E Se fosse verdade? 2 escrita por PerseuJackson


Capítulo 30
O ataque dos Corvos flecheiros




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/562574/chapter/30

— Não! — gritei. — Não, não pode ser!

Eu fiquei olhando o lugar onde segundos antes Igor e Grover estavam. Aquilo não podia ter acontecido. Era inacreditável. Havíamos conseguido resgatá-los para depois serem capturados de novo. Estava bom demais para ser verdade.

— Ah, não! Grover! — Annabeth choramingava. — Aqueles dois deuses idiotas!

Nos levantamos apenas para ficar andando de um lado para o outro e se lamentando.

— Argh! — Percy bateu o pé, enfurecido. — Quando eu pegar esses imbecis, eles vão ver só uma coisa. Vou estraçalhar o corpo deles. Sufocá-los. Estrangulá-los.

— Eu não acredito nisso. — eu me contorcia de raiva. — Que droga! Por que Hera não fez nada? Ela estava aqui. Poderia ter feito alguma coisa.

— Hera não faz nada por Heróis. — disse Percy. — Ela finge ser boazinha.

— Cara, esses dois deuses menores são um pé no saco. — murmurou Kayro.

— Parem! — exclamou Annabeth, pondo a Máscara no seu bolso de trás. — Não adianta mais lamentar. Temos que agir.

— Annabeth está certa. — disse Ashley.

Todos nós olhamos para ela.

— O que foi?

— Disse que eu estou certa? — perguntou Annabeth, como se não tivesse ouvido direito.

— Sim. — resmungou Ashley.

— Legal. Mas o que estamos esperando? — murmurei. — Vamos logo sair daqui.

Nesse momento, o grande guarda-sol que até agora estava nos dando sombra, se esvaiu em fumaça, nos deixando novamente a mercê do calor escaldante.

— Ah! — Annabeth cobriu os olhos. — Aquela deusa-vaca ainda faz isso com a gente.

O calor imediatamente voltou, nos cercando como se fosse um grande lençol.

— Hã... isso deve ser o sinal de que devemos sair daqui. — disse Ashley.

***

Calor, calor, e mais calor. Era tudo o que sentíamos enquanto caminhávamos de volta a estação ferroviária. Agora eu sentia na pele o que um frango assado sofria.

Não podia deixar de me sentir triste e pesaroso. Acabava de ver minha tia sendo morta por loucos assassinos. E ainda por cima, para completar, meus amigos são novamente sequestrados pelos dois deuses inferiores idiotas. Não conseguia entender por que éramos tão azarados.

No caminho, Kayro despencou no chão, levantando poeira e respirando fracamente. Eu estava tão fraco e tão encalorado que senti vontade de cair no chão também. Minha garganta estava seca. Minha pele estava avermelhada e quente. Imaginei que, assim que voltássemos ao acampamento, estaríamos bem bronzeadinhos.

— Kayro. — sussurrou Ashley, tentando-o levantar quase sem forças. — Você precisa levantar.

Não fui ajuda-lo. Mas não por que não me importava, mas por que se eu tivesse me abaixado para ajudar, cairia ali mesmo também.

Percy suspirou, exausto. Sua testa brilhava por causa do suor. O abafado piorava tudo. Annabeth segurava sua mão, mas estava com o rosto vermelho e grudento. Seu cabelo loiro parecia estar pegando fogo naquele sol.

Olhei ao longe, e vi uma construção de concreto, depois de milhares de casas destruídas e prédios arruinados.

— Olhem. — apontei. — Ali... lá está a... — estava tão fraco que não conseguia falar normalmente. — Estação... Ferroviária.

Ashley estava com um braço de Kayro ao redor de seu ombro, tentando fazer com que ele ficasse de pé. Fui ajuda-la, mesmo estando exausto.

— Kayro, estamos quase chegando. — murmurei em seu ouvido.

— Precisamos carregar uma garrafa d’água enquanto estivermos aqui. — disse Ashley. Então ela arquejou. — Ei! Tive uma ideia.

Ashley tirou a mochila de Kayro de suas costas e a abriu.

— Se a mochila é mágica, e pode fornecer todo o tipo de coisas, por que não tiramos daqui... — ela enfiou a mão lá dentro e tirou uma garrafa plástica cheia de água. — Isso?

Meus olhos se arregalaram.

— Nossa!

— Não acredito nisso. — resmungou Ashley. Ela enxugou o suor. — A solução estava bem debaixo do nosso nariz.

— Okay, chega de conversa. — Percy agarrou a garrafa d’água e começou a beber feito um camelo.

— Ei! — protestei. — Deixe pra mim também.

Fui tentar tomar a garrafa de Percy, mas Kayro, que estava se apoiando em mim, caiu no chão novamente.

— Opa! Desculpe. Eu volto para lhe buscar.

Tomei a garrafa de Percy e comecei a beber também.

— Não tome tudo! — exclamou Percy, tomando a garrafa de mim.

