Infame escrita por Chaotic


Capítulo 1
Rastilho




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O flash se estendeu pelo minúsculo banheiro do recinto.

Incansável, este, por sua vez, não parava.

Foto por foto ia registrando tudo. Sempre a procura de imperfeições, detalhes, pistas... Entretanto, eram fáceis de serem achadas... Paredes, pia, banheira... Tudo se mostrava banhado por um denso e rubro líquido; líquido esse que por muito pouco nausearia até o mais forte e experiente dos marinheiros.

A paisagem, por mais que amedrontadora, era de se tirar o fôlego.

Suas paredes, mesmo que encardidas a ponto de transformar o branco dos azulejos em amarelo, agora apresentavam falhas em bordô. Essas, com seus longos desenhos de espirro, escorriam, tomando um formato poético e bonito em seu caminho ao chão; Chão, que não fugia da temática. Alagado com uma mistura de água sanitária e amônia talvez, convidava a banhar-se. Sua superfície, límpida, refletia a imagem do teto do local. Reproduzia os detalhes fielmente e quase em alta resolução. Sua paz e tranquilidade eram um exemplo a serem seguidos. Todavia, nem todo ele se mantinha calmo. A poucos centímetros da porta, um som ressoava. Uma goteira. Apresentava sua nascente por entre os encanamentos enferrujados da pequena e simpática pia. Os mesmos que se mostravam amassados, como se tivessem sido torcidos, e, talvez por isso, apresentassem falhas por seus redores e sobre elas, brotavam pequenas gotículas que, com o tempo e paciência, iam aglomerando-se resultando na formação de um orbe maior. Quando ocorria o fenômeno, preparavam-se para o Grad Finale e mergulhavam corajosamente ao seu lago da morte. Contudo, não era só a pia e seus encanamentos que ressoavam por lá. A torneira da banheira também tentava chamar atenção. Seus disparos à água eram mais graves, ressoavam de forma a arrepiar qualquer um. Menos aquela que se deitava sobre a larga e espaçosa louça.

Ela não parecia se importar com o estado de sua cama, muito menos com seu odor. Ela apenas permanecia lá, repousada, totalmente relaxada com os braços apoiados das laterais para fora. Sua pele era pálida e tão límpida que por suas mãos era possível visualizar suas veias – agora já mortas –, essas desciam até suas falanges e desbocavam sob suas unhas vermelhas; quase tão vermelhas quanto o interior do lavabo que a guardava.

— Hudson, relatório. ― Pronunciara o detetive ao entrar no local.

Ãh... Emma Green, dezesseis anos... Estuda em Canon City High School...? — Comentou o perito descaindo a câmera fotográfica enquanto lançava lhe um olhar. Assentiu. ― Isso, Canon City...

— Canon City? O que ela está fazendo num motel aqui em Washington?

Não houve uma resposta imediata, o perito apenas voltou o olhar à menina e, em seguida, suspirou.

— Quem fez isso, hein?

O tempo que se era gasto pelo detetive a procura de uma fala movia-se lentamente pelo chão do lavabo, varrendo os poucos ladrilhos que ainda não se encontravam inundados. Antes que houvesse explicações, se ouviu um chamado.

― Carter?

― Parece ser... Hudson, apenas tente achar alguma útil em meio a esse caos. Eu vou ali ver o que nosso cachorrinho de caça achou.

O homem ria ao nutar com a cabeça já posta a olhar pela lente da câmera, acabando por ali a conversa com o detetive que agora saía do cômodo a procura dos chamados. Logo um jovem apareceu dentre a porta do quarto. Seu peito se inchara como quem estaria prestes a emitir outra interjeição, em seus olhos azuis a euforia transbordava e por sua feição, uma mistura de pena e satisfação o socava.

― Winter, rápido. Não sabe o que achei.

― Dollar? ― Disse num tom arrogante, enquanto entrava no quarto. Esse que mal acomodava a cama e o pequeno criado-mudo ao seu lado. ― O que tem para mim?

