Incompatibilidade escrita por Cupcake Purpurinado, Cupcake Saltitante, Cupcake da C4llie, Cupcake Noiado


Capítulo 2
Capítulo 1




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POV Kate:

Assustei-me por ter sido recebida daquela forma e Lanie apontou para nossa nova casa, cheia de caixas no local onde estará sendo construída uma piscina para nosso aniversário de dezessete anos – e já que fazemos nascemos com pouquíssimos dias de diferença, começamos a fazer as festas juntas – e então esta mulher ruiva caminhou até lá, segurando-me pelo braço e tocou a campainha.

Mamãe atendeu rapidamente, olhando para ela e depois para mim, sem entender muita coisa. Porém, quando ela olhou nos olhos da moça que me segurava, um sorriso brotou em seu rosto e as duas se abraçaram, rindo juntas.

Olhei para o outro lado da rua, de onde Lanie vinha caminhando lentamente, parando ao meu lado. Sua expressão era tão confusa quanto a minha e as duas conversaram sobre como era bom estarem morando na mesma rua, poucos metros de distância entre elas.

– Katie, esta é Martha – ela disse – Nós estudamos juntas no colégio.

Assenti e ela chamou os dois meninos, beijando as bochechas de cada um, já que eles são bem mais altos do que ela. Olhei para o de olhos azuis – o que era filho de Martha mesmo – e ele sorriu para mim enquanto nossas mães nos apresentavam, contentes por termos as mesmas aulas e nos mesmos horários.

E então Martha nos convidou para um almoço na casa dela, comemorando a nova descoberta. Mamãe assentiu e pediu que ela esperasse pouco tempo porque ela ia retirar as roupas cheias de poeira e fuligem. Depois, entrou, tanto comigo, tanto com Lanie.

Nós três subimos as escadas e cada uma foi para o seu quarto. Não me aprontei de imediato, fiquei olhando pela janela, vendo os dois meninos sentados em nosso quintal, brincando com as pedrinhas. Balancei a cabeça e retirei a blusa da escola, colocando uma branca com uma mandala vermelha no centro. Fiquei com as calças e com o mesmo tênis. Meus cabelos não tinham mais jeito, por isso nem toquei neles.

Lanie também só havia trocado a blusa, a com estampa de um coração batendo. Nunca entendi o real motivo daquela blusa, mas ela gosta tanto que deixei de me preocupar. Mamãe foi a que mais demorou, e quando saiu, estava impecável. Seus cabelos escuros caíam pelos ombros e ela não estava de saia até os joelhos e nem de calça. O vestido que ela usava era pouco acima dos joelhos e era de estampa floral.

Os olhos dela eram quase da mesma tonalidade dos meus, e ela estava tão bonita! Eu queria poder ser igual a ela, mas sei que isso nunca vai acontecer. Chego a me sentir mal por saber que nunca vou conseguir ser tão perfeita quanto ela é.

Nós descemos as escadas e eu sinto meu celular vibrar no bolso. É uma mensagem de papai, dizendo que mamãe foi liberada do trabalho hoje e que logo ele também estaria em casa. Cutuquei-a e mostrei a mensagem. Ele pediu para eu avisar a ele que estávamos na casa dos vizinhos da frente.

(...)

A comida foi servida, e nem lá em casa, onde toda refeição é um banquete, havia tanta comida assim. Lanie não quis pegar antes dos anfitriões e devo admitir que me senti uma mulher na Londres Vitoriana, pois havia vários empregados de pé, prontos para servir mais alguma coisa. Eu estava sentada ao lado de Lanie, e ela ficava me olhando discretamente, com a pele empalidecida.

– Há algum problema? – perguntou a mãe dos dois meninos para nós.

– Elas não estão acostumadas com tanta atenção na hora de comer – mamãe explica – Nós não temos empregados nos vigiando enquanto comemos.

A mãe dos dois expulsa os empregados e manda que façam sobremesas variadas. Lanie olha para mim boquiaberta. Quase como se estivesse dizendo “que desperdício”. Sorrio para ela e assinto discretamente, mas sei que o menino de olhos azuis me viu fazendo isso.

POV Rick:

Meus olhos estão grudados nela desde que ela me desafiou na porta da sala de História Mundial. Sinto que ela é aquela menina que não tem medo de ser confrontada, mas faz de tudo para ser ignorada pela passagem escolar.

