Yes, I dance escrita por Larissa Megurine


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Bem, como eu já tava sem postar a um bocado de tempo, resolvi dar o gás e fazer um capítulo maiorzinho de presente pra vocês, leitores lindos XD gostaria muito de saber o que estão achando da história, da escrita, dos personagens... Resumindo, comentem, pleeease *-* Enfim, podem ir ler kk



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Sarah Forman saiu da cabine do provador e rodopiou exibindo o vestido azul-marinho. A morena havia sido classificada como uma das cinco que iriam desfilar no baile do OHS, competindo para Prom Queen. Por isso, nesse sábado à tarde, em vez de irem à casa de Analu fazer qualquer coisa ou saírem para patinar, elas estavam na maior e mais cara loja do segundo andar do shopping, escolhendo vestidos para todas.

A loja era toda decorada com cor-de-rosa e os vestidos eram dos mais lindos. Michelle saiu do provador ao lado, usando um vestido vermelho bordado e com tule por baixo da saia. Ela jogou os cachos loiros, que agora as amigas viam soltos para trás e deu um sorriso, enquanto segurava a saia do vestido. Analu fez questão de falar primeiro:

– Você tem que ir com esse, Michele! – A loura riu, corando.

– Sarah, seu vestido também está magnífico! – Michele disse. – Você vai ganhar, com certeza!

Analu confirmou com a cabeça. Fazia questão de participar da escolha ao máximo. Seu vestido, um rosa-bebê tomara-que-caia de saia rodada, foi o primeiro a ser escolhido. Agora ela se esforçava ao máximo para dar todo o seu apoio à amiga que, provavelmente, venceria o concurso. De novo.

É claro que, no interior, ela estava chateada por não ter sido classificada, mas não poderia deixar que as amigas notassem. Ia parecer que estava sendo egoísta, coisa que ela estava sendo, sim. Eu já deveria ter entendido que eu não sirvo para essas coisas. Eles só estão atrás de californianas lindas de corpo, como a Sarah, e de loiras de beleza clichê, como outras três das que se classificaram. Porém, ao lembrar-se do desfile da véspera, outras lembranças tomaram conta de sua mente, fazendo com que ela permanecesse na loja de roupas apenas de corpo. Sua mente viajava, em um misto entre fascínio, receio e crítica a seus próprios pensamentos. Isso, definitivamente, as amigas não poderiam saber.

***

Analu saiu da sala, segurando as lágrimas. Não havia uma razão para elas. Sua melhor amiga havia sido classificada, afinal. Ela virou, indo até onde os amigos deveriam estar e esbarrou em Daniel. Os olhos claros dele logo perceberam nos negros dela a tristeza por ter perdido. A garota sabia que ele era o único que sempre conseguia entender o que ela sentia. Eles se conheciam a menos de um mês, mas já era o bastante. Nunca haviam oficializado, mas todos sabiam que os dois namoravam. Ele a abraçou e beijou-lhe a testa, enquanto iam até a saída do colégio, já que ainda teriam aula na Dance-I, mais tarde.

Chegaram à academia de dança bem na hora em que a aula iria começar. Mas ela não durou muito, já que a diretora Light queria falar com todos os alunos sobre o festival. Dan revirou os olhos quando viu Isabella passar pela porta do auditório, onde todos haviam se reunido.

– Vai mesmo querer ouvir o discurso de uma hora dela? – Ele perguntou a Analu. Quando viu que a garota não disse nada, explicou. – É sério... Isso vai demorar bastante. Vamos ficar lá fora um pouco, enquanto ela fala com a galera do jazz...

Ele a abraçou e beijou-a no pescoço. Os olhos dele brilhavam, travessos. Analu segurou sua mão e puxou-o para fora da sala. A academia estava deserta e já estava tomada pela noite, com todas as luzes apagadas e todas as outras salas devidamente trancadas. Eles caminhavam até a área da cantina, quando Analu parou.

– E se pegarem a gente aqui? – Ela perguntou para ele, encarando-o com os olhos negros. – Podemos nos encrencar...

