O Relato de uma Deusa escrita por sayuri1468


Capítulo 1
Capítulo 1




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Ah, o amor! Tão insensato e indescritível. Você nem nota quando começa, mas quando percebe, já está no fundo do poço. Não que isso seja ruim, na maioria das vezes, esse fundo do poço é cheio de luz, borboletas e cânticos angelicais. Como eu sei disso? Simples, sou eu que combino os casais! Alguns me chamam de Cupido, outros de Afrodite, Venus ou Eros; seja como for, eu sou a criatura responsável pelo amor.

Há algum tempo, tentei plantar uma semente de amor verdadeiro. No começo, pensei que eram duas pessoas totalmente improváveis de se apaixonarem. Bom, ao menos uma era improvável: Sherlock Holmes.

Confesso que não acreditei, quando minha irmã Atena, me contou sobre ele. Um homem inteligente o suficiente para não se apaixonar. Encarei aquilo como um desafio, e vim pessoalmente a Londres plantar a semente. O único desafio que encontrei foi: por quem ele se apaixonaria?

Ora, aquele homem difícil e de temperamento estranho, não havia ninguém que se importasse o suficiente! Uma semana seguindo ele por ai, e não vi nenhuma solução para que meu plano desse certo! Apenas horas dele deitado no sofá, tocando violino ou dissecando alguma parte de um corpo na cozinha. Estava quase me dando por vencida, quando naquele dia, a porta se abriu. Uma moça, ordinária, no sentido que toda a palavra engloba, entrou naquele flat. Eu pulei de alegria! O jeito tímido, a bondade estampada naquele sorriso, a aparência comum. Ela era o que eu estava procurando! Quem poderia ser mais perfeita para o grande Sherlock Holmes, do que uma pessoa extremamente comum?

- São só esses?! - ela perguntava enquanto depositava algumas sacolas na mesa.

- Sim, Molly! Obrigado! - ele respondeu, sem tirar o olho do corpo que estava dissecando.

- Bom, vou indo então! - informou.

Eu não podia deixa-la ir. Eu não sabia quando ela voltaria, e eu precisava plantar minha semente, e uma semente de amor tem de ser plantada no momento certo. Uma atitude precisava ser tomada. Mas, mais uma vez, o destino veio a meu favor.

- Quer jantar? - ele perguntou, colocando os instrumentos que usava de lado e retirando as luvas.

- Agora?! - ela rebateu.

Ora, claro que era agora! A timidez dessa garota fazia ela agir de maneira bem estúpida!

- Sim, agora! - ele confirmou, enquanto pegava o casaco.

- Está bem!

Perfeito! Os dois saíram, e eu fui atrás! Eles iriam jantar, e então, em algum momento, eu poderia plantar minha semente. Afinal, momentos românticos sempre acontecem em um jantar!

Por um instante, pensei que estava tudo resolvido, e que minha missão até que seria fácil. Quão enganada eu estava! Pensei que jantariam em um restaurante, mas comeram em uma van de cachorro quente! Tudo bem, pensei! Dá pra tirar algo romântico disso! Era só esperar!

- Tem feito progressos?! - ela perguntou, enquanto comia um pedaço do seu cachorro quente.

- Bastante! Monitorar a mudança da coloração da pele, em caso de envenenamento com arsênico, tem sido bem divertido!

- Chegou um corpo novo hoje, talvez você se interesse!

- Qual foi a causa!

- Soda Caustica!

- Ingestão?

- Não, colocaram o corpo em uma banheira cheia de soda caustica! Estou tendo trabalho pra fazer a recomposição!

- Fantástico! - ele pareceu realmente empolgado - Está disponível?!

- Amanhã passa lá! Vou mexer nele! Talvez você possa me ajudar!

- Como está o rosto?

- Derretido! Completamente!

Tédio!!! Como posso plantar minha semente com uma conversa dessas?! Dele eu já esperava, mas e ela?! Por que não falar do Luar? De como ele está bonito essa noite?! Eu via a possibilidade de química, só precisava do incentivo! Só uma fagulha, para poder transformar em chamas! Ela gostava dele, isso era claro pra mim!

Fiquei na esperança de que a conversa mudasse de rumo, mas isso não aconteceu. Pelo contrário, foi tornando um rumo cada vez mais macabro e nojento. Quando menos percebi, eles estavam falando da diferença entre cérebros de humanos e de animais. Realmente, como uma semente do amor poderia ser plantada desse jeito?

Minhas esperanças ressurgiram quando ele se ofereceu para acompanhá-la em casa. Ótimo, pensei! Na hora da despedida, seria o momento ideal para plantar a semente.

Acompanhei-os durante todo o caminho. Ai, casalzinho mais entediante. Estava claro pra mim, que uma semente só não bastaria no caso deles. Quietos, distantes, como eu poderia até plantar uma semente?

Comecei a pensar que talvez estivesse equivocada, e que aquela moça não seria minha solução, como eu pensava.

Foi quando aconteceu!

Ora, tantos anos como deusa do amor, tantos anos formando casais sempre da mesma forma, que não percebi o óbvio!

Ali, naquele instante em que eles se despediram, naquele único momento, após ela dizer "Adeus", em que ele respondeu " Jamais diga adeus pra mim, Molly! Eu ainda vou te ver amanhã, lembra? O corpo deteriorado?!". Foi naquele momento que eu vi que minha semente não era necessária. Atena estava enganada, Sherlock Holmes era realmente inteligente, mas já estava apaixonado. Pude ver isso no sorriso e no olhar que os dois trocaram naquele momento.

Talvez eu devesse ficar brava ou chateada por minha presença ser completamente desnecessária, mas meu coração derreteu! Entendi naquele momento, que o amor que os dois compartilhavam um pelo outro, era único, algo que eu nunca tinha visto antes!

Pode ser por isso que agora eu venha para Londres com tanta frequência. Apesar de não ter plantado nenhuma das minhas sementes de amor, eu gosto de acompanhar esse amor tão diferente, só pra ver no que vai dar!


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