Avancei sobre ele.

— Não estou tomando tudo. Você é que está!

— EI! — gritou Annabeth. Nós dois a olhamos. — Vocês parecem duas crianças brigando. Passa essa garrafa pra cá!

Ela a tomou de Percy e bebeu toda a água, em vez de deixar um pouco para Kayro que estava caído no chão. Meninas... só pensam nelas mesmas.

— Não sei pra que essa briga besta. — murmurou Ashley, enquanto tirava de dentro da mochila lençóis e alguns panos. — A estação ferroviária está ainda um pouco longe, então...

Ela jogou um lençol para cada um de nós.

— Pra que isso? — perguntei.

— Para se cobrir. — concluiu Annabeth, já envolvendo sua cabeça com o lençol.

— Hum, boa ideia.

Levantei Kayro do chão (não pensem que não me importei com ele. Só deixei-o descansar um pouco.), e fiquei carregando-o, enquanto segurava o lençol para cobrir nós dois.

Depois de alguns minutos, chegamos a Estação. Ela estava vazia, sem nenhuma sombra de pessoa. Fomos até a parada de trem, onde a gente havia descido antes, e ficamos esperando sentados em alguns bancos que havia lá.

— Agora é só esperar. — suspirou Annabeth.

Meu corpo estava grudento e quente. A camisa estava molhada de suor. Imaginava como meu rosto estaria. Tudo o que eu queria agora era entrar embaixo de um chuveiro e ficar lá por alguns minutos. Ashley, ao meu lado, tirou de dentro da mochila alguns biscoitos recheados, enquanto Kayro bebia água.

— Pelo menos não vamos passar fome nem sede. — comentou ela. Seus lábios estavam secos, apesar de ter bebido água há alguns minutos. Eu a observei. Mesmo com o rosto meio avermelhado, e os cabelos assanhados e grudados na testa, ela ainda estava bonita. Ou tão bonita quanto antes.

— Vou pensar duas vezes antes de aceitar qualquer missão. — murmurou Kayro.

— Ah, é? — olhei para ele.

— Sabem o que eu gostaria de saber? — disse Annabeth. — Se esse fato de que o sol liberou um calor tão grande que queimou partes do nosso planeta é mesmo verdade, então por que ainda existem cidades intactas?

Pensamos sobre o assunto.

— Não sei. — admiti. — Pode ser que essas cidades conseguiram suportar, não?

— Ou o calor veio só para algumas cidades. — supôs Kayro.

— Ou então Apolo estava bravo com a humanidade, e decidiu castigar todo mundo. — sorriu Percy.

Nós nos entreolhamos, avaliando essa possível resposta. Depois de alguns segundos, começamos a rir.

— Não. — falamos. — Isso é impossível.

Ficamos alguns minutos em silêncio, só esperando o trem passar e cochilando um pouco. Mas eu não conseguia cochilar. Então fui conversar um pouco com Kayro.

— Você é filho de Hefesto, né? — perguntei.

Ele assentiu, desconfiado.

— Por quê?

— Não, nada. É que... por que você não é feio também?

Certo, uma pergunta idiota. Mas eu estava começando a ficar um pouco fora de mim com tanto calor.

— Não lhe interessa saber disso. — respondeu ele.

— Okay. — murmurei. — Ei!

— O que é?

— Você mora aonde?

— Por que você quer saber?

— Sei lá. — dei de ombros.

Silêncio. Kayro fechou os olhos.

— Ei!

— O que foi agora?

— Hã... você ainda mora com seus pai? Digo... se você tiver um pai mortal.

O olhar dele de repente ficou triste.

— Não! Mas não quero falar sobre isso.

— Ah. — sussurrei. — Okay. É que...

— Será que eu posso tirar um pequeno cochilo? — resmungou ele, mal-humorado.

— Pode sim, cara. — disse eu. — E deixe de atrevimento. Ora, mas rapaz.

Kayro olhou pra mim irritado.

— O que você quer? Me irritar, é isso?

— Irritar mais? — murmurei. Mas depois disso, resolvi deixa-lo em paz. — Certo, tudo bem. Desculpe. Só queria conversar um pouco.

— Adorei a nossa conversa. — disse ele.

Depois de alguns minutos, ele murmurou:

— Foi mal. É por que estou... cansado.

Assenti.

Fechei os olhos e inclinei minha cabeça para trás. Quando de repente, ouvi um grasnado de um pássaro bem a minha frente. Abri os olhos, e me deparei com um corvo negro, em pé no chão, olhando para mim.

Fiquei logo desconfiado. Aquilo não podia ser uma coisa boa.

— Ah, olá. Tudo bem? — me achei ridículo por estar falando com um pássaro. — Hã... como chegou aqui?

Ele piscou os olhos pretos e grasnou pra mim novamente. Sacudi o braço de Kayro.

— Ah, mas que coisa. — ele se sentou, aborrecido. — O que é?

Apontei para o corvo, que nos olhava fixamente, balançando a cabeça.