Ele riu. Conhecia aquela escola como a palma de sua mão. Mesmo nunca com uma garota, ele já havia matado aula, frequentemente só para passar um tempo só. Ele sabia todos os locais abertos, onde um professor poderia facilmente passar e os mais escondidos, onde era fácil ser encoberto pelas sombras. Ainda com um sorriso malandro no rosto, ele a conduziu:

– Me segue.

Analu foi atrás dele, seguindo-o pelo segundo andar, até uma sala que não estava sendo reformada. A porta possuía um cadeado prata, mas Daniel facilmente o retirou. O cadeado não trancava, era só de fachada para que alunos inexperientes e inocentes – como ela – não pensassem em invadir a sala. Mas o rapaz ao lado dela não ligava para isso.

Ele empurrou a porta, que se abriu para dentro, mas não muito, só o bastante para que pudessem entrar. O chão de madeira agora estava coberto de pó e tudo o que se via era... Nada. Era escuro o bastante para que tudo o que Analu pudesse ver fosse o relógio digital que brilhava em seu pulso e iluminava sua mão segurando outra. Mais alguns passos e ela parou, recebendo rapidamente o beijo ardente dele. Seus lábios permaneceram unidos por vários segundos, enquanto ela passava as mãos por seus cabelos e nuca, enquanto as dele escorregavam lentamente até atingirem a saia rodada do uniforme da academia que ela usava.

Analu olhou para ele – agora estavam próximos o suficiente para que ela já pudesse enxergar o rosto de Daniel – com a dúvida invadindo sua expressão. Ele ainda a observava de um jeito que era tentador demais não jogar-se em seus braços e entregar-se mais uma vez ao seu beijo. Por isso, foi o que ela fez. Logo saiu do abraço, tentando tomar consciência do desejo dos dois. Simplesmente, disse:

– Tem certeza? Talvez seja melhor voltar para o auditório...

Ambos olharam a hora nos relógios de pulso. Mal haviam se passado cinco minutos. Provavelmente a diretora ainda estaria se dirigindo aos alunos que teriam papéis que não só dançar nos grupos, enquanto todos os garotos jogavam jogos no celular ou Nintendo e as garotas fofocavam nos cantos. Ele concluiu:

– Ainda não.

Provavelmente, se Daniel Banks e outros garotos não tivessem saído na véspera e um dos amigos lhe dado preservativos, nada teria ocorrido. Eles já haviam tido aula de ciências, afinal, e conheciam os perigos. Mas ele abriu a carteira e lá estava o saquinho plástico quadrado, fininho. Ele o tirou e abriu a embalagem. Olhou para Analu, que consentiu dando-lhe um beijo.

***

– Analu! O que você acha desse aqui?

Anna Louise acordou de suas lembranças e pôs-se a analisar o colar que Sarah mostrava para ela. Agora, elas escolhiam os acessórios. No canto, Michele se encantava com algum item de maquiagem.

– E-eu acho que é lindo, Sarah! – Analu disse.

Sarah tinha uma expressão preocupada, mas ao mesmo tempo engraçadinha. A morena voltou a questionar:

– Ai, tem certeza de que não é melhor o anterior.

De fato o colar “anterior” – do qual Analu não havia se lembrado – era lindo! Sarah o segurou na mão esquerda, enquanto a direita ainda continha o que havia sido mostrado por último. Este possuía uma corrente de ouro, com algumas pedras em intervalos iguais, um modelo relativamente comum. Mas o outro era de prata, com um pingente em forma de cristal pendurado, que mudava de cor sutilmente de acordo com o ângulo pelo qual fosse visto – transparente, rosa claro, azulado.

Analu decidiu-se rapidamente pelo do pingente, o que fez Sarah abrir um sorriso. Foi olhar algo para si em uma estante atrás dela e decidiu-se por levar um par de brincos simples e uma tiara, que tinha uma flor na parte de cima, do lado direito.

