E Se fosse verdade? 2 escrita por PerseuJackson


Capítulo 46
Retorno para casa




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Muitos dias se passaram depois de a gente ter enterrado a Máscara. Nesse tempo eu já me acostumara à rotina do acampamento. Durante o dia, passava a maior parte do tempo treinando esgrima. Tinha um pouco de dificuldade por que estava mais acostumado a lutar com a minha mão direita, mas ela estava ferida. Então tinha de lutar com a minha outra mão.

Á tarde, Quíron nos ensinava a praticar arco e flecha. Eu nunca gostei de arco e flecha, até por que não sabia atirar de jeito nenhum. Annabeth, por outro lado, era muito boa.

Após arco e flecha, eu fazia tarefas variadas. Como arrumar o chalé (chato.), aula de equitação, duelos entre chalés, tentar forjar alguma arma legal (tudo o que forjei foi uma queimadura na mão.), e varias outras coisas. Á noite, como de costume, jantávamos, e depois íamos para o anfiteatro cantar musicas estranhas que até hoje não vejo graça.

Todas as sextas feiras a noite acontecia o Capture a Bandeira. Nas duas vezes seguidas nossa equipe perdeu, mas nas outras, claro, ganhamos. Somos o máximo.

No dia 4 de julho, como sempre, houve a incrível queima de fogos na praia de Long Island. Por incrível que pareça, esse ano foi impressionante. Melhor que o do ano passado.

Enfim, não vou ficar aqui contando cada coisa que aconteceu nos dias que passei no acampamento. Mas, no final do mês de julho, quando eu estava na Arena lutando contra Kayro e outros campistas, Quíron veio trotando até mim com urgência.

— Raphael. — disse ele. — Preciso falar com você.

Eu me distraí na hora, e Kayro me atingiu bem nas costelas com o cabo da espada.

— Ai! — gritei.

— Opa, desculpa! — disse ele. — Foi sem querer.

Olhei para Quíron, enquanto massageava o local atingido.

— O que foi?

A cauda dele estava se mexendo nervosamente. Seu olhar estava com uma expressão preocupante.

— Sua mãe... — ele suspirou. — Ela falou comigo há alguns minutos atrás.

— Minha mãe?

Ele assentiu.

— Ela estava querendo que você fosse para casa. Não sei bem o porquê. Mas pude perceber tensão em sua voz.

Comecei a estranhar. Por que minha mãe queria que eu fosse para casa?

— O que ela disse? — perguntei.

— Ela só queria que você fosse para casa. Só isso. Não me disse mais. — ele pousou a mão em meu ombro. — Raphael, se sua mãe quer que você vá para casa, não desobedeça. Ela pode estar passando por alguma coisa, ou pode estar acontecendo alguma coisa. E é bom você estar junto dela. O que me diz?

Admito que fiquei um pouco zangado. Quer dizer, ter que sair do acampamento antes da hora para ficar em casa sem ter muita coisa para fazer, e ainda por cima com risco de ser atacado. Mas o tom de Quíron fez com que eu repensasse muitas vezes.

— Cara, é melhor você ir. — disse Kayro. — Sua mãe pode estar precisando de você.

Assenti.

— Tá certo. Eu vou.

— Excelente. — disse Quíron. — Vou falar com Argos para preparar o carro e ir lhe deixar. Não fique zangado com o pedido de sua mãe, criança. Quando chegar lá, ache um meio de se comunicar comigo. Quero saber o que houve.

— Okay.

Eu me despedi de Kayro e fui ao meu chalé arrumar minhas coisas.

***

— Como assim você vai embora? — perguntou Igor, confuso.

Sentei-me em minha cama, enquanto pegava minha poucas roupas que havia lá.

— Não sei. — falei. — Quíron disse que minha mãe havia falado com ele dizendo que queria que eu fosse para casa. Agora, como ela falou com ele, não faço ideia.

— Ah, cara. — Igor parecia triste. — Isso é chato.

Eu sorri e dei um tapa nas costas dele.

— Não chore, cara. Sei que sou importante na sua vida, mas... sabe como é?

Ele riu, debochando.

— Você? Importante?

Eu ri

— Vou arrumar minhas coisas. Apesar de não ter muito que arrumar.

Depois de alguns minutos, estava com a minha pequena mala atravessando o acampamento e dando tchau para os meus amigos. Alguns me perguntavam por que estava indo embora agora. Eu dizia que minha mãe estava com problemas, apesar de não estar certo disso. Olhei para o grande pinheiro, e vi Argos e Quíron lá em cima me esperando. Assim que comecei a subir a colina, meus amigos vieram para se despedir de mim.

— Não viemos nos despedir de você. — disse Percy.