— Ele apareceu aqui não sei como. — contei.

— Legal. — disse Kayro. — Achei que aqui não existissem...

Nesse momento, outro corvo apareceu, voando e pousando perto do seu amigo. Era igual ao primeiro, todo negro, com penas lisas e afiadas. Hã... não gostei dessa palavra.

— Olha, outro corvo. — sorriu Kayro.

Os dois grasnaram, fazendo o restante dos meus amigos se acordarem. Eles olharam confusos para os dois pássaros negros.

— De onde eles vieram? — perguntou Ashley.

— Não sei. — disse eu. — Quando eu vi, eles já estavam aqui.

Annabeth se levantou com cautela, olhando receosa para os pássaros.

— Gente, não se desesperem. — sussurrou ela. — Não façam movimentos bruscos. Apenas se levantem com cuidado e...

Outro corvo chegou. E mais outro. Até que em alguns segundos, cerca de trinta corvos estavam em pé, olhando para nós. Meu queixo caiu. Meu coração disparou.

— Eu já vi esses corvos antes. — sussurrou Percy, os olhos fixados nas aves. — E posso dizer que isso é coisa de Ares.

— Ou dos filhos dele. — murmurou Ashley.

Quando ao longe, a buzina do trem ecoou. Os corvos de repente se dispersaram, voando em conjunto, formando uma nuvem preta de asas e grasnados. Meus amigos e eu recuamos.

— Armem-se! — gritou Annabeth, tirando do bolso de trás seu boné mágico e a Máscara, a qual ela entregou a Kayro, pedindo para coloca-la dentro da mochila.

Percy destampou sua caneta, e contracorrente apareceu. Ashley não tinha armas, infelizmente. Eu puxei a antena do meu celular, e Kayro tirou de sua mochila um objeto perigoso, letal, e altamente destrutível.

Um Helicóptero de brinquedo. Mas em compensação ele era de um tamanho grande.

— Um brinquedo? — grunhiu Percy. — Ah, deixa pra lá. Vou nem perguntar o que essa coisa faz.

A nuvem de corvos se separou, e vários deles ficaram pairando no ar e nos olhando fixamente.

— Pessoal, cuidado. — alertou Annabeth. — Eles são perigosos. Se não tiverem...

Uma coisa preta passou zunindo por nós, como uma flecha, e acertou Annabeth na coxa. Ela gritou e se ajoelhou no chão. Olhei para os pássaros, e nesse momento eles começaram a lançar penas em nossa direção. Só que não era penas comuns, macias, e que faziam cociguinhas na orelha. Eram penas cortantes, duras, e afiadas.

Percy rebateu três delas com a sua espada, e se desviou de outra. Eu me abaixei, desviando-me de algumas, e tentei avançar nos corvos (o que foi uma ideia idiota.), mas uma pena se alojou em meu ombro.

— Argh! — gritei, cambaleando.

Três corvos avançaram em Kayro, mas ele os acertou com a sua mochila, lançando-os longe.

— Ligue o seu brinquedo! — gritou Percy, parecendo que estava brincando de morto e vivo.

Kayro jogou seu helicóptero de brinquedo, e ele começou a girar suas hélices automaticamente. Pairando no ar, virou-se em direção aos corvos e começou a lançar mísseis pequenos, mas que explodiam e faziam os corvos caírem no chão.

— SCRECH! — Os corvos grunhiam para o helicóptero e lançavam flechas penosas.

Quando alguns deles começaram a cair no chão sozinhos e a explodir em penas. Percy saltou em direção a eles e começou a cortá-las ao meio com sua espada. Levantei-me, ignorando o ardor em meu ombro, e juntos, atacamos, nos defendemos, e golpeamos. Até que minutos depois o chão estava coberto de penas pretas.

— Bem... — disse eu, arfando. — Foi fácil. — Arranquei a pena do meu ombro com um gemido.

O som da buzina do trem ecoou novamente, agora mais próxima. Pude ouvir o som do motor.

— O trem! — o ar tremulou, e Annabeth apareceu ao nosso lado.

Ficamos na beirada da Estação acenando. Até que finalmente ele parou. As portas se abriram, e entramos.

— Nossa. — disse Ashley. — O trem está praticamente vazio.

Era verdade. Havia apenas poucos passageiros. Nos sentamos, enquanto o trem prosseguia a viagem (apesar de não sabermos para onde ele iria.).

— Ufa! — suspirou Percy. — Até que enfim. Próxima parada... Hã... desconhecida.

— Não se preocupe. — disse Annabeth, limpando o sangue de sua coxa. — O mais provável é que esse trem vá parar em outra estação. Lá, a gente escolhe qual caminho seguir.

— Então, podemos descansar um pouco, não é? — murmurou Kayro.

— Claro.

Eu estava me sentindo tão cansado que me ajeitei em meu banco, apoiei minha cabeça em meu braço, e depois de alguns minutos adormeci.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "E Se fosse verdade? 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.