***

Pelo canto do olho, Piedro viu as quatro pessoas chegarem – Michele, Ana Louise, Meredith e Kevin -, todos muito bem arrumados para a noite de hoje. As garotas estavam com os vestidos escolhidos previamente e maquiagens bem feitas, que duraram horas para serem terminadas. Michele usava os cabelos loiros soltos, arrumados em cachos, Analu usava a tiara comprada na semana anterior e Meredith usava um penteado mais elaborado. Kevin havia se oferecido para levar a irmã e as outras garotas para a festa e usava um terno negro, com um broche da comissão organizadora do Baile preso do lado esquerdo. Sua irmã também usava um igual, preso com orgulho ao vestido dourado.

Sarah estava nos fundos do palco, recebendo orientações, junto com as outras candidatas a Rainha do Baile. No palco, Rodrick, um garoto do terceiro ano, tocava com sua banda alguma música de rock. Já se passara mais de uma hora desde que a festa começara, então faltava pouco tempo para a escolha da Rainha.

Quatro garotas entraram no palco e, por último, Sarah. Todas desfilaram para os juízes, até que chegou a hora de darem o resultado. O professor que leria o nome da campeã era um cara baixinho, com cabelos grisalhos. Ele pegou o envelope cor-de-rosa e o abriu, fazendo suspense.

– E a vencedora é.... – Ele disse, encarando cada uma e sendo encarado por elas e mais uma grande multidão de pessoas que assistiam. – Sarah Forman!

Ele ficou na ponta dos pés para alcançar a cabeça de Sarah – que, mesmo sendo alta estava de salto – para colocar a coroa nela. A vencedora exibia um sorriso que ia de uma orelha à outra enquanto encontrava as amigas que corriam para abraçá-la e davam-lhe os parabéns, gritando para serem ouvidas apesar da música que voltava a ser tocada, desta vez por um DJ. Simon esperou que todos a tivessem cumprimentado para recebê-la com um beijo. Sarah riu e foram andando abraçados até onde os outros estavam.

A música tocava. Sarah e Simon dançavam a seu próprio ritmo, com os corpos colados. Michele e Kevin riam de algo que Meredith havia dito de forma afetada. Os três estavam ainda sentados nos bancos que rodeavam o salão escurecido. Piedro olhou pelo canto do olho para o lindo sorriso de Michele, enquanto pedia uma bebida no bar.

Distraindo-o, uma garota com pele amorenada e cabelos bagunçados de tanto dançar entrou em seu campo de visão, no mesmo momento em que o copo da bebida azul chegava para ele.

– Está sozinho nesta festa? – Ela perguntou de forma sedutora.

Ele pensou um pouco sobre se deveria dar bola para essa estranha. Resolveu que era melhor do que passar a noite sentado olhando a loura que lhe prendia o olhar dançar com as amigas. Ele olhou para o copo que segurava e deu um gole. O gosto forte de álcool queimou sua garganta, mas o ajudou a decidir. Ele olhou para a anônima à sua frente e respondeu:

– Sim... Estou sozinho.

Ela sorriu e puxou Piedro para a pista de dança, enquanto ele bebia o restante da bebida, a tempo de colocar o copo vazio na bandeja de um garçom que passava.

Várias horas de festa, uma enorme quantidade de músicas e muitos pares de desconhecidos que se uniam para dançar depois, Sarah veio abraçar Michele, Analu e Meredith.

– Já vai? – A loura arregalou os olhos, hoje sem óculos.

A morena, que agora tinha os cabelos bagunçados caindo sobre o vestido de cor escura, deu de ombros, rindo. Ela continuou, enquanto Simon a abraçava de lado:

– O Simon vai me levar pra casa – ela deu um meio sorriso – então já vamos indo... Eu tenho que chegar em casa antes de 1:00 da manhã.

Elas riram. Meredith puxou o braço do irmão que pegava outro copo de cerveja, provavelmente o quarto da última hora. Ela disse, em tom irônico, para a outra:

– Até parece a Cinderela...

– Mas tenho uma hora a mais. – Sarah disse, mostrando a ponta da língua.

–... Bem, acho que euzinha aqui vou ter que dirigir, já que esse aqui – Meredith indicou Kevin – não está em condições. Beijos, meninas.

Meredith deu beijinhos rápidos em Michele e Analu e saiu ao lado de Sarah e Simon, ainda arrastando o irmão pelo braço. Logo que os quatro saíram, Analu se virou para a amiga.

