Light a Fire escrita por Nunah


Capítulo 1
Breath in, breath out


Notas iniciais do capítulo

Olá mais uma vez, essa song foi inspirada na música Light a Fire (by Rachel Taylor), na hora que eu estava assistindo The Vampire Diaries (me julguem!). Enfim, aproveitem e me digam o que acharam ok? Eu sei, estou enferrujada, mas espero que não esteja tão ruim!



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You may say you’re walking all by yourself

Have no one else

Your life is deadly like a loaded gun

And you’re shaking, love

Athena andava sem rumo por... onde era mesmo? Ela passara por tantos lugares que nem se lembrava. Ah, sim. Era uma acrópole. A acrópole, na verdade. Em Atenas.

Ela suspirou.

Fazia muito tempo que não vinha ali. Talvez os acontecimentos recentes, que rodavam insistentemente por sua cabeça, haviam instigado seu corpo a isso. E lá estava ela.

Depois de apenas alguns meses, míseros meses... tudo havia acabado. Acabado mal, como ela havia previsto. Ela havia previsto e não feito nada, muito pelo contrário, ela concordara com aquilo! Como fora tola! Como fora tola, a deusa da razão, em achar que seu pai, o Todo-Poderoso Zeus, não descobriria e não faria nada.

– Argh! Mas que ódio! Como eu pude? Como eu pude, Afrodite?! É tudo culpa sua! – ela gritava. Mas, no fundo, ela que mesmo Afrodite nada tinha a ver com isso. Ela não se arriscaria a tanto. No fundo, era Athena que responderia por seus próprios atos.

Athena se sentia abandonada por seus próprios poderes. Ridicularizada. Amargurada, agora mais do que nunca. Ela tinha passado por tantas coisas ao longo de seus três mil anos e, agora, sofria mais do que em todos os outros momentos juntos.

Começou a chuviscar. Ela sentia cheiro de terra molhada, um de seus preferidos. Mas naquele momento nem aquilo a consolaria. Era como se tivesse uma bomba relógio prestes a explodir dentro de si. E pensar que ela fora tão ridícula...

Don’t shiver, don’t give up

Don’t quiver, you’re enough

You will be just fine

Tonight

Um bolo havia se formado em sua garganta. Pela primeira vez em tempos, ela se permitiu desabar e os soluços vieram à tona. A deusa berrou, gritou, chorou, como nunca havia feito antes, esperneou como uma criança desesperada.

Athena nunca tinha sentido uma angústia tão grande, nem quando perdia companheiros em batalhas. Na verdade, muito menos nesses momentos. Ela era a deusa da estratégia em batalha, da sabedoria, da razão! Como havia chegado a esse ponto? Nunca deveria ter saído de seus livros.

Ela se jogou embaixo de uma árvore, logo suas roupas estavam sujas e enlameadas. Seu cabelo estava uma bagunça. Mas nada daquilo importava, não mais. O tempo de se preocupar com isso tinha passado.

Provavelmente a tempestade se formando era culpa de seu pai. Talvez nem só dele... talvez, bem, talvez não, era certeza de que estava havendo uma briga feia no Olimpo. Tudo por culpa dela.

Toda encolhida, Athena se permitiu um momento de fraqueza. Suas lágrimas escorriam mais a cada segundo. Ela engoliu em seco e passou a mão pelo rosto, irritada. Não estava acostumada àquilo...

...mas também não estava acostumada ao amor, e lá estava ele, intrincado em seu coração, sem vontade nenhuma de ir embora, teimoso, conflitante e, ao mesmo tempo, maravilhoso.

“Como se eu já não tivesse sido fraca o suficiente todo esse tempo...”

Baby when it’s cold outside

I will keep you warm

Save you from the storm

I will light a fire

And the embers bright

Will guide you through the night

When it’s cold outside

I will light a fire

Zeus estava em pé, em todos os seus seis metros de altura, com o Raio Mestre nas mãos. Trovões ribombavam por todo o céu e os deuses a sua volta estavam cada vez mais inquietos.