Ela assente e sorri para a irmã-postiça, e eu continuo observando. Elas agem como damas, e são ricas, pelo contrário, não estariam morando aqui. Pelo o que eu sei, a mãe delas é uma advogada famosa, assim como o seu marido, que não está presente.

– Aonde se meteu Jim? – perguntou minha mãe, com uma dose de Martini nas mãos.

– Ah, ele está no trabalho, mas já está vindo – a mãe das meninas responde, bebendo suco.

Às vezes eu queria que mamãe fosse um pouco mais simples. Com menos álcool no sangue e menos desejo de popularidade na cabeça, porque só então eu e Javi teríamos uma vida de adolescentes normais.

E então tem o assunto do meu pai. Eu nunca o conheci. Mamãe me disse que foi um caso de uma só noite, mas há dias que eu consigo escutá-la conversando com um homem, dizendo que ele precisa voltar para casa porque “os meninos precisam dele”. De verdade? Acho que estou bem melhor sem ele. Aprendi a cuidar de mim mesmo, e sei que quando sair da escola, a primeira coisa que eu vou fazer vai ser desaparecer do mapa, vou fugir de família.

Nunca quis ter filhos e nunca vou querer. Não me meto em relacionamentos, acho bobalhada. Não preciso de uma mulher que fique me atazanando para fazer isso, fazer aquilo. Mas Javi acha que é bom para um homem ter uma mulher a quem possuir, não exatamente possuir, mas não me lembro do que ele falou. E, por esse motivo, ele ainda é virgem.

– E você, querida? – mamãe perguntou, olhando para a menina de olhos verdes, a que me desafiou, Katherine.

– Hm? – ela emitiu enquanto engolia o suco – O que tem eu?

– Há pretendentes na fila de namoros? – ela perguntou, dando um gole em seu Martini.

A mãe delas riu e negou com a cabeça, dizendo que nenhuma das duas estava namorando e que, até onde ela sabia, não havia nenhum pretendente. E, além do mais, que tipo de menina conta todas as coisas que acontecem com ela para a mãe? O resto do almoço foi normal. Tirando o fato que o pai delas não apareceu.

POV Lanie:

Achei estranho o tio Jim não aparecer para o almoço, mas não comentei nada com Kate ou com a tia Johanna. Ele devia estar preso no trânsito e por isso não havia chegado ainda. Kate subiu as escadas rapidamente e entrou em seu quarto, pegando outro livro para ler. Desta vez, era um clássico: O Morro dos Ventos Uivantes.

Sempre quis ser que nem ela, culta, cheia de paixões e talentosa. Tudo o que ela quisesse fazer, conseguia, e sempre invejei essa capacidade. Ela se encolheu na poltrona com estampa animal e abriu o livro. Vi seus olhos verdes acompanhando as linhas do livro e sorri, entrando no quarto. Perguntei a ela qual livro ela me recomendava, e então ela largou o livro que tinha em mãos sobre a poltrona e se ajoelhou comigo na frente da estante lotada de títulos.

Passei a mão por cada um, e então ela me perguntou qual gênero eu queria. Dei de ombros, porque só queria afastar a minha cabeça dos problemas que a vida havia nos soprado. Ela riu e retirou um livro com capa de couro, estendendo-o a mim. Nós duas já havíamos rido, chorado e nos apaixonado pela adaptação deste livro, mas eu nunca havia perguntado se ela já tinha lido. Agora, eu sabia. E o couro vermelho em minhas mãos começava a me dar certo conforto, porque eu conhecia todas as suas falas. O que eu tinha em mãos era o que mais mostrava nossa relação com os nossos novos vizinhos: Pride & Prejudice*.

Ela voltou à poltrona, encolhendo-se novamente, somente com os olhos verdes vidrados nas palavras aparecendo. Encostei-me à cama dela, abrindo o livro. Nunca fui muito de ler, mas acho que a literatura poderá nos aproximar mais um pouco. Olhei para os dois primeiros parágrafos, escritos em letra cursiva, demorando-me um pouco nestas palavras.

“É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro e muito rico precisa de uma esposa. Por menos conhecidos que sejam os sentimentos ou as ideias de tal homem ao entrar pela primeira vez em certo lugarejo, tal verdade está tão bem arraigada na mente das famílias que o rodeiam, que ele vem a ser considerado propriedade legítima de uma ou outra de suas filhas.”

