Pureblood escrita por MaryCherry


Capítulo 18
Dezoito — Atos gentis.


Notas iniciais do capítulo

Olá para os meus biscoitinhos!(ノ ̄^ ̄)ノTudo bom com vocês? Aqui estou eu trazendo um capítulo novinho (e grandinho) feito com carinho (hoje estou inspirada pra colocar rimas na mesma frase uhaeuhehu) e bom, não tenho muito a dizer aqui, a não ser que espero que gostem desse capítulo e consigam extrair a mensagem que eu quis passar através dele... na verdade, esse não vai ser o único que vai passar uma mensagem. Todos passam, a história inteira tem algo a dizer. Vai de cada um de vocês entenderem o que conseguirem :'D UHSAUHSAHUFK Ah, e em uma das cenas aparece uma menção à música November Rain da banda Guns 'n' Roses, se possível dêem uma olhadinha na tradução. Eu coloquei essa música na cena por uma razão específica... será que em breve vocês descobrirão o que quer dizer? Pode ser que sim, pode ser que não *BAHAHAHAH* ( ` ▽´) Ok, chega de enrolar. Uma boa leitura e um beijo bem grandão~



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Para aqueles que refletem apenas sob a visão das aparências, a vida de uma modelo profissional é o mais puro glamour. As roupas mais maravilhosas, corpo de boneca, flashes de um lado para o outro, aplausos. Aparecer em capas de revistas, ter o amor de fãs que acompanham todos os seus passos e simplesmente não enxergam seus defeitos. Porque na realidade, uma modelo profissional consegue atingir naturalmente o possível — e impossível — da perfeição, correto?

Errado.

Ultear Milkovich era uma grande estrela japonesa. Quase sempre tendo seu rosto estampado em todas as revistas do Japão, a moça era considerada a grande inspiração de milhares de garotas jovens ao redor do país — garotas que tratavam-na como uma deusa e diariamente, se submetiam a diversos tratamentos para se igualarem à ela — e a modelo sempre eleita a mais bem-vestida por votações. Possuía contatos de estilistas franceses, sua pele jamais tivera um mísero cravo, seus cabelos negros eram compridos e recebiam o melhor tratamento para que se mantessem esvoaçantes sempre.

No entanto, nada daquela aprovação parecia o suficiente. Para Ultear, e para a maioria de nós, o que realmente importa é o que enxergamos no espelho. E o que ela via toda a vez que analisava-se diante do próprio reflexo era o oposto de uma modelo bem-sucedida, bonita e principalmente dona de uma cintura invejável.

Enquanto se despia para tomar banho, acabou por ter que apoiar as mãos na pia para não cair. Gemeu com a dor do estômago vazio e piscou repetidamente para a vista focalizar-se novamente. Estava com muita fome, mas há muito tempo havia aprendido a ignorar a sensação. Precisava manter a linha.

Esperou um pouco até que se sentisse minimamente melhor para continuar tirando o resto da roupa, evitando ver o reflexo no espelho.

Ultear respirou fundo e ligou o chuveiro, tentando relaxar com a água quentinha que caía sobre os ombros. Lavou os cabelos de olhos fechados, pensando em como estaria impecável assim que seu primo, Gray, a visse. Ele vinha tomar chá com ela e sua mãe e como sempre, ela estava nervosa pensando que talvez ele pudesse não achá-la arrumada o suficiente.

Não demorou muito no banho e saiu de dentro do box com o corpo envolvido pela toalha, secando os cabelos com outra menor. Apanhou o creme corporal com aroma de cereja e espalhou pela pele macia antes de aplicar algumas gotas de colônia e por fim, colocar o vestidinho azul com detalhes étnicos em preto, meia-calça com botas, e um casaco vermelho. Ultear apanhou o secador de cabelo na segunda gaveta e passou um jato forte para que secasse mais rápido.

Perfumada, bem-vestida e maquiada, a moça foi até a janela assim que ouviu o portão da Mansão Milkovich abrindo e avistou o McLaren de Gray adentrando a garagem. Com o coração na mão, desceu as escadas para esperá-lo na porta.

— Você está linda, Ul. — disse sua mãe, Ur, a quem havia herdado a maior parte de seus traços. Ur sorria.

— Obrigada, mãe. — Ultear sorriu de volta.

Mentirosa, pensou.

A modelo abriu a porta da mansão e corou ao ver seu primo, tão estonteante como sempre: cabelos negros e charmosamente bagunçados, olhos puxadinhos que eram uma fofura, jaqueta preta que lhe dava um ar misterioso... e o sorriso...

