As sombras da floresta sem fim escrita por ZeroStark


Capítulo 2
A liberdade do arqueiro


Notas iniciais do capítulo

Pareço estar devendo desculpas ao público invisível pelo meu atraso. Esperava postar o segundo capítulo assim que minha amiga Iris me entregasse o segundo desenho (Luna&Orion), porém alguns imprevistos atrasaram a entrega. Fiquemos aqui com um pequeno parêntese.
~Por um momento após terminar seu primeiro capítulo, o contador de histórias fechou os olhos e soprou três anéis de fumaça, com um sorriso. Em sua memória, não eram palavras que corriam, mas sim imagens, como uma singela lembrança, como uma imponente memória.~



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Cada passo novo era decisivo aos sentidos do ranger. Correr pela floresta lhe era um prazer indescritível, poder acompanhar os cervos na mesma velocidade que seu físico de presa lhes concedia. Saltos, passos largos, desvios, os metros que se passavam sob seus pés eram desafios adversos. Pedras, raízes, folhas, todos querendo derrubá-lo.

O jovem Arne conhecia cada arvore daquela floresta. Ele sabia quais eram as raízes traiçoeiras naquela região, seus passos jamais o traíam. Ele sentia o relevo sob o tapete de folhas caídas moldando suas botas macias a cada vez que seu pé tocava o chão, para logo sair em mais um passo veloz.

O capuz cobria sua cabeça, e um cachecol estava puxado cobrindo até seu nariz. Cada vinha que o chicotearia em situações normais batia inofensivamente nos tecidos que o protegiam. Uma piscada e uma olhada rápida para sua direita, os cervos ainda corriam em total velocidade, ele podia notar os músculos dos grandes herbívoros trabalhando para que fugissem daquele predador que, no momento, se importava em ganhar uma corrida por prazer próprio.

O cantar dos pássaros e o som do quebrar de folhas secas lhe acariciavam os ouvidos. O arco em suas mãos lhe transmitia segurança, ele sentia a única flecha batendo contra as laterais da aljava cilíndrica em suas costas. Então, por um momento, fechava os olhos.

A imprudência de negar a própria visão trazia os outros sentidos à flor da pele do ranger. Podia sentir a própria floresta em volta de si. Cada passo era calculado, cada pisada era lembrada, cada ciclo respiratório era um déjà vu.

A velocidade fazia o vento lhe acariciar o rosto. Nem mesmo os ladrões da cidade sentiriam essa sensação de liberdade. Cada presente da floresta ecoava em sua mente, ele já não se via como um humano.

Cinco.

Sua mão se movia à aljava e seus dedos eram tocados pela maciez da pena da flecha. Com o indicador e o médio, rapidamente a puxava e a ajustava na corda do arco, como fizera durante a vida inteira.

Quatro.

Virava o corpo um pouco para a direita e tencionava a flecha na corda com os músculos dos braços e das costas. Pulava e, em pleno ar, soltava a corda.

Três.

Seus pés tocavam o chão, retomando a veloz corrida. Um baque era ouvido - profundo, forte, como o grito de uma árvore ao ser perfurada pela flecha.

Dois.

O arco era colocado no ombro com o braço entre a corda e a haste. Não havia cerimônia de guardá-lo no suporte das costas com a corda removida.

Um.

Um pulo longo. Esticar as mãos à frente, segurar na corda e atravessar o abismo.

Zero.

Uma queda era ouvida. O ranger caía sobre os dois pés, cambaleando para a frente e se apoiando no chão com a mão direita. Abria os olhos e olhava pra trás.

Um abismo estava às suas costas. Ao seu fundo, corria o leito do rio. Sobre o abismo, uma corda balançava, presa firmemente àquela flecha disparada.

Sentava-se e puxava o cantil, fazendo um brinde silencioso. Merecia esse pequeno prêmio, afinal, enganara a morte mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado deste pequeno "filler", ele foi escrito em um pequeno surto criativo, e me pareceu inocente o bastante para ser postado enquanto estou à espera do segundo desenho (além do fato de eu ter perdido as folhas onde o texto foi originalmente escrito). Seria de grande apreço receber comentários, afinal, eu não tenho como saber qual está sendo a reação do público à história. Deixo aqui mais uma despedida deste contador de histórias que vos fala.