Com luvas, o loiro erguia um pequeno celular que guardava-se sob o travesseiro surrado que compunha a cama toda desarrumada.

― De quem é isso?

― Acho que de Emma. Aqui, mostra que tem mensagens e ligações perdidas.

― Como sabe?

― Tive um desse aos 17... Era um modelo pra época, até. Aí um dia você acordou de mau humor e jogou naquele córrego perto da escola.

― Eu lembro desse dia. ― Ria ao retirar o telefone de sua mão. ― Vinte e três mensagens não lidas e doze ligações perdidas de pessoas diferentes... As mensagens são todas de... Melissa Key?

― Deve ser a amiga. ― Comentou enquanto tentava ver as mensagens na mão do amigo. ― E pelo visto não prestava. No início da maioria das mensagens tem algo como “esconder” e “não contar”... Coitada, devem ter encontrado o que estava escondendo...

― A última mensagem...

― Hm?...

― A última mensagem recebida foi há dez minutos... “Se souber, vai te matar”... Carter, o que significa tudo isso?

1

― Já sabemos de quem são os números? ― Perguntou recostando-se em sua cadeira.

― Já, sim. ― Confirmou Carter lançando um olhar à prancheta presente em sua mão. ― Um número é de sua mãe, Lindsay Green, e o outro é de Brian Fisher.

― Brian Fisher? ― Questionou dando uma pausa entre os nomes. ― Esse nome me é familiar...

― Por enquanto, só sabemos que era o namorado de Emma.

― Eles estão vindo? ― Apoiava seus cotovelos à mesa.

Carter assentiu.

― Müller está cuidando disso. Devem chegar logo. ― Comentou o loiro encostando-se no carvalho envelhecido.

Já não havia mais muito que fazer a não ser esperar as testemunhas - e aquilo matava Aiden Winter. Paciência nunca havia sido seu ponto forte e também não viraria agora. Aos poucos Aiden ia deteriorando em seu interior, se embaraçando em seus pensamentos e conclusões antecipadas - conclusões essas que em muitas das vezes estavam certas, mas o detetive não ganhava muito mérito por tal. Sem sombra de duvidas, tanto para Winter quanto para Carter, aqueles poucos minutos podiam parecer quase eternos. Mas não por muito tempo.

Sobre a larga mesa de carvalho que compunha parte do escritório de Winter, o chamativo telefone vermelho estilo década de 70 ressoou. Não, definitivamente aquele não era o pertence que o moreno mais gostava. Achava sua cor enjoativa e seu toque extremamente irritante, mas também não o odiava, afinal, dele que vinham as mais diversas notícias – tanto boas quanto ruins, entretanto mais boas do que ruins.

Entusiasmado, Aiden o agarrou como uma criança agarra a um doce e o levou a orelha rapidamente. Juntamente com uma pausa, traz um suspiro profundo e finalmente começa a falar.

― Winter. ― Confirma.

O silencio se reestabeleceu novamente. Aiden parecia prestar muita atenção no que se era dito do outro lado da linha. Balançava a cabeça como se concordasse com tudo.

― Estou a caminho.

O detetive então enganchou o telefone de volta a sua base e soltou outro suspiro, mas acabou sendo interrompido pela risada de seu parceiro.

― Winter... ― Pronunciou Carter. ― Por que sempre faz essa cara quando a Hope te liga?

Desviou o olhar ajeitando os óculos seguidamente. Sempre fazia isso quando ficava sem graça, era a parte em que ganhava tempo para pensar em alguma desculpa. Entretanto, isso não resolve muito quando não se sabe mentir direito.

― N-não sei do que está falando... ― Gaguejou, levantando-se de seu aposento.

Carter sorriu e balançou a cabeça, de modo que sua expressão fosse totalmente irônica.

― Aiden Winter, você é um cara que mente muito mal. ― Brincou.

― E você, Dean Carter, um cara muito ciumento.

― Ciumento?! ― Exclamou o loiro num tom pouco pejorativo.

