Conto De Fadas Moderno escrita por Letícia Matias


Capítulo 25
Capítulo 25




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Entrei timidamente no quarto 120. A televisão estava ligada num volume baixinho. Ele pareceu não notar minha presença ali, então encostei-me na porta e fiquei observando-o.

Ele estava com uma roupa daquelas de hospital, encardida como a camisola que eu estava vestindo na noite anterior, estava com um dos braços engessado, sua barba estava por fazer e seu cabelo estava bagunçado.

– Oi Gen. – ele disse.

Eu achei que ele não tivesse me notado. Ele virou a cabeça para me olhar com seus olhos castanhos e grandes.

Engoli em seco.

– Oi Noah. – eu disse e avancei, indo em direção á maca.

– Como você está¿ - ele perguntou se sentando.

– Melhor que você.

Ele sorriu e eu também.

– Eu... Fiquei sabendo sobre você. Sinto muito por ter passado mal.

Assenti.

– É essas coisas acontecem.

– Você tem que ver isso, você nunca teve problema de coração.

– Eu já fiz os exames hoje de manhã. Não deu nada. Foi só o momento mesmo, o nervoso, o estresse...

Ele assentiu.

– Sobre isso... Eu fui egoísta, não devia ter ligado pra você. Mas cara, quando vi você do lado da maca quando eles estavam entrando comigo, eu sabia, eu disse pra mim mesmo que eu podia morrer feliz.

Ele me olhou no fundo dos olhos e eu desviei, olhando para baixo.

– Eu não fazia a mínima ideia do que ia acontecer comigo. Mas, eu não esperava que você fosse me encontrar ir atrás de mim, se preocupar comigo.... – ele disse.

Suspirei.

– Noah... Eu terminei com você, mas isso não significa que eu deixei de me preocupar com você ou que eu parei de te amar, eu...

– Você ainda me ama¿

Olhei para ele parando de falar e engoli em seco.

– Eu... Isso não vem ao caso. Só, não parei de me importar com você. Você faz parte da minha vida. Eu me importo e me preocupo sim com você. Acha mesmo que eu queria ver você morto¿

– Deveria querer.

Balancei a cabeça.

– Eu te fiz sofrer tanto. Como consegue ainda se preocupar comigo¿ Como consegue me... Amar depois de tudo¿

Baixei a cabeça e balancei a cabeça.

– Não sei.

Tornei a olhá-lo.

– Só estou feliz de que você está vivo, Noah.

Ele balançou a cabeça e respirou fundo.

– O quê¿ - perguntei.

– Eu realmente não te mereço. Você é boa demais.

Reprimi um sorriso.

– E então, como conseguiu levar um tiro do seu melhor amigo¿

Ele respirou fundo e desligou a televisão.

– Nós brigamos, saímos na porrada, sabe¿ E ele tinha uma arma. Foi isso.

Balancei a cabeça.

– Não vou dizer nada sobre isso. Você sabe que poderia passar horas falando sobre como você é irresponsável, como eu te avisei quinhentas mil vezes sobre ele. Mas não vou falar nada.

Ele assentiu sorrindo.

– É eu sei. E você tinha razão, como sempre teve em todas as brigas. EU só era orgulhoso demais parta admitir.

Ficamos em silêncio por um tempo e depois Noah quebrou o silêncio.

– Fiquei sabendo que aquele seu amigo Nate esteve aí com você. Vocês estão saindo¿

– Mais ou menos. – eu disse. – É complicado.

– Bem, o que posso dizer¿ Odeio ele e ele é um filho da mãe sortudo por ter você.

Sorri.

– Ele também te odeia.

Noah riu.

– Que não me odeia, tirando você¿

Balancei a cabeça e sorri.

– Você vai ficar aqui até quando¿ - perguntei.

– Amanhã.

Assenti.

– Espero que você tome jeito agora, Noah. Que você... Cresça e prospere.

– Eu vou mudar Gen. Por você.

– Você não tem que mudar por mim, mas sim por você. Para o seu bem.

