Diário de um Anjo Negro escrita por Jenny BiPuPiJiCo


Capítulo 11
Diário


Notas iniciais do capítulo

Céu, minutos antes da queda
Eu estava errada. Não podia cumprir minha promessa. Tudo que eu mais queria nesse momento era ver os olhos dele, bem de pertinho. Eu não me sentia bem, a sensação de vazio estava me devorando. Eu não sabia o que fazer, andava de um lado ao outro, impaciente com aquela demora. Os anjos ainda estavam sendo chamados, já tinham algumas dezenas ao meu lado e ao lado de Lúcifer. Mas ainda faltavam milhares.
Olhei na direção dele, vi suas mechas negras e me deu uma grande vontade de tocá-las. Ele se virou pra mim e nossos olhos se encontraram. Não chorava mais, mas seus olhos não tinham o brilho de antes, representavam tristeza agora. Tenho certeza que ele sentia a mesma coisa que eu, um vazio desolador.
— Carolyn, está tudo bem? – me virei e dei de cara com Davi.
— Não... Não me sinto bem... Eu quero acabar com isso... Ou não... Eu não sei Davi...
— Acho que você está sentindo a mesma coisa que eu. Angústia. Gabriela escolheu a Estrelinha ali. – olhei pra ele, analisando suas feições. Ele parecia que estava chorando.
— O que faremos meu amigo? Devemos dizer á Deus que... Bem, não sei o que dizer...
— Sabe sim. Dizer que escolhe Andrew. Que escolhe o amor de vocês e não essa divisão ridícula. Eu escolhi nosso pai porque eu tenho certeza de seu amor por nós e que nos criou para tais propósitos. Mas ele não disse que não poderíamos nos amar, não só como irmãos. Ele próprio criou esse amor, então não tem o direito de tirar.
— Então, eu devo dizer que escolho Andy e pronto? Você escolherá Gabee?
— Falta-me coragem. – ele baixou a cabeça, se sentia envergonhado. – Coisa que ela tem de sobra. Mas talvez, se você falasse primeiro, quem sabe. – ele sorriu, meio sem graça e olhou pra mim novamente, seus grandes olhos verdes brilhavam, de esperança.
— Sim... Eu o farei. Por nós.
Caminhei até o lado do trono e chamei Deus novamente.
— Meu pai? – em seu manto de luz, ele me olhou.
— Sim Carolyn?
— Quero dizer algumas coisas, para todos aqui presentes.
— Pare com essa besteira, temos que acabar com isso. Prossiga Galadriel. – disse Lúcifer.
— Ela tem todo o direito Lúcifer. E você não manda aqui. Prossiga Carolyn.
Dirigi-me até o centro do pátio, ajoelhei-me diante de Deus e depois me levantei, já falando:
— Meu pai, meus irmãos. Isso aqui não devia ser necessário. Não devíamos escolher um lado, quais entre nosso pai e nosso irmão. Fomos criados para certos propósitos e devemos segui-los. Se vocês acham injustiça que Deus deu o poder da decisão somente aos humanos e que tais criaturas não mereciam, estão completamente errados. Fomos feitos para admirá-las, protege-las e guia-las. Somos importantes assim como elas. Temos sim o poder da decisão, senão não estaríamos aqui. E se vocês acham que nosso Pai ama somente eles, estão errados novamente. Ele nos ama. Deu-nos a vida e o amor e por isso devo dizer meu pai, – me virei á ele – eu renuncio minha decisão. Não escolho nenhum de vocês dois, e sim, escolho o amor. Escolho aquele que amo. Andrew.
Depois de ter dito isso, vários murmúrios se formaram, pensavam sobre o que eu disse. Alguns diziam que era absurdo, outros concordaram e por fim, Davi falou:
— Eu concordo com minha irmã, meu Pai. E eu também renuncio. Escolho Gabriela. – ela estava com os olhos cheios de lágrimas e quando Davi disse isso, ela foi em sua direção. Andrew andou até mim, de mansinho. Ele sorria.
— Estou tão orgulhoso e feliz... Oh, amor... Eu não sei o que fiz... – e me beijou.
— Eu também renuncio. Escolho Christian. – me virei e vi Nickolly, A Forte. Ela estava ao lado de Lúcifer, mas quando disse isso se encaminhou até Christian, que ainda não havia escolhido um lado.
— CHEGA! – a voz de Deus retumbou novamente. – O que você disse não tem o menor sentido!
— Tem sim! O senhor criou o amor, portanto, temos o direito de usufruir dele também. Somos suas criações! – eu berrei. Nada daquilo era justo.
— Se todos aqui concordam com isso, então, assim seja. – ele levantou a mão direita e brilhou cada vez mais forte. Aninhei-me aos braços de Andy e ele me apertou cada vez mais forte.
Escutamos um barulho ensurdecedor, como um trovão. E depois veio o tremor. Tudo começou a quebrar a nossa volta. Eu via apenas borrões. Não conseguia nem mesmo ver o rosto de Andy a minha frente, eu o segurava firmemente e ele fazia o mesmo. Até que, o chão cedeu, rapidamente. Andy se soltou de mim sem querer e foi caindo. Não só ele. Eu também caio. Não deu tempo de abrir as asas, estávamos tontos demais, não entendíamos o que acontecia. O desespero era de todos, começamos a berrar. Eu gritei o nome dele:
— ANDREW!!!
— CAROLYN!!!
E depois tudo se tornou ainda mais turvo. Eu fui esquecendo porque estava caindo, quem fez isso e porque. Esqueci que tinha asas, que podia voar. Esqueci quem eu era, de onde eu vim. Esqueci que estava caindo. Esqueci quem era Andrew e que o amava.



