Ele estava ofegante, sentia seu coração pulsar querendo escapar do peito e seu sangue queimava por suas veias. Seus passos pesados pareciam que ia desmoronar o chão enquanto suas mãos poderiam esmagar qualquer coisa.

            Quando uma cadeira caiu ao chão o barulho ecoou por todos os lados, algo rastejava no assoalho empoeirado e uma de suas mãos segurou o calcanhar do jovem rapaz enfurecido.

            O lado negro olhava para o se oposto, uma figura fraca, frágil e ridícula, com uma esperança insistente. -O que você quer? Não vê que fomos traídos?

            -Deve haver alguma razão. A Vongola não nos faria mal.

            -Eles não entendem.

            -Não. Apenas veem algo que não sabemos.  Você está sentindo o mesmo que eu? Algo está errado!

            -Sabe muito bem que não sou conectado a chama do céu.

            O seu oposto rastejou até uma parede apoiando suas costas nela. –Fazemos parte da mesma alma, ambos somos conectados. Sei muito bem que está não frustrado por achar que a Vongola está nos traindo, mas sim, por não ter enxergado antes que fizemos uma decisão errada. Como falei, se a Vongola está aqui, é sinal que alguma coisa não está certa e você sabe muito bem.

            -E que escolha temos? Precisamos do ancião da água.

            -Então é só entrar na lagoa. –ele suspirou fundo. –Entre e acabe logo com essa história. – o lado negro o olhou receoso. – O que o impede?

            -E se algo mais forte do que eu entrar? Se perder o controle desta alma do que serei?

            -Se não formos purificados, destruiremos tudo em nosso caminho. Tudo o que amamos.

***

            Tsuna olhava o portal no lago enquanto sua mente estava confusa em decisões.

            -Tsuna-kun o que está esperando? Entre logo!!! Eles estão vindo para o nosso lado. –dizia Kenjiro enquanto segurava o portal com a chama da chuva.

            Havia algo naquele lugar que desde que chegara estava questionando suas decisões. Talvez não houvesse de fato perdido seu sentimento de premonição, ele estava ali o tempo todo e era ele que não quis dar ouvidos. Seu corpo estava travado. Vongola e Epifania lutavam bravamente uma contra a outra. Sua verdadeira família o observava com pesar, nos seus olhos refletiam seus sentimentos de coração partido. Entrar naquele portal era um ato de alta traição para as pessoas que ele amava. Como ele não poderia confiar neles? Como deu ouvidos a pessoas estranhas? Seu maior medo estava se tornando realidade: perder as pessoas que ele amava. Seu olhar se fixou em seu pai que encontrou com o seu ao derrotar um inimigo.

            -Não faça isso meu filho.

            -Pai...

            -Não! –Tsuna sentiu a mão de Kenjiro em suas costas. –Não o ouça. Nunca se esqueça que ele o abandonou e tudo o que passa agora é culpa dele. –Tsuna não teve tempo de responder, seu corpo moveu-se sozinho com uma força descomunal e ele atravessou o portal. A última coisa que viu foi seu pai estender os braços intuitivamente para impedi-lo. O portal se fechou rapidamente e Kenjiro se apoiou na parede para recuperar o folêgo. Tsuna o segurou pelo colarinho.

            -O que você fez!?

            -Fiz o que era certo! Você estava hesitante!

            -Não decida por mim!!! Abra novamente!

            -Precisamos ir até o final da caverna para podermos sair.

            -Mentira.

            -Verdade! Vamos!

***

            -Enlouqueceu Scarlet?

            -Estamos tentando evitar um desastre no futuro.

            -Scarlet, pegue estes mortais e saia daqui. Volte por onde vieram

            -Olhe aqui seu palerma, se você não eleger o maníaco de beisebol aqui, vai eleger o meu amigo, o Décimo.

            -Ora seu como ousa...

Gokudera continuou -A alma dele está corrompida e quando for purifica-lo você só piorará a situação dele no futuro. A duas famílias mafiosas lá fora lutando, uma delas está o trazendo apenas com esta finalidade, é isso que você realmente quer? Que suas habilidades sejam passadas para uma pessoa que matará outras? – Gokudera estava ofegante. Seus amigos o olhavam de boca aberta e o ancião o olhava com olhos arregalados.

—Gokudera... Como sabe tudo isso?

            Fabricio o olhou em advertência e Scarlet colocou uma mão no ombro de Gokudera. –Com os poderes que eu dei a ele.

            -Eu tive uma visão do futuro quando fui eleito. –dizia Gokudera com pesar. –Eu apenas não quero que aquilo aconteça ao Décimo.

            -Eu também não quero Gokudera-kun.

            -Décimo!?

            -Tsuna!? –falou Reborn.

            -Então era isso que eu estava sentindo de errado desde que cheguei aqui. Tudo o que ele contou é verdade não é?

            -Não acredite neles!          

            -Eles são meus amigos!!! Eu os conheço a muito tempo como confio neles. –Tsuna começou a andar para o resto do grupo.

            -Você não me conhece Tsuna-kun. Ainda! Mas eu o conheço muito bem! Eu te admiro. Você é tudo o que quero ser um dia. Nunca lhe desejaria mal.

            Tsuna engoliu sua indignação momentaneamente com a sinceridade carregada em suas palavras.  Ele respirou fundo. –Não! Retornarei para a Vongola.

            -Tsuna-kun. Escute-me, você está errado em achar que eles são seus amigos. Estão apenas lhe iludindo.

            -Kenjiro, já chega. –disse Fabricio pela primeira vez.

—Não me diga o que fazer!

Tsuna suspirou e olhou para Takeshi. –Ele não ia ser eleito?

—Não!!!-Kenjiro correu ao lado de Tsuna e se colocou a frente dele. -Não faça isso Tsuna-kun!

—Ele é compatível ancião?

Ele observou Takeshi por alguns momentos. –Sim, ele é, mas não quer dizer que irei elege-lo.

—Me impeça de matar pessoas, ancião. Se eu tiver seus poderes, será demasiadamente difícil. Faça isso pelo nosso futuro, por favor. Eu estou indo para o meu limite de sensatez, temo que quando sair desse lugar, voltarei ao outro estado que eu estava.

—Somos compatíveis, mas sua alma está em uma linha tênua. Realmente, eu poderia quebra-la de vez. Vejo que você possui um grande futuro pela frente se conseguir purificar sua alma. A única anciã que poderá ajuda-lo é a anciã da luz.

—Estamos à procura dela. –respondeu Fabricio.

—Bem, não tenho os conhecimentos de busca como Scarlet, mas vou ajudá-lo a se manter na linha até encontrá-la. Aproxime-se meu jovem. –disse para Yamamoto.

—Isso não vai doer, não é? –disse Yamamoto rindo.

—Será apenas um sono profundo. –disse por fim, o ancião.

Ele e Takeshi foram envoltos por água e uma luz cegou a todos.