Conto De Fadas Moderno escrita por Letícia Matias


Capítulo 23
Capítulo 23




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/561908/chapter/23

Eu não me lembro quando apaguei e não me lembro se tinha deixado alguém falando sozinha no meio de uma conversa, só percebi que tinha apagado, quando abri meus olhos lentamente ainda sentindo minhas pálpebras pesadas. Pisquei algumas vezes e olhei para a poltrona ao lado da cama. Estava vazia. O quarto estava iluminado apenas por um abajur de luz fraca e amarelada do outro lado do quarto. Passei a língua por meus lábios que estavam secos e virei a cabeça para o olhar para o outro lado. Pude ver pelas frestas da persiana, que o céu estava escuro lá fora e que estava chovendo e relampeando. O engraçado era que eu não conseguia ouvir o barulho da chuva. Talvez fosse a estrutura do hospital.

Mais uma vez me assustei com o barulho do bipe que se repetia de segundo em segundo. Olhei para o monitor, curiosa e forcei meus olhos para enxergar os meus batimentos cardíacos apesar de eles estarem em um número grande. 70 batimentos por minuto. Acho que era bom, não tinha certeza se era muito baixo ou muito alto. Eu estava com um pouco de dor de cabeça, a sentia pesar em meu corpo, e eu também estava estressada com aquele monte de fios ligados em mim.

– Que bom que você acordou.

Olhei para a porta e vi Nate vindo em minha direção.

Forcei um sorriso.

– Está se sentindo bem¿ Está com uma cara abatida.

Suspirei.

– Estou me sentindo exausta e minha cabeça está doendo e também estou com fome.

– Que bom que está com fome. Eles já estão trazendo o jantar.

Revirei os olhos.

– Que ótimo! Comida de hospital.

Olhei para ele e ele se sentou no pé da maca e sorriu para mim.

– Mas quanto mau-humor Gen!

Suspirei.

– Queria ir para casa.

– Mas não pode ir. Acabou de dizer que está com dor de cabeça!

Bufei e fechei os olhos. Quando os abri novamente, Nate continuava me olhando. Reparei que ele não tinha ido para casa, pois estava com a mesma roupa de hoje de manhã.

– Você não foi para casa¿ - perguntei.

Ele balançou a cabeça negativamente.

– Mas precisa ir. – falei. – Você não precisa ficar aqui. E quanto ao seu trabalho¿

– Gen, relaxe! Eu ficarei aqui e meus alunos podem muito bem comemorar minha ausência. Já está tudo resolvido. Ficarei aqui com você.

Balancei a cabeça.

– Não quero te prejudicar.

– Nossa, mas você é muito teimosa, sabia¿ - ele disse com a sombra de um sorriso nos lábios. – Dá para você relaxar¿ Não tem discussão. Eu ficarei aqui com você, ao menos que você me mande ir embora.

Suspirei e sorri.

– Por que eu faria isso¿ - respirei fundo e perguntei – Por quanto tempo dormi¿

– Você dormiu a tarde inteira. Os médicos disseram que você estava muito cansada, exausta e que os remédios tinham um calmante também. Disseram que era normal. Jack e seus amigos vieram te ver enquanto você dormia.

– Ah. – respondi e pisquei algumas vezes.

–Quantos homens na sua vida. – Nate disse.

Franzi o cenho e olhei para ele.

– Como assim¿

– Bom, enquanto você dormia, o médico loiro veio aqui umas três vezes checar se você não tinha fugido do hospital, seus amigos vieram te ver, aquele produtor esquisitão e barbudo veio também. Muitos homens para se importar com uma mulher só.

Sorri e balancei a cabeça.

– Não fale assim do Dr. James. Ele é irmão da minha cunhada e é uma ótima pessoa e quanto aos meus amigos, eles vieram me ver. E fariam isso com qualquer pessoa que conhecessem, iriam se preocupar do mesmo jeito. Quanto ao produtor, ele... Estava lá no estúdio quando Noah me ligou então muito provavelmente, ele veio me ver também já que saí correndo de lá. Isso não quer dizer que todos esses homens são a fim de mim ou me querem para eles do jeito que está insinuando.