– Michele... Já tá mesmo ficando tarde... Você ainda vai ficar muito tempo? – Ela perguntou, claramente desejando uma negação.

A loira riu. As quatro haviam combinado de passarem a noite juntas, de não abandonarem ninguém, já que só conheciam umas às outras na festa. Com exceção de Meredith, mas ela passou a maior parte da festa com elas.

– Analu, se quiser pode ir. Sério, não tem problema. – Os olhos negros da outra ainda a encaravam. – Relaxa! Meus pais saíram hoje à noite também, então eles só vão vir me buscar daqui a uma hora... Até lá, eu me viro por aqui.

Analu olhou pelo canto do olho para onde Daniel estava. Ele a viu e sorriu malicioso. Ela foi até ele, que logo a envolveu num beijo demorado. A garota olhou uma última vez para a outra, que continuava perto dos bancos da entrada, e acenou, despedindo-se. Michele acenou de volta, antes de ver a garota pequenina sumir por uma das saídas com o garoto alto ao seu lado, abraçando sua cintura.

Bem, o jeito é dançar e se divertir só, mesmo, Michele pensou. O DJ ainda tocava animadas músicas eletrônicas quando um rapaz surgiu à sua frente. Ela ainda não havia reparado em como ele era bonito, ainda mais com a roupa chique do baile, mesmo que estivesse com a gravata frouxa e a blusa charmosamente por fora da calça.

Ele era só um pouco mais alto do que ela, com olhos castanhos escuros que, quando a encontraram, não sabiam o que dizer. Piedro já a havia cumprimentado, no início da festa, mas ainda não haviam conversado. Ele acabara de dar um fora em outra garota, com quem dançara depois da morena. Incrível como as moças, principalmente as bêbadas, são capazes de tentar a chance com qualquer desconhecido em uma festa assim.... Mas ele não quis nenhuma delas, já que só tinha olhos para a que estava agora à sua frente. Tentou, enfim, começar:

– Oi, Michele... Você está linda.

Ela sorriu, enquanto passava uma mecha loira de cabelo por trás da orelha e sentindo a pele corar. Michele respondeu:

– Obrigada. – Ela parou um instante para analisá-lo, somente o suficiente para ter certeza do que deveria dizer. – Você também está. Er, quer sentar?

– É claro. – Ele respondeu e sentou-se ao lado dela no banco de couro negro da boate. Tentou criar assunto. – Está gostando da festa?

– Estou... Mas ainda não tive um tempo para curtir só por mim, já que as garotas estavam aqui até quase agora.

Ele sorriu. Ele tinha um belo sorriso.

– Michele, você... Quer ir dançar?

– Com você? – Ela revirou os olhos, mas voltou a sorrir e olhou para ele de novo. – Quero.

Ela segurou sua mão e ele a levou até o meio da pista. A música havia diminuído um pouco o ritmo, então eles dançavam bem próximos um do outro, com os movimentados sincronizados.

– Sabe o que eu estava lembrando agora?

Michele adivinhou. No dia em que se conheceram, as amigas de Michele haviam entrado no mar, junto com Tate. Ela e Piedro estavam sentados na areia, olhando para o sol que logo iria se por. A garota havia pousado a cabeça no ombro do rapaz, que passou a mão, alisando seus longos cabelos loiros, desarrumados pelo vento. Estavam conversando sobre alguma coisa, mas pararam, se olhando, enquanto iam aproximando os rostos. Foi aí que Cassie chamou Michele para ir para o mar e esta percebeu que estava um pouco perto demais do garoto à sua frente.

– Daquela hora, antes do pôr do sol?

É claro que ele entendeu, pois era isso mesmo em que ele pensava. Assim, confirmou com a cabeça.

– Aquilo foi meio... Tenso.

– É, foi meio estranho. - Ela concordou.

Agora suas mãos estavam entrelaçadas, enquanto diminuíam o ritmo da dança até pararem. Michele nem percebeu desde quando estavam assim. Olhou para o rosto de Piedro, encontrando seus olhos castanhos. Não vai ter nenhum problema se eu perguntar... Ela respirou fundo e se ouviu dizer ao amigo:

–... Quer ficar comigo?