— Oi. — disse ele, gentilmente retribuindo o abraço que recebera. Amava sua prima e gostava muito de vê-la sorrir. Ela estava linda naquela roupa. Beijou sua bochecha e cumprimentou tia Urano, sentando-se enquanto a tia servia o chá. Particularmente, Gray não gostava muito de chá, mas não havia nada melhor nos dias frios de Outono. E também nada melhor do que estar com Ur e Ultear, que considerava segunda mãe e irmã mais nova, respectivamente.

— Você parece pálida, Ul. — disse ele, preocupado. — Está se alimentando melhor?

A prima deu uma risadinha.

— Sim. E eu sou pálida. — respondeu, pegando um biscoito de chocolate. Levou-o até a boca, porém seu braço tremia como se fizesse um esforço grande para movê-lo. Mordeu um pedaço mínimo e o colocou no prato.

— Como vai na universidade, Gray? — perguntou Ur, juntando-se a eles.

— Estou fazendo o meu melhor. — respondeu o rapaz que cursava o segundo ano da faculdade de Direito. — Eu gosto, então é bom eu me esforçar.

Ultear emitiu outra risadinha. Achava-o uma graça quando dizia que estava estudando muito, o imaginando num terno alinhado e segurando uma maleta como um advogado. Definitivamente, seria o advogado mais lindo do planeta. Um tanto enjoada, levou a xícara aos lábios e bebeu um gole de chá. Um mal-estar surgiu mais uma vez e ela largou a xícara na mesa antes que caísse no chão. Sentiu a mão de Gray segurar seu braço.

— Ul. — disse ele. — Você está se sentindo bem?

— Filha? — chamou Ur, mas a modelo parecia não ouvir. — Filha!

Ul pressionou o estômago dolorido com as mãos, murmurando algo enquanto a vista ficava escura. Gray a segurou nos braços antes de pensar em qualquer coisa, apavorado.

[...]

Lucy fitava as próprias mãos colocadas sobre o colo, vez ou outra observando Magnolia pela janela do carro. Sentia-se um fardo para conseguir falar qualquer coisa, se perguntando o quão incômodo deveria estar trazendo. Mais uma vez, Natsu dirigia a BMW; desta vez, em direção ao Hospital de Magnolia — não por Lucy precisar ser examinada ou por um caso emergencial. Ela estava bem, no entanto, estava indo ao hospital para manter Scarlet calma no possível.

Há alguns minutos atrás, a criada aguardava sua amiga chegar na frente da Mansão para levá-la para casa como todos os dias. A ruiva demorava mais do que o habitual e Lucy tentava não ficar preocupada pois provavelmente havia pegado um grande trânsito, comum naquela cidade grande. Seu coração acelerou quando o telefone da casa tocou e ela teve de atender — era tímida demais para isso e temia que fosse uma ligação ruim...

— A-Alô? — disse a loira, trêmula.

— Alô. — ouviu a voz de Scarlet baixa. — Eu posso falar com a Lucy, por favor?

— Erza! — exclamou Lucy. — Sou eu. O que há?

A ruiva fungou do outro lado da linha.

— É... b-bom... — fungou mais uma vez antes de continuar. — Eu não vou... poder te buscar hoje. E-Então, você pode voltar de táxi e depois pagar com o dinheiro que eu guardo na gaveta... você sabe aonde está.

— Aconteceu... alguma coisa? — perguntou Lucy, preocupada e sem saber o que pensar.

— Eu estou aqui no hospital enquanto Jellal... ele está em uma cirurgia agora. — respondeu Scarlet com a voz falhada.

— U-Uma cirurgia? — a loira arregalou os olhos. — O que houve?

Erza chorou do outro lado da linha.

— E-Eu te explico quando eu chegar em casa, ok? Eu estou esperando alguma noticia, e estou tão nervosa...

Lucy pensou um pouco e por fim, perguntou:

— Em qual hospital você está?

Foi assim que viera parar no carro de Natsu. Explicou a situação para Olívia e perguntou algum número de táxi, quando ele se oferecera para levá-la. Não com todas as letras e muito menos sem seu jeito de falar arrastado, no entanto, ele dirigiria até o hospital e a criada mal podia agradecer o ato gentil.