– Irmão, por favor...

Poseidon estava do outro lado do salão. Tentava ao máximo se controlar, mas não era nada fácil, sabendo o quanto seu irmão era irritado, e o quanto tinha de culpa naquilo.

– Irmão? IRMÃO? – Zeus esbravejou. Os deuses prenderam a respiração, tentando decidir se intervinham. – Você, depois de tudo o que fez, ainda tem a capacidade de aparecer na minha frente e me chamar de IRMÃO?

Hera engoliu em seco. Ela estava ao lado de sua cunhada, Anfitrite, que tinha tido a permissão de participar do Conselho naquele dia, por motivos singulares.

– Marido, por favor, vamos resolver isso com calma. Não adiantará ficar desse jeito agora... – Hera tentou argumentar, mas sabia que o marido não a ouviria. Athena não estava ali, portanto não ouviria ninguém. Na verdade, depois de tudo, nem mesmo ouviria a filha.

Você não tem o direito de apontar o dedo para mim, Zeus. Por que não pensa nos próprios atos antes de...

Sua fala foi cortada por mais relâmpagos.

Zeus se aproximou do deus do mar. Poseidon estava com a boca rígida em uma linha fina. Não queria Anfitrite ali, na verdade, não queria ninguém ali. Se aquilo era para ser resolvido, deveria ser entre os dois. E Athena... onde estava Athena? Seus instintos não paravam de gritar que ele estava no lugar errado... deveria estar ao lado dela.

– Não estamos aqui para falar de mim! Meus assuntos são resolvidos entre mim e minha esposa, mas você não teve nem a decência...

Decência? E o que você sabe sobre isso, Zeus?! – Poseidon deu um passo a frente, imponente. Encarando o irmão nos olhos, continuou: - Você mal para em casa! O Olímpio pode estar em chamas e você não tira os olhos das criadas! Sabe qual é o seu problema? Ganância, luxúria! Você acha que todas devem ser suas! Você não tem o direito de comparar seus... seus casos... com uma coisa que não se pode controlar, Zeus!

Poseidon falava rápido, porém sabiamente. Seu coração batia acelerado, pois ele sabia que o que estava fazendo era burrice, mas já havia enfrentado Zeus assim antes. Ele não recuaria agora. Hera estava do seu lado, ele sabia. Ela podia ser a deusa do matrimônio e estar segurando a mão de Anfitrite, mas ele sabia como ela se sentia sobre esses assuntos com Zeus. Eles eram irmãos... e Poseidon conhecia sua amargura.

Keep your bright eyes looking

Up to the sky now

Cheer up, be proud

Walk strong like a soldier

Onto the battleground

Breath in, breath out

Don’t shiver, don’t give up

Don’t quiver, you’re enough

You will be just fine

Tonight

Atenas. O lugar onde tudo havia começado, as rixas, as brigas, as discórdias. O ódio, que fez com que tudo na vida deles fosse decidido aos gritos, que não deixou escolha, não deixou espaço para mais nada. O ódio verdadeiro, que se estendeu por muitas e muitas eras até seus filhos se apaixonarem. Instintivamente, Athena passara a se perguntar, como uma perseguidora da verdade, como aquilo era possível...

Ela enxugou as lágrimas e olhou ao redor... ainda podia ver as construções imponentes de antigamente, ainda se lembrava daquele dia. E então, lentamente, um sorriso se abriu em seu rosto. Um sorriso de saudade e tristeza, as quais geralmente andam juntas.

Ela havia acabado de sair do quarto. Não tinha sono e estava rumando para a biblioteca de seu palácio.

– Também não consegue dormir? – disse uma voz rouca em algum lugar a sua esquerda.

E lá estava ele. Uma sombra encostada em um dos muitos pilares de mármore que sua filha tinha construído.

– O que você quer agora? – ela disse. Mas não havia raiva, apenas uma pergunta cansada. Athena estava esgotada até a última gota de manter aquela briga insuportável por tanto tempo, mas não admitia. Ela suspirou. – Não consigo dormir, é verdade.