Os olhos do rapaz se arregalaram. Ele não esperava que ela fosse, de fato, perguntar isso. Apesar de estar surpreso, não hesitou em responder:

– Quero.

Bem simples, com poucas palavras trocadas a respeito, mas com todo o entendimento necessário. Sabiam que só haviam aceitado a união por certo tempo, que provavelmente não duraria até depois da festa... Teria que ser o suficiente para serem felizes juntos.

Ainda de mãos dadas, foram andando até um canto, perto do palco, agora vazio. Inicialmente tímido, Piedro uniu seus lábios aos de Michele, que facilmente correspondeu ao beijo. Ela havia se encostado na parede e passava os dedos pelos cabelos curtos de Piedro, puxando-o mais para perto. Ele tinha uma mão também por entre seus cachos desmanchados e a outra firme em sua cintura fina.

Finalmente pararam, cruzando os olhares. Olhos azuis acinzentados bem claros encontrando olhos que, no escuro do salão, eram negros. Ela deu um sorrisinho de lado, nervosa com o momento, sendo correspondido por um olhar tranquilo. O rapaz deu de ombros e passou a mão pelo rosto dela, tocando-o apenas com a ponta dos dedos. Era isso o que Piedro queria: Finalmente estar ali com Michele.

Ela não tinha a mesma segurança, já que estava beijando seu melhor amigo, sem saber quais seriam as consequências disso. Mas, por hora, ela estava feliz. Gostava de estar com ele, só como amigos, e deste modo não era diferente. Agora, nem ligava para os boatos que, ela sabia, iriam surgir se houvessem mais pessoas que os conhecessem na festa. Felizmente não havia. Uma preocupação a menos. Pensando bem, por que estragar esse momento? Toda e qualquer preocupação ou incerteza poderia esperar.

Piedro pôs o cabelo dela detrás da orelha, de onde havia caído. Michele riu e segurou o rosto dele com as duas mãos, puxando-o para outro beijo.

***

Segunda-feira após o Baile da Olimpus High School. 5:00 da tarde. Piedro parou poucos passos antes de chegar à porta da sala, ao ver a moça loira que estava sentada em um banco no corredor. Ela tinha uma expressão preocupada. O coração de Piedro batia tão forte que parecia que sair de seu peito. Não falaria nada a ela, mas estava totalmente apaixonado por Michele. Sentiu um leve empurrão no ombro esquerdo.

– Vamos, cara!

Era Gregory Potter, um dos garotos da aula de jazz. Ele tinha a pele clara, marcantes olhos castanho-claros e os cabelos negros estavam sempre caindo em seu rosto. Ele exibia um sorriso bobo, esperando pelo amigo, com as sobrancelhas sutilmente levantadas, esperando uma resposta.

Piedro tentou sair do transe, mas foi um pouco difícil tirar Michele e a festa do fim de semana da cabeça. Nem ele nem ela tinham contado a ninguém que haviam ficado. As únicas pessoas que os haviam visto juntos não ligavam realmente. Algumas haviam interceptado o rapaz, que dava repostas evasivas, tentando esconder sem sucesso a timidez. Isso as fazia revirar os olhos e deixar para lá.

– Vai na frente, Greg. – Ele falou. – Eu preciso falar com uma pessoa.

Greg usou dois dedos para seguir o olhar de Piedro, terminando na garota no banco, que levantou o olhar do livro que lia. Ela o olhou como se ele fosse doido, o que é fácil de pensar ao ver alguém te analisando, enquanto aponta para você com o indicador e o dedo médio. Ele sorriu, mostrando um sorriso com aparelho preto. Michele viu então Piedro, ao lado do garoto que sorria.

Piedro empurrou Greg para o lado, pela gracinha, e saiu balançando a cabeça e rindo do amigo. Ouviu ainda uma despedida, mas não respondeu, pois já estava de frente para a menina do banco.

– Eu não o conheço! – Brincou, levantando as mãos em sinal de inocência.