Ele assentiu.

– Eu... Tenho que ir. – eu disse. – Vou embora pra casa, finalmente.

Olhamos um nos olhos do outro.

– Tchau, Noah.

Eu me virei para ir embora quando senti a mão forte de Noah pegar meu pulso e me puxar virando-me para ele. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele me beijou. Foi um beijo feroz, mas ao mesmo tempo suave e gentil. Era assim o beijo dele. Toquei seu rosto delicadamente com a ponta dos dedos e por mais que eu quisesse empurrar ele, retribuí o beijo.

Quando nos separamos, baixei minhas mãos e olhei para ele.

– Desculpe, eu precisava fazer isso. – ele disse.

Olhei para o outro lado, evitando seu olhar. Peguei minha bolsa que tinha caído no chão.

– Eu tenho que ir.

Ele não disse mais nada e não tentou me agarrar novamente, apenas me deixou ir até a porta do quarto. Saí do quarto fechando a porta atrás de mim e encostei-me nela fechando os olhos e respirando fundo.

Quando abri meus olhos novamente, Nate estava sentado num banquinho de frente para a porta. Ele estava me olhando. Ele tinha ido para casa trocar de roupa e já estava de volta. Estava usando um suéter preto, calça jeans e um tênis.

– Você chegou. – eu disse. – Está esperando muito tempo¿

– Não. – ele disse baixinho e se levantou. – Eu... Vi o que aconteceu ali dentro.

Abri minha boca para falar, mas logo a fechei. O que eu tinha a falar¿ Jogar toda a culpa em Noah¿ Dizer que eu não retribuí o beijo¿ Eu não tinha nada para argumentar. Ele colocou a mão nas minhas costas e começamos a andar em silêncio pelo corredor.

Ficamos em silêncio até a saída do hospital. Quando passados pela porta automática, paramos e ele olhou para mim e disse:

– Gen, acho que isso não vai dar certo.

Olhei para ele.

– Eu... Pude observar você esses dias e analisar todos os fatos. Eu concluí que você está confusa. Você disse ontem que queria ficar comigo, mas, você não quer.

– Eu...

Ele levantou a mão pedindo para que eu me calasse e eu parei de falar de imediato.

– Você disse que quer, mas está confusa. Eu não estou de julgando. Eu gosto de você, gosto de cuidar de você e não me arrependo de nada. Dormimos juntos ontem a noite e sabe o que você disse enquanto dormia¿

Fiquei calada.

– O nome do Noah. – ele disse analisando meu rosto. – Eu não te julgo, vocês terminaram há pouco tempo, você pode não querer admitir, mas você ainda gosta dele. Talvez não do jeito que gostava antes, mas ainda gosta dele. Você está confusa, saiu de um relacionamento há pouco tempo e estava vulnerável. Estava carente, precisando de alguém. E foi só isso.

– Nate eu... Eu gosto tanto de você, eu não quero te magoar, eu...

– Eu sei, eu sei. – ele disse me puxando para seus braços.

Passei meus braços ao redor dele e ele me abraçou depois disse:

– Eu te entendo, não estou magoado, estou chateado, mas estou chateado porque sei que não posso ficar com raiva de você. Você não tem culpa. Está tudo bem Gen. Prefiro ver você com o idiota do Noah, feliz, do que eu te fazer infeliz.

– Você não me faz infeliz. – eu disse olhando para ele. – Não fez quando estávamos juntos.

– Eu sei disso. – ele disse calmamente. – Mas, você não quer isso agora. E eu te respeito e quero te ver feliz, por isso estou esclarecendo as coisas. Qualquer que seja sua decisão, eu vou aceitar. Eu vou continuar te amando, falando com você do mesmo jeito. – ele disse dando de ombros. – Se você precisar de mim, estarei aqui para você.

Balancei a cabeça e te dei um abraço.

– Você vai pro céu, sem nem mesmo parar. Vai direto.

Ele riu e balançou a cabeça. Segurou meus ombros e olhou-me nos olhos.