O rádio tocava baixo uma música de rock em inglês e apesar de Lucy não ser fã de rock, conhecia aquela canção. De uma banda chamada Guns ‘n’ Roses, November Rain era uma música da qual escutava muito em Rosemary. Sua mãe gostava de tocá-la e cantarolar por aí, enquanto sua amiga Laki gostava de praticá-la no piano.

— Essa música é realmente bonita. — falou Lucy, quase sem mover os lábios. Sentiu o olhar dele cravado em si; logo depois, o rapaz voltou a olhar para frente.

— Hum.

And when your fears subside... — começou ela a cantorar em voz baixa com seu inglês que não era lá essas coisas, sem perceber. — And shadows still remain...

Quando notou o que estava fazendo, calou-se de imediato.

I know that you can love me. — murmurou ele, sem tirar os olhos do volante.

When... there’s no one...

...left to blame. — continuou Natsu.

S-So never mind the darkness, we still can f-find a way. — Lucy cantou mais alto.

Nothing last forever, even a cold november rain. — cantarolaram os dois ao mesmo tempo enquanto Natsu estacionava o carro em frente ao Hospital de Magnolia. Assim que a BMW parou, os olhares de ambos se encontraram e os dois pareciam petrificados. O rapaz inconscientemente fitava aqueles lábios delicados e avermelhados como uma cerejinha, tão vermelhos quanto as bochechas dela nos momentos em que ficava constrangida — como agora.

Obrigada. — sussurrou ela, ainda sem se mexer. — Senhor...

Havia algo diferente em seus olhos... e devagar, ela podia enxergá-los mais próximos. Natsu, lentamente, se aproximava dela enquanto olhava para seus lábios e então nos olhos cor-de-chocolate. Lucy não conseguia reagir, corando.

— S-Senhor... — murmurou, mal conseguindo respirar.

Quando seus rostos estavam mais próximos do que nunca, a loira não notou que de súbito, destravou a porta do carro e jogou o corpo para trás; a porta abriu e ela cairia se ele não tivesse segurado seu pulso. Foi puxada de volta com o coração na mão.

— C-Céus. — exclamou Lucy, colocando uma mecha do cabelo loiro para trás da orelha. — Foi por pouco...

O rapaz mordeu o lábio e emitiu um som como se comprimisse um riso. A ação não durou muito tempo.

— S-Senhor, por favor, não ria de mim... — falou ela, desejando cavar um buraco para poder enterrar a cabeça. Como a risada é contagiante, não demorou muito para a loira rir também. — Foi até um pouquinho engraçado, m-mas eu tomei um susto!

Os dois se olharam e Natsu virou o rosto para o outro lado, corando minimamente. Ficaram em silêncio novamente.

— De qualquer jeito, já chegamos.

Envergonhada, Lucy assentiu com a cabeça e agradeceu mais uma vez antes de sair do carro. Curvou-se em reverência até que a BMW saísse de vista e por fim, adentrou o hospital.

Ultear recobrou os sentidos aos poucos. Primeiro, ouviu o barulho de alguns carros vindo de algum lugar; segundamente, um carinho gostoso em sua cabeça e por último, abriu os olhos enquanto a visão focava-se devagar. Quando podia enxergar bem, percebeu que estava deitada em uma cama que não era a sua, num quarto que não era seu... e Gray a olhava com tristeza, acariciando sua cabeça.

— Gray...?

Ele deu um sorriso fraco.

— Que bom que acordou. — e beijou sua testa, fazendo-a corar. — Você me deixou preocupado, você sabe disso?

Ultear olhou ao redor e soube que estava em um quarto de hospital; havia um pequeno tubo introduzido em seu eixo, da onde recebia soro fisiológico. A modelo arregalou os olhos.

— Eu... desmaiei?

— Sim. — respondeu Gray, enrolando uma mecha dos cabelos dela no dedo. — Você está muito fraca e vai ter que passar a noite aqui.

A modelo suspirou.

— Entendo... — e desviou o olhar para o braço no qual recebia soro, fingindo não perceber que o olhar do primo fixava-se nela. Sabia o que ele diria e não estava com vontade de receber mais uma bronca por fazer uma dieta que havia inventado, dieta que diziam ser uma maluca. Não que ela ligasse para isso.

— Eu não posso tirar os olhos de você por um minuto mesmo. — começou Gray, suspirando longamente. — Ul, quando é que você vai parar com essas besteiras de dieta?

— N-Não é besteira! — gritou a garota, já irritada com aquela conversa. — Você não entende!

