Ela só sabia despejar esses monólogos extensos demais sobre poesia nos momentos mais inoportunos, o que, analisando de longe, era uma metalinguagem deveras irônica, considerando que ela por si só já era um poema.

O beijo dela tinha gosto de sexta-feira a noite, - daquelas regadas à tequila - mas os olhos pareciam sempre na ressaca de domingo de manhã. Não só pareciam como estavam mesmo. Numa ressaca daquelas que ela combatia com mais e mais álcool. Aliás, ela combatia tudo com álcool.

Ela era a dona da verdade, das clavículas saltadas, dos olhos de concha e, por um bom tempo, do meu coração também. A coisa é que eu nunca me dei por satisfeita. A constância, a trivialidade... elas me incomodam. Mais do que isso: eu as detesto. Eu não gosto da sensação de estar tão entregue á alguém, tão exposta, tão frágil, tão... cômoda.

Então eu fujo. É sempre assim.

Ela nunca entendeu isso em mim. Nunca entendeu o fato de eu ser um cometa. Nunca entendeu minha necessidade em ser um - principalmente dentro de um abraço como o dela.

E eu a perdoo por ter jogado uma cadeira em cima de mim com tanta força no dia em que eu fui embora. Doeu pra porra nela assim como está doendo em mim agora.

"A verdade, meu amor, é que eu morri de você"

Tão estupidamente brega que chega a ser nauseante.

Era um sábado de manhã e eu vomitei toda a tequila da noite anterior em cima de sua sepultura.