Entre Princesas E Lobos escrita por Rae Lewis, RaeRae


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por todos os comentários no primeiro capítulo. Não achei que tanta gente acompanharia a fic.
Divirtam-se!!



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Tentei encarar a estranha que nos interrompeu. Mesmo no bar sujo, sua silhueta era destacável contra a luz que surgia a partir da porta de entrada. Isso tornava difícil, num primeiro momento, ver todas as suas características.

A menina elfo olhou para ela, e engoliu densamente. Suas mãos se fecharam em torno da tigela, agarrando os poucos doces que sobraram.

"Pode levá-los com você, Brittany." disse a estranha, e sua voz enviou calafrios ao meu estômago. “Santana está esperando por você lá fora.”

A elfa levantou-se, carregando o prato e a caneca com ela, e a mulher estranha tomou seu lugar na cadeira.

Ela se vestia de um jeito exótico, para uma garota. Camisa branca, colete preto, calças escuras e botas surradas, mas combinava com ela. Suas roupas faziam-na parecer perigosa de um jeito excitante.

Ela olhou para mim e percebi o quanto ela era jovem, devia ter a minha idade. Seus cabelos eram escuros e a pele morena clara, seus lábios cheios e o nariz um pouco grande, e ela era tão atraente quanto sua voz sugeria.

Minha boca ficou seca de repente, e me vi lutando contra o desejo de ajustar meu vestido e passar a mão pelos cabelos. Com dificuldade, consegui manter minhas mãos firmemente sobre a mesa.

"Você está fazendo perguntas perigosas, Princesa Quinn."

"Não tenho o hábito de fazer perguntas que eu não precise fazer." eu disse.

E era verdade. Nesse momento mesmo, eu queria perguntar como ela sabia quem sou, mas há uma centena de explicações comuns. Meu rosto é conhecido em praticamente todos os reinos.

"Então questione.” Ela me desafiou. “Responderei com prazer a todas as perguntas que você precise fazer."

Suas palavras eram carregadas com um leve tom de deboche.

"Na floresta," comecei, sem saber como explicar. "havia um lobo. Ele não quis me atacar, e depois a elfa disse que era porque eu tinha um cheiro..."

"Até mesmo os animais têm padrões, querida" ela me interrompeu, "e ninguém quer comer comida podre. Talvez você devesse tomar banho com mais frequência."

"Não.” rolei os olhos para o comentário. “Ela disse que eu cheirava a Ela. Como companheira, e um membro da família."

Seus olhos se arregalaram de surpresa.

"Foram essas as palavras que Brittany, a elfa, usou?"

Acenei com a cabeça.

"Ela disse que era difícil traduzir. Mas sim, isso era o que o lobo queria dizer." ela olhou para baixo, aparentemente se divertindo. "O que isso significa?"

Ela se levantou, deixou a cadeira onde estava, e se moveu para o meu lado. Sua voz era baixa, projetada para sussurrar. Isso pareceu íntimo. E, a esta distância, ela era ainda mais perturbadora.

"É de conhecimento comum que os lobos estão explorando as florestas, a procura de algo."

Essa última parte foi entregue de forma lenta e pesada, como se devesse significar alguma coisa. Concordei com a cabeça, como se estivesse entendendo. Eu esperava poder lembrar o suficiente para dizer aos meus pais e eles decodificarem a mensagem.

"Há boatos também de um castelo feito de gelo, bem ao norte. Está localizado sobre blocos congelados, e foi construído para um Rei Troll. Mas ele perdeu seu coração e o seu reino, dizem os rumores, para uma metamorfo.”

“Você quer dizer a Filha da Lua?"

Suas sobrancelhas levantaram-se, e um pequeno meio sorriso surgiu rapidamente em seu rosto. Ela pegou minha mão na dela, segurando a palma para cima.

Seus dedos traçaram levemente as linhas da minha palma. Tremi no contato. Conseguia sentir o calor irradiando de seu toque, se espalhando pelo meu braço, viajando pelas minhas veias.

Não seja ridícula, repreendi a mim mesma. Romantizar as coisas nunca leva a qualquer lugar bom.

"Muito inteligente, princesa." seu tom era paternalista, zombador, mas havia algum tipo de diversão lá também. "Porém, Ela não é nenhuma ameaça para você."

"E você sabe disso por que...?". Deixei a pergunta pairar, à espera de uma resposta.