— Não, é você quem não entende. — respondeu ele, levantando de repente e gritando com o rosto vermelho de raiva. — Se continuar desse jeito, vai ficar cada vez mais fraca. É isso que você quer? Viver em um quarto de hospital tomando soro e com pessoas te empurrando comida goela abaixo? Não é mais fácil você começar a se alimentar direito por si mesma? Você precisa parar com essa bobagem de achar que sempre está gorda, não precisa disso. Não entra na sua cabeça que você preocupa todo mundo ao seu redor? Você assusta sua mãe, me assusta, todo mundo! Você precisa se tratar!

Ultear soluçou com o rosto banhado em lágrimas, tremendo por inteiro. O rapaz a olhou e viu como, no fundo de seus olhos, ela ainda era uma criança — uma criança perdida e amedrontada diante daquele mundo. Sua irritação deu lugar à uma tristeza sem tamanho e uma vontade de abraçá-la e dizer o quanto amava sua irmãzinha de consideração. Assim o fez, porém palavras não pareciam o suficiente naquele momento.

— M-Me desculpe. — falou Ul, escutando um “shh” logo em seguida. — Por favor...

— Tudo bem, tudo bem. — disse ele com um tom de voz gentil. — Desculpe, esqueça o que eu disse. Só precisa descansar agora.

A garota soluçou mais uma vez e o apertou no abraço, molhando o ombro de sua jaqueta com as lágrimas.

— Eu te amo, Gray... — falou ela em meio ao choro. — Te amo muito...

— Eu também te amo, Ul. Muito, muito, muito. — Gray beijou sua bochecha a cada muito que dizia. — Você vai ficar bem. Você é linda, sabia?

Ficaram alguns minutos abraçados enquanto a modelo colocava seus sentimentos para fora de si através das lágrimas até que Ur adentrou o quarto, secando os olhos com um lenço de papel. Pela aparência de seu rosto, também chorara bastante.

— Você já acordou, querida... — a mulher aproximou-se da cama e beijou sua testa, aparentemente prestes a recomeçar a chorar. Olhou para o sobrinho rapidamente e sorriu, este levantou-se e disse que daria uma caminhada. Deu mais um beijo na bochecha de Ultear antes de sair do quarto com as mãos no bolso, andando pelo hospital sem rumo. Sua mente estava nublada.

Enquanto caminhava por um dos enormes corredores, esbarrou com alguém e demorou a raciocinar para pedir desculpas. Olhos escuros e inchados encontraram-se com os seus.

— Olha por onde anda. — disse uma ruiva de cabelos compridos, continuando a andar pisando forte.

— Erza... — disse Gray, sem saber o que pensar. Ficou parado no mesmo lugar, observando-a sumir quando dobrou à direta do corredor do hospital. Em seguida, balançou a cabeça de um lado para o outro. — No que é que eu estou pensando...

Cabisbaixo, chegou até a sala de espera do centro cirúrgico que estava vazia; ao menos, para o rapaz, só havia uma pessoa sentada em um daqueles bancos. Seu coração parou, surpreso por vê-la ali num horário daqueles, quando provavelmente já havia chegado em casa do trabalho. Pele branquinha, cabelos loiros que caíam delicadamente em seus ombros. O mesmo uniforme de empregada que, por mais que fosse de empregada, ficava maravilhoso nela. Lucy estava sentada com o olhar distante, vez ou outra dando um gole numa garrafinha de suco de laranja. De imediato, seu rosto ficou completamente vermelho.

— Sr. Gray? — ela o vira, tão surpresa quanto ele. A garota corou, sem saber se levantava-se ou permanecia no lugar. Gray então, aproximou-se e sentou ao seu lado; ambos tímidos, mal olhavam diretamente um para o outro.

— Q-Que surpresa boa ver você por aqui. — disse ele, desejando dar um tapa no próprio rosto. — N-Não, boa não porque afinal, estamos em um hospital... m-mas... a-ah, é bom te ver, apesar de ser num lugar como este! Não esperava encontrá-la.

Lucy assentiu com a cabeça constrangida e ele pensou em como ela deveria estar achando-o um idiota.

— V-Você veio consultar? — perguntou o rapaz, mais uma vez pensando em como era um completo imbecil. Aquela era a sala de espera do setor cirúrgico. — D-Digo...

— Oh, n-não, senhor. — respondeu ela. — Se me permite perguntar... o senhor está aqui para consultar algum médico? S-Se sim, a sala de espera é naquela direção e...