Ele se aproximou. Segurava uma caneca de chocolate quente. Uma brisa fez o cheiro chegar até ela, e também o de água salgada e verão.

– Quer um pouco? Posso fazer para você. Não estou conseguindo pregar os olhos...

Athena engoliu em seco.

– Isso não é próprio, Poseidon. O que está fazendo aqui, de qualquer jeito?

– Não aguento mais ficar em casa. Minha esposa está mais do que insuportável. E meu palácio aqui no Olimpo me lembra o outro até demais.

Athena olhou para cima. Por entre os galhos da árvore ela conseguia ver as nuvens, os relâmpagos, conseguia visualizar o Monte Olimpo, com sua avenida em reconstrução e as diversas luzes que a margeavam. As ninfas, os sátiros e deuses menores passeando... as lindas escadarias e esculturas que estavam sendo construídas para todos.

Ela se levantou. Estava começando a tremer, mas não se importava. Estava na hora de ir para casa, depois de tanto tempo vagando sem rumo. Sabia que não adiantaria ficar ali, enquanto todos que ela conhecia travavam uma briga por um motivo tão estúpido e, ao mesmo tempo, correto.

Quando apareceu em seu quarto, foi direto para a banheira, onde fechou os olhos e permitiu que as lágrimas escorressem mais uma vez. Aquilo era tão injusto. A vida de imortal era injusta, com todas as suas regras, e votos, e promessas. Não, Athena não deveria pensar sobre aquilo, ela era a razão e não podia se dar ao luxo, ela foi criada para fazer jus ao seus poderes.

Baby when it’s cold outside

I will keep you warm

Save you from the storm

I will light a fire

And the embers bright

Will guide you through the night

When it’s cold outside

I will light a fire

Poseidon estava em seu quarto no Olimpo. Tinha acabado de mandar uma mensagem de Íris para a esposa. Ex-esposa. Ele havia pedido o divórcio. Não que fosse normal deuses se divorciarem, mas lá estava ele. Não queria ficar parecendo o irmão. Daquela vez, ele faria as coisas direito.

Houve uma batida na porta e, quando abriu, ele sorriu. Athena estava lá, deslumbrante em um vestido branco e dourado, com os cabelos encaracolados pendendo até sua cintura. Seu vestido favorecia seu corpo cheio de curvas, o que ele nunca havia reparado, por ela se esconder tanto embaixo da armadura.

– Ah... hum, você quer entrar? – ele perguntou, sem nem mesmo saber o que estava fazendo. Ou pensando. Ou querendo.

“Vocês não são melhores amigos, Poseidon, o que está achando?!”. Sua consciência gritava em alerta, mas mesmo assim algo lhe dizia que aquilo seria interessante.

Athena entrou e se virou para ele. Ela parecia nervosa pela primeira vez em sua frente e aquilo o fez ficar ainda mais curioso.

– Eu... eu só queria... agradecer, sabe? Pelo outro dia. – ela engoliu em seco. Aquilo era tão humilhante, mas Athena seria educada. – Obrigada pela companhia, me ajudou a dormir... e pelo chocolate... bem. É isso.

Athena nunca havia agido assim com ele. E claro, ele também nunca pensaria em oferecer chocolate quente para ela, mas o destino pregava peças. Dito o que queria, ela saiu rapidamente pela porta sem olhar para trás. Estava feito, apenas o necessário.

– Escutem, vocês dois! – Afrodite se levantou e deu um passo à frente. – Zeus, pare de agir como criança! Nós somos adultos, ou melhor, somos deuses. Imortais. Até quando vão negar o poder mais antigo que existe no universo? O amor é a origem de tudo, será que é tão difícil entender?