Ela apenas sorriu, e retornou o olhar para minha mão.

"Apenas rumores, querida." respondeu, com um encolher de ombros.

Mas não comprei aquilo.

"Deve haver mais razões para sua chegada. Por que agora? E como isso está ligado ao espectro?"

Seu silêncio tornou-se tenso, assim como sua mão sobre a minha.

"Espectro?" seu olhar agora era duro, e seu toque apertava desconfortavelmente. "Alguém viu um espectro por essa região?"

De repente, lembrei-me que não sabia nada sobre esta mulher. Eu não sabia quem ou o que ela era, ou onde estava sua lealdade.

Afinal, ela deu ordens para a elfa do lobo, e o lobo segue à Filha da Lua.

"Você não ouviu os rumores?" eu pedi. "Pensei que eles fossem sua fonte de informação."

Ela engoliu, convulsivamente. Seu olhar estava fixo a meia distância, lábios se movendo em silêncio.

“Conte-me.” Ela pediu.

E eu contei. Não havia porque esconder.

“Minha mãe estava nos jardins, sozinha depois de uma reunião tensa com seus generais.” Comecei. “Ela disse que, de repente, o ar tornou-se frio e a noite mais escura. O vento parecia sussurrar palavras de mau agouro. Ela avistou um vulto estranho próximo a uma das arvores, no começo parecia apenas um cachorro, mas quando a figura começou a se aproximar, minha mãe notou que havia algo errado, seus olhos eram vermelhos como sangue fresco. Ela mal teve tempo de gritar pelos guardas, o espectro se lançou para ela e desapareceu em uma nuvem de areia preta, deixando para trás um cheiro de carne podre. Segundo os magos, minha mãe só sobreviveu porque estava sob um forte encanto de proteção. Por isso ele não conseguiu toca-la.”

"Eu sabia." A estranha murmurou. "Sabia que estava na pista certa." Ela parecia ter esquecido minha mão na dela, mas seus dedos permaneceram na minha palma, imóveis.

Ficamos em silêncio por um minuto, até que me mexi em meu lugar, buscando algo espirituoso para dizer.

O movimento a trouxe de volta à realidade, e ela olhou em volta, de repente cautelosa.

"Se é verdade o que você diz, você deveria agradecer a chegada dos Filhos da Lua."

Sempre me orgulhei da minha capacidade de detectar um mentiroso, e havia algo ali que estava fora de lugar. Em seu olhar talvez, ou no tom de voz. Eu tinha certeza de que não estava ouvindo a história completa, e eu gostaria de pressioná-la sobre isso, obrigá-la a me contar a verdade. Mas então ela se inclinou, pressionando os lábios contra meu ouvido. Ela estava tão perto que seus seios tocavam os meus, suaves e flexíveis. Eu me encontrava tão presa nas emoções despertadas pela proximidade dela, que mal ouvi suas palavras.

"Cuide-se, Princesa."

Ela levantou da cadeira, e cruzou o chão rapidamente. A multidão abriu-se facilmente para ela, como se movidos por mãos invisíveis. Até o momento em que meu cérebro voltou a funcionar, ela havia partido.

Levantei-me às pressas, deixando algumas moedas sobre a mesa para pagar os doces.

Lutei para passar pela multidão, e consegui pegar um vislumbre de seus cabelos desaparecendo ao virar da esquina. Eu corri para alcançá-la, quase frenética em meu desespero.

Quando cheguei à esquina, ela estava lá, encostada contra a parede. Esperando por mim, sobrancelha arqueada.

"Outra questão que você precisa perguntar?"

"Qual o seu nome?" pedi em um fôlego, e me chutei internamente por não soar mais confiante, mais composta, mais no controle. O sorriso que cobriu seu rosto mostrava que ela sabia muito bem o efeito que tinha sobre mim.

Ela se inclinou, com a voz baixa e sensual.

"Receio que essa seja uma resposta que eu não precise dar a você", disse ela, com os lábios a centímetros do meu. Meu coração martelou em meu peito, e meus pés pareciam enraizados no local. "Eu sou uma amiga, isso é tudo que você precisa saber."

E então... ela me beijou. Seus lábios firmes contra os meus, sua mão - por um breve momento - descansando no meu quadril. E, tão de repente quanto começou, o beijo terminou. Mas desta vez, quando meu coração se acalmou, a garota não estava mais à vista.


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