POV America

Acordei com uma dor insuportável na barriga e sentia minhas pernas molhadas. Não, não, não, agora não, eles ainda tem mais um mês aqui dentro. Claro que eu havia sido avisada pelo Dr. Ashilar que gêmeos geralmente nascem prematuros, mas eles não podiam ter esperado o dia clarear ao mínimo?

—-Maxon!—Ele se meche levemente na cama.—Maxon, a bolsa estourou os bebês, seus filhos!!!

Ele acorda assustado mas alerta, e me olha com uma expressão de pânico.

—-Senhor, agora? É agora?—Eu me divertia com sua cara.—America vamos para a ala hospitalar agora! Venha eu te levo.—Ele falou tão depressa que eu tive dificuldades em entender.

—-Calma Maxon, estou tendo um bebê, não morrendo, chame Mary e Marlee para mim, por favor.

Eu estava apavorada, nunca tinha estado grávida, nunca tinha dado a luz, e definitivamente nunca tinha visto Maxon tão atrapalhado. Assim que Marlee e Mary chegaram e fui para a ala hospitalar onde o Dr. Ashilar já me aguardava.

—-Majestade, o que acontecerá será o seguinte: vamos esperar que as suas contrações se tornem mais frequentes, isso pode demorar algumas horas, o que podemos fazer é fazer a dor passar por hora. No momento, Vossa Majestade esta tendo uma entre cada um ou duas horas aproximadamente, vamos aguardar até que fique em um intervalo de dez a cinco minutos. Como já foi discutido antes, iremos fazer cesariana pois as chances são melhores já que a senhora carrega gêmeos.

Recostei a cabeça no travesseiro atrás de mim. Já estava com a roupa hospitalar, meus cabelos estavam presos em um coque mal feito, nada digno de uma rainha, mas nesse momento eu não me importava tudo o que queria eram meus filhos fora de minha barriga para que pudesse dormir em paz novamente.

Maxon ouvia as palavras do Dr. Ashlar com atenção, se o conhecia bem ele estava tomando minhas dores em sua pele, sofrendo pelas contrações que mal tinham começado. Essa era uma de suas melhores qualidades, e também uma na qual ele ganharia muito mais experiência, agora que o número de joelhos ralados e galos na cabeça com certeza ia aumentar.

Lembrava vagamente de quando minha mãe ficou grávida de May, eu tinha 3 anos, mas a presença mais forte em minha mente era dela gritando no quarto durante o parto de Gerald. Não tínhamos dinheiro para pagar uma cesariana então uma parteira veio até em casa. Meu pai estava na sala comigo, Kenna e Kota, May era muito pequena e tinha um sono extremamente pesado.

Meu pai respirava fundo toda vez que minha mãe dava um grito de dor, sabia que eles se amavam e aquela era uma das poucas provas disso. Quando Gerald finalmente nasceu eu tinha nove anos, estava começando a ajudar minha mãe na renda da casa e também foi a época em que comecei a ficar mais curiosa em relação aos livros do meu pai.

Acordei um aquela onda de dor de novo, já era a 6ª naquela noite, definitivamente não conseguia mais dormir. A dor veio um pouco mais intensa do que havia me acostumado, Maxon acordou assustado, ele isso fazia sempre. Via olheiras se formando de baixo dos seus olhos, provavelmente os meus não estavam muito melhores.

—-Majestades, creio que esta na hora.—Disse Dr. Ashilar entrando no quarto.

Ocorreu tudo bem durante a cirurgia, pelo menos é o que eu acho, já que aquela altura do campeonato eu já e questionava se ainda tinha pernas, pois não as sentia, ao mesmo tempo em que sentia minha cabeça pesada como uma pedra, pronta para dormir por uma semana.

Segurar meus filhos pela primeira vez foi a melhor sensação que eu poderia ter experimentado em minha vida, agora entendia o olhar de orgulho de meu pai quando Gerald nasceu. Era o mesmo que eu via em Maxon agora, enquanto ele segurava maravilhado um pacote rosa nos braços. Eadlyn e Ahren, os nomes já estavam escolhidos há algum tempo.

O último obstáculo era mudar a lei, minha princesa tinha vindo primeiro e eu batalharia até o meu último fio de cabelo para que ela receba o que é justo.

Assim que tinha acabado de amamentar os dois finalmente pude dormir em paz, minha pequena família estava formada, e já podia checar o item repovoar o castelo da minha lista de coisas que eu tinha que fazer como rainha.

Era normal que gêmeos nascessem prematuros. Felizmente meus pequenos só ficaram na incubadora por 3 dias, eu já havia sido liberada mas me recusava a ficar longe de meus filhos, e tinha certeza que Maxon faria a mesma coisa, mas o país não se governa sozinho.

Estava olhando Eadlyn dormir no berço enquanto terminava de rever o projeto de lei que daria a minha primogênita o direito a coroa, já que antes era só passada pelo lado masculino da família. Ainda estávamos na ala hospitalar, mas logo eles seriam liberados e iriamos todos “para casa”.

Assim que terminei a última linha vi Maxon entrando pela porta do quarto, já com o nó da gravata desatado e com o terno um pouco amarrotado.

Ele pegou Ahren no colo e se sentou na cama a minha frente, começando a abrir a boca para falar alguma coisa, mas sendo interrompido por um som alto de tiro. Não, não agora. Essa era a hora do Felizes Para Sempre, eles não podiam atrapalhar minha família.

Vi um homem mais velho entrar no quarto. Aparentava ter por volta de trinta anos, seus cabelos eram loiros e compridos, seus olhos eram de um verde profundo e usava roupas esfarrapadas, o ódio em seu olhar era claro. Atrás dele haviam mais dois outros homens, eu estava assustada, não havia nem um sinal de algum guarda por perto, seria que o resto do castelo sabia que eles estavam aqui?

Tudo aconteceu em um segundo não tive tempo de reagir, não tive tempo de salvar minha família, a única coisa que pude ver antes de tudo ficar escuro foi o primeiro homem pegando minha filha em seus brações e as últimas coisas que ouvi antes de mergulhar de vez na escuridão foram:

—-Só precisamos da garota.

Um tiro.

Escuridão.