Afrodite era difícil de entrar em alguma discussão que ocorria no Conselho, mas dessa vez ela precisaria intervir. Ela era a mais velha dali, até mesmo que Zeus e Poseidon, ela viera do próprio Urano. O amor não era algo com que se brincar, não era algo bobo e não podia ser controlado. O que Zeus fazia, Poseidon estava certo, não tinha nada a ver com isso, e ela sentia compaixão por Hera (apesar de ela ser uma vaca, literalmente). Ela mesma sofria por ser mal compreendida. Ela não traía seu marido, Hefesto, ela simplesmente não conseguia aguentar. A força do amor supera todas as outras.

– Afrodite, nem tente defender esse... essa... bem, isso! ­– Zeus disse.

– Bem, se você não quer que a gente se meta, então deveria seguir o conselho de seu irmão e resolver em particular! – com as mãos na cintura, Afrodite parecia uma mãe resolvendo uma briga entre os filhos pequenos. – Mas já que estamos aqui, e devo dizer obrigados pelo dever, vou defender sim! E sabe por que Zeus? Porque ele está certo! Você não tem o direito!

Naquele momento, a tempestade lá fora pareceu ficar duas vezes pior. Os mortais deveriam se perguntar se aquilo seria o fim do mundo.

– Athena é minha filha, Afrodite! Isso me dá todo o direito!

– Athena é uma mulher adulta e uma deusa, como eu disse! Ela é imortal e dona da própria vida!

Nessa hora, quem levantou foi Ártemis.

– Afrodite, eu entendo onde quer chegar. – a voz da deusa adolescente era calma e calculada, mas não escondia o rancor que estava por trás. – Mas, caso não se lembre, Athena fez votos. Votos de castidade, assim como eu, que foram quebrados!

Afrodite rolou os olhos.

– Ártemis, minha querida, eu estava lá, e caso você não se lembre, o amor verdadeiro supera todos os obstáculos. O que quer dizer que – ela se virou para Zeus, que estava mais furioso do que nunca. – se Athena não foi dizimada, é porque eles consumaram o amor verdadeiro. Eu mesma senti sua força. Como deusa do amor, tenho poderes e sei, mais do que ninguém, sobre o assunto. O que há entre os dois é amor, Zeus, amor verdadeiro! Os mortais não estavam errados quando escreveram todas aquelas histórias sobre o beijo da pessoa amada, ele quebra todos os feitiços e maldições. Athena tinha um voto de castidade e seria punida se o quebrasse caso o fizesse por pura e espontânea vontade de fazê-lo em troca de nada. O que já teria acontecido com você caso tivesse jurado algo parecido, Zeus.

Os olhos da deusa estavam tempestuosos. Ela falava com uma imponência e emanava uma aura de poder que não podia ser negada por ninguém. A verdade em suas palavras era cristalina. Ártemis se sentou de novo, vencida mas não menos brava. Poseidon sorriu, pois sabia em seu íntimo tudo aquilo. Ele sentiu. Ele sabia que aquilo era diferente.

You’ve been at the bottom

Only surviving

You decide who you are now

I’m with you through everything

Athena estava pronta. Havia colocado o mesmo vestido do dia em que fora agradecer Poseidon. Deixou a armadura de lado e respirou fundo. Pela primeira vez, ela desejava se mostrar uma mulher, apenas, não uma guerreira ou uma deusa. Ela desejava mostrar que podia sentir, não era uma máquina de guerra como Ares (que ainda tinha Afrodite), ou tão rígida quanto. Não era de ferro.

Ela tinha a capacidade de amar.

Já faziam dois meses que os dois estavam naquilo. Poseidon lhe roubara um ou dois sorrisos, mas só. Ele tentara se aproximar, mas sua resistência era como aço. Os dois tinham o dever de se odiar, aquilo nunca poderia ser possível. Era assim desde o princípio dos tempos e sempre seria. Ou deveria.

Ela estava mais uma vez enfurnada num canto de sua biblioteca, debruçada sobre uma mesa cheia de mapas e anotações. O conflito no Oriente Médio era cada vez mais iminente e ela deveria preparar suas forças, observar o inimigo.