Continuei lendo, sentindo uma necessidade de saber tudo sobre aquele livro, apesar de já termos visto sua adaptação. Kate me chamou e eu fechei o livro, olhando para os olhos verdes que tanto admiro.

– O filme é quase uma cópia do livro – ela diz – Não precisa se sentir pressionada em devolvê-lo rápido.

Eu sorri, assentindo. Quando voltamos a ler, ouvimos um grito vindo lá de baixo. Kate se levantou rapidamente, largando o livro no chão. Fiz o mesmo e nós vimos tia Johanna ajoelhada no chão com o rosto entre as mãos. Seus choramingos eram altos e Kate desceu as escadas correndo, ajudando-a a se levantar. Fui atrás dela, abraçando tia Johanna pelo outro lado, e nós vimos pelo rosto do policial que estava à nossa porta que não havia sido algo muito legal.

POV Javi:

Eu estava na janela do meu quarto quando vi o homem fardado na frente da casa das meninas. Surpreendi-me por aquilo, mas não liguei muito, apesar de continuar observando para ver o que iria acontecer. Quando a mãe delas abriu a porta, caindo ao chão e as duas apareceram para ampará-la, quis correr e ajuda-las também, mas continuei no quarto.

Rick estava dormindo, e eu não queria acordá-lo, por isso fiquei quieto. Não desci, por achar que aquilo seria muito pessoal e não falei com Rick porque ele iria me jogar da janela se eu o fizesse.

Abri a janela e sentei-me no parapeito, vendo o desespero das três. As meninas estavam confusas ao ver o tremendo chororô da mãe delas, gritando e chorando por ajuda, querendo sair atrás do policial. Finalmente ela cessou, beijando a cabeça de cada uma e pegando um carro. A última coisa que vi foi quando o carro desapareceu pela rua.

(...)

Coloquei minha roupa de ginástica e comecei a correr pela rua, sem saber muito bem para onde eu estava indo, mas desta vez, eu poderia ir ao meu ritmo. Meus pés faziam barulho no solo molhado e quando vi que estava começando a ficar cansado, voltei, num ritmo mais lento. Assim que pisei em casa, Martha me abraçou com força e beijou minha cabeça, dizendo que estava preocupadíssima com o meu sumiço.

Rick desceu as escadas, se espreguiçando. O jantar estava na mesa, e pela primeira vez, também me senti um pouco incomodado com a presença continua dos empregados. Não iríamos querer mais comida, porque o que estava na mesa é mais do que o suficiente, mas não digo nada.

POV Kate:

Quando chegamos ao hospital, um policial nos guia até um quarto, onde vejo papai deitado numa cama, com os olhos fechados. Mas ele ainda respira. Abraço minha mãe e beijo sua testa, dizendo que papai vai ficar bom e que isso é só um susto. Quando o médico autoriza a visita, nós três entramos de uma só vez e mamãe toca os lábios dele com os seus.

Desde pequena, nunca vi os dois se beijando publicamente, e nem na minha frente eles gostavam de fazer isso – acho que deviam pensar que despertaria algum tipo de “sexualidade” –, mas sempre achei a paixão dos dois uma coisa muito bonita que eu gostaria de seguir.

Os olhos de papai tremeram e mamãe segurou as mãos dele com as suas, olhando para os olhos dele – ainda fechados – que tremiam. Aproximei-me da cama junto com Lanie, segurando sua mão. E foi quando papai abriu os olhos, sorrindo para a minha mãe. Quando seus olhos aterrissaram em mim, seu sorriso aumentou. Depois, ele disse:

– O que aconteceu?

Mamãe explicou a ele que enquanto estava voltando para o almoço depois de ser dispensado naquele dia, ele sofreu um acidente de carro porque um maluco vindo na contramão, e ainda por cima, bêbado, havia se chocado contra o carro dele. Ele assentiu e perguntou quando poderia voltar para casa.

Nós rimos e uma enfermeira entrou no quarto, e então ele perguntou a mesma coisa. A mulher disse que no dia seguinte nós poderíamos voltar para buscá-lo. Mamãe disse que ficaria de acompanhante, mas papai se recusou, dizendo que nós precisávamos dela mais do que ele, e então, fomos para casa.

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* - Pride and Prejudice; aka Orgulho e Preconceito.


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Notas finais do capítulo

Comentem! =)



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