"Arthur Ming" pensou Kay. Desde que tinha chegado na Nação do Fogo ouviu aquele sobrenome muitas vezes. Ming era o clã chefiado pelo general que ameaçava a paz no Reino da Terra e o reinado de Quen como Fire Lady. O homem que havia trazido à costa da cidade um navio quilométrico com um canhão gigante apontado para o palácio real no dia da sua coroação. 

— Você é filho de Dao Ming... - deduziu Kay.

— Cale a boca, garoto - murmurou Arthur com uma expressão séria - Nós estamos diante da Senhora do Fogo, ajoelhe-se!

Kay permanecia com os braços cruzados entediado. Arthur então o agarrou pelo o ombro direito e o puxou com força para baixo.

— Ele tem razão, Kay. Não vou permitir insolências de um servo nessa sala - disse Quen com um olhar fulminante. Kay, com medo, manteve a postura agachada. Ela se via diferente agora como ele nunca a vira. Seus cabelos estavam soltos e lisos e ela usava uma maquiagem que ressaltava seus olhos castanhos. A armadura escarlate parecia cair nela como uma luva.

— Você conhece ele, Milady? - perguntou Arthur impressionado.

— Infelizmente sim. Esse servo é de uma família de bêbados caipiras que eu resgatei das Ilhas Montak no meu caminho de volta. A família insistiu que eu levasse ele comigo para capital para pôr algum juízo na sua cabeça. Acontece que ele estava produzindo tantos problemas que nem eles puderam suportar.

— Entendo, Milady... - respondeu Arthur olhando pra Kay com uma careta de piedade e nojo ao mesmo tempo, enquanto o avatar, vermelho, olhava para Quen indignado devolvendo seu olhar fulminante com a mesma intensidade. A Senhora do Fogo apenas sorria com desdém - Você não deveria ter que lidar com esse tipo de questões, milady - continuou Arthur.

— Ih... O que eu posso fazer? Como Senhora do Fogo tenho o dever de interceder por todas as ilhas. Não pense que não me arrependo.

— A bondade de Vossa Graça é infinita - falou Arthur educadamente. Quen assentiu com a cabeça.

— Pois bem, já que agora esclarecemos tudo, concedo-lhes permissão para se retirar.

— Milady, há algo mais... - seguiu Arthur quando Kay já tinha se levantado para ir embora - eu queria perguntar se você poderia me ensinar a Dança dos Dragões.

Quen se deteve a analisá-lo curiosa, olhou Kay de relance e então riu.

— Você tem que ter muitos culhões para me fazer esse pedido, garoto. Minha bondade pode ser infinita, mas tudo tem o seu limite. Eu tenho uma nação inteira para governar se você não percebeu.

— Perdão Milady... - sussurrou Arthur contrariado mas com um tom cortês.

— Quem lhe disse que eu poderia ensinar tal técnica?

— Zayn, o Dragão Vidente - intrometeu-se Kay e Arthur o censurou com os olhos outra vez pelo atrevimento - Nós o encontramos escondido dentro da montanha atrás do palácio. Ele estava ferido e recém havia acordado depois de um longo sono. Ele parecia haver perdido a memória de como foi parar ali.

— Zayn está na montanha sagrada e ferido...? - disse Quen preocupada.

Logo um estampido se produziu com a abertura das grandes portas do salão, dois soldados do palácio real entraram afoitos e transpirados.

— Milady. Seu pai, Lord do Fogo Linus desapareceu do castelo! - gritou um dos homens.

— O quê?!

Quen deu um salto e projetou jatos de fogo pelos seus 4 membros. Flutuou alguns metros sobre o chão como se usasse uma mochila a jato e deu um impulso para frente em grande velocidade escapando do grande salão do trono. Kay, Arthur e os soldados a seguiram para fora do salão. Quen deslizava pelos corredores do palácio rapidamente equilibrada pelos seus patins de fogo até chegar ao quarto do senhor do Fogo.

No quarto do velho Fire Lord já havia uma pequeno aglomerado de servos e soldados que cochichavam. Quando Quen aterrisou na porta eles abriram uma passagem cabisbaixos. Quen analisou meticulosamente o cômodo e viu um papel quadriculado preso a uma shuriken no teto justo em cima da cama. Ela pegou o papel e nele continha um único símbolo: o kanji japonês para a palavra Fogo. Kay e Arthur chegaram logo em seguida.

— Meu pai foi sequestrado pelos Uzuhiha, o Clã de Ninjas da Nação do Fogo... - sussurrou Quen abatida. Kay tocou seu ombro compadecido.

— É impossível, milady. Não há maneira que eles tenham se infiltrado com toda a segurança da coroação - retrucou Arthur.

— Sem dúvidas estamos falando de um trabalho interno - disse Quen. Os criados se entreolharam com medo ao passo que Kay e Arthur a miravam intrigados.

— O que você planeja fazer? - perguntou Kay.

— Abandonar a capital para ir pessoalmente ao resgate de meu pai é o erro que eles esperam que eu cometa. Assim que eu sair deste palácio o golpe estará completado.

— Milady, você não acha que meu pai está envolvido nisso não é? - protestou Arthur.

— Para o seu bem e o de seu pai eu espero que não - respondeu a Fire Lady séria - mas como uma demonstração de boa vontade e confiança, caro Capitão Arthur, eu lhe concedo a missão de resgate. E se você trazer meu pai de volta eu lhe ensinarei a Dança dos Dragões - disse resoluta.

Um brilho apareceu nos olhos do jovem oficial. Ele se encurvou imediatamente.

— Será uma honra, milady. Terei que fazer alguns preparativos, mas já posso partir amanhã mesmo.

— Considerando o imenso fardo dessa jornada, eu lhe ofereço este servo para ajudá-lo. Ele estará a disposição de qualquer coisa que necessites - disse a Lady do Fogo empurrando um Kay emburrado.

— Que...? - disse o oficial inseguro - Pois bem, milady, pois bem...