Poseidon chegou sorrateiramente e ficou observando-a. Seus cabelos que pareciam ser tão macios ao toque, a curva de seu pescoço. Havia semanas que ele se segurava para não fazer nenhuma besteira. Com ela era diferente. Com ela era perigoso e mortal, de um jeito que o fazia querer mais. Uma palavra, um olhar, um vestígio de sorriso já o fazia pensar em milhares de coisas. À noite, ele ficava acordado pensando no que se passava pela cabeça de sua arqui-inimiga.

– Se quiser meus palpites, tenho experiências em batalhas.

Ela o olhou e sorriu ironicamente.

– Obrigada, mas meu acervo é tão vasto quanto o seu, Poseidon.

Sua voz era fria e debochada, mas ele percebeu o quanto estava sendo forçada. Athena estava começando a se cansar daquilo tanto quanto ele.

Poseidon riu e se aproximou.

– Você não muda, Athena.

– Você se surpreenderia. – ela disse, tão baixo que ele quase pensou que não deveria ter escutado. Ela suspirou. – Não tem nada melhor para fazer? Nenhuma ninfa para importunar?

Quando Athena se virou para encará-lo, a expressão do deus estava dura.

– Eu não sou seu pai, Athena. Pode achar que sim, mas está enganada. Ambos somos deuses e temos filhos fora do casamento, que não foram concebidos como os seus. Mas, se quer realmente saber, eu não tenho vontade de sair por aí espalhando minha semente como Zeus parece gostar de fazer.

Ela engoliu em seco. Poseidon nunca tinha sido tão direto e sincero em um assunto tão íntimo como esse na frente dela.

– Você não me deve explicações. – ela se voltou para os mapas, como que esperando que ele simplesmente desaparecesse. Mas não, Poseidon tocou seu braço.

Naquele momento, ambos sentiram a conexão que foi feita, a corrente elétrica que percorreu cada canto de seus corpos.

– Mas eu quero me explicar. Athena, a maioria de nossas discórdias são por opiniões precipitadas sobre mim que eu não faço questão de desmentir. – ela engoliu em seco, olhando a mão que ele tinha sobre seu braço. – Deixe-me falar.

Então ela o encarou.

– Falar o que, exatamente, Poseidon? Mesmo que você desfizesse tudo o que eu penso sobre você, o que isso adiantaria? Seríamos inimigos mesmo assim. Faz parte de quem somos.

Ele sacudiu a cabeça.

Você decide quem quer ser, Athena. Não deixe os outros te moldarem.

– Você está me dando um conselho? – Athena levantou uma sobrancelha.

– Sei que acha que sabe de tudo, mas isso é o que querem que você pense. Você é a deusa da sabedoria, tem poderes e tudo o mais, mas, fora isso, é uma pessoa. Imortal, sim, mas uma pessoa! Sei que, no fundo, você é uma pessoa maravilhosa, mas as circunstâncias não a deixam mostrar. Sei que vive em conflito consigo mesma, Athena, está nos seus olhos. Seu pai pode não perceber, mas eu sei.

Ela ficou de frente para ele, com uma expressão neutra. O que faria? O certo seria gritar e mandá-lo embora, mas ele não estava falando a verdade? Parando para pensar, quem ela era? Ela fazia as próprias escolhas ou vivia no piloto automático? Como a razão em pessoa, ela não deveria olhar emocionalmente para nada. Mas ela não podia ter seus momentos de fraqueza? Até Zeus parecia se dar ao luxo. Aquilo era contra tudo o que sempre pensou, o que sempre achou que deveria pensar, mas...

Ela suspirou.

– E onde quer chegar com isso, Poseidon?

Naquela hora, ele colocou a outra mão em seu outro braço e, suavemente, subiu-as para seu pescoço. Ele era macio e quente, e exalava um cheiro ótimo, exatamente como ele havia imaginado.

