Karina POV

Eu não imaginava nunca ouvir aquilo vindo do Cobra. Primeiro ele quer me tirar da vida dele, depois ele fala que eu sou importante? Eu falei demais na hora que eu disse que queria ficar do lado dele, mas era o que eu sentia. O Cobra não tem direito de me amedrontar para me afastar dele.

– Karina, você não vai falar nada? – Dizia ele coçando a cabeça. Eu nem reparei que ainda o encarava. Seus olhos agora tinham a expressão tão diferente de anteriormente. Pareciam sofridos, como daqueles cachorrinhos abandonados. Eu tinha uma vontade enorme de abraça – lo e dizer que ia ficar tudo bem, mas nem eu sabia se ia mesmo. Estávamos, nós dois, confusos, tristes, sofridos, magoados, machucados. Um com o outro, com os outros de fora.

– Cobra, se eu sou importante pra você, me deixa te ajudar. Me deixa ser sua amiga, te estender a mão. Eu quero fazer isso. E nem venha me dizer que você não merece, que pra mim isso é mentira. Você merece sim. Eu quero retribuir seu carinho comigo. Eu me sinto tão bem quando percebo que tenho alguém pra cuidar de mim. Eu nunca falei isso pra ninguém Cobra, você sabe que eu não sou de abrir meu coração... – Ele sorriu.

– Como eu... – Ele disse. Sim, nós éramos muito parecidos mesmo. Tão parecidos, que éramos dois cabeças ocas que tomávamos atitudes contrárias do que queríamos.

– É... como você! Você me entende Cobra! Eu já falei que a gente não tinha nada a ver, mas eu tava mentindo pra mim mesma! A gente é parecido! – Eu disse. Ele se aproximou de mim, achei que ele ia me abraçar, mas parecia ter medo. Coloquei minha mão em seu braço.

– K, me perdoa de verdade! Obrigado por continuar insistindo em mim. – Ele me abraçou. Ficamos assim, abraçados. Eu sentia o cheiro dele impregnando minhas narinas. Ele era tão bonito, tão cheiroso. Lembrei do quase beijo. – Acho melhor você ir agora né. – Ele disse, e passou o polegar por algumas lágrimas que teimavam em cair.

– Eu vou, mas eu vou voltar viu! – Sorri e ele sorriu de volta. Fui para casa me sentindo mais leve, depois de desabafar com ele.

Cobra POV

A K saiu do QG e eu fechei a porta. Fiquei lembrando do que ela me disse mais cedo sobre eu cuidar dela. Eu queria cuidar mais se possível, mas tinha medo da reação dela. A Karina só gosta de mim como amigo, não posso pensar nela assim.

Deitei no meu quarto improvisado No QG. Aquilo necessitava de uma bela limpeza. Deitei sem me importar muito.

Depois de um tempo de sono, ouvi um barulho estranho e fui correndo ver o que era. Vi Karina ali parada. Como assim? Eu tinha fechado o QG e já era tarde da noite.

– Karina, tudo bem com você? – Perguntei. Ela vestia uma camisola branca, que a deixava sexy. Ela me olhava maliciosa, um olhar que ela nunca me deu. – Karina, é melhor você voltar pra casa. – Eu disse, e ela sorriu. Eu estava sem camisa e sua mão foi até meu peito. Ela ficou unhando levemente e eu fechei meus olhos. – K, para, por favor! – Eu pedia, me descontrolando.

– É o que você quer Cobra? – Dizia ela, com a voz sedutora. – Eu quero você Ricardo! – Ela disse meu nome como se fosse um pecado e mordeu os lábios tentadoramente. Segurei sua cintura e a joguei em cima de uma mesa. Ela começou a rir e se levantou um pouco, beijando meu pescoço.

– Não diga que eu não te avisei. – A agarrei e beijei seu pescoço, enquanto ela gemia. Aquele som era delicioso. Sua mão passeava pelas minhas costas. Parei de beija – la e a olhei - Você é linda Karina! – Eu disse.

Acordei suado no colchão. O que tava acontecendo comigo? Um sonho erótico com a Karina? Aquilo tinha que parar. Ta que ela mexia comigo, mas ela era uma menina. O máximo que eu já pensei era em como seria o beijo dela, mas isso foi muito mais! Me sentei, tentando colocar as idéias no lugar.

Karina POV

Acordei e tomei meu café tranquilamente. Bianca estava na academia. Eu havia mudado meu turno, só lutava de noite. Meu pai estava lá. João devia ta enfurnado na casa de Pedro e Dandara estava organizando algumas coisas na Ribalta, de um tal show que ia ter lá. Saí de casa, pronta para ir para a escola, quando vi Pedro vindo. Bufei. Vi o QG fechado e me preocupei, mas não podia me arriscar a ir lá agora.