Ele suspirou.

– Você não é homem para saber.

Revirei os olhos e ele sorriu.

Olhei para ele que não tirava os olhos do meu rosto. Depois de alguns momentos olhando para ele, baixei os olhos e sorri. Senti minhas bochechas esquentarem um pouco. Balancei a cabeça.

– O que foi¿ - ele perguntou com divertimento na voz.

– Suas alunas devem morrer de amores por você.

Ele franziu o cenho e sorriu.

– Por que¿

– Você devia se ver nessa roupa. Fica muito elegante e essa camisa valoriza seus ombros. É de tirar a concentração de qualquer pessoa.

Ele reprimiu um sorriso.

– Meus ombros tiram sua concentração¿

Arregalei os olhos ligeiramente e abri a boca para falar, mas nada saiu e então eu sorri envergonhada.

– Isso não vem ao caso. Não estou falando de mim.

Ele riu baixinho.

– É injusto. Você está todo bonito, mesmo depois de ter passado o dia no hospital, sentado nessa poltrona e eu estou aqui: descabelada, com a cara pálida e vestindo essa camisola desbotada e horrível.

– Ah Genevieve, você fala cada coisa. – ele disse balançando a cabeça e rindo olhando para o teto.

– Que bom que divirto você.

Ele tornou a me olhar, reprimindo um sorriso e suspirou.

– Você nunca consegue ficar feia. Nem mesmo na camisola de hospital.

– Ah, pare de ser mentiroso! – o acusei.

– Estou falando sério! Você nessa camisola fica... Frágil, sabe¿ Vulnerável. Dá até vontade de levar para casa e cuidar, como um cachorrinho.

Franzi o cenho e ri.

– Cachorrinho¿ Está falando que pareço um cachorrinho!

Ele revirou os olhos e antes que pudesse dizer alguma coisa, James entrou com uma bandeja na mão. Vi que tinha um prato de comida e mais algumas coisas.

– Que bom que está acordada, Gen. – ele disse vindo até a cama.

Nate se levantou do pé da cama e ficou em pé ao lado dela.

Sorri para James.

– Como está se sentindo¿ - ele perguntou colocando a bandeja em cima de uma mesinha ao lado da maca.

Suspirei.

– Estou com um pouco de dor de cabeça e me sentindo muito cansada. Isso é normal¿

– Bom você está estressada, nervosa... É normal que seu organismo esteja se sentindo exausto. Quanto a dor de cabeça, injetarei um remédio na sua veia para que faça efeito mais rápido. Você bateu a cabeça no chão quando desmaiou, então é até normal que esteja com dor de cabeça, mas, se não melhorar, você deve me dizer, tudo bem¿

Assenti.

– Está com fome também, não é¿

– Sim, mas não de comida de hospital. – fiz cara feia.

Ele riu injetando um remédio na mangueirinha onde estava correndo o soro até minhas veias.

– Ah, a comida daqui não é tão ruim. E temos frango hoje. Não é a melhor comida que você vai comer, mas também não é assim tão ruim.

Sorri.

– Espero que você coma. – ele disse me olhando bem nos olhos. – Quis trazer a comida eu mesmo para ver como você estava.

Senti minhas bochechas queimarem um pouco e sorri um pouco nervosa.

– Obrigada, James.

Ele sorriu.

– Procure comer, ok¿ Precisa se alimentar. Eu estou indo embora daqui a meia hora, então outro médico e enfermeiros virão pare checar você mais tarde.

Assenti.

– Mas se quiser, pode ligar no meu celular. – ele disse tirando um cartão do seu jaleco e me dando.

– Ah, não perturbarei seu sono sagrado. Você já trabalhou o dia inteiro... – respondi.

– Não tem problema. Não vai me perturbar. Se quiser, me ligue, mas, estará em boas mãos, te garanto.