— Não, não vim consultar. — disse Gray. Respirou fundo antes de continuar, perguntando-se se deveria contar aquilo para Lucy ou não. Mal se conheciam mas parecia que para ela, podia-se contar qualquer coisa. Era difícil explicar. — Bom, minha prima desmaiou e minha tia e eu a trouxemos aqui. Ela vai ter que passar a noite no soro porque não come direito.

— Oh... isso é terrível. — disse ela, sentindo muito pela prima dele, apesar de não conhecê-la. — Tomara que ela fique bem logo.

— É. — o rapaz cobriu o rosto com as mãos. — T-Tomara...

A loira olhou surpresa para ele quando começou a soluçar.

— Sr. Gray...?

— Faz um tempo desde que ela começou a parar de se alimentar direito porque acha que não é magra o bastante, entende? — Gray começou a falar rápido, como se colocando para fora tudo o que sentia que precisava para desabafar. — Faz um tempo desde que ela começou a parar de se alimentar direito porque acha que não é magra o bastante. — Ela é como uma irmã mais nova para mim, então eu sinto que tenho a obrigação de cuidar dela... pensei que ela tinha parado com essa besteira, e cada vez que ela desmaia por não comer eu me sinto culpado porque eu deveria estar dando mais atenção a ela. Eu odeio me sentir assim, me sentir... um inútil.

Quando terminou, o rapaz ofegou antes de retomar uma crise de choro, irritado e envergonhado por fazer aquilo na frente dela. Ridículo, ridículo.

— Desculpe. — disse ele, tremendo. — Eu... eu estou muito nervoso...

— Está tudo bem, senhor. — timidamente, Lucy pôs a mão delicadamente sobre seu ombro, corando ainda mais ao perceber que o fizera, mas sentia que precisava consolá-lo... Gray parecia tão desolado. E ele era tão gentil, principalmente quando ela havia sofrido um desmaio na Mansão Dragneel. — Não precisa segurar o choro se não quiser.

Ele descobriu o rosto e a fitou com os olhos em lágrimas.

— O senhor foi tão gentil comigo quando eu não me senti bem naquele dia... — falou ela com um sorriso que o fez pensar que seu coração sairia pela boca. — Por isso, se quiser... eu estou aqui para ouvi-lo. E não me importo se chorar.

O rapaz a abraçou, recostando a cabeça no peito dela. Sentia muita vergonha, mas precisava de alguém como ela. Alguém que o permitisse chorar, alguém que dissesse que ficaria tudo bem. Alguém com um abraço tão caloroso como o de um anjo. Era isso que ela parecia, um anjo. E quem sabe, talvez não fosse um anjo que havia sido colocado em sua vida por alguma razão?

Gray e Lucy ficaram abraçados naquela sala de espera: ele chorava enquanto sentia o calor de seu corpo e ela inalava o cheiro agradável do perfume dele. Era tão bom que concentrar-se nele a fazia esquecer do quão envergonhada estava. Fechou os olhos, também feliz por sentir-se mais aquecida; quando o crepúsculo cobria a cidade, a temperatura também diminuía no Outono e ela estava apenas com uma jaqueta e o uniforme de trabalho. Gentil, quentinho e com um cheiro bom, era assim que a loira podia descrevê-lo.

Ele adormeceu em seu peito e, sem coragem de acordar Gray, Lucy deixou que ele ficasse assim enquanto brincava com seus cabelos negros. Eram tão macios! Certo, deveria parar com aquilo...

Scarlet sentou-se na frente deles e a loira mal reparou quando ela chegara ali. A amiga encarava a parede, distante. Seus olhos estavam mais inchados do que antes.

— O médico não veio ainda? — perguntou a ruiva, sem comentar ou olhar para Gray. Era como se ele fosse invisível.

— Não... — respondeu Lucy, reparando no tremor das pernas de Erza. — Mas tenho certeza de que logo ele virá dizer que ocorreu tudo bem...

— Sim. — Erza falou como se fosse uma resposta automática; não estava prestando muita atenção em algo. Relembrava de como havia parado ali, no Hospital de Magnolia.

O dia fora como o habitual, e ao fim de tarde, Scarlet dirigiu-se pelo elevador até o andar da garagem para buscar Lucy no trabalho. Assim que a porta do elevador se abriu, a moça escutou alguém tossindo; o barulho ecoava pelo estacionamento. Era uma tosse incessante, e logo depois, tornou-se em vômito. Procurou alguém pela garagem até que encontrou Jellal ao lado do próprio carro, caído no chão vomitando sangue.