– Karina, agora sem o minhoca, a gente pode conversar tranquilamente. – Disse Pedro, como se fossemos amigos e nada tivesse acontecido.

– Pedro eu já falei que... – Eu ia começar a falar, mas ele me cortou.

– Olha Karina, eu aceitei dinheiro da Bianca e não ache que eu fico feliz admitindo isso. Mas eu fiz isso porque era difícil eu conseguir me aproximar de você. Eu já tentava antes, eu sempre fui louco por você, aí, quando a Bianca me propôs, eu vi que era como unir o útil ao agradável, eu nem pensei que um dia você pudesse descobrir. – O encarei, percebendo o quão infantil Pedro era. Ele nem se preocupou comigo, foi um egoísta.

– Pedro, você foi muito egoísta cara. Acho que você pode namorar a Bianca, vocês são iguais. – Saí andando e fui pra escola. No caminho vi duas crianças conversando. Eu sempre peguei ônibus com elas, mas nunca prestei atenção. Era um casal. Uma menina e um menino. Ele era moreninho, me lembrava Cobra. A menina era loirinha, me lembrava a mim mesma. Os dois riam e falavam coisas que eu não conseguia decifrar o que era devido à distância. Sorri ao vê-los.

Cobra POV

Deixei o QG fechado pela manhã. Tomei um banho frio, mas Karina vinha em minha mente. Não só o sonho, ela mesma. Seus olhos, seu sorriso, o quase beijo. Não adiantou nada. Dei uma arrumada no meu cafofo, e abri o QG mais tarde. Vi os alunos indo pra Ribalta, e Jade acenou pra mim, que acenei de volta.

Karina POV

Era de tarde quando cheguei da escola. Vi Cobra no QG e sorri pra ele, que sorriu de volta, mas se virou rapidamente. Achei estranho, mas ignorei. Eu queria era lutar. Entrei na academia e Duca estava lá. Ele se aproximou de mim.

– K, se você quiser lutar depois... – ele sabia que eu estava chateada com ele, por não ter me contado sobre o dinheiro.

– Duca, eu ainda estou chateada com você. – Eu disse. Ele virou, ficando de frente pra mim.

– K, eu não podia revelar pra você essa história! Você iria falar pra mim que minha namorada foi paga pra namorar comigo? Eu te vi feliz! – Ele disse e eu vi que ele era sincero.

– Eu não posso treinar hoje Duca. – Lembrei que disse ao Cobra que voltaria. – Mas eu gosto de você seu besta. – O abracei e ele riu.

– Estou tão feliz K. – Bianca desceu e nos viu abraçados. Ela fechou a cara e se aproximou de nós. – Bom, meninas, vou nessa.

– Depois de tudo que o Duca fez pra mim você ainda continua amiguinha dele Karina? – Bianca estava nervosa. – O Duca se tornou um canalha quando ficou com a japonesa e a Nat. – Ela exalava ódio ao falar sobre Duca.

– Pra mim você foi muito pior que o Duca, Bianca! Mentiu pra mim por meses! Você é egoísta, cruel! Sabe por que você pagou o Pedro? Por medo do Duca cansar de você e ver que eu era boa pra ele. – Na verdade eu só falei aquilo para faze – la se sentir mal. – Você era ciumenta possessiva! O Duca ta certo de não te querer mais! – Eu gritei. Bianca tinha lágrimas nos olhos.

– Eu te odeio Karina! – Berrou ela, e saiu irritada. Fiquei chorando perto da escada. Eu não era de chorar, mas nesses últimos dias eu estava à flor da pele.

Limpei minhas lágrimas, e coloquei minha máscara de durona. Fui até meu pai:

– Pai, vou embora mais cedo ta? Não to me sentindo bem. – Eu disse. Meu pai me olhou preocupado.

– Ta tudo bem filha? – Perguntou. Assenti. – Ok, vai pra casa, descansa. – Ele disse. Mal sabia ele que eu não ia pra casa, até porque lá estava a Bianca, e eu, não queria vê – la nem pintada de ouro.

Cobra POV

Eu não conseguia parar de pensar em Karina e naquele sonho maluco. Vi Karina se aproximar do QG e senti meu corpo se animar. Ah não, por favor, isso não!

– Ei Cobra! – Ouvi a voz de Karina. Fiquei a encarando, lembrando do sonho e o quanto ela era linda e... – Cobra? Ta tudo bem cara? – Ela me perguntou. – Cobra, você ta sentindo alguma coisa? – Ela se aproximou da cadeira e ameaçou colocar a mão no meu ombro, preocupada. Segurei sua mão e levantei rápido.

