Conto De Fadas Moderno escrita por Letícia Matias


Capítulo 30
Capítulo 30




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– Gen. – ouvi alguém me chamar.

Abri meus olhos lentamente e pisquei algumas vezes para minha visão se adaptar a claridade do ambiente. Levantei um pouco minha cabeça e olhei para Noah.

– O trem chegou, vamos¿

Assenti e me levantei com preguiça. Eu estava com o corpo tão quente! Não estava mais com frio. Bocejei e peguei minha mala no banco, Noah pegou a dele e passou o braço por meus ombros. Envolvi sua cintura com o meu braço livre e começamos a andar em direção ao trem.

Quando entramos no trem, procuramos por nossos assentos. Me sentei e Noah colocou as malas no que eu chamava de “porta-malas” acima de nossas cabeças, pois eu não sabia qual era o nome daquilo mesmo. Talvez fosse porta-malas mesmo. Depois disso, sentou-se do meu lado. Eu estava do lado da janela e ele no lado do corredor.

Ficamos em silêncio até que o trem saísse da Penn Station. Teríamos pela frente uma hora e meia de percurso mais ou menos. Olhei para ele depois que o trem começou a se locomover e disse baixinho:

– Você ligou para sua mãe¿

Ele balançou a cabeça negativamente.

– Coitados dos seus pais. Eles devem estar preocupados.

Noah suspirou.

– Quando chegarmos no hotel, eu ligo para eles.

Assenti e bocejei.

– Ainda está com sono¿ - ele perguntou incrédulo.

Ri baixinho.

– Sim. Se você não se lembra, não dormimos muito.

Ele riu.

– Ah, é verdade.

Revirei os olhos.

Ficamos em silêncio novamente e eu comecei a me lembrar dos acontecidos de algumas semanas atrás. Lembrei de Noah sendo levado para o hospital, de entrarmos no hospital, eu do lado da maca dele vendo sua camisa ensopada de sangue.

Estremeci com o pensamento e olhei pela janela.

– Está com frio¿ - ele perguntou.

Olhei para ele e disse:

– Não. Estava só lembrando de uma coisa.

– Do que¿

Mordi o lábio e depois falei:

– De você no hospital.

Ele olhou para a janela e pareceu desconfortável. Depois, olhou para mim e deu um sorriso murcho.

– Eu não notei se ficou alguma cicatriz na sua costela. – comentei num tom de voz baixo.

– Ficou. É pequena, mas ficou.

– Você teve notícias do Austin¿

Com um suspiro ele olhou para a janela e disse:

– Pelo o que me falaram, foi preso por tentativa de homicídio e porte ilegal de armas.

Assenti não querendo entrar demais no assunto porque vi que isso o deixava desconfortável. Resolvi não falar mais nada e deitei minha cabeça no seu ombro novamente. Depois de um minuto de silêncio, Noah disse:

– Eu fui ver você no quarto aquele dia.

Franzi o cenho e levantei a cabeça para olhá-lo.

– Como assim¿

– Eu fui no quarto te ver, mas você estava dormindo. Nate estava lá. Achei que ele tivesse te contado isso.

Balancei a cabeça negativamente.

– Ele não contou.

Estávamos falando baixinho para não sermos ouvidos pelas outras pessoas no vagão.

– Bom, eu fui e tudo o que eu queria é que você acordasse e falasse comigo. Eu... – ele parou e riu nervosamente olhando para suas mãos no seu colo.

Fiquei olhando para ele, com um nó na garganta. Analisei seu perfil. Sua barba cerrada, seu nariz reto, seu cabelo, sua costeleta, sei queixo...

– Eu fiquei arrasado. Estava preocupado com você e me sentindo culpado. Nate disse que a culpa era minha e que eu não te merecia e eu quis mandar ele para aquele lugar, mas, no fundo eu sabia que ele estava certo. A culpa foi minha e eu não te mereço.

Balancei a cabeça e franzi o cenho ainda olhando para ele em silêncio. Ele olhou para mim e depois continuou.

– Depois ele me disse que vocês estavam meio que juntos e aí eu fiquei pensando que era melhor eu ter morrido com aquela bala na minha costela.

– Noah! – eu disse repreendendo-o ainda com o tom de voz baixo.

Ele olhou para mim e sorriu rapidamente ao ver minha cara para ele. Ele tornou a olhar para as suas mãos e falou:

– Mas é verdade. Eu preferia morrer do que ver você com outro. Então eu voltei pro meu quarto e fiquei pensando em todo o tempo que namoramos, em tudo o que você já tinha feito, nas nossas brigas em... Tudo. E aí eu vi que tinha te perdido e que eu sempre fui um idiota completo.

Mordi o lábio.

– E no outro dia você apareceu lá no meu quarto e por mais que eu tivesse prometido pra mim mesmo antes de dormir, te deixar em paz, eu acabei de beijando.

