí onde? – Júlio grita de volta.

Mas Anabele não responde, continua focada no abraço. Ela afaga meus cabelos ruivos e chora ao mesmo tempo. Júlio entra no quarto resmungando, mas assim que me vê abre um sorriso, depois de um tempo contido para manter sua postura de durão. Mesmo assim, ele se junta ao abraço e nós três choramos, embora eu pense que não há necessidade. Terminado o abraço, as broncas começam.

– Desculpem. – disse eu, após um tempo – Mas encontrei velhas amigas que eu não via há tempos, e resolvi juntar-me à elas em uma festa do pijama... de dois dias. – Complementei.

– Devia ter nos contado. – bradou Júlio.

– Desculpem-me. – recomecei – Não tenho celular, o telefone delas foi cortado e o lugar era um tanto isolado. É que eu... eu fiquei tão feliz ao... ao ter amigas.

Impressionante como eles caíram em minhas mentiras. Me deram um abraço antes de me deixarem de castigo por uma semana, permitindo-me sair apenas para ir à escola. Não é nada que eu não faça, afinal.

As horas passam e eu fico só deitada na cama, encarando o teto. Sou dominada por meus próprios pensamentos, e não sei dizer se isto é bom ou ruim. Tenho fones de ouvido em forma de caveirinhas que me ajudam a distrair-me da síde e do povo das fadas.

Hello, I am your mind
Giving you someone to talk to, hello

A cada minuto eu sinto que algo falta na minha vida, algo que eu não sonharia antes do cemitério.

Hello, I am the lie living for you
So you can hide, don't cry

As vozes em minha cabeça sussurram sem parar, dizendo nomes de pessoas recentemente conhecidas e de criaturas místicas, mas apenas aumento o volume da música e finjo que elas não existem.

Suddenly I know I'm not sleeping
Hello, I'm still here

E finjo que estou bem.

E também finjo que sou normal.

All that's left of yesterday

***

Assim que entro na escola, os olhares recaem sobre mim. Claro, fiquei dois dias desaparecida e agora reapareço assim, do nada! Okay, também tem a parte do meu visual. Ele está meio... ousado. O vestido de couro colado ao corpo com spikes e a jaqueta de couro preto com caveiras vermelhas realçam meu corpo curvilíneo e o cabelo ruivo, mais brilhoso e vermelho.

Sinto olhares invejosos sobre mim. Não me preocupo, ou pelo menos, finjo não me preocupar.

Faço uma bola de chiclete enquanto vou em direção à sala de aula.

Chegando lá, sinto mais olhares sobre mim, então tento ignora-los. Mas não dá muito certo.

– Ei, bonitinha! – Matheus Alves chama – E aí, o que acha de um rolé?

– Me deixa em paz. – sussurro, ou tento.

– Ei, ‘tô falando com você, sua burra!

Reprimo a raiva dentro de mim enquanto escuto seus amiguinhos idiotas rindo. Decido que a melhor solução é sair dali.

Enquanto vou para outro lugar. Sinto uma mão segurar meu braço e me puxar com força até ele.

Faço uma careta de dor.

– Eu disse para falar comigo, vadia!

– E eu disse para me deixar em paz! – explodo.

O grito soa pela sala agredindo os ouvidos dos alunos. A acústica é tanta que os vidros da janela se quebram em pedaços.

Todos os que não estão encolhidos me olham assustados. Se eu pudesse, me olharia assustada, também.

Saio correndo pela porta no mesmo instante em que a professora entra. Corro para o refeitório e dou graças a Deus por estar sozinha lá.

Sento-me em um banco e choro, choro como nunca chorei. Por que comigo? Dentre tantas pessoas no mundo, por que justo eu sou uma fada?

Após um tempo, decido que é hora de sair dali. Não é meu lugar, nunca foi. Vou até o banheiro e pulo sua janela. Nos fundos da escola, uso um banco para facilitar a escalar o muro.

Pulo para a calçada, foi até fácil. Agora quero ver voltar para casa.

***

O barulho na cozinha é audível. Que estranho, Anabele deveria estar trabalhando agora.

Subo para meu quarto com o máximo de silêncio possível. Já iria ligar o notebook, quando percebo que ele já está ligado.

A imagem em seu monitor exibe o site da Tam. Na aba ao lado, o site do Trivago exibindo hotéis irlandeses.

Eu tenho certeza de que não havia pesquisado isso.

A porta do quarto range e Jade aparece tomando uma caixinha Kero Coco. Ela joga em minha cama e fica lá, esparramada, até me ver.