– Então Karina, eu... eu vou tomar um banho. – Saí correndo. Ela iria embora, com certeza ela iria! Entrei no chuveiro frio, tentando fazer aquele calor passar. A K era a K, só isso. Saí do chuveiro e me enrolei na toalha, torcendo para estar sozinho. Abri a porta devagar e percebi que meu “quarto” estava vazio. Fui seguindo até a cômoda que tinha por lá para pegar minha roupa...

– Cobra aquele filme que você ta vendo é... AHHHH – Karina gritou e eu me assuntei. Esbarrei na cômoda e caí. – Cobra, veste uma roupa! – Ela disse tapando os olhos.

– Esse aqui é o meu quarto! – Eu disse, exasperado. Respirei fundo. – O que você ainda ta fazendo aqui garota? – Eu disse, enquanto me levantava e colocava a toalha no lugar.

– Eu fiquei esperando você sair pra gente conversar. – Ela disse. Tão inocente. Ela destapou os olhos. - Vou deixar você mudar de roupa. – Seus olhos foram para a minha perna. – Cobra, sua perna machucou. Acho que foi na hora que você caiu. – Ela disse se aproximando para ver melhor.

– Karina, por favor. – Eu disse, entre dentes – Não se aproxima. – Eu pedi, quase que suplicando.

– Mas... – ela não tinha percebido o porquê daquilo. Ouvi a porta do QG abrir de novo.

– Vagabundo? – Ouvi a voz de Jade me procurando. Fiz sinal para Karina ficar quieta e ela se escondeu entre as prateleiras do meu quarto. Saí de toalha mesmo. – Hum, sendo recepcionada assim! – Jade disse.

– Jade, eu tava no banho, to cheio de sono, já vou fechar o QG. – Eu disse. Ok, eu tava de toalha na porta do QG! – Jade, vai embora vai. – Pedi e ela me olhou triste.

– Tem certeza? – Assenti e ela falou um “ok” e seguiu. Fechei o QG, enquanto via algumas meninas olhando e rindo. Ri sem graça e fechei a porta.

– Karina, hora de ir! – Eu disse – Eu quero fechar o QG, me arrumar e dormir! – Falei.

– Cobra, a Jade te deixou chateado? – Falou ela. – Eu não me importo de conversar com você.

– Karina, eu to de toalha! – Falei surpreso e rindo! Ela deu de ombros. Sentei na cama e ela sentou na cadeira. – O que você quer que eu fale?

– Não sei. Desabafar quem sabe? – Ela disse, sugestivamente.

– Ta. Eu fui à casa da Jade ontem, mas ela me escondeu quando a mãe dela chegou. Eu me senti mal sabe. Eu nunca fui disso Karina, mas eu não sei, voltou àquela coisa de achar que eu não merecia nada. – Eu falei e Karina me olhava com olhos de piedade.

– Cobra, não fica assim. Você merece tanta coisa boa. Você é um cara legal, pena que você não percebe isso. – Ela disse e eu fiquei com vontade de agarra – la.

– K, eu... eu nunca imaginei ouvir algo assim de alguém. Eu não mereço K. Não mereço que uma pessoa tão especial, sensível, bondosa, pura, ingênua e linda como você me fale isso. – Ela me olhou com espanto. – Karina, você é tudo isso! – Eu disse, sério. Karina levantou da cadeira e ficou em pé. – K, eu falei alguma coisa que você não gostou? – Eu levantei, preocupado. – Eu ferrei tudo né? Eu sou um idiota! – Eu tentava procurar na minha fala algo errado que pudesse te – la magoado.

– Cala a boca Cobra. – Ela disse e eu me assustei. Ela me olhou e se aproximou rapidamente, deixando nossas bocas a poucos centímetros. – Você já falou demais! – Ela sorriu de lado. Sorri ao vê – la me olhar com uma malícia de menina. Primeiro nossos lábios se tocaram. Depois foi minha mão que envolveu sua cintura. O beijo que começou calmo foi se tornando violento. Empurrei Karina para a parede beijando – a com extrema voracidade. Ela nem imaginava o quão louco por isso eu estava. Sua mão escorria pelas minhas costas e às vezes apertavam meus ombros. Karina gemeu meio ao beijo e eu não resisti e comecei a beijar seu pescoço.

– Cobra... para! - Pediu ela, de olhos fechados. – Para Cobra! – Ela falou com um tom mais sério e eu parei a encarando. Ela empurrou meu peito e saiu correndo. O que foi isso Meu Deus!