– Obrigada, James. Tenha um bom descanso.

Ele assentiu com a cabeça e sorriu de volta.

– Tchau Gen. Procure descansar também, te vejo amanhã. – ele olhou para Nate e fez um leve maneio com a cabeça e Nate fez o mesmo.

Homens! – pensei e quase revirei os olhos.

James se retirou do quarto e Nate tornou a se sentar na maca, dessa vez mais perto de mim.

– Por que está com essa cara¿ - perguntei.

– Que cara¿

Estreitei os olhos e sorri.

– Está com ciúmes.

– Ciúmes do que¿ - ele perguntou.

Comecei a rir.

– Não aguento outro ciumento na minha vida. Estou avisando. Você não era assim quando namorávamos.

– Na verdade eu era só não deixava transparecer.

– Está admitindo que está com ciúmes do Dr. James¿

Ele suspirou e disse:

– Que tal comer sua comida, Jay¿ - ele disse pegando a bandeja e colocando-a sob minhas coxas.

Mordi o lábio inferior para reprimir um sorriso.

Peguei o garfo e dei uma olhada no prato. Arroz, frango com molho e uma salada de ervilhas. Fiz bico, mas empurrei a comida para dentro. E ela não estava tão ruim. Tinha também uma caixinha pequena de suco de laranja e um copo descartável, de sobremesa tinha uma gelatina amarela que presumi ser de abacaxi. Eu estava com muita fome então não disse uma palavra enquanto eu comia avidamente, olhando para meu prato, mas, eu podia sentir os olhos de Nate me observando a todo o momento.

Eu tinha que dizer que apesar de tudo o que aconteceu na semana passada e hoje, eu estava confusa em relação á ele. Ele era maravilhoso comigo e claramente se importava, mas... Será que era o certo eu voltar para ele¿ Claramente, por mais que eu não gostasse de admitir, eu me sentia atraída por ele, mas e quanto ao Noah¿ Eu tinha terminado com ele e hoje tinha quase passado por cima dos carros na ponte do Brooklyn apenas para vê-lo, porque eu não queria que ele morresse e eu estava desesperada, não queria perdê-lo.

Percebi que estava encarando a comida com o garfo fincado no arroz.

– No que está pensando¿ - Nate perguntou e eu olhei para ele.

Respirei fundo e forcei um sorriso depois balancei a cabeça.

– Nada.

Tornei a dar mais algumas garfadas na comida e comi quase tudo. Depois tomei metade do suco de laranja e dei algumas colheradas pequenas na gelatina.

Eu queria ver como Noah estava. Eu acho que precisava conversar com ele.

Depois de alguns minutos, uma enfermeira muito cuidadosa e sorridente veio pegar a bandeja e checar os monitores. Ela perguntou como eu estava me sentindo e se desejava alguma coisa e depois de eu ter dito que eu estava bem, ela foi até um armário do outro lado do quarto e pegou dos cobertores marrons de pelo e entregou um para mim e um para Nate.

– Sei que está bem frio, mas só temos dois cobertores em cada quarto. Ah, você quer tomar um banho agora¿ Posso tirar você do soro e se quiser posso te ajudar a tomar banho, se não estiver se sentindo muito bem pra ficar em pé.

Fiquei um pouco constrangida por Nate está ali escutando aquilo, e era idiotice minha, óbvio, mas fiquei constrangida.

– Ah... Seria ótimo tomar um banho. Acho que estou precisando. – sorri murchamente. – Eu... Acho que consigo tomar banho sozinha sim.

Ela sorriu e tirou-me do soro cuidadosamente e disse:

– Consegue ficar em pé¿

Isso parecia muito exagero, mas então me lembrei de hoje cedo quando tentei andar e minha cabeça doía um pouco mais forte do que estava doendo agora e quase caí no chão.