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Olhei para trás e percebi que a cabana estava quase pronta. Dani e Jake ainda não tinham chegado, mas sinto que estão bem. Talvez estejam com dificuldades de entender a língua daqui. Aliás, nem sei onde estamos. Isso não importa. Precisava colocar minha ideia em prática.

_ Nick, venha até aqui, por favor. – ela olhou pra mim desconfiada e largou a madeira no chão e veio.

_ O que foi?

_ Eu estou com uma ideia meio louca, mas acho que você vai me entender. Vamos pra lá, não quero que eles despertem – apontei para Ash e Gabee, ainda estavam desacordados. – Andy, vamos ali naquela pedra está bem? – agora ele me olhou desconfiado. Assentiu com a cabeça e sorriu e depois, voltou a ajudar Jinxx, amarrando os troncos.

Me levantei com a ajuda de Nick e andamos até a pedra. Ela era pequena, comparada à montanha as nossas costas. A pedra tinha uns dois metros e dava para sentar nela de tão plana. Era meio lisa, desgastada pelo tempo. Nick sentou-se e eu fiquei em pé mesmo.

_ Bem, você sabe que Ashley me ama e não vai ser fácil ele esquecer isso. Gabee não vai esquecer Davi também, aliás, não precisa. Eu só quero que os dois sigam em frente. – cruzei os braços, dividindo o peso de meu corpo em cada perna, alternando. Olhei nos fundos dos olhos de Nick, que agora estavam semicerrados. – Eu estou pensando que talvez, já que sentem a mesma dor... Que...

_ Eu entendi. Você quer uni-los. Vão saber o que fazer, já que sentem a mesma coisa. Não vai ser fácil. Tipo, você e Andrew se amam desde o céu, e Gabee era assim com Davi. Ashley nunca ficou com ninguém, sempre pensou em você e que talvez tivesse uma chance. Mas eu concordo com sua ideia. Te apoio. Afinal, desistir é para os fracos e nem tentar é para os idiotas. – ela sorriu e deu um soco no ar. Já estava bem animada com a ideia e me entusiasmou também.

_ Certo, depois converso com Andy e Jinxx e Dani também... Talvez ela use um truque para acalma-los fazendo que eles cedam um pouco. Ou não. Enfim, temos que começar logo.

_ E o que tem em mente? – ela se levantou e começou a se espreguiçar.

_ Que tal aconchegar Gabee nas asas do Ash? Colocando seu braço em cima do peito dele e tal... Assim, quando acordarem terão um lindo susto. Vão se olhar nos olhos e perceberem o quanto são lindos.

_ Ah, verdade! Foi assim mesmo que aconteceu comigo e Christian... E pelo visto, você e Andy. – eu ri e ela também. – Vamos lá.

