Call Again escrita por Clara Luar


Capítulo 3
Para o êxito, não hesite.


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas estou aqui õ/
Boa leitura :)



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Zack põe-me ao chão, com cuidado, atento a minha reação. O casaco grosso e isolante que veste manchou pelas minhas roupas molhadas. Consigo ficar de pé sem vacilar. O cheiro de limão emanava de toda sua atmosfera, aproxima e toca o meu rosto, acariciando-o atrevido. Eu senti falta desse aroma.

– Calou-se de repente... Está bem? Alguma tontura? – chega seu rosto mais perto.

Num ímpeto recuo. Seus olhos brilhavam tão pertos de mim, sua mão ainda me tocava, seu perfume me abraçava e senti-me dominada pelo calor que nascia em meu peito. O fato de estarmos tecnicamente brigados não diminuiu a preocupação que tinha por mim.

– Por que me trouxe para o seu quarto? – questiono com receio.

A Razão dizia que a situação era perigosa.

Já ele, não contém um riso. Não imagino qual é a graça.

– Vai conseguir tomar banho sozinha, ou quer ajuda?

Lentamente balanço a cabeça em negação.

– Isto é, precisa de ajuda? – ergue uma das sobrancelhas.

– Eu não preciso de ajuda! – minhas bochechas queimam.

Abraço a muda de roupas sobre o peito como um escudo, corro ao banheiro de seu quarto e tranco a porta. Quero ficar lá para sempre, a fim de não mostrar-lhe meu constrangimento, ao mesmo tempo, se demorar muito, sei que ele irá perguntar e oferecer, mais uma vez, ajuda com... o banho. Tiro com dificuldade a blusa molhada, que acaba preso no emaranhado dos cabelos. Percebo o quanto meus movimentos são vagarosos como uma marionete, lentos e cansativos. Vejo o rosto no espelho e ele está vermelho, não só de vergonha, mas pela febre também. Meu corpo está queimando. Ponho a cabeça embaixo do chuveiro para esfriar. Lavo-me e seco-me. Visto as roupas de Amanda, filha mais velha dos Baker e que foi para a faculdade, um pouco folgadas em mim.

Hesito em abrir a única parede que me separava do amigo ainda ressentido. O coração palpitava. Estranho, porque até ontem, quando eu ainda não sabia que o amava, Zack era o dono da calmaria das minhas batidas, que compartilhava sua paz comigo e me acalmava de maneira acolhedora. A simples mudança de perspectiva foi capaz de mudar tanto a forma como o meu corpo e mente reagia à presença dele. Respiro fundo. Recordo o que vim fazer aqui. E abro.

Encontro-o deitado em sua cama lendo gibi. A revista não deve ter sido o suficiente para distraí-lo, pois, assim que saio, seu rosto vira-se para mim. Demoro-me a sair do batente, fingindo contemplar o seu quarto. Há a cama no centro e as paredes são cobertas por estantes de livros, revistas e gibis. Não havia reparado que Zack gostava de ler. Seu casaco foi pendurado atrás da porta. A senhora Baker havia trago o nosso chocolate quente e posto na cômoda. Intocados, os chocolates esperavam ser saboreados ao mesmo tempo. Zack me esperava para tal, não ousou experimentar um gole sem mim. E algo nesse simples cuidado me deixou feliz.

– Está sentindo-se melhor? – pergunta ele.

– Sim. – reforço a afirmação com um aceno de cabeça.

Isac mostra seu sorriso cantado. Eu guardaria esse sorriso para sempre, se fosse possível.

– Sente-se. - Convida-me a sentar, aconchegando-se no travesseiro para abrir espaço na borda da cama. Pega para si a xícara azul com estrela verde escrito “melhor irmão do mundo” e oferece a outra, vermelha. - Minha mãe já avisou seus pais. Eles estavam muito preocupados

Aceito o chocolate quente. Nossos dedos se tocam na fração do segundo. Meu corpo já reagia, dizendo o quanto lhe queria bem.

– Desculpa – digo.