Mas Winter não se incomodou muito com a indignação do amigo e o deixou pra trás. Ia do principio que “Às vezes Carter pode ser meio irritante, então prefiro ignorá-lo”. Era algo meio frio de se fazer, ainda mais com alguém como Carter, mas não era e nem é o tipo de cara que se importa com isso. Sua vida, como o mesmo dizia, não rodava em torno de suas amizades e, sim, de seu trabalho e, no momento, era isso estava que fazendo.

2

Abafado. Esse era o adjetivo perfeito para o espaçoso elevador de inox no exato momento, entretanto, não era como se realmente estivesse. Já haviam presenciado uma queda de luz dentro da enorme caixa e sabiam melhor do que ninguém que, quando tal entrava em estágio de aquecimento, suas paredes tomavam uma gastura e visual viscoso e de seu pequeno ventilador de refrigeração começava a fugir um cheiro insuportável de cimento com terra, o que não se propagava atualmente, logo, o abafado que tanto Aiden quanto Dean sentiam não seria, nada mais, nada menos, que nervosismo.

Sem muito que fazer, Winter pôs-se a caçar os andares por entre a pequena janela do elevador. Por sua vez, esses não pareciam muito preocupados quanto ao tempo. Iam se sobrepondo com calma e sem muita importância. Já não faltava muito ao subsolo, mas, de qualquer forma, ainda dava para tentar um assunto rápido – só para quebrar um pouco o gelo.

Olhou pelas paredes procurando por um assunto, mas tudo que remetia eram conversas sobre trabalho, trabalho e mais trabalho.

“Talvez eu deva começar a ler aquele livro que Hudson me deu...”

Pensou a procura de inspiração, porém não por muito tempo – infelizmente.

― Como vai o John? ― Perguntou juntando as mãos atrás do corpo.

Definitivamente não estava feliz com o assunto − muito menos confortável − mas havia sido a única coisa que lhe veio em mente, então achou que seria legal investir.

Dean manteve-se quieto por um tempo. Pelo visto aquilo havia o espantado um pouco, afinal, quando que ele achou que iria ouvir tal coisa vinda de Winter? Hudson e Hope talvez. Mas, Aiden, nunca. Todavia, para infelicidade do detetive, Dean não o deixou sem uma resposta.

― Ele vai bem, Aiden. Obrigado pela preocupação. ― Dean respondeu graciosamente a pergunta de seu colega, mas, também não a deixou morrer por ali. ― ... Por que o interesse?

O detetive congelou. “’Por quê?’ Como assim ‘Por quê?’”. Se havia algo pelo qual o moreno não esperava era por aquela pergunta inadequada e constrangedora do loiro. Num ato desesperador, Winter rangeu os dentes a procura de uma resposta, algo que não fosse nem muito rude e nem muito frio, porém, nem as respostas frias e rudes vinham a sua cabeça no momento. Estava em um impasse.

― Aiden, não precisa se esforçar... ― Disse Dean batendo em seu ombro, gentilmente. ― Apenas vamos esquecer isso...

Aiden concordou sem jeito. Parecia até que podia explodir de tanta vergonha.

“Aiden Winter, você é um cara que me surpreende a cada minuto.”

Pensava Dean com um sorriso singelo em seu rosto. Nunca pensou que poderia ver seu amigo daquela forma tão submissa e indefesa, e, sinceramente, não desgostava daquilo, mas pela primeira vez na vida tinha que concordar com o discurso de Winter, não havia tempo para papo, as testemunhas chegariam logo, então seria melhor que se apressassem.

3

Podia até parecer paranoia daqueles que aos outros espalhavam as histórias referentes a tal, mas havia os que alegavam que, por entre as paredes do andar zero, era possível se ouvir as rezingas desesperadas das almas que ali se perdiam de seus corpos... Mas, não era como se Winter acreditasse nisso.

“Os mortos não falam”

Era o que pensava o detetive sempre que pisava aqueles longos corredores por onde tanta história já havia passado. Respeito? Claro. Winter mantinha seu respeito sobre tudo que já acontecera ali, mas, medo? Isso era algo que o próprio taxava como “desnecessário”. Entretanto não era como se a paisagem não amedrontasse.