Respirei fundo e coloquei os pés no chão. Senti minha cabeça latejar um pouco mais forte, mas nada que eu não conseguisse suportar. Andei até a porta do banheiro, ela estava do meu lado.

Ela abriu a porta do banheiro para mim e acendeu a luz que era extremamente forte. Fechei os olhos rapidamente e baixei a cabeça.

– Ah me desculpe! – ela disse. – Acho que podemos diminuir um pouco mais a iluminação. – ela diminuiu a iluminação em um botão e ficou muito mais confortável. – Bem melhor, não acha¿

Sorri.

– Sim. Obrigada.

– Tem certeza que não precisa de ajuda¿

Assenti.

– Sim, eu estou bem. Obrigada.

Sorri. Ela era jovem, parecia ser mais jovem que eu. Tinha cabelos pretos e lisos presos num rabo de cavalo relaxado e vestia um uniforme verde.

– Se precisarem de alguma coisa, podem me chamar. Me chamo Abby. – ela disse para Nate e para mim.

Nate sorriu para ela e assentiu com a cabeça. Ela corou visivelmente e baixou a cabeça e se retirou do quarto.

Sorri para Nate e ele sorriu para mim um pouco preocupado.

– Deve ser seus ombros.

Ele riu baixinho e baixou a cabeça balançando-a depois se levantou e veio até a porta do banheiro onde eu estava.

– Tem certeza de que consegue tomar banho¿ Parece estar forçando os olhos. Sua dor de cabeça está muito forte¿

– Está forte mas, posso lidar com isso.

– Eu posso te dar banho.

– Não! – eu exclamei e tentei empurrá-lo colocando as mãos em seu abdômen, mas ele não se moveu.

– Gen, não seja idiota. Não queremos que você caia no chão no banheiro e bata a cabeça novamente.

– Eu estou bem. Você não vai me dar banho.

– Não é nada que eu não tenha visto antes.

Olhei para ele alarmada.

Ele riu.

– Ah, vamos! Você entendeu o que quis dizer. Somos adultos e não seria a primeira pessoa que vi pela...

– Nate! – exclamei. – Volte para cama seu pervertido!

Ele riu e eu lhe empurrei rindo.

– Está querendo se aproveitar da situação. – eu disse empurrando ele em direção à cama.

Ele se sentou na cama rindo e pegou meus pulsos.

– Não é isso, só não quero que você caia no banheiro.

– Eu estou andando e te empurrando. Empurrando um cara grande como você! Estou bem, veja!

Ele balançou a cabeça sorrindo e segurou minhas mãos.

– Suas mãos estão incrivelmente desoxigenadas. - ele disse num tom de voz baixo.

Sorri.

– Está falando com termos médicos! Que interessante.

Ele riu e antes que eu pudesse dizer alguma outra coisa ele entrelaçou seus dedos nos meus e se curvou para encostar seus lábios nos meus. Aqueles lábios quentes e macios. Fiquei um pouco surpresa com o acontecido, mas não o empurrei.

Depois ele arrumou sua postura e sustentou meu olhar.

Respirei fundo e tirei as mãos das dele e disse:

– Vou tomar banho.

Parti para o banheiro e sabia muito bem que ele estava me olhando enquanto eu andava até a porta do banheiro com aquela camisola desbotada, cinzenta e horrível.

Tranquei a porta do banheiro. Minha dor de cabeça estava mais amenizada. Olhei-me no espelho e vi que minhas bochechas estavam levemente coradas e que meu coração estava martelando um pouco mais forte que o normal.

Tirei a camisola e joguei-a no cesto de roupas. Tinha outra camisola dobrada em cima de uma prateleira de madeira. Olhei meu reflexo no espelho novamente e prendi meus cabelos num coque. Eu estava confusa, mas no momento, todas as setas apontavam para Nate.

Liguei o chuveiro e a água quente caiu em meus ombros relaxando-os imediatamente. Depois de alguns segundos, o banheiro estava cheio de vapor. Ah sim, eu estava precisando de um banho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Conto De Fadas Moderno" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.