– Se cuida, ok¿ Eu preciso ir trabalhar, mas se precisar de alguma coisa, você pode me ligar, pode ir na minha casa... Você sabe disso, não sabe¿

Assenti.

– Obrigada, Nate. – suspirei. – Por tudo. Você é incrível.

Abracei-o novamente e ele beijou meu cabelo.

– De nada, Gen. Eu preciso ir agora.

Assenti e soltei-o.

Ele acenou e foi em direção ao seu carro.

Fiquei olhando o carro dele, até desaparecer do estacionamento.

– Ei Genevieve!

Olhei para os lados procurando por que me chamava.

James estava vindo em minha direção, vestido com seu jaleco branco. Sorri para ele e acenei.

Ele chegou até mim alguns segundos depois e disse:

– Já está indo¿

– Não, eu... Estava conversando com o Nate.

– Fiquei sabendo que você foi visitar o Noah.

Assenti.

– Você e o Nate terminaram, não foi¿

Olhei para ele.

– É complicado. – tornei a olhar para o movimento em frente ao hospital. – Nem mesmo começamos.

– Então porque você não me explica essa situação complicada enquanto tomamos um café¿

Olhei para ele e sorri.

– Vamos lá.

***

– Isso faz de mim uma pessoa horrorosa¿ - perguntei depois de contar tudo o que tinha acontecido.

Estávamos sentados no refeitório do hospital, naquele mesmo refeitório que eu e Nate tínhamos tomando chocolate quente na madrugada anterior.

– Não, Gen. Não faz. Eu tenho que concordar com o Nate. Quer dizer, ele ficou chateado, óbvio, eu também ficaria! Mas, você não tem culpa. Não pode se culpar de amar um idiota, seja ele Noah ou qualquer outro.

– Na verdade, eu não sei o que eu quero. Acho que preciso de tempo pra pensar e esclarecer tudo. Preciso de um tempo sozinha, sabe¿

Ele assentiu.

– E Nate entende isso. Por isso decidiu “terminar” as coisas.

Assenti e suspirei.

– Ah, mas minha vida é um desastre.

Ele riu.

– Não se preocupe, não é a primeira pessoa a ter esse tipo de confusão em relacionamentos, Gen.

Sorri.

– É, acho que você tem razão. Obrigada, James. Por tudo! Você cuidou muito bem de mim e é uma ótima pessoa.

Ele balançou a cabeça e sorriu.

– Está tudo bem.

– Já sabe onde vai passar o Natal¿ - perguntei.

– Eu vou viajar. Vou fazer uma viagem de trem pela Europa.

Arqueei as sobrancelhas.

– Nossa, que legal!

Ele assentiu.

– Sim, vai ser bem legal. E você, vai para Londres¿

Balancei a cabeça negativamente.

– Não, vou ficar aqui mesmo. E eles não vão vir pra cá porque vão passar o Natal com a sua família, eu acho. E eu não vou poder viajar. A rádio só vai parar no dia vinte e quatro e vinte cinco, então...

Ele assentiu.

– Bem, se eu conseguir, passo no seu apartamento para te desejar um feliz Natal.

Sorri.

– Tudo bem, vou ficar esperando.

Ele olhou no relógio e disse.

– Eu tenho que ir Gen. Meu tempo já acabou. – ele disse se levantando.

Levantei-me também pegando a bolsa.

– Obrigada pelo café. – eu disse.

Ele sorriu.

–Não foi nada. Ah, se sentir alguma coisa, volte para cá, ok¿ Qualquer coisa, você tem o meu telefone, pode me ligar. Se cuide, Gen!

Ri.

– Pode deixar James. Obrigada! – dei um abraço nele e ele sorriu depois saiu em direção aos corredores.

***

O vento gelado entrava pela brecha aberta da janela do meu carro, balançava um pouco os meus cabelos. Eu estava aliviada de estar voltando para casa. Eu precisava passar um tempo sozinha, respirar... Eu estava realmente confusa sobre tudo.


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