Como bem era de se notar, no andar subterrâneo as luzes perdiam uma de suas fases, o que resultava em uma iluminação abatida e um tanto que sombria - mais ainda porque muitas delas apresentavam-se com mal contato em sua fonte, fazendo ocorrer por todo o corredor falhas de energia e zumbidos seguidos de pequenos estouros resultando, em algumas das vezes, em pequenos abalos nos grandes lustres enferrujados que compunham a paisagem do teto.

Aiden tomou-se por um calafrio. Não importava quantas vezes descesse a aquele andar, isso sempre se repetiria. Afinal, como não se erriçar em um ambiente com termômetros marcando quase 5°c?

― Frio, Winter? ― Perguntou Carter com um sorriso sugestivo em seu rosto.

― Não, não... ― Retrucou sarcasticamente ao ajeitar o grosso abrigo negro.

Carter soltou uma pequena risada sobre seu amigo. Achava engraçado ver como era fácil enfezá-lo e, muitas vezes, por isso, o irritava de propósito, mas não era tão divertido quanto o natural.

A enorme porta de vidro refinado que barreirava parte do extenso corredor correu aos lados dando passagem aos detetives e fazendo os fios negros de Winter esvoaçarem.

Carter coçou o nariz, suspirando.

― Esse cheiro de novo... Como é enjoativo...

― Você acaba se acostumando com ele, Dean. Ainda mais depois de anos em sua companhia.

Hope, uma das únicas mulheres interessantes do enorme prédio onde trabalham, também conhecida por Gwen – para os mais íntimos – foi quem, pelo ponto de vista de todos, conseguiu derreter o coração de gelo de Winter.

― Hope, o que encontrou? ― Perguntou Winter, curto e grosso enquanto deslocava-se para dentro da espaçosa sala.

― Ah ― ri. –― Bom vê-lo, igualmente. Presumo que não seja um dos melhores dias para o senhor.

Seu sotaque britânico era facilmente notado.

― Não pior que o dessa garota.

Sobre a fria mesa de aço escovado, deitava a adolescente. Calma. Sua pele pálida quase não se sobressaía pelo pano níveo que cobria seu corpo sem vida. Entretanto, essa não parecia estar sucumbida, e ,sim, adormecida. Sonhando. Com a cabeça nas nuvens.

Um barulho. Ambos dos policiais presentes voltaram seus olhares para Hope, aflitos com o ruído. Entretanto não era algo de grande preocupação. Ou melhor, de nenhuma. Como de costume, a moça estava apenas mexendo em sua mesa a procura de luvas para ceder a seus colegas.

― Aqui, senhores. ― Disse estendendo os braços com as luvas. ― Creio que não vão querer sujar as mãozinhas. ― Riu.

Carter arqueou uma de suas sobrancelhas. Pelo visto, não teria achado graça da piada mal formulada da inglesa. Puxou um par de luvas e pôs-se a colocá-las. Sério. Quase que amargo. Ninguém sabia ao certo o porquê, mas essa era a postura que Carter tomava perto de Hope. Havia aqueles que diziam que ele a via como uma rival, mas, de quê? Não havia motivo. Bom, não havia competição ao que todos soubessem.

Gentilmente, Winter pegou o outro par que a legista mantinha sobre mão e esboçou um leve sorriso simpático à mulher – talvez em compensação pelos maus modos de Carter. – e dirigiu se ao lado do colega novamente.

― Será que pelo menos hoje você poderia se esforçar em ser ao menos gentil com ela, Carter? ― Sussurrou Aiden ao loiro de forma abafada para que Hope não o ouvisse.

― Não sei do que está falando, Winter... ― Contestou Carter vestindo as luvas.

Deu-lhe um longo suspiro. Odiava quando Dean tinha seus lapsos infantis e teimosos, mas tentava entender o lado de seu amigo, pelo menos quando se tratava de Hope. Sabia que a mesma já havia se insinuado para John, mesmo que inocentemente, mas teria, então entendia de certa forma a reprovação de Carter para com ela. Mas, isso já fazia tanto tempo...