Caminhamos até eles. Agachei-me ao lado de Ash. Arrumei suas asas para que ficassem confortáveis e ele se mexeu um pouco, afinal, sentimos muito prazer quando tocam em nossas asas. Elas estão ligadas diretamente ao nosso sistema nervoso central, na parte de prazer imediato, digamos assim. Eu ri e voltei-me a concentrar em Ash. Coloquei sua cabeça pro outro lado, assim ele teria uma surpresa quando visse Gabee aninhada a ele. “Ah, ele é lindo... Suas feições tão delicadas, sua boca pequena e esses lindos olhos castanhos escuro, tão quentes e sedutores. Auto lá Carolyn! Seu negócio é com caras de olhos azuis, aliás ele está te observando neste momento.” Eu vi ele, acenei e sorri e ele acenou de volta, sem dar nenhum sorriso daqueles que me tiram o fôlego. Droga.

Virei-me para Nick. Ela já tinha ajeitado Gabee, arrumando seu cabelo e suas roupas, aliás deixou ela nua.

_ Por que deixou ela assim?

_ As roupas delas estavam cheias de sangue. Vou queimar isso e depois pego outras. Enfim, me ajuda aqui. Por enquanto ela fica nua, apenas a asa de Ash cobrindo-a. – ela piscou pra mim. Peguei Gabee pelos ombros e ela pela perna. Levantamo-la á alguns centímetros do chão para que não fosse arrastada. Cuidadosamente, colocamos ao lado de Ash. Bem pertinho. Peguei seu braço direito e coloquei no peito dele. Nick pegou a asa esquerda dele e colocou sobre ela, com muito cuidado.

_ Pronto, assim está ótimo.

_ O que estão fazendo? Pra que isso? - perguntou Chris, se aproximando.

_ Depois te conto mô. – eles se deram um selinho.

_ Olá! Chegamos! E adivinhem! Estamos na Espanha! Olé Touro! – disse Jake, dando piruetas no ar, todo empolgado. Eu dei gargalhadas de tão engraçado que ele estava. Estava com uma calça de couro justa que eu conseguia ver todas as curvinhas daquele lugarzinho. Estava com um chapéu de toureiro e sem blusa.

_ Jake, para com isso! Vai derrubar a água seu ímbecil! – disse Dani.

_ Afff!! Sabe nem se divertir e fica me atrapalhando... Trouxemos tudo que há de bom: pão, frutas, muita água, muita fruta, muitos sanduíches e muita fruta, eu já disse isso. Mas é que fruta me lembra o Christian, uma frutinha. – Jake aterrissou mostrando as sacolas pra todos.

_ Olha, seu filha da puta! Vem aqui que eu te mostro a frutinha! – Chris abriu as asas e Jake também. Ele jogou as sacolas no chão e começou a voar e Chris foi atrás. Eu e as meninas éramos só gargalhadas.

_ Ok, vou guardar a comida. – Jinxx se aproximou e pegou as sacolas, ele também ria. Notei que Andy não estava com ele e nem na barraca.

_ Jinxx, onde está o Andy?

_ Na pedra.

_ Eu te ajudo, baixinho, come on girl! – disse Nick pegando algumas sacolas e correndo.

_ Vou te mostrar a garota! – Jinxx correu atrás dela.

_ Vai mostrar o que Jinxx!? – Chris aterrissou puxando Jake pelos cabelos e indo atrás de Jinxx.

_ Vou lá neles... – disse Dani.

Voltei-me para a pedra e vi Andy sentado, com o caderno que eu vi antes. Estava escrevendo alguma coisa, todo concentrado. Assenti para Dani e me encaminhei até ele. Aproximei-me e sentei do seu lado, tentando entender o que escrevia.

_ Amor, o que está fazendo? – coloquei uma mexa de seu cabelo atrás da orelha. Rapidamente, ele fechou o caderno e escondeu-o nas asas. – Como fez isso? Por que esconde ele nas asas? E por que esconde de mim?! – ele se virou pra mim e tive a surpresa. Ele estava com os olhos dourados ainda e as presas amostras. Ele rosnou e subiu em cima de mim me jogando contra a pedra, deitada. De repente, começou a me enforcar. Eu dei apenas um grito. Não conseguia me mexer. Estava em choque. Lágrimas começaram a descer pelo meu rosto.

