O Garoto Que Casou Com a Noite escrita por Alle Espindula


Capítulo 2
Capítulo 2 - A Lua


Notas iniciais do capítulo

Os meus conflitos internos ficavam piores, eu poderia tomar uma decisão impulsiva e viver ao seu lado pra sempre, com chances de viver um conto de fadas, ou simplesmente viver na vida real e as coisas dão extremamente erradas,



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/562407/chapter/2

Quando ele saiu do banheiro de toalha notou que eu estava com sua camisa listrada preta e branca e riu.


– Você vai mesmo roubar ela de mim? - Ele disse rindo.


– Com toda certeza! - Rindo também.


Ele vestiu a roupa e saimos para onde ele trabalhava. Ele trabalhava como adestrador de cães, e geralmente era em domicílio, então eu poderia passar o dia inteiro com ele indo pra cima e pra baixo na grande São Paulo.


Logo chegou a hora do almoço, e ele perguntou onde eu queria almoçar, nunca tive muita iniciativa pra escolher essas coisas, sempre disse ''tanto faz'', mas dessa vez as coisas deveriam mudar não?


– Vamos no Yan Ping? - Perguntei esperançoso.


– Claro! - Ele respondeu sorridente.


Comida japonesa/chinesa são minhas preferidas e consequentemente dele também, então por que não unir o útil ao agradável?


Por várias vezes durante o almoço trocavamos olhares, um tentando ser discreto com o outro, mas terminava que era uma cena boba, ambos tentando se encarar mas sem coragem pra fazer isso. Almoçamos e voltamos pro hotel onde eu estava hospedado.


– Você não vai voltar pra casa? - Perguntei.


– Você quer que eu vá? - Ele retrucou.


– Não, eu não quero, fique comigo o tempo que quiser! - Respondi sem graça.


– É que a situação na minha casa está meio complicada, meu pai anda brigando muito comigo ultimamente... quando acordei ele me chamou de travesti por fazer cosplay, assim, eu pago minhas contas, não devo nada a ninguém, não uso drogas e sou o filho mais velho, custava um pouco de carinho? - Ele desabafou.


– Te entendo, mas por que você não sai de casa? - Perguntei infeliz.


– Eu simplesmente gosto do ambiente que vivo, só meu pai que estraga alguns momentos felizes dentro de casa sabe? - Respondeu.


– Mas ele sabe que... você gosta de meninos também? - Perguntei olhando em seus olhos - Talvez se ele soubesse ele não te trataria melhor? - Terminei.


– Acho que não sabe? Minha família é extremamente religiosa e provavelmente vai contra qualquer princípio homossexual, tenho medo de que minha Mãe fique mal com isso... - Ele falou olhando pra baixo.


À cada pergunta que eu fazia eu notava que ele ficava mais triste e mais choroso, eu não queria isso, queria uma semana feliz, divertida e amorosa.


– Você quer assistir um filme? - Perguntei esperançoso.


– Vamos, realmente preciso disso... - Ele disse tentando sorrir.


– Vamos lá, mas qual filme? Clube de Geografia está em cartaz, vamos ver? - Perguntei.


– Claro, sem problema, eu ví esse trailer, estou até animado. - Acho que consegui finalmente me livrar da melancolia dele.


Fomos até o Iguatemi, no centro da cidade, compramos os ingressos e a pipoca e fomos para a sala de cinema. Quando o filme começou eu estava tremendo de frio, minha mania de andar de bermuda não é inteligente, ainda mais no cinema, coloquei os pés por cima da poltrona e abracei meus joelhos na esperança de algum calor mas, não adiantou de nada, quando ele notou que eu estava com frio ele me abraçou, eu preferia ter passado frio, fiquei morto de vergonha, eu tinha medo de me apegar demais, de ser meloso.


Quando acabamos de assistir o filme, eu estava chorando, por que sou muito sentimental e o final foi realmente emocionante, eu realmente não queria que ele notasse que eu chorei, não sei por que, isso é uma besteira mas, pra mim seria muito.


– Você... vai vir comigo pro Hotel hoje? - Perguntei à ele.


– Acho melhor não, passei o fim de semana todo fora, minha mãe deve precisar de mim sabe? - Ele respondeu.


''O QUE EU FIZ'' comecei a rever novamente o que eu fiz ou disse, e nada, talvez ele só precisasse realmente checar as coisas dentro de casa.


– Entendo, então, boa noite! - Cumprimentei ele e sai andando em direção à frente do shopping pra pegar um taxi.


– Bo... - Ele não teve chance de terminar.


Eu realmente fui rápido, eu por algum motivo estava chorando e quase correndo, não resisti e dei uma olhada meio pro cima do ombro pra ver o que ele estava fazendo, ele estava lá, parado me assistindo ir embora sem nem falar com ele direito, por ele ser forte, eu consegui notar que ele desanimou, ele abaixou os ombros e saiu andando na direção oposta.


Eu voltei pro meu quarto de hotel chorando, tentando descobrir o por que eu estava chorando e por que eu fiz essa cena toda, mas no fundo eu sabia o que estava acontecendo, em uma semana todo esse sonho iria acabar e provavelmente eu seria só mais um pra ele, ou ... é, só mais um.


Meu celular tocou e eu me assustei fui olhar quem era, era ele, ele estava me ligando provavelmente pra saber o que aconteceu... ''Não vou atender'' pensei, mas, eu queria realmente ouvir sua voz...


– Alô? - Eu perguntei esperançoso.


– Er.. oi, sou eu.. - Ele respondeu.


– É eu sei... - Falei.


– Eu fiz ou falei alguma coisa que te deixou mal? Por que se fiz me desculpa... - Ele foi fofo fazendo isso.


– Não cara, não foi nada, pra falar a verdade eu estava indo dormir... - Falei de forma evasiva.


– Ah... entendo eu não queria te incomodar, desculpa... boa noite... - Ele falou meio triste.


– Boa. - E desliguei.


Quando a ligação finalmente acabou eu agarrei o travesseiro do hotel tão forte e comecei a chorar, eu estava completamente apaixonado por ele? o que era isso que estava acontecendo comigo? Nem mesmo eu tinha a resposta ainda...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!