― Então? O que ela tem de tão especial?

Hope deixou fugir por entre os dentes uma pequena risada abafada.

― Bem, como já lhe adiantei pelo telefone, detetive. Ao realizar alguns de meus exames rotineiros aos corpos que aqui chegam algo me chamou atenção em Emma... ― Expôs Hope alcançando alguns dos papeis que repousavam sobre sua mesa. ― Não me lembro de quando foi que tive um caso desses em minhas mãos pela última vez, se é que já tive, mas---

Carter a interrompeu.

― gestante, hum?...

Hope fitou o detetive dos pés a cabeça e meio sem graça concordou no final.

― Posso dar uma olhada?... ― Carter estendeu o braço dando a mulher de longas madeixas flamejantes um belo sorriso.

Gwen hesitou por um momento. Dentro de seus orbes refletia a imagem dos formosos lábios de Carter cedendo-lhe um amigável sorriso.

“Isso é raro...”

Concluía a mulher trancada em sua própria mente enquanto entregava receosa o diagnóstico a Carter.

Ao lado, erguendo levemente a coluna, visando à ficha que agora se encontrava nas mãos do mais alto, Winter, mesmo que com um pouco de dificuldade, colocava-se a lê-la com atenção juntamente a Carter.

― São mais de quinze facadas no total. ― Comentou a legista levando o fino pano alvo até a virilha da adolescente e apontando aos ferimentos em seguida. ― A maioria delas no hipogástrio e no mesogástrio, acertando o feto já na primeira facada...

Diferente de Carter, que mantinha seus olhos fixos a ficha analisando minuciosamente a mesma, Winter prestava atenção na explicação de Hope pegando cada detalhe dos ferimentos da jovem com suas vistas.

Outro calafrio. Aiden estremeceu-se da ponta de sua coluna até a nuca erriçando todos os pelos de seu corpo, dando em seguida um olhar assustado à jovem.

― Os mortos lhe assustam, Aiden?... ― Perguntou a mulher em tom doce, porém insinuante.

O detetive fechou as pálpebras soltando um longo suspiro.

― Os mortos não mentem, Hope... E muito menos machucam... Acho que essa é a melhor prova de que há paz em alguma etapa da vida...

Outra risada abafada.

― Belas palavras, detetive. Entretanto como o senhor bem deve saber, o mundo não se faz apenas com palavras bonitas...

― É... ― Riu. ― Eu sei...

4

A noite caíra, regressando em todos lá presente a euforia de finais atrás. Naquele momento o trabalho teria de esperar. Pela pequena TV de tubo que era deixada a disposição dos policiais, uma vinheta muito conhecida corria por entre a tela. Eram as Finais de Baseball.

― Podem pegar o football de vocês e irem se foder, aqui em Washington nós gostamos de jogos de verdade! – disse um dos policiais rindo, acompanhado de outros.

Todos não se aguentavam parados. Fosse com leves balanços de perna ou caminhadas nervosas, todos iam se preparando para o grande jogo.

Naquela noite jogava o favorito da casa – Washington Nationals — contra o experiente Red Sox. Todos já sabiam como o placar acabaria e até com quem acabaria talvez, mas preferiam se deixar levar pelo momento. Pensar no futuro não favorecia em nada, então era melhor deixar a sorte tomar conta dessa vez.

Pela tela, ia se ofuscando a imagem dos jogadores do time da casa tornando ao campo. Era difícil lembrar a última final que haviam participado de algo assim – sim, eles não eram os melhores, mas eram os favoritos e para todos dali isso que importava.

O primeiro turno começa deixando todos inquietos. Para infelicidade de alguns, Nationals começou rebatendo. O lançador dos Red Sox pôs-se em campo. Confiante, o mesmo não via a hora de arremessar. Ao sinal, contorceu-se lançando a pequena esfera branca ao final. Strike 1.

― Hoje tinha jogo?...

― Ah! Detetive Carter! Veio se juntar a nós?

Riu, sem graça.

― Já sabemos como o jogo termina, assim não tem graça.