Para a surpresa da deusa, Poseidon aproximou o rosto do dela e encostou suas testas. E disse, sussurrando, antes que ela pudesse fazer algo:

– Quero que me deixe conhecê-la. – e então colou seus lábios nos dela, sentindo no fundo de seu ser como estava precisando daquilo.

Athena ficou rígida, petrificada. Então, de repente, voou suas mãos para os cabelos macios de Poseidon e o puxou para um beijo urgente. Ele a empurrou contra a mesa, sentindo cada parte de seu corpo.

A deusa ficou impressionada em como estava gostando daquilo, como estava guardando aquele sentimento há semanas dentro de si. Ele era seu arqui-inimigo, o deus com quem sempre fazia questão de discutir, de brigar e humilhar. E lá estava ela, enlaçada em seu abraço forte, beijando-o como se o mundo estivesse acabando. E, para sua total surpresa, não parecia errado. Ela sentia os músculos dele se contraindo e relaxando, a cada movimento que fazia para beijá-la.

Ambos ficaram perdidos no cheiro um do outro, no corpo, na pele, no calor. Suas essências se encaixavam como se nunca tivessem estado em guerra.

Então, ele a colocou em cima da mesa. Não havia delicadeza naquele gesto, apenas a urgência e o desejo, e Athena não se importou. Ela não estava sentindo exatamente a mesma coisa?

Naquela mesa, no fundo da biblioteca do palácio da deusa no Olimpo, eles consumaram seu amor pela primeira vez. Sim, ambos sabiam que era amor. Nunca tinham sentido algo tão forte e implacável. Apenas sabiam. E lá haveria uma segunda, uma terceira, inúmeras vezes seguidas. E também no quarto dela, no dele. E aquilo duraria por mais três meses, quando tudo desabaria em suas cabeças.

As portas do salão do Conselho foram abertas com estrondo.

– Tenho que dizer que concordo com Afrodite. – Athena arqueou as sobrancelhas, encarando Zeus profundamente. Poseidon abriu o maior dos sorrisos e ela foi até ele, segurar sua mão.

Zeus emitiu um grito gutural enquanto a tempestade lá fora piorava consideravelmente.

Afrodite assentiu, aprovando as palavras e o gesto de Athena. Hera a encarou em silêncio.

– Isso acaba AQUI! – com essas palavras, raios atingiram Poseidon em cheio no peito. Athena gritou e tentou entrar na frente, mas ele a impediu. O impacto fez com que ele fosse jogado para trás e uma das portas pela qual acabava de entrar entortou.

– Pai! – ela gritou. Zeus andava a passos fortes na direção do irmão, com uma expressão assassina e sem lhe dar ouvidos. – ZEUS!

Como deusa da razão, e sabendo que aquilo era errado, a força de seu poder fez com que o deus dos deuses parasse. Ele a encarou.

– O que pensa que está fazendo, Athena? – sua voz era baixa e cheia de raiva. Ele continuava preso no lugar.

– Estou sendo racional, pai. Isso não está certo.

Racional? Desde quando você voltou a ser racional, menina?! Deveria ter sido racional antes de se deitar com aquele inútil! – ele apontou mais uma vez para Poseidon, mas os raios também foram contidos. Havia uma aura dourada envolvendo pai e filha, forçando-o a ouvi-la. A expressão de Zeus era de puro nojo e decepção; ele cuspia as palavras.

– Você se dá ao luxo de não ser nada racional quando quer, não é, Zeus? Será que é por que não tem o peso nos ombros de ser o deus da razão? – ela falava abertamente, para todos os deuses. – Tenho certeza de que não faria diferença nenhuma, caso fosse!

A rede invisível que parecia estar prendendo-o se estreitou de repente. O grito de Zeus foi ouvido por todo o Monte Olimpo, cheio de raiva e dor. Dor física, sofrendo as consequências dos poderes da filha, dor por perder sua favorita para o irmão, dor por saber que, no fundo, todos estavam certos. Ele parecia uma criança. Não havia o que ser feito.

