Não Precisa Ser Igual. escrita por Patrick T


Capítulo 8
Diagnóstico 10°


Notas iniciais do capítulo

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–Posso ficar a sós com o garoto? – perguntou o doutor Frank.

–Claro que sim. – disse Derick, que saiu da sala me chamando.

Assim que eu me virei para sair por alguns minutos, Phin fez com que todos voltassem o olhar para ele:

–Quero que você fique aqui, Toby.

A proposta de Phin era talvez ousada de mais para aquela hora. Se é um exame e o doutor pede pra deixar a sós, você deve sair e deixar a sós.

–Não seria uma boa ideia. – eu disse.

–Ele pode doutor? – Phin perguntou.

–Melhor não, tenho que fazer uma série de avaliações. Acho que você se incomodaria. – disse o doutor Frank.

Até então, Derick só observava a cena.

–Você vai ficar bem. – eu disse para Phin.

–Eu vou!

Nós saímos da sala e fomos para um banco no corredor. Me sentei com Derick, e enquanto isso eu só via aflição diante dos olhos dele. Ele transbordava tristeza, parecia não ter mais forças para ver o filho naquele estado.

Parecia não ter mais forças sequer, para colocar as lágrimas para fora. Elas não passavam do limite da pálpebra.

–Olha, eu sei que não pareço uma pessoa tão amigável, mas se você estiver precisando de um desabafo profundo, é só falar comigo. Posso não ser muito, mas, sou o suficiente. – eu falei tentando demonstrar que a minha preocupação também era com ele.

–Não se preocupe comigo, eu sei que meu filho vai ficar bem. Essa minha reação não passa de um simples sopro de realidade. Já estava na hora.

Até a parte do ‘’eu sei que meu filho vai ficar bem’’ eu senti um ar de, tipo: ‘’eu sei que ele não vai, mas vou fingir que ele vai ficar bem, para aliviar a minha própria dor’’.

–O que você quer dizer com isso, Derick?

–Com o sopro de realidade? – ele perguntou.

–Sim. O que isso quer dizer?

–Coisas minhas: Passado e presente, nada de mais.

–Pode se abrir comigo se quiser, não precisa falar de cosas pessoais. Apenas expresse o que você sente.

–Derick respirou fundo, virou-­se para mim, e deu início a algo doloroso.

–Ele é meu filho, é uma parte de mim, é dependência minha, e eu sinto que em alguns momentos eu não suporto mais ver ele assim. Toby, Phin sempre esteve muito doente, eu sempre disse a ele sobre a doença, mas ele se sentia tão forte, que parecia que aquilo era só mais uma eventualidade contínua. E eu me sinto tão fraco aos pés dele, tão fraco, que não vejo motivos para continuar. A minha fraqueza é tão grande quanto a minha dor atual. E perto de Phin eu vejo que não sou nada; como ele pode? Como ele pode suportar tudo isso e ainda sorrir?

As lágrimas desciam no rosto de Derick, como uma cachoeira veloz e violenta. Eu só conseguia acompanhar seus movimentos. Só conseguia ver qual o sentimento. Eu via sua dor transbordando pelas suas pálpebras.

–Que doença o Phin tem? – perguntei.

–Ele não te contou?

–Não.

–Ele foi diagnosticado com AIDS aos 9 anos. E mesmo sabendo de todo este seu sofrimento, e mesmo sabendo que um dia a doença iria cortar pedaço por pedaço dele. Ele continuava sorrindo.

Foi um impacto pra mim, Phin não demonstrava a doença. Apesar de, é claro, a doença não ser visível. Mas ele não me contara nada sobre. Parecia a pessoa mais saudável do mundo.

–Mas como ele adquiriu a doença, senhor Derick?

–A mãe dele, ela era…

–Shhhh! – eu o cortei, pois já sabia de tudo, e não queria piorar a dor.

Eu tirei as minhas breves conclusões. Phin havia me dito que sua mãe era garota de programa, e já que é assim, durante a gestação, ela não pode deixar de trabalhar.

Provavelmente adquiriu a doença, e assim, durante a amamentação, passou para o filho que ela mesma largou no orfanato depois de sua recuperação de parto.

–Senhor Derick. Ele vai ficar bem. Ele vai!

–NÃO. PHIN VAI FICAR TETRAPLÉGICO, PHIN ESTÁ TETRAPLÉGICO. - ele disse soluçando.

Eu não tinha como contrariar. Ele já sabia. Já tinha a certeza. E pra mim também não restara mais dúvidas.

A minha maior questão era...

Um garoto aidético, que parece ser tão saudável, que sorri para todo mundo. Que gosta de todos, que todos gostam dele, que se preocupa com a aparência. Agora estava, provavelmente, tetraplégico, e agia como se não soubesse disso. Ele agia de forma tão natural e tão feliz. Que qualquer pessoa que se achasse forte, iria ver o quão é fraco perto de Phin Fred. Ele não tinha mãe, tinha aids, agora estava sem movimentos nas pernas e nos braços. Quem sou eu para reclamar agora? Quem sou eu?!

Eu fazia essa reflexão o tempo todo.

Foi quando doutor Frank H. nos chamou para dentro do quarto. Enquanto Phin dormia, ele nos contou o que houve exatamente.

–O paciente fraturou a medula espinhal na região entre a primeira e a sétima vértebra cervical, isso significa que os membros superiores e inferiores foram afetados.

Derick confirmou o que já sabia. E enquanto o doutor falava ele chorava. A preocupação de um pai, mais nítida do que a transparência de suas lágrimas.

–O paciente está tetraplégico. – finalizou o doutor Frank.


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