— Uau! — falei. — Que consideração.

— Viemos falar de uma coisa. — interveio Kayro. — A profecia.

Arquejei.

— O que tem ela?

— Nada. — murmurou Igor. — Só para ver se tudo nela se cumpriu.

Ao oeste, você irá enfrentar o Medo e o Pânico. — recitou Annabeth. — Um desaparecerá no meio do caminho.

Olhamos para Kayro.

— Trágico. — murmurou ele.

Sem sabedoria, a Máscara irá causar a ruína. — continuou Annabeth. — O Medo os dominará, e o filho do Submundo os salvará.

— Nico... — disse Kayro. — Ele é o filho do Submundo.

E no final, o filho do Mar os protegerá, e com dor no coração, retornará.

Eu gelei. Era isso. O filho do Mar era eu, e voltaria com dor no coração. Agora entendia. Ashley havia morrido. E eu ainda sentia a dor da morte dela.

— Obrigado por fazerem me sentir melhor. — resmuguei.

— Essa profecia foi bastante criativa. — murmurou Percy.

Nos reunimos ao redor do Pinheiro. Olhei para o acampamento abaixo. Queria tanto ficar mais um pouco. Gostava tanto daqui. Mas minha mãe estava com alguma coisa. Precisava de mim. Quíron pousou sua mão e meu ombro e disse:

— Não fique triste. Pode até ser que, depois que você resolver esse negócio com sua mãe, volte para cá.

— É, pode ser.

Argos acenou para mim, indicando que era para segui-lo. Toda vez que ele ia deixar alguém em casa, usava um terno de chofer que cobria tudo, menos as mãos e a cabeça.

Dei tchau para os meus amigos e segui-o até o carro. Foi estranho, mas quando saí dos limites do acampamento, senti um calor horrível. O sol estava bem mais quente. Franzi a testa, achando isso suspeito, mas não liguei.

Argos ligou o veículo e eu entrei. Acenei novamente para a galera, e então, fui embora.

***

Argos me deixou na esquina de minha casa. Dei obrigado a ele e fui andando até chegar lá.

Abri a porta e entrei.

— Mãe? — chamei. — Está ai?

O ambiente estava silencioso. Passei pela a sala e fiquei atônito. As coisas estavam caídas no chão. Almofadas, retratos, livros, e várias outras coisas espalhadas pelo o chão. Comecei a pensar o pior.

— Mãe? — chamei mais alto. — A senhora está ai?

— Raphael. — a voz dela veio de seu quarto.

Entrei lá, e a vi na cama, deitada e com os braços esticados. Sua respiração estava cansada e ofegante.

— O que houve? — eu me aproximei dela.

Mamãe ficava com os olhos fechados e respirando rapidamente. Mas depois relaxou e olhou para mim.

— Você já chegou? Graças a Deus.

Pensei que ela iria ficar mais alegre que isso. Fiquei tantos dias fora de casa.

— O que a senhora tem? — perguntei.

Ela se sentou, colocando as mãos nas têmporas.

— Não sei. Mas não estou muito bem.

— Quíron disse que a senhora pediu para eu vir pra cá. — lembrei.

Ela assentiu.

— Não queria ficar sozinha mais. Estava me sentindo muito aborrecida e enjoada. Não sei o que está havendo, mas ontem fiquei descontrolada e derrubei as coisas da sala.

Aquilo era muito estranho.

— Hã... quer que eu pegue água? Ou compre algum remédio?

— Não. — disse ela. — Só quero que me ajude no que eu precisar. Está bem?

— Claro. — concordei.

Nos levantamos, e ela me abraçou com força.

— Senti tanta saudade.

— Ai. — gemi. Ela estava abraçando muito forte. — Ai. Também estava com saudade.

Mamãe me olhou e murmurou:

— Você não parecia estar. Não veio para casa nenhuma vez. Só quando eu chamei.

Sorri meio nervoso.

— Eu estava no acampamento. Desculpe.

Ela assentiu, triste.

— Okay. Venha. Vamos arrumar aquela bagunça na sala.

***

Fazia um mês desde que eu voltei para casa. E, infelizmente, os dias que se passaram dentro de casa foram estressantes e confusos. Mamãe estava muito estranha e com um comportamento mais estranho ainda. E que piorava a cada dia. Antes ela cuidava da casa. Zelava pela a limpeza. Se eu deixasse uma cueca em cima do sanitário, ela me chamava pelo o nome completo, e eu sabia que estava encrencado. Agora, ela não estava nem ai pra isso. Deixava a louça suja, não varria o chão, não limpava a mesa quando comia. Sinceramente, eu estava me assustando e ficando com medo. O que será que aconteceu com ela?