_ Andy... – sussurrei. Eu não podia usar os meus poderes nele. Não queria. Até que... Seus olhos voltaram ao azul céu, com pequenos pontos brancos, como se fossem diamantes. Foi soltando meu pescoço e suas garras foram sumindo.

_ Hã? O que... Amor? Por que está... Ah não... Amor me desculpa! Me desculpa, por favor! – ele me beijou nos lábios, depois no pescoço e foi pras bochechas. Eu ainda estava parada, não estava acreditando no que tinha visto. Ele enxugava minhas lágrimas, desesperado. Seus olhos estavam arregalados.

_ Andy... Deixe-me sentar... – consegui dizer.

_ Claro, levanta. Eu te ajudo... Amor, por favor me...

_ Chega Andy! Tá bom! Agora me explica isso! Por que você tem uma droga de caderno!

_ É meu diário. Eu o tenho desde que perdi você. Lembra-se que perdemos a memória quando caímos? Pois é... Eu fiquei tão chateado que comecei a esquecer quem eu era e porque estava tão triste. Nick me disse o porque e eu me desesperei. – ele me olhava ainda assustado, me analisando. Procurava algum ferimento, talvez. – Depois descobri que os humanos tinham um caderninho que anotavam seus acontecimentos diários para não esquecer, decidi fazer um, com todas as minhas lembranças, de nós dois. – eu estava sem palavras. Depois de um tempo, eu disse:

_ Você estava anotando o que agora a pouco? E porque me atacou?

_ Eu estava escrevendo nossa primeira noite. E não diga isso... Odeio... Já feri Nick assim. E Chris tem um certo receio de mim até hoje. Mas enfim, quando escrevo, me concentro em todas minhas memórias recentes e acabo usando meus poderes. E como coloquei em minha cabeça que meu diário não pode ser lido por ninguém, meus poderes entram em estado de alerta e atacam quem estiver tentando lê-lo, inevitavelmente. O guardo nas minhas asas, ele se mistura ás penas e é guardado dentro de mim também. Para minha segurança e de todos. Ele se tornou místico quando o toquei, então é mais fácil.

_ Nem mesmo eu posso lê-lo, se quisesse?

_ Bem, sim. Eu autorizo. Quer lê-lo?

_ Não, agora não.

_ Tudo bem... Quer dizer, você está bem? – agora foi ele que colocou meu cabelo atrás da orelha.

_ Sim, você só me assustou um pouco. Andy, você sabe. Eu não consigo te machucar, é o único que não consigo. Então... Se me matasse, não me sentiria triste.

_ Mas eu morreria logo depois! AH! Perdoe-me, por favor...

_ Eu perdoo. Eu entendo. – virei o rosto para o litoral. – Bem, vou até a barraca para ver como estão os outros. – me levantei e ele veio logo atrás.

_ Amor... Você está ferida...

Passei a mão por meu pescoço. Sim, saia um pouco de sangue, mas eu nem ligava. Queria sair dali, sem Andy, sem ninguém.

_ Não dói... Andy, eu preciso... Preciso, que você não me siga. Está bem? Fui clara? – Mudei de ideia. Precisava ir á outro lugar. Sozinha.

_ Por que? Você está chateada comigo não é? Carolyn, pelo amor de Deus me perdoe, eu não... – dei um tapa na cara dele. Ele virou o rosto, apenas por causa do impacto. Eu sei que não doeu. Não sentimos esse tipo de dor.

_ Eu quero ficar sozinha! Eu não quero você perto de mim agora! Está me ouvindo? – ele me olhou, os olhos cheios de lágrimas.

Abri minhas asas e alcei voo. Fui até o topo da montanha, aterrissei e guardei-as. Me joguei no chão, olhando pro céu. Comecei a chorar e retirei meu colar. Estava em forma de cruz. Segurei-a firmemente e comecei a rasgar meus pulsos. Eu estava angustiada e queria tirar isso de mim. Fui rasgando todo meu braço, profundamente. “Por que?... Por que?... Eu só quero paz e não perder quem eu amo... Não mais.” Desmaiei.

...


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Notas finais do capítulo

Hum... Diga-me se ficou bom ou não. O que devo mudar ou não.
Bem, estava meio sem ideia e saiu isso. Espero que tenha gostado. ;)
Beijos, Jenny ;)



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