Sorri olhando para minhas mãos.

– É você não cumpre as suas promessas com muita frequência. – eu disse e ele riu.

Depois eu ri.

– Eu fico feliz que você tenha me beijado aquele dia porque... Por mais que eu não quisesse, isso me fez perceber que eu ainda amava você, apesar de tudo.

Ele olhou para mim e ficamos nos olhando por um tempo, sem dizer nada.

Suspirei e tornei a deitar minha cabeça em seu ombro. Curvei-me um pouco mais e lhe dei um beijo suave no pescoço. Olhei a marca arroxeada da minha boca e sorri. Deitei minha cabeça e fiquei olhando pela janela até acabar adormecendo novamente.

***

Fui acordada pela voz do maquinista nos alto falantes do vagão dizendo que dentro de meia hora chegaríamos ao nosso destino.

Eu estava com fome então chamei Noah para ir tomar um café no outro vagão. Quando chegamos no outro vagão, pegamos um assento mais próximo da porta. O vidro da janela estava um pouco embaçado, mas era possível ver a nevasca fina e presumi que logo os trens parariam de funcionar porque as linhas de trem ficariam congeladas. O céu estava cinzento e os pinheiros balançavam fortemente.

Noah sentou-se de frente para mim, havia uma pequena mesa entre nós com uma toalha cor salmão em cima dela com dois menus e um botão para que apertássemos quando decidíssemos o que pedir. Na mesa estava também uma miniatura de árvore de Natal. Era um pequeno pinheiro coberto de neve. Era muito bonitinho.

– Eu vou querer um latte, e você¿ - Noah perguntou.

– Eu também.

Ele apertou o botão e logo uma moça de cabelos loiro veio nos atender. Noah fez o pedido e ela assentiu se retirando.

– E então, o que faremos quando chegar lá¿ - Noah perguntou.

– Achar um hotel.

Ele riu.

– É, acho que é importante. – depois ele parou e olhou nos meus olhos e ficou me olhando sem dizer nada.

Sustentei seu olhar por um tempo, até me sentir constrangida e desviar o olhar. A moça chegou com os nossos cafés e eu agradeci. Ela se retirou novamente e eu olhei para Noah, que ainda estava me olhando.

Engoli em seco.

– O que foi¿

Ele balançou a cabeça.

– Estava pensando em uma coisa.

Arqueei uma das sobrancelhas.

– Em que¿

– Podíamos ir ao banheiro depois de tomarmos o café.

Franzi o cenho e balancei a cabeça sem entender. Soltei uma risada e olhei para ele novamente. Meu sorriso foi desaparecendo ao entender o que ele estava querendo.

Ele deu um sorriso torto ao ver que eu tinha entendido e deu um gole no seu café.

Estreitei os olhos e sussurrei:

– Você anda muito pervertido.

– É algo que eu nunca fiz. – ele disse dando de ombros.

Engoli em seco e me remexi na cadeira. Como que o assunto tinha mudado para esse tão de repente¿

Ele estava com os olhos fixos em mim, me analisando.

– Para de me olhar assim. – eu disse.

Meu coração disparou ao pensar na ideia. Tomei um gole de café e reprimi um sorriso.

– Você andou lendo Cinquenta Tons de Cinza¿ - perguntei.

Ele riu.

– Não Genevieve. Minha vontade de tocar em você não depende de livros.

Arregalei os olhos. De repente pareceu que o vagão todo estava em silêncio e ele tinha falado aquilo alto demais. Olhei em volta mas vi que era apenas paranoia pois todos que estavam ali estavam conversando entre si ou absortos em suas leituras.

– Você está me deixando sem graça. – eu disse sentindo minhas bochechas corar.

Ele reprimiu um sorriso e levantou-se.

– Te espero no banheiro. – ele disse passando por minha cadeira.

Fechei os olhos e respirei fundo reprimindo um sorriso. Senti minhas mãos tremendo uma vontade de rir escandalosamente.

– Não faça isso. – sussurrei baixinho para mim mesma.

Fechei os olhos novamente e depois de um tempo levantei-me e olhei para a porta do outro vagão, onde ficava o banheiro.

Não ou fazer isso. – pensei indo em direção a porta do nosso vagão. Parei no meio do caminho e olhei de novo para a porta do vagão onde Noah tinha entrado.

Comecei a andar para aquela porta. Quando troquei de vagão, entrei no banheiro. Ninguém pareceu notar.

Noah sorriu e trancou a porta do banheiro minúsculo como o de um avião.

– Eu sabia que você viria.

Depois de dizer isso, ele pegou minhas pernas e passou por volta da sua cintura, enfiando sua língua em minha boca antes que eu pudesse dizer alguma coisa.


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Notas finais do capítulo

E aí pessoal, vocês iriam pro banheiro também? kkkkkkkkk
Espero que tenham gostado.
Beijos e até o próximo capítulo.



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