Michele riu. Ela se levantou e o abraçou. Ele tinha um cheiro muito bom, apesar de ela não saber definir de que era. Assim como o dele, o coração dela estava bem acelerado. Não sabia o que iria acontecer. Não queria nada sério com o melhor amigo. Isso poderia estragar tudo. Como sempre fazia quando estava nervosa, parou de pensar a respeito para ver como tudo ia se desenrolar.

Ela deu de ombros com um sorriso e tentou puxar assunto:

– Bem, e aí? Como é que foi o fim semana?

– Eu dormi a manhã toda no sábado!

Os dois riram. A festa tinha sido na sexta. Ou melhor, tinha começado na sexta. Era bastante compreensível que qualquer um que ficou até quase o final – como eles dois – estivesse bem cansado quando chegasse em casa.

–... E fui andar de skate no Millenium Park...

Michele o olhou, incrédula.

– Você anda de skate?

Piedro não sabia se a surpresa dela era uma coisa boa ou ruim.

– Ando. Por quê?

– Ah, por nada. Só acho legal. – Ou melhor, eu acho bem mais que “legal”. Adoro garotos que andam de skate! Não que isso vá interferir em alguma coisa...

– E como foi o seu fim de semana, srta. Williams?

Ela pensou um pouco.

– Também dormi até tarde no sábado, - ela riu – estudei inglês... Tive tanta coisa para estudar que acho que o único momento em que me diverti foi mesmo na festa...

Ela sorriu, mostrando os dentes branquinhos. Estavam caminhando até a sala dela. Suas mãos estavam perto até demais uma da outra. Tentando fazer isso de modo casual, ele segurou a mão dela.

***

No dia seguinte, Piedro estava bastante confiante. Bem, isso até que Greg viesse falar com ele:

– Ei, - ele disse, com o habitual ar brincalhão - “to” sabendo sobre você e aquela loirinha!

Em seguida, ele começou a mimicar beijos com uma garota invisível. Só parou de rir quando Piedro abaixou o boné que Greg usava, cobrindo seu rosto. Aquele tentou encontrar algo para dizer que fizesse o amigo parar.

– Ah, cala essa boca... – Ele falou, sem jeito. Greg respondeu com um olhar irônico e animado, ao mesmo tempo. – Eu nem sei o que existe, de fato entre a gente.

Gregory parou de sorrir, meio encabulado e abriu o jogo:

– Olha, Johnson, - não era exatamente um bom sinal quando alguém lhe chamava pelo sobrenome, como Greg fizera agora – eu falei disso com ela e....

– O que ela disse? – Piedro estava quase tão nervoso para ouvir essa resposta como estava para falar com Michele na véspera.

–... Ela não quer nada sério contigo, man.

O rosto de Piedro ganhou rapidamente uma expressão de decepção, ao ouvir estas palavras. Era exatamente o que temia e nunca havia descartado isso como uma opção, mas ouvir isso, de modo tão breve e imediato era meio duro. Greg tinha o “poder” de ser curto e grosso, não dando a mínima para o que isso causaria.

Tudo que saiu da boca de Piedro foi:

– Ah... Bem, eu também não queria nada sério com ela, - mentiu – mas gostei de ficar com ela. Acho que se rolasse outra vez ia ser legal.

Esforçava-se para que o amigo não percebesse que, nas entrelinhas, o que dizia era que não queria que rolasse só “outra vez”, queria que houvessem várias “outras vezes”....

– Tipo, se der certo e a gente sair qualquer dia, eu dou um jeito de juntar vocês dois.

Esse era exatamente o jeito de Greg Potter: bancar o expert em relacionamentos, mesmo que nunca tivesse tido nenhum com mais de uma semana. Piedro deu de ombros, como se fosse indiferente a isso.

– Tá bom.

Daí, ele percebeu uma coisa:

– Espera aí... De onde vocês se conhecem?

–... Acho que ela deve ter tido tanta vergonha de admitir que me conhece, quanto você teve! – Ele disse rindo. – Eu sou do colégio dela, o Bryce High School.

Isso poderia ser útil, para se aproximar de Michele, mas achou melhor deixar para planejar isso mais tarde.


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Notas finais do capítulo

Sempre aceito comentários ;)



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