Estava andando pelos corredores a caminho da sala quando senti o balão me atingir, em questão de segundos vários balões cheios de água me atingiram. Fiquei ensopada. Eu nem me irritava mais, não valia a pena. Ignorei as risadas e piadinhas e fui até o banheiro. Eu me sequei o melhor que pude e fui em direção à sala, quando cheguei perto o Will me parou.

– Você podia fazer com que eles parem, é só mostrar o que você sabe fazer. Mostrar que eles não são nada perto do que você é capaz.

Will era meu amigo, meu melhor amigo. Ele sabia muito sobre mim, crescemos próximos um do outro. E antes que comece a fantasiar sobre um romance entre mim e ele, devo dizer que ele ama o vídeo game mais que qualquer uma, ele deixou uma líder de torcida por causa dos games. Vai por mim para um cara que não é atleta dispensa uma garota por causa de jogos é porque ele realmente ama muito jogar ou porque a garota que ele gosta não era ela.

– Você sabe que prefiro lidar com isso tudo a ser a nova “queridinha” e ter aturar falsidade e hipocrisia de todos os lados o tempo todo.

Ele apenas bufou e foi comigo até a sala, depois seguiu para a dele. Eu sou mais velha um ano e além do mais frequento todas as turmas no nível avançado, não chego a ser uma nerd ou um gênio, apenas me esforço muito.

Eu acabei nem prestando atenção na aula, já havia revisado o assunto ontem e sabia ele todo e isso não ia me trazer problemas com a prova que seria semana que vem. Eu estava perdida nos meus pensamentos lembrando o que o Will disse, eu geralmente ignorava qualquer menção sobre revela quem eu era e do que era capaz, não queria isso pra mim. Deixa-me explica, e volta alguns anos no tempo, meus pais se conheceram nessa escola: ela uma líder de torcida super popular e ele capitão do time de futebol, um clássico americano, eles se amavam muito naquela época e ainda se amam. Ambos também amavam muito o que eram, e mamãe se tornou professora de ginástica olímpica e meu pai o treinador da escola, eu e minha “amada” irmã crescemos nesse meio e fomos desde de sempre estimulados a dançar, se exercitar etc. e eu acabei ficando boa nisso, tão boa que posso ser melhor que qualquer líder de torcida, apenas não quero isso pra mim. Eu não sou e nem quero ser uma dessas bonecas que andam com pompons por ai se achando as deusas da escola, eu posso ser boa em saltos e giros, mas, não sou linda como minha irmã. Somos gêmeas e completamente diferentes uma da outra, eu sou ruiva e ela loira; tenho olhos castanhos e ela olhos verdes; meu cabelo é ondulado e o dela liso, entre muitas outras diferenças. Esse é o mundo que minha irmã vive, eu sou só a garota que é esforçada e amiga dos geeks, fim de história.
Enquanto eu divagava, a aula passou voando e logo o sinal bateu. Tive mais duas aulas antes do intervalo, e quando finalmente bateu para ir almoçar peguei minhas coisas e fui ao telhado da escola. Se quiser achar eu e minha trupe de amigos basta ir até lá e vai nos achar jogando RPG, devo ser a única garota que joga com eles. Se é que posso ser chamada de garota quando estou com cabelo num coque e usando roupas que parecem mais de garotos que de uma menina.

Mas alguém me notou como garota ou então era gay e me confundiu com um cara porque sussurram no meu ouvido:

–Julie vai fazer algo esse fim de semana?

Respondi que não e perguntei por que.

–Queria saber se você quer ir sair comigo

–Pode ser Mike, quando? – respondi baixinho para ele, só que os outros escutaram ainda.

–Sendo assim eu quero ir também.

–Eu também.

–Saiu um ótimo filme e seria legal vermos todos juntos, que tal?

Um a um os caras foram falando que queriam ir, eles meio que adoravam sair juntos. Quando marcávamos de sair, geralmente todos iam juntos, dessa vez não seria assim. Mike estava nervoso, dava para notar isso. E quando ele disse que queria sair só comigo, todo sem jeito, achei algo muito fofo e dei uma forcinha para ele.

– Mike e eu podemos sair sábado.. e no domingo saímos com vocês, pode ser?

Voltamos ao jogo, mas todos estavam estranhos depois disso, para minha alegria logo o sinal bateu e antes de ir para minha aula combinei os detalhes com o Mike. No meio do caminho uma mão me puxou e dei de cara com o Alex, ele me arrastou para um laboratório vazio do segundo andar.

–Você vai mesmo sair com ele?

– Por que não? Eu sempre saí com você e os rapazes.

– Não é a mesma coisa, você vai sair sozinha com ele. Isso vai ser um encontro.

– Faça-me o favor gatinho, é só um filme, e além do mais não tem nenhum problema se for um encontro. O Mike é um cara legal e até onde sei o único que me chamou para sair até hoje.

–Quer dizer que eu não conto?

– Você mesmo já disse várias vezes que somos como irmãos, então não, não conta.

Ele me olhou irritado resmungou algo que eu não entendi e saiu batendo a porta, fui para a aula, aonde mais uma vez cheguei atrasada naquele dia.