De imediato, a ruiva correu até ele, arregalando os olhos ao vê-lo cair inconsciente. Ele estava com o rosto completamente sem cor, sem reagir quando ela chamou seu nome.

Não se lembrava muito bem — pelo nervosismo —, mas apanhou o telefone do bolso e discou o número do ambulatório, conseguindo falar todas as informações corretamente para a moça que atendera a ligação. Assim que desligou, um outro vizinho que retornava do trabalho estacionou o carro e aproximou-se dos dois, perguntando o que havia acontecido. Ele estava no último ano de Medicina e Erza explicou, em prantos, o que havia visto e dito que já havia chamado uma ambulância. Este vizinho, chamado Kouta, ficou com eles até a ambulância chegar tentando tranquilizar a ruiva ao máximo.

Chegando ao hospital, o médico a informara de que Jellal estava com algo chamado de úlcera gástrica, uma ferida aberta que desenvolveu-se no revestimento interno do estômago. Houve perfuração do órgão e portanto, uma cirurgia de emergência seria necessária. Scarlet sentia-se excessivamente agitada e ansiosa na sala de espera do centro cirúrgico, tão ansiosa que por um momento, estava com tanta tontura que jurou que iria desmaiar.

— Eu... eu acho que vou andar mais um pouco. — disse ela, levantando-se do banco. Assim que virou as costas, o médico apareceu na sala.

— Srta. Scarlet? — disse o doutor, calmo como um médico deve ser.

Erza virou-se imediatamente, desesperada.

— Como ele está, doutor? P-Por favor...

O médico sorriu.

— A cirurgia foi um sucesso, srta. Scarlet.

Sem perceber, a ruiva chorou e curvou-se como gratidão; ele então estava bem. Olhou para Lucy e ambas trocaram sorrisos.

— Eu posso vê-lo, doutor?

— Claro, claro. Por aqui. — os dois deixaram a sala enquanto o celular de Gray tocou. O rapaz abriu os olhos lentamente, murmurando algo. Como automaticamente, apanhou o aparelho do bolso e atendeu a chamada.

— Alô...? — disse, com a voz arrastada.

Querido, onde você está? — perguntou sua tia Ur. — Ultear quer que você fique um pouco com ela... mas se já tiver ido embora, não tem problema! Amanhã...

Ele bocejou antes de falar.

— Ainda estou aqui no hospital. Eu só acabei... a-a-adormecendo... — olhou para Lucy e notou que estava apoiando a cabeça em seu peito. Corado, endireitou o corpo e desviou o olhar. — Bom... já estou indo aí, tia.

— Certo. Até.

Assim que desligou o celular, disse, envergonhado:

— Me desculpe, eu... dormi...

A loira sorriu com as bochechas avermelhadas.

— O senhor não precisa se desculpar.

— É-É... m-minha prima quer que eu vá... ficar com ela. E-Então...

Lucy assentiu com a cabeça, ainda sorrindo timidamente.

— Até outro dia, sr. Gray. — respondeu, olhando para as próprias mãos sobre o colo.

— A-Até... — disse Gray, completamente envergonhado. — E obrigado por... por tudo.

Ambos trocaram sorrisos e o rapaz saiu dali, com um alto nível de vergonha dentro de si e também felicidade; ela o fizera sentir-se tão bem, mesmo com poucas palavras e um simples abraço. E às vezes, isso é apenas o que precisamos para nos sentirmos melhores. Gestos aparentemente tão banais é o que valorizamos no momento de dor, de tristeza, de desespero. E talvez devêssemos aprender a valorizar estes gestos não somente no momento em que caímos.

Enquanto isso, Lucy recordava do pequeno acontecimento na BMW de Natsu; o modo como sentiu seu coração bater veloz ao tê-lo tão perto de si... e o quão estranha sentia-se ao lembrar da sequência de acontecimentos. Ele ficaria em sua mente até o momento de deitar a cabeça sobre o travesseiro e depois de começar a sonhar, ela descobriu que ele continuava em seu pensamento...


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Notas finais do capítulo

Se gostaram do capítulo, deixem um review e façam uma escritora que sofre de tendinite e não vai na fisioterapia há dias bastante feliz! (Pior que é verdade, gente, quero chorar) ヾ(゚∀゚*)ノ彡Beijão com gostinho de morango (menta, cereja, uva, o que vocês quiserem HUASHUSA) e até o capítulo 19.