E para piorar, o calor não estava ajudando muito. Sério, os dias se passavam e parecia que o sol estava se aproximando mais e mais da Terra. Tínhamos que ficar com as janelas fechadas para o calor não entrar.

Em um dia, quando eu estava lavando a louça, ela estava chorando e dizendo que sentiria falta de mim. Eu ficava muito intrigado e confuso. Já estava começando a ficar zangado com isso.

— Mãe! — eu a chamei. — O que você tem? Por favor, fale logo!

Ela soluçou e disse:

— Você vai sentir minha falta?

— E pra onde eu vou? — resmunguei, já de saco cheio com aquilo. — Você fica me perguntando se vou sentir sua falta, como se eu fosse viajar ou não sei o que.

— Você não sente minha falta, não é? — murmurou ela. — Nunca sentiu. Você só quer ficar longe de mim. Só fica longe de mim.

— Hã... mãe — tentei não falar rude. — eu estava em uma missão.

— Missão. — ela sussurrou. — Missão. Missão. Sempre em missões! Nunca se importa comigo. Nunca!

Ela me empurrou e saiu chorando. Eu fiquei completamente confuso e surpreso.

— O que está dizendo? Sabe que eu estava no acampamento.

— Acampamento Meio-Sangue. Ele está querendo tirar meu filho de mim. Está querendo tirá-lo de mim.

— O quê? — exclamei. — Mãe, a senhora não está bem! Vou ligar para alguém que possa...

De repente ela gritou:

— Eu não estou louca! — e virou-se para mim. — Não preciso de ninguém! Não preciso de médicos.

Começava a ficar com medo.

— Mãe, a senhora não é assim. O que aconteceu?

— Esse calor. Esse sol quente. — sussurrava ela. — Os noticiários na televisão. Meu Deus.

Era ridículo, mas eu estava com medo de chegar perto dela. Mesmo assim, me aproximei.

— Que noticiários? — perguntei, ainda mais confuso.

Ela se virou para mim, fixando os olhos em meu rosto. Então, sem mais nem menos, retomou o choro.

— Meu querido. — ela me abraçou. — Sinto muito! Sinto tanto. Não quero que você vá embora.

A confusão em minha mente foi tão grande que fiquei incapaz de formular palavras.

— Eles vieram aqui dizendo que você era muito especial. Disseram que você e outros iriam ser de muita importância para o que viria pela frente.

— Como é? — murmurei.

De repente, o celular de minha mãe tocou. Ela pegou e atendeu.

— Alô?

Não sei quem era, mas mamãe ficou olhando para mim. Depois me entregou o celular.

— É pra você.

Eu gelei.

— Para... mim? Mãe, sabe que meios-sangues não podem...

— É Annabeth.

Eu me calei. Annabeth? Ligando de um celular? Como assim? Ela estava querendo ser morta? Olhei para o celular como se ele fosse uma bomba. Mesmo assim eu o peguei.

— Annabeth? — falei. — É você?

— Ah, graças aos deuses! — falou ela. — Onde você está?

— Você ficou maluca? — perguntei. — Ligando de um celular? Sabe que...

— Onde você ESTÁ? — exclamou ela.

— Hã... em casa, claro. Bem, se eu continuar no celular, posso estar no estomago de um monstro no próximo minuto.

— Pare de falar idiotice. — ela parecia estar abalada. — Percy desapareceu!

Eu quase derrubo o celular.

— O quê?

— A mãe dele me ligou dizendo que ele não voltou para casa depois que saiu do acampamento. Por favor, me diga que ele está ai.

Eu fiquei de queixo caído.

— Não. Ele não está aqui.

Ouvi ela respirar fundo.

— Meus deuses. Onde esse garoto está?

— Annabeth, desculpa, mas estou com medo de ficar no celular.

— Ah, cale a boca! — ordenou ela. — Temos que procura-lo. Por favor!

— Okay, certo. Vamos procura-lo. — eu hesitei. — Mas... agora?

— Infelizmente não! — ofegou ela. — Meus deuses, amanhã. Precisamos acha-lo.

— Fique calma. Vamos acha-lo.

— Okay, também estou com medo de ficar no celular. — disse ela. — Tchau!

— Tchau!

Desliguei o celular e olhei ao redor, temendo ver um bando de monstros rosnando e babando. Mas não havia nenhum.

— Mãe... — chamei. — A senhora...

— Raphael — mamãe falou. — Acho que já sei o que houve comigo.

— O quê?

Ela suspirou e virou-se para mim.

— Acho que você já ouviu falar do vírus que está se espalhando por toda a parte. Pois então. Acho que... eu tenho ele.


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