― De fato. Mas vale a pena investir quando se trata do Washington Nationals, não? ― Sorriu Carl.

Dean pareceu convencido pelo velho - E quando digo “velho”, digo velho mesmo. - Carl era daqueles que tinham como plano de vida morrer trabalhando. Não se importava com suas olheiras fundas e cabelos calvos, como o mesmo dizia, isso não o impede de exercer sua profissão, por mais que às vezes Carter achasse que o velho Carl deveria se afastar daquela vida e pelo menos ir para perto dos filhos morrer em paz.

― Já fizemos algum ponto? ― Perguntou Carter cruzando os braços.

― Ainda não, mas fa---

Strike 3! Você está fora!

― ...Tá. Talvez demore um pouco. Mas tenho bom pressentimento. ― Concluía, esperançoso.

Soltando outra risada simpática, o detetive assentiu. Talvez Carl estivesse certo. Poderiam não estar ganhando naquela hora, mas quem sabe eles não virassem o jogo?

O jogo continuou e não muito diferente de como havia começado, W. N. ainda se arrastava pelo placar visando à vitória.

Carter suspirou. Não gostava de ver os jogos. Não por tédio, por aflição. Ver o time ser campeão não só da costa leste, mas, sim, de uma liga daquelas sempre fora o sonho de muitos garotos, e mesmo que crescido e a procura de construir uma família, essa ainda continuava sendo umas das coisas que Dean se rasgaria pra ver antes de morrer.

― Dean, vamos...

5

― Sabe quem é?

― Infelizmente, sei. ― Assegurou Winter ao olhar pela janela.

― Achei que não precisasse de ajuda para lidar com o Fisher...

― Achei que já soubesse que Washington Nationals vai perder como sempre.

― Não seja infantil, Aiden...

―Não sou. Agora vamos, Carter... Temos muito o que fazer.

Carter concordou e, como o moreno, lançou um olhar a Brian Fisher, que “relaxava” sobre a conhecida cadeira de interrogatório. O adolescente transbordava nervosismo.

Juntamente com um rangido, pode-se ver a pesada porta que selava a sala se abrir, deixando fugir para dentro feixes de luz. Brian contraiu-se assustado, ainda mantendo seu olhar a cadeira posta em sua frente.

― Olá, Brian. Quanto tempo. ― Saldou Winter deslocando-se para dentrocom tranquilidade. ― Quero dizer, você não apareceu mais em nenhum de meus casos.

Brian mantinha-se paralisado, batendo apenas os pés no chão.

Apenas sinalizando para Carter entrar, Winter sentava-se sobre a cadeira que tanto amava com rancor e amargura.

― P-pode fechar a cortina? ― Gaguejou o rapaz.

― Por quê, Brian? Está com vergonha de te verem aqui sendo o que você é de verdade? Um filho da puta de um meliantezinho de merda?

Carter torcia o nariz ao ouvir os vocábulos do moreno. Como sempre, só queria que tudo aquilo acabasse. Cerrou a porta fazendo a luz oscilar sob o lustre enferrujado que caía não muito distante de Brian.

― Eu não tenho nada a ver com isso, véi... ― Ressentiu o moleque.

Seus olhos estavam totalmente abertos, dando a impressão de que saltariam para fora. Uma gota de suor escorria por sua testa, deslizando pelo nariz, passando em fim, pelo piercing que Winter tanto detestava.

― É? Então por que a polícia te pegou pulando a janela do seu próprio apartamento?

― E-eu---!

― Estava tentando fugir?

― N-nã---!

― Pular a janela parece fugir para mim, não acha, Carter?

― Acho. ― Concordou, sentando- se à mesa.

Desesperado, encarava os dois, nervoso. Respirava pela boca entreaberta. Suas pernas sacolejavam, fazendo a água do copo que repousava sobre a mesa ao seu lado tremelear. Seu rosto mostrava-se tingido por um vermelho profundo. Pelo visto ele já não tinha mais o que pensar.