O deus caiu de joelhos, subjugado na frente de todo o Conselho. Ele largou o Raio e, sem forças, ficou com a cabeça pendendo sobre os ombros. Até agora, nenhum outro deus tinha tido coragem para enfrenta-lo assim tão abertamente sem medo de sofrer as consequências. Mas sua filha era diferente, Athena era diferente de todos os outros, especial.

– Minha filha não vai gostar de saber que terá de reconstruir o Olimpo novamente por causa de seus caprichos, pai. – era verdade, em seu caminho para lá, Athena tinha vislumbrado os estragos causados pela tempestade. – Não quero mais saber de ninguém cuidando da minha vida, Zeus, muito menos você. Como pai, eu entendo, mas não ache que pode fazer o que quer só por ser o rei dos deuses. Grande parte de suas conquistas são consequências de minhas estratégias e de meus conselhos. Não me subestime. – as últimas três palavras foram ditas lentamente, como que para ter certeza de que seriam captadas.

Poseidon havia levantado e agora passava um braço pela cintura da deusa. Ele estava visivelmente fraco, mas fazia o possível para parecer protetor e mostrar sua devoção a ela.

– Athena, Poseidon, acho que é hora de deixarmos Hera cuidar de seu marido. – Afrodite dizia e olhava para cada um, que rapidamente foram saindo do salão. – Anfitrite, sinto dizer que seu casamento nunca foi realmente abençoado pelo poder do amor, mas você encontrará o que procura, caso repense suas ações.

Anfitrite assentiu, visivelmente abalada por aquelas palavras, e um acordo silencioso foi formado entre as duas. Apenas elas entendiam o que estava sendo dito ali.

Logo, sobravam apenas Hera, Zeus, Athena, Poseidon e Afrodite. A deusa do amor abraçou Hera, falando-lhe ao ouvido, sem que os outros pudessem escutar. Ela olhou para eles e foi embora, com a sensação de dever cumprido. “Apenas mais um dia de deusa no Olimpo...”

Hera foi até Athena e segurou suas mãos.

– Minha querida, de todos os filhos de Zeus, é a única pela qual realmente nutro alguma afeição. – Hera suspirou e olhou para o marido, que ainda estava de joelhos e ouvia cada palavra. – Quero que saiba que abençoo o amor de vocês, assim como Afrodite. Fico feliz que Poseidon tenha acabado com aquele casamento de farsas antes de tentar algo com você. – ela olhou para o irmão. – Saiba que sempre me senti ultrajada por ter se casado sem amá-la.

Ele assentiu, feliz por ver que Hera estava realmente ao lado deles.

– Agora, se me permitem... – a deusa fez um gesto na direção de Zeus.

– Ah... é claro.... obrigada, Hera. De verdade. – Athena beijou suas mãos e sorriu. Quando ela e Poseidon estavam saindo do salão, puderam ouvir parte do sermão dirigido a Zeus. – Ele não vai escapar de sua ira, o pior castigo ainda está por vir.

Poseidon sorriu e segurou seu rosto nas mãos. Ele estava pálido e parecia cansado, mas o olhar que dirigia a ela era cheio de ternura e amor.

– Agora podemos nos dedicar ao que queremos sem perder tempo pensando nas consequências.

Ela sorriu e segurou em sua cintura, beijando-o e encostando suas testas.

– Vamos para casa. – ele disse; ambos sorriam cheios de expectativas. Poseidon segurou a mão da deusa e ambos desapareceram em uma nuvem de coloração azulada e que emanava o cheiro de mar, verão e livros.

Era o marco de uma nova era para os deuses.

Baby when it’s cold outside

I will keep you warm

Save you from the storm

I will light a fire

And the embers bright

Will guide you through the night

When it’s cold outside

I will light a fire (fire)

I will light a fire (fire)

I will light a fire (fire)

When it’s cold outside

I will light a fire...


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Notas finais do capítulo

Cara, que alívio. Achei que eu nunca teria inspiração para terminar uma song depois de tanto tempo, e aqui estamos nós.
Faz tempo que não escrevo, e ai, como foi?