Minha voz soou estranha. Lembrei-me de carrega-lo com arrependimento, entretanto a tristeza somou-se com o ressentimento.

– Ei, peça desculpas a eles. Vão gritar um pouco, mas, como você é uma boa filha, vão perdoar logo e te encher de beijos – tenta me confortar.

– Não, não. Quis dizer pela nossa briga... – sem um discurso pré-escrito, as palavras pareciam galinhas no celeiro: brotam em cada canto, correm para não serem capturadas e bicam-me furiosas. – Eu sinto muito ter pisado em seus sentimentos. Pensei que já estivesse conformado com a posição que lhe dei em meu coração. Você é meu melhor amigo, Zack.

Faz silêncio entre nós. Ouvem-se apenas as batidas das gotas da chuva no vidro da pequena janela do quarto. Bebo um gole do chocolate como quem diz: sua vez.

Compreende. Começa soltando um suspiro.

– Não me conformei com isso. No começo, até fiquei feliz com o fato de estar fazendo parte da sua vida, de ganhar espaço em seu coração. Quando você começou a namorar e falar sobre comigo, entretanto, percebi que não conseguiria chegar mais longe que isso. Que estagnei no posto de “melhor amigo” – a língua estala nos dentes, furioso consigo. - Por que é assim, não é? Garotas não falam de garotos com... garotos.

Suas íris olham para mim em busca de resposta. Tão repentino, baixo o rosto, fixo no chocolate quente e volto a correr atrás de palavras, um argumento, uma forma melhor de pedir desculpas.

É óbvio que garotas não falam disso com garotos. – eu não poderia dizer isso. Se é óbvio, porque, eu o fiz?

É ele quem prossegue:

– Eu gostava de você, Blair.

A forma como ele diz me faz voltar no tempo, ao dia de sua confissão. Sua frase é tão verdadeira que faz meu coração inflar e ao mesmo tempo despedaçar. Como eu pude negligenciar os sentimentos dele?

– Entendi que eu estava me impondo a você, que nada que eu fizesse te faria sentir algo mais que amizade. Só preferia que, se eu não era capaz de tornar meu amor recíproco, você, Blair, tivesse dito. Para eu não tentar tanto...

Mesmo com raiva, as falas de Zack são tão gentis que reforçam como eu fui estúpida esse tempo todo. Encosto a cabeça em seu peito. Ao invés de me repelir, ele passa um dos braços por sobre o meu ombro para confortar. Seu toque é gentil mas contido, como se não me quisesse tão perto, e isso magoa-me. As lágrimas, que pensei já ter deixado cair todas, ameaçam uma nova chuva de dentro de mim. Mordo o lábio inferior para concentrar em outra dor. Era a minha vez de me declarar. Precisava fazer isso logo, o quanto antes, sem perder tempo. Respiro fundo, sufoco o pranto. Escondo o rosto com mechas do meu cabelo preto e azul e digo:

– Eu gosto de você.

O coração dele, que escutava tão alto, errou uma batida e perdeu o ritmo.

– Blair... – ele sussurra. Talvez maravilhado, ou então amargurado, não entendi.

Afasto-me para ver sua expressão e tudo que vejo é... Culpa.

– O que foi? – esfrego a mangas nos olhos, desviando do seu olhar, muito sem graça. Mesmo que não devesse, declarar é um pouco constrangedor. Não imagino o quão difícil foi para ele fazê-lo duas vezes.

– O que eu te disse? Que eu gostava. – repete pausadamente.

– Sim. E eu disse que gosto.é, Blair, a segunda vez é mais fácil.

Só então percebo a pequena diferença nas duas confissões: o tempo verbal. E nela existia uma grande diferença. Ergo o tronco e a cabeça para fita-lo, atônita. Não.

Não, não, não, não. Era tarde demais?

Procuro a resposta em seus olhos. Ele, pronuncia-a:

– Eu não gosto mais de você, Blair.

Faço-me desentendida, balanço a cabeça sem acreditar.

Lágrimas escorrem porque sei que Zack não está mentindo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, Até :)



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