― O gato comeu a sua língua? ― Sorriu. ― Vamos, Brian. Poupe-me dessa conversa. Por que fugir quando não se tem nada a ver com isso, não é mesmo?

O garoto pegou o copo d’água dando um gole em seguida.

― P-pode fechar a cortina? ― Repetiu.

Winter já estava sem paciência.

― Carter. Fecha a porra das persianas para essa merda parar de me fazer de otário.

O chão então foi riscado pelo movimento da cadeira. Carter levantou-se e concedendo o desejo do amigo, baixou as persianas, dando adeus ao reflexo que os vidros produziam. Fisher sabia que o insulfilm, por mais que, espelhado do lado de dentro – o que impossibilitava ver o corredor da delegacia – tinha outra face no exterior da sala, pois permitia a visão do interrogatório. Isso o inibia.

― Melhor, Madame? Ou quer que eu substitua essa sua água de torneira por um champagne também? ― Rosnava Aiden, pelos dentes.

Brian negou, com a cabeça levemente abaixada.

Foi então que houve um barulho. Ambos, tanto interrogador quanto interrogado, lançaram um olhar de canto de olho a Dean. Ele, por sua vez, estava apenas a pegar as pastas do caso que se encontravam no fundo do ordenador presente dentro de uma das demais gavetas que compunham a estante.

Winter estendeu a mão recebendo um envelope de seu parceiro.

― Brian, você sabe que eu te odeio e odeio ter sua presença perto de mim, não sabe? ― Disse enquanto abria o envelope de papel pardo presente em suas mãos. ― Então, por que não assume logo que foi quem fez isso? Garanto que nós dois sairemos ganhando. Eu por não ter mais que olhar pra sua cara, você, por não ter mais que olhar para minha. O que me diz?

Outro gole foi dado e agora quem começava a ficar vermelho era Winter. Já estava em seu limite. Nunca havia sido bom pra lidar com crianças e esboçava isso a cada dia que se passava.

― Brian... ― Interviu Carter tomando o envelope de seu colega. ― Não estamos afirmando que foi você... Só queremos saber... Sabe quem fez isso?

Ansiou. Brian pareceu se atordoar ao ver algumas das fotos, fazendo com que Carter lançasse sobre Winter um olhar nervoso e aflito.

Agora ,sim, o moreno estava puto.

― Se lembra, Brian? ― Aiden jogava as fotos sobre o adolescente com azedume.

― E-eu não fiz isso!

― Tem certeza, Brian? Tem certeza de que não fez isso? De que não pegou a faca e a estropiou toda?

Suas pernas pararam de se movimentar.

― Não queria que ela tivesse o filho, não é? O seu filho. Por isso a matou a sangue frio... Por quê, Brian? Por quê?

― Quero o meu advogado.

6

― Acha que foi ele?

― Eu não sei... Mas ele tem algo que me tira do sério...

O pequeno gabinete era preenchido passivelmente pelos três homens. Cada um ocupando um polo do mesmo.

― Fisher sempre se safou das acusações feitas contra ele, por isso Aiden nunca conseguiu pegá-lo... ― Explicava Dean à Hudson.

― Posse de droga, roubo de banco a mão armada e agora suspeita de assassinato. ― Citava o detetive, virando-se a eles. ― Se não fosse aquela advogada de merda...

― Tão merda que conseguiu livrar aquele moleque das grades. ― Hudson sacaneou.

Aiden lamentava a idiotice do perito com pequenas negações.

Sua mente parecia até explodir. Removendo o par de óculos, voltou-se ao quadro branco novamente, forçando a vista para enxergar. Havia somente quatro fotos: da vítima – Emma Green; da amiga – Melissa Key; da mãe – Lindsay Green e de Brian Fisher. Setas ligavam os suspeitos à vítima.

À” vítima?...


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Notas finais do capítulo

Então é isso! O que acharam? Aguardaremos muito ansiosas para receber as suas críticas e melhorarmos cada vez mais! Comentários nos fazem felizes e nos incentiva a continuar com mais gás e arco-íris~ (=^w^=)/ Obrigada pela atenção e até o próximo capítulo!



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