– Nichole! O que está fazendo aqui? – pergunta, assustada.

– Eu é que lhe pergunto! A casa é minha, não sua!

Ela suspira.

– Tudo bem, tudo bem... eu admito, estava fuçando suas coisas. Mas foi por um bom motivo, garanto! Aliás, que roupa é essa?

Seu olhar demora examinando-me. Coro instantaneamente.

– É-é u-uma roupa nor-normal, oras! E n-não tente desviar o assunto, porque...

– Porque o quê? – ela se aproxima de mim, e chega perto de mais.

Nesse instante, ouço um barulho na sala.

– Júlio, você está aí? – Anabele grita.

Meu sangue gela. Ah, não!

As escadas rangem. Anabele entra no quarto no mesmo instante em que Jade se separa de mim, rápida como o The Flash.

– Nick... quem é essa? O que você está fazendo aqui? – Ela pergunta, surpresa.

Jade dá um passo à frente.

– Olá, senhora Pereira, eu sou Jade Sídhe, prazer. – o sorriso desaparece de seu rosto – Nós temos que conversar.

Anabele também assume uma expressão séria.

– Certo, vamos para a sala de estar.

Ela desce a escada, com Jade logo atrás. Fico parada, sem saber o que fazer com a súbita aproximação entre Jade e minha mãe.

– Esperem! – grito. Então as sigo.

***

– Nick, pode me dizer o que está acontecendo? – Anabele pergunta.

– Oi mãe... esta é uma das minhas amigas da festa do pijama, a Jade... o que ela veio fazer aqui eu não sei.

– Nichole, fale a verdade! É óbvio que não houve festa do pijama nenhuma! – o tom rude de sua fala me assusta.

– Nichole, conte para ela... – diz Jade.

– Tudo bem, quer saber da verdade? Eu estava indo pra escola, entrei em um cemitério, controlei os mortos vivos e descobri que sou uma fada! Satisfeita?

Anabele suspirou.

– Ah, minha Nick... sabia que este dia iria chegar....

– Espera... o quê?

Anabele se levantou e ficou encarando além da janela, o movimento das pessoas e dos carros.

– Quando te adotamos... seu pai, não o Júlio, seu pai de verdade, me contou sobre sua história e me fez prometer que não te contaria sobre isso e a privaria de tudo relacionada à sua... hum, personalidade alternativa... pelo menos até você encontrar o caminho.

– Então vocês... vocês sabiam de tudo?

Ela assentiu.

– Me desculpe, minha filha... mas eu não podia...

– Minha vida toda foi uma mentira! Vocês me enganaram, mentiram para mim! Sabe o sufoco por qual eu passei?

– Nick...

– Não, me deixa falar! Você faz ideia do que...

As janelas se quebraram. Tiros foram disparados em nossa direção. Jade me puxou para o chão bem na hora em que uma bala fora disparada em minha antiga posição. Anabele correu para trás do balcão e atirou de volta com uma pistola (?) carregada.

Jade e eu nos arrastamos para trás do sofá, abraçadas com toda a força existente em nós. Uma bala bateu na parede e iria me acertar se Jade não se jogasse na frente.

– Jade! – gritei.

– Ai... – ela gemeu, examinando o ombro.

Anabele deixou a arma no balcão e correu até nós.

– Meninas, vamos!

A seguimos até os fundos da casa, onde saímos pela porta. O zunido de um míssil foi ouvido. O local explodiu e nossos corpos foram jogadas em disparada pela rua.

Caí, ainda abraçada com Jade, no capô de um carro. Anabele não teve a mesma sorte. Seu corpo bateu com força em uma parede no outro lado da rua.

Tossi, então pulei do capô, zonza, e corri até Anabele.

– Anabele! Mãe, mamãe! – sacudi seu corpo.

Sem respostas, deitei a cabeça em seu ombro e solucei.

– Ai... –ela gemeu.

– Anabele!

– Calma minha menina... eu vou ficar bem... va... vá para um lugar seguro, se salve...

– Não! Não posso te deixar aqui!

– Vá...eu vou fi... ficar bem... – ela deitou a cabeça na parede e fechou os olhos.

– Anabele!!!

– Vamos, Nick, temos que ir... – Jade me puxou.

– Não podemos deixa-la aqui!

Jade pegou o corpo de minha mãe no colo com uma careta de dor, o ombro dolorido.

– Vamos.

Corremos até o carro de Anabele. A deixamos no banco de trás. Espero que Júlio a encontre.

Corremos sem rumo pelas ruas da cidade.


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