Meus contos, meu canto. escrita por Flávia Letícia


Capítulo 3
Terceiro conto.


Notas iniciais do capítulo

Mais um conto. Espero que gostem :)



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– Violino (o som da alma).

A violinista tocava uma de suas músicas mais tristes. Ela era cheia de compaixão e clemência, mas tinha tanto desespero, tanta angústia. Não gostava de tocar aquela canção, mas a mulher bêbada que sentava a sua frente não lhe deixava escolhas. Os olhos vermelhos daquela dama (não sabia se era por causa da bebida ou por causa das inúmeras lágrimas que já tinham sido derramadas), sua mão trêmula e o vazio de sua pessoa, incitavam a jovem violonista a tocar as piores composições de sua vida, as mais tristes, as mais descabidas, as mais sem alento.

Ambas estavam ali desde muito cedo e as duas viram a tarde e cair ao som do melancólico e taciturno violino. A dama acendeu mais um cigarro enquanto a violinista observava sua respiração pesada e ofegante. Ela não esboçara nenhum sorriso, nenhum gesto de alegria, nenhum pingo de humanidade desde que chegara ali. Só aquela pesarosa e fatídica tristeza.

Sinceramente, a violinista não desconfiava o motivo pelo qual a dama estava mergulhada em tal situação mortal. E muito menos desconfiava o porquê de seus dedos teimarem em tocar as músicas que traduziam o desespero da alma daquela senhora. Simplesmente as notas saiam como se fossem uma tradução simultânea dos pensamentos, da agonia, da amargura daquela dama. O violino sofria junto, ele era o som da alma daquela mulher.

De ímpeto a senhora bêbada levantou-se e saiu segurando somente o cigarro que estava fumando. A violinista acelerou a canção que se tornou como as batidas do coração daquela dama. E a música só se tornava mais acelerada transparecendo pura adrenalina, mesmo quando a senhora sumiu virando a rua. A violinista estava perdendo o controle de seu instrumento musical, ela estava em espécie de transe e os seus dedos se moviam sozinhos naturalmente.

A música passou de veloz para piedosa, com um sabor de redenção, um sabor de piedade, como uma súplica por um perdão. As lágrimas escorriam sem freio pelo rosto da musicista e ela sentia um aperto no peito, um aperto na alma. De repente, os seus dedos pararam por uns segundos, mas depois a música tornou-se leve, sem todo o sofrimento que a carregava até que terminou. A violinista, finalmente, guardou o instrumento, enxugou as lágrimas e foi embora. Ela nunca mais tocou seu violino.


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Notas finais do capítulo

Gostaria de saber a opinião de vocês a respeito do